Considerações sobre o projeto de vida e o ensino de filosofia no novo ensino médio.
Considerations about the life project and the teaching of philosophy in the new high school.
Professor de prática pesquisa e estágio em Filosofia na Universidade Estadual de Feira de Santana UEFS, Feira de Santana, BA, Brasil. prof.mauricioalves@gmail.com
Recebido em: 08 de junho de 2024
Aprovado em: 10 de outubro de 2024
Publicado em: 13 de novembro de 2024
RESUMO
A proposta de um ensino de filosofia imbricado ao projeto de vida, de algum modo ser equiparado ao trabalho filosófico – como muitas vezes o trabalho em arquitetura – é antes de tudo um trabalho sobre Si-mesmo. Opresente estudo manifesta o entendimento de que é preciso considerar o Ensino de Filosofia no Novo Ensino Médio como elemento fundante para a construção do projeto de vida. Essa afirmação está pautada no que direciona a competência geral número 8 da BNCC e seus desdobramentos no Documento Referencial Curricular da Bahia. Pautado do método bibliográfico,este artigo apresenta como resultado a valorização da prática pedagógica inserida no componente curricular da licenciatura em filosofia, como elemento potencializador do fazer docente do professor de filosofia no ensino médio, oferecendo-lhe substratosfilosóficos para lidar com o projeto de vida. Frente a essa empreitada do projeto de vida relacionado com o ensino de filosofia está, além de uma concepção puramente teórica, uma discussão pautada no campo prático-existencial.
Palavras-chave: Projeto de vida; Ensino de Filosofia; BNCC; Prática pedagógica; Interdisciplinaridade.
ABSTRACT
The proposal of a teaching of philosophy intertwined with the project of life, in some way to be equated with philosophical work – as often is the work in architecture – is first and foremost a work about oneself. The present study manifests the understanding that it is necessary to consider the Teaching of Philosophy in the New High School as a founding element for the construction of the life project. This statement is based on what directs the general competence number 8 of the BNCC and its developments in the Curricular Reference Document of Bahia. Based on the bibliographic method, this article presents as a result the valorisation of pedagogical practice as a curricular component of the degree in philosophy, in order to enhance the teaching practice of philosophy teachers in high school, giving them philosophical substrates to deal with the life project. Faced with this undertaking of the life project related to the teaching of philosophy, it is beyond a purely theoretical conception, it is based on the practical-existential field.
Keywords: Life project; Teaching of Philosophy; BNCC; Pedagogical practice; Interdisciplinarity.
Considerações iniciais
É possível dizer que ensino tem a ver com orientação adequada e sistemática utilizada pelos professores para a transmissão de algum tipo de conhecimento. Quando se faz referência a ensinar filosofia no Ensino Médio,tem-se como objetivo principal fazer com que os alunos pensem criticamente, com lastro filosófico, e assim guiarem sua existência pautados num projeto de vida.
Na ocular de Larrosa,“A Filosofia pode ser compreendida como exercício do pensamento, no sentido daquela prática na qual cada sujeito estabelece relação própria com o pensar, oportunizando a formação e transformação do que se é” (p.24). O ensino de Filosofia, visto sob essa ótica, se relaciona com a conceituação de saberes e pesquisas que abordam a condição humana no mundo.Entre tantas temáticas, destaco aqui a dimensão do projeto de vidadefinida pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) eseus desdobramentos no Documento Referencial Curricular da Bahia (DCRB).
Nessa perspectiva, o presente estudo manifesta o entendimento de que é preciso considerar o Ensino de Filosofia no Novo Ensino Médio como elemento fundante para a construção do projeto de vida. Essa afirmação está pautada no que direciona a competência geral número 8 da BNCC:
Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, comliberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade ( 2018, p. 10).
Hoje,as contribuições teóricas sobre a estilística pedagógica do ensino de filosofia no Novo Ensino Médio, talvez levem o professor de filosofia a superar o dilema de que não é possível lidar com projeto de vida. Afirmo que o professor de filosofia, quando devidamente preparado na licenciatura, pode se valer do arcabouço filosófico aprendido para trabalhar informações, conhecimentos e saberes que o levam a filosofar.Mesmo com a história da filosofia, pode instigar o fazer filosófico autêntico, dado que são inúmeras as possiblidades à experiência e ao exercício do filosofar.
Demarco ainda, que o professor de filosofia deve ocupar um campo privilegiado no fortalecimento do projeto de vida no ensino médio,visto que o DCRB orienta, em acordo com a BNCC, que o projeto de vida deve estar vinculado com a autonomia, pensamento crítico, liberdade e protagonismo juvenil na escola.Na ementa do projeto de vida, assim, temos as seguintes categorias:
Projeto de vida 1ªsérie EM: Autoconhecimento e identidade: Autoconhecimento: Sócrates, o Estoicismo e Sartre e as escolhas individuais. Autocuidado, autoconfiança, autodisciplina: práticas corporais para o fortalecimento do eu (capoeira, tai chi chuan e ioga etc.). Estudos biográficos: histórias de vidas marcantes no universo geral e próximo. As artes como recurso para a expressão do “eu”. Projeto de vida 2ª Série EM: Eu e o outro (responsabilidade social) - Representações e identidades do eu, sujeito, em meus territórios: grupo e raízes. As visões de natureza e ser humano dos povos indígenas, africanos e orientais. A representação do eu na vida cotidiana e o conceito de estigma. A influência da mídia para padrões e comportamentos. Reflexões críticas dos valores sociais (fracasso, sucesso, ressentimento etc.). Ética hoje: conceito de moral, autonomia, responsabilidade, virtudes e compromisso social.Projeto de Vida 3ª série EM: Eu no mundo (mundo do trabalho e formação intelectual) - Minhas forças/minhas fraquezas - o desenvolvimento das inteligências múltiplas (lógico-matemática, linguística, corporal, sinestésica, intrapessoal, interpessoal, espacial, natural). Formação profissional e responsabilidade social. Experiências de economia solidária e cooperativismo. Escolhas individuais, impactos globais: o ser e o ter. Projetar-se no mundo: possibilidades de atuação profissional e ingresso no ensino superior. Registro de memórias, construção de portfólio ( 2022, p.235).
É mais do que oportuno, portanto, o entendimento de que o professor de filosofia no ensino médio pode se mover em direção da construção do projeto de vida que inspire a juventude a caminhar em busca da realização de seus sonhos, alicerçados numa base humanista e filosófica.
Projeto de vida: um trabalho sobre si mesmo
Concomitante ao mundo do trabalho, o advento das novas tecnologias e as revoluções industriais constituem novos campos de análises,por provocarem estudos filosóficos e mudanças significativas. Nessa perspectiva, o projeto de vida imbricado ao ensino de filosofia, além de refletir sobre o mundo do trabalho,deve contribuir para a tomada de decisões, planejar e gerir não só a vida futura, mas a vida do presente. Não é forçoso recorrer ao que nos prescreve Wittgenstein em sua obra Cultura e Valorsobre a verdadeira função e entendimento da filosofia:
O trabalho em filosofia – como muitas vezes o trabalho em arquitetura – é antes de tudo um trabalho sobre Si-mesmo. Trata-se de trabalho em uma concepção própria, no modo em que vemos as coisas (e a isto que compreendemos delas (2000, p. 33).
O ensino de filosofia quando imbricado o projeto de vida deve fornecer substratos ao professor e ao estudante do ensino médio para avaliar a si mesmo e aos outros. A natureza do projeto de vida pode, de algum modo, ser equiparada ao trabalho filosófico – como muitas vezes o trabalho em arquitetura – é antes de tudo um trabalho sobre Si-mesmo.
Qualquer justificaçãopara o ensino de filosofia que diste dessa proposta nos parece inoportuna. Ensinar filosofia para que cada um possa pensar filosoficamente, pensar por si mesmo. Frente a essa empreitada do projeto de vida relacionada com o ensino de filosofia está, além de uma concepção puramente teórica, uma reflexão pautada no campo existencial. Nesse sentido, é oportuno apresentar três desafios, como nos propõe os professores Aspis e Gallo:
O primeiro é tomar a filosofia, assim como — a ciência e arte em uma luta contra a opinião. [...] O segundo desafio é o diálogo da filosofia com outros saberes, diálogo esse que também precisa ser produtivo. [...] O terceiro desafio é a questão do ensino que precisa ser tratado filosoficamente(2009, p. 64-65):
Mas ao adotar uma perspectiva de ensino de filosofia pautado numa prática pedagógica de relativização ou de irreflexão, o projeto de vida e ensino de filosofia estaria longe de ser algo a ser tomadocomo empreendimento vivo e dinâmico, sempre criado e recriado. Acredito que essa postura nosdista de um ensino de filosofia como enciclopédia, acessível apenas aos iniciados. É pertinente a ocular do filósofo francês Michel Onfray, que não por acaso foi professor de filosofia no ensino médio por muitos anos,e que nos apontasobre a necessidade de uma postura pragmática filosóficano ensino de filosofia:
O pensamento pelo Pensamento, a filosofia pelo único prazer da filosofia valem tanto, quanto a arte pela arte: jogos que não inquietam os atores do capitalismo agressivo, grandes senhores e tolerantes, enquanto se divertem os pensadores em colóquios, universidades e editoras. A filosofia tem um círculo fechado, semelhante àquela que vive do sistema liberal, por e para ele, não causa nenhuma desordem, nenhum perigo, nenhum risco. Ela é tão tolerada quanto a segunda que é encorajada. Uma preocupação pragmática, pressupõe a submissão de cada ideia àquilo que ela pode produzir de efeitos dentro do real, às consequências suscetíveis de surgir nos fatos ou na história (Onfray, 2006, p. 231).
É pertinente pensar um ensino de filosofia criativo, voltado para os problemas vividos na escola, perseguindo uma postura que vise equacioná-los pragmaticamente, é revolucionário. Diante do exposto, segue-se o entendimento de que a cultura de ensinar filosofia ainda se pauta numa visão extremamente cientificista, face a ideia de adotar uma postura pragmática que concretize a proposta de projeto de vida na escola.
Há muito se tem perguntado sobre pensar sobre o ensino de filosofia e projeto de vida, e nesse limiar, somos conduzidos a diversas abordagensmetodológicas e pedagógicas que devemos seguir, inúmeros autores que devem ser abordados, enfim, obrigações acadêmicas que se nos impõem. Tendo em vista todas essas sugestões, muitas vezes impossíveis de cumprir, faço coro ao chamado de Danilo Marcondes que sugere uma busca sólida no ensino de filosofia, isto é, uma postura consciente de que sempre se pode alcançar o melhor modo de ensinar filosofia.
Não há filosofia, mas apenas filósofos’. O filósofo é um ser inquieto, em busca do saber, sempre tendo a consciência de não tê-lo alcançado. O buscar pressupõe um abrir-se ao novo, um pisar sob solo desconhecido, escorregadio, falso, mas tentador, pois é uma porta instigante para novos desafios. ‘... talvez a busca seja interminável, mas nela está o que nos torna filósofos’(2008, p.55).
É nesse sentido que apontei no início deste trabalho que o ensino tem a ver com uma postura adequada que oriente o educando para uma cidadaniacrítica na sociedade, mas para isso, é preciso um projeto de vida. E essa tarefa cabe ao professor de filosofia. Só ele é capaz de fornecer um caminho seguro para o filosofar, um filosofar pautado no trabalho sobre Si-mesmo.Essa proposta atesta a visão de que “conhecer a si mesmo é o primeiro passo para a construção de um projeto de vida” (Meller; Campos, 2020, p. 14), como uma força do pensamento, como proposta questionadora frente aos diversos problemas. Por isso: “não se trata de meramente ensinar filosofia, mas ensinar a filosofar, ou seja, buscar o desconhecido correndo riscos” (Marcondes, 2008, p.55). Correr riscos pode ser equiparado, sem anacronismos pedagógicos, à responsabilidade que o professor tem de fazer com que o estudante desenvolva a atitude filosófica frente àssuas escolhas.
O desafio que surge para o futuro professor de filosofia nessa empreitada, é o da necessidade de uma reflexão constante sobre os pressupostos filosóficos de suas práticas educacionais, visando um ensino de filosofia que oportunize ao aluno a pensar e elaborar um projeto de vida com vistas a potencializar o presente e construir um futuro desejado, no qual o jovem resolva os problemas das mais diversas naturezas.
Para que o projeto de vida seja efetivo no Ensino Médio, é preciso que aqueles que se ocupam da formação de professores nas licenciaturas, se responsabilizem dessa tarefa, no nosso caso, futuros professores de filosofia pois, segundo Zeichner:
Tem obrigação de ajudar os futuros professores a interiorizarem, durante a formação inicial, a disposição e a capacidade de estudarem a maneira como ensinam ede melhorarem, com o tempo, responsabilizando-se pelo seu próprio desenvolvimento profissional (1993, p.17)
Para tanto, entendo ser crucial o enfrentamento do ensino pautado nos cânones e exegese dos textos, no entrelaço da contradição de uma produçãoque, segundo Cabrera,estaria pautada unicamente a:
elaboração de problemas objetivamente elencados na pesquisa em filosofia e que se encontrem filiados à determinada tradição filosófica clássica, e só a ela circunscritos; Emprego de regras de metodologia científica quepossibilitem o tratamento rigoroso, claro e preciso dos conceitos filosóficos, quase sempre tomados como pontos de partida, invés de serem buscados como pontos de chegada; Pudor esmerado na materialização bibliográfica de autores compreendidos como autoridades na tradição filosófica, sempre pela via de citações e referências documentalmente exatas, quase sempre queridas em suas línguas originais.(2010, p. 32-33).
Nesse sentido, urge aperspicácia dos professores de filosofia na contemporaneidade em se comprometer com práticas pedagógicas interdisciplinares. As práticas pedagógicas são obrigatórias no currículo da licenciatura segundo a Resolução CP 02 de 09 de junho de 2015, que institui a prática como componente obrigatório em todos os cursos de licenciatura das instituições de nível superior do Brasil[1]. Nesse contexto, a prática pedagógica se coloca como espaço de ampliação para a formação do futuro professor. Como componente curricular, a prática não depende da observação direta na escola, mas serve de norte para a produção e formação de novos professores.
Para fomentar as práticas pedagógicas, que segundo a Resolução CP 02 de 2015 é um movimento contínuo entre saber e fazer, na busca de significados próprios de situações do cotidiano escolar. Este movimento contínuo se intensifica com a interdisciplinaridade.
Em um artigo: A nova epistemologia: Ensinar filosofia ou recuar? Onofre e Alves defendem que a interdisciplinaridade tem como escopo a superação da visão unilateral do mundo, a promoção de uma compreensão mais conectada com o cotidiano e a produção do conhecimento centrada no homem, e deve destravar as impossibilidades que frequentemente se colocam entre as disciplinas no cotidiano escolar, ao engendrar:
Integração e engajamento de educadores num trabalho conjunto, de interação das disciplinas do currículo escolar entre si e com a realidade de modo a superar a fragmentação do ensino, objetivando a formação integral dos alunos, a fim de que possam exercer criticamente a cidadania mediante uma visão global de mundo e serem capazes de enfrentar problemas complexos, amplos e globais na realidade atual. (Luck, 1995, p. 64).
Nesse processo,trabalhar os componentes projeto de vida e filosofia de forma interdisciplinar pode servir de suporte às outras disciplinas do ensino médio, formando uma teia de conhecimentos. E, no contexto da filosofia, essa é uma tarefa fundamental, visto que: “Ensinar e aprender filosofia e a filosofar é um desafio que professores do Ensino Médio precisam enfrentar no século XXI” (Mattos, 2013, p. 23-24).
A prática pedagógica no ensino de filosofia, lastreada pela interdisciplinaridade,não elimina as outras disciplinas do currículo escolar, pois o conhecimento é um fenômeno multifacetado com dimensões inacabadas. O professor de filosofia, portanto, deve adquirir uma compreensão ampla, que oportunize práticas de ensino inovadorasentre as várias disciplinas do Novo Ensino Médio e que se aliem às temáticas do projeto de vida. Conforme a ocular de Campaner:
A Filosofia tem sua especificidade que deve ser respeitada, assim como devem ser reconhecidos os pontos de contato com as outras disciplinas; ela constitui-se de uma multiplicidade de perspectivas que precisa ser respeitada. Isso vai se refletir na elaboração do currículo (2012, p. 25).
O desafio que se lança ao professor que atua nas licenciaturas em filosofia, portanto, é da necessidade de reflexão e discussão constante sobre os pressupostos filosóficos, epistemológicos de suas práticas educacionais,visando uma formação de futuros professores que adquiram o olhar interdisciplinar. Nesse sentindo, Zeichner destaca que a formação de futuros professores:
têm obrigação de ajudar os futuros professores ainteriorizarem, durante a formação inicial, a disposição e acapacidade de estudarem a maneira como ensinam e demelhorarem, com o tempo, responsabilizando-se pelo seupróprio desenvolvimento profissional (1993, p.17)
Logo, a interdisciplinaridade é uma postura a ser assumida pelo professor de filosofia,objetivando a superação de uma visão turva, árida do componente curricular de filosofia no ensino médio e a falta de entendimento por parte dos alunos.
[...] não se ensina, nem se aprende, apenas vive-se, exerce-se. Todo o indivíduo engajado nesse processo será o aprendiz, mas na medida em que familiarizar-se com as técnicas e quesitos básicos o criador de novas estruturas, novos conteúdos, novos métodos, será o motor da transformação. (Fazenda,1992, p. 56).
A interdisciplinaridade é a potencialização das práticas pedagógicas, estas são elementos necessários para a efetivação do projeto de vida. Para um exercício filosófico do ensino de filosofia no ensino médio, no quesito projeto de vida, é preciso cuidar da formação do futuro professor de filosofia.
Considerações Finais
As reflexões empreitadas neste artigo trilharamo caminho para encontrar a compreensão filosófica do lugar do novo componente curricular – projeto de vida – no ensino médio. Foi apresentada a possibilidade do professor se pautar na habilidade número 8 da BNCC e na proposta do Documento Curricular Referencial daBahia, que abre possibilidade de o professor de filosofia assumir seu fazer pedagógico no ensino médio e se mover em direção da construção do projeto de vida que inspire a juventude a caminhar em busca da realização de seus sonhos, alicerçados numa base humanista e filosófica.
A proposta de um ensino de filosofia imbricado ao projeto de vida, de algum modo ser equiparado ao trabalho filosófico – como muitas vezes o trabalho em arquitetura – é antes de tudo um trabalho sobre Si-mesmo. Tal empreitada está além de uma concepção puramente teórica, ela se pauta no campo existencial, exigindo deste modo, uma postura pragmática por parte do professor de filosofia. Para superar o hiato que existe entre a formação de professor de filosofia e o habilitar a lecionar o projeto de vida no ensino médio, é necessário o enfrentamento do ensino pautado nos cânones e exegese dos textos, no entrelaço da contradição de uma produção que segundo Cabrera estaria pautada unicamente na adesão e filiação em escolas filosóficas e seus cânones, aos cânonesdos textos citados pelo viés da metodologia científica desconectada da escola.
A saída proposta é uma atenção à formação de professores de filosofia já na Universidade através da elaboração de práticas pedagógicas interdisciplinares. A interdisciplinaridade é muito mais que um método a ser seguido, é uma postura que deve criar no futuro professor de filosofia as competências e habilidades para lidar com o projeto de vida no ambiente escolar.
Oxalá consigamos através da mudança de nossas práticas pedagógicas potencializar o ensino de filosofia no ensino médio, relegado ao segundo plano. Faz-se necessário assumir o projeto de vida como componente curricular no ensino médio e mostrar que a filosofia é uma forma corajosa de arquitetar o trabalho sobre si mesmo.
Referências
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[1]As práticas pedagógicas se mantiveram obrigatórias na Resolução CNE/CP nº 2/2019 no Capítulo II Art. 6º; e na Resolução CNE/CP nº 4/2024 (atual normativa que também dispõe sobre a importância das práticas em seu Capítulo II Art. 4º.
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