Uma curta introdução à escrita acadêmica e ao trabalho acadêmico

A short introduction to academic writing and academic work

 

Flavio Fontenelle Loque https://lh7-us.googleusercontent.com/h9Ojv87ptVEgwx8PXehJNWB6RbeDlpXgP9wEPNuQgEiN1MWZqOYypeCQ59qJzbAdKq2NWcCoCxu9ig7Uxj9DQGeZQd62p5GHyOeol1sBa83pp3fhKd6TWJ4p1GJxaptf9Bd5r7OgGMw4FOSfvYdyTA

Universidade Federal de Lavras, Lavras, MG, Brasil

flavioloque@yahoo.com

 

Recebido em 17 de outubro de 2023

Aprovado em 12 de novembro de 2023

Publicado em 12 de junho de 2024

 

RESUMO

Para os(as) estudantes de filosofia, a transição do Ensino Médio para o Ensino Superior implica deparar-se com um nível significativamente mais alto de exigência quanto à leitura e à escrita. Em especial nos períodos iniciais, umas das principais dificuldades enfrentadas pelos(as) estudantes decorre da ausência de uma compreensão clara (i) dos elementos estruturantes dos textos filosóficos, (ii) das características básicas dos gêneros de escrita acadêmica e (iii) de algumas tarefas corriqueiras do trabalho acadêmico. O presente artigo tem como objetivo elaborar uma explicação sintética desses três pontos e, ao final, fornecer uma orientação bibliográfica que permita um aprofundamento da compreensão de cada um deles.

Palavras-chave: Gêneros acadêmicos; Artigo; Resumo; Fichamento; Levantamento bibliográfico.

 

ABSTRACT

For philosophy students, the transition from high school to university means having to fulfil significantly more complex and demanding requirements when it comes to academic reading and writing. Especially in the initial semesters, one of the main difficulties students face is a lack of a clear understanding of (i) the structure of philosophical texts, (ii) the basic characteristics of academic genres and (iii) some ordinary tasks involved in academic work. The goal of this article is to provide a summary explanation of these three points and, at the end, to offer a suggested reading list that will enable a deeper understanding of each of these topics.

Key-words: Academic genres; Article; Abstract; Annotation; Bibliographic research.

 

Introdução

Com certa frequência, o trabalho acadêmico causa surpresa nos(as) estudantes. O nível de exigência é, como esperado, mais alto do que no Ensino Médio, mas o rigor do trabalho acadêmico lhes parece excessivo. Esse fenômeno é recorrente nas graduações em filosofia e há diferentes razões para explicá-lo. Uma delas, infelizmente, é a deficiência no domínio da língua portuguesa, a qual advém de falhas estruturais do Ensino Médio (tanto em escolas públicas quanto privadas) e resulta na dificuldade em interpretar e redigir textos. Entre as demais razões, destaca-se a ausência de uma compreensão clara (i) dos elementos estruturantes dos textos filosóficos, (ii) das características básicas dos gêneros de escrita acadêmica, em especial do artigo e do fichamento, e (iii) de algumas tarefas corriqueiras do trabalho acadêmico, como o levantamento bibliográfico e a formatação textual.

O presente artigo tem como propósito contribuir para um entendimento mais apurado da escrita acadêmica e do trabalho acadêmico, almejando assim não só desfazer a impressão (errônea) de rigor excessivo, mas fornecer instrumentos que colaborem para um melhor aprendizado e uma maior autonomia em todas as disciplinas do curso. Cada uma a seu modo, as sete seções a seguir foram concebidas para atingir esse intuito: a primeira apresenta os elementos estruturantes dos textos filosóficos e a forma como devem estar dispostos num artigo, a segunda apresenta e define a noção de argumento, a terceira e a quarta tratam de outros gêneros acadêmicos (resumo e fichamento), a quinta e a sexta explicam duas tarefas corriqueiras do trabalho acadêmico (levantamento bibliográfico e formatação textual), a sétima seção fornece uma sugestão bibliográfica comentada relativa aos tópicos abordados.

Há várias obras dedicadas a um ou mais desses tópicos, como os excelentes livros de Sacrini (2019) e Porta (2004), dos quais, aliás, o presente artigo é tributário. A pretensão aqui, contudo, não é esgotar nenhum dos tópicos, mas oferecer aos(às) estudantes de filosofia um guia breve e preciso acerca dos aspectos centrais da escrita acadêmica e do trabalho acadêmico. Concebido para orientar os(as) ingressantes (e, claro, para facilitar o trabalho docente), o presente artigo foi elaborado com a esperança de que, tendo prontamente à mão recursos que colaborem para o aprendizado e para a autonomia, o itinerário formativo se torne mais agradável e produtivo e que um maior número de estudantes conclua a graduação.1

 

Orientações gerais sobre os elementos estruturantes dos textos filosóficos e sobre a elaboração de artigo

Escrever bem não é fácil, mas é algo que, dentro de certos limites, pode ser aprendido. No que se refere à escrita acadêmica em filosofia, esse aprendizado está intimamente relacionado à compreensão da estrutura dos textos filosóficos. Noutras palavras, para escrever bem, é preciso antes ler bem. Com o objetivo de contribuir para o domínio dessas habilidades, esta seção apresenta (i) os elementos estruturantes dos textos filosóficos (elementos cuja identificação é essencial em qualquer leitura) e (ii) as características básicas de um artigo em filosofia (gênero predominante na produção em filosofia no Brasil e no mundo).

As obras clássicas em filosofia subdividem-se em diferentes gêneros, que são basicamente os seguintes: diálogo, carta, suma, tratado, ensaio, aforismo. Ao longo da formação em filosofia, portanto, é inevitável que os(as) estudantes se deparem com textos formalmente distintos, os quais mantêm, no entanto, um núcleo de características em comum. Esse núcleo é composto pelos elementos estruturantes: problema, tese, argumentos e conceitos. Sendo assim, ler bem um texto filosófico requer a compreensão (1º) do problema, (2º) da tese, (3º) dos argumentos e (4º) dos conceitos presentes na obra. Em termos simples, esses elementos podem ser explicados da seguinte maneira: (1º) o problema consiste na questão que o(a) autor(a) se coloca, (2º) a tese é a resposta do(a) autor(a) ao problema, (3º) os argumentos são a justificativa do(a) autor(a) para a tese, ou seja, são a fundamentação da tese, (4º) os conceitos são as noções relevantes empregadas na formulação do problema, da tese e dos argumentos. Com enorme frequência, os textos clássicos em filosofia não apresentam linearmente esses quatro elementos. Não raro, um estudo prévio para a contextualização da obra a ser lida é imprescindível para a identificação do problema ou para a definição de alguns dos conceitos relevantes, já que estes podem não ter sido explicitamente apresentados pelo(a) autor(a). De todo modo, qualquer que seja o gênero da obra estudada, uma boa leitura deve consistir na identificação e na compreensão dos elementos estruturantes. Evidentemente, os textos filosóficos contêm ainda outros elementos (objeções e respostas, exemplos, analogias, etc.), cuja compreensão é também necessária. Uma estratégia interessante na leitura é identificar as articulações do texto e subdividi-lo em blocos temáticos, pois assim se visualiza melhor os diferentes passos da exposição e o encadeamento entre eles (a esse respeito, veja-se a proposta de fichamento apresentada a seguir).

Feitas essas observações sobre a leitura, pode-se agora compreender como se escreve um artigo em filosofia.2 A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) especifica na norma NBR 6022 (2. ed. 2018) como um artigo científico deve ser composto, mas, dado que esta se limita a seus aspectos gerais, é preciso então que se apresente com maior detalhamento o que se espera de um artigo em filosofia. Do ponto de vista formal, a característica mais elementar de qualquer artigo é respeitar a progressão com introdução, desenvolvimento e considerações finais, além de conter o resumo (com as palavras-chave) e as referências bibliográficas. A introdução constitui a etapa inicial do artigo e sua função é apresentar (i) o tema a ser tratado, (ii) o problema a ser discutido, o qual é exposto sob a forma do objetivo a ser alcançado,3 (iii) a fonte utilizada e (iv) as etapas da exposição. Se possível, é conveniente apresentar ainda um esboço da tese. Assim como as demais seções, a introdução deve pressupor o mínimo de conhecimento prévio do(a) leitor(a) acerca do tema, do problema, da fonte utilizada e da sequência expositiva. A ausência de qualquer um desses tópicos constitui um erro, mas a ausência da apresentação do objetivo constitui um erro particularmente grave. Já o desenvolvimento corresponde à seção na qual se busca atingir o objetivo proposto. Muitas vezes desdobrado em subseções correspondentes às etapas da exposição, o desenvolvimento apresenta e explica, tão detalhadamente quanto preciso, (v.a) a tese, (v.b) os argumentos para sustentá-la e (v.c) os conceitos aí presentes. Nos níveis mais avançados de pesquisa, espera-se também que o desenvolvimento não só analise a bibliografia secundária, mas (v.d) proponha uma contribuição para o campo.4 Um erro relativamente comum é inserir no texto elementos teóricos que não são necessários ou que não estão relacionados ao objetivo. Um erro ainda mais grave é incorrer em contradição. Dessa perspectiva, um bom desenvolvimento é aquele que está bem articulado, ou seja, que apresenta a progressão teórica com clareza e sem saltos, explicitando o vínculo entre os passos do raciocínio. No desenvolvimento, é comum haver citações tanto da bibliografia primária quanto da secundária. Usadas com moderação, as citações permitem que a discussão conceitual seja feita de modo mais preciso. Assim como as referências bibliográficas e o resumo (com as palavras-chave), elas devem seguir as normas específicas da ABNT.5 As considerações finais, por sua vez, consistem (vi) numa retomada sintética dos elementos centrais de toda a exposição e, por isso, não podem conter nenhuma novidade frente ao que já foi exposto.

A estrutura de um artigo, portanto, é constituída por três seções: introdução, desenvolvimento e considerações finais, além do resumo inicial (com as palavras-chave) e das referências bibliográficas. Todas essas seções possuem características próprias e, como visto acima, há alguns erros típicos associados a cada uma delas, os quais podem dizer respeito tanto aos aspectos formais do gênero quanto aos elementos estruturantes dos textos filosóficos.6 Para que um artigo fique claro e bem articulado, é necessário, assim, dominar as regras do gênero bem como a estrutura dos textos filosóficos.

 

Sobre a noção de argumento

A noção de argumento é central na filosofia, mas o termo padece de uma polissemia. Entre seus sentidos possíveis, dois precisam ser esclarecidos. O primeiro diz respeito ao uso comum, no qual ‘argumento’ é sinônimo de justificativa, fundamentação, embasamento (esse é o sentido adotado na seção anterior e nas subsequentes). Normalmente, o termo é utilizado dessa maneira quando se pretende indicar ou solicitar a razão de algo. Esse uso comum corresponde a uma tarefa fundamental da filosofia (e, de modo mais amplo, das ciências): apresentar e exigir as provas de uma tese. Já o segundo dos sentidos possíveis corresponde a um uso técnico do termo ‘argumento’. Entre os dois sentidos não há contradição, mas uma especificação. Para compreender essa especificação, no entanto, é preciso antes entender o que é uma proposição.

A linguagem pode ser empregada de diferentes maneiras. Às vezes, por exemplo, a linguagem é utilizada para se realizar um pedido, como “passe o suco, por favor”, ou para se expressar um questionamento, como “que horas são?”. Noutros casos, é utilizada para se fazer uma afirmação ou negação, ou seja, para se fazer uma proposição, como “o pão de queijo está pronto” ou “cachoeiras não têm água quente”. Diferentemente dos pedidos e dos questionamentos (e de outros empregos possíveis da linguagem), as proposições se caracterizam por serem passíveis de ser verdadeiras ou falsas. A rigor, proposições são sentenças declarativas e, na medida em que afirmam ou negam algo sobre o mundo, têm de ser ou verdadeiras ou falsas. No emprego cotidiano da linguagem, as proposições podem estar encadeadas, por exemplo, numa narração (quando prevalece entre elas a relação temporal), mas podem também estar encadeadas numa argumentação (quando está em jogo a relação inferencial), donde o segundo sentido do termo ‘argumento’.

Em sentido técnico, ‘argumento’ é um conjunto de proposições que estabelecem entre si uma relação bem determinada: uma ou mais proposições (as premissas) sustentam outra (a conclusão). Pode-se perfeitamente dizer, portanto, que as premissas constituem a justificativa da conclusão ou, noutras palavras, que a conclusão é extraída das premissas. No vocabulário da lógica, é isso que significa afirmar que entre as proposições – as premissas, por um lado, e a conclusão, por outro – há uma relação inferencial. Evidentemente, também no uso comum do termo ‘argumento’ está presente a relação inferencial. A diferença entre os dois usos do termo reside no fato de que, quando se trata de ‘argumento’ em sentido técnico, almeja-se uma identificação e concatenação precisa daquilo que é sustentado (a conclusão) e daquilo que serve como sustentação (as premissas). A explicitação das proposições e de seu vínculo representa um ganho em clareza, mas é especialmente valiosa quando se pretende avaliar se as premissas de fato amparam a conclusão (vale lembrar que uma falácia também é um conjunto de proposições, mas um conjunto no qual as premissas parecem sustentar a conclusão sem, no entanto, efetivamente sustentá-la).

Como apontado há pouco, portanto, não há contradição entre os dois sentidos do termo ‘argumento’, apenas uma especificação. Em ambos os casos, convém insistir, o essencial é a relação entre o que necessita ser sustentado (a conclusão ou tese) e o que sustenta (as premissas ou justificativa). Na tabela 1 a seguir, sintetiza-se a correspondência entre os dois usos do termo com o exemplo de um argumento composto por três proposições.

 

Tabela 1: Dois sentidos de ‘argumento’

Sentido técnico

Exemplo

Sentido comum

Argumento como

conjunto de proposições

P1

Todos os seres humanos são mortais.

Argumento como sinônimo de justificativa, fundamentação, embasamento

P2

 

Sócrates é humano.

C

Logo, Sócrates é mortal.

Tese

Fonte: Elaboração do autor.

 

A título de clareza, por fim, convém observar que o vínculo de sustentação é frequentemente ilustrado por meio de uma analogia com a arquitetura: os pilares equivalem às premissas ou à justificativa; o telhado, à conclusão ou à tese. Outras analogias são concebíveis, bastando citar a relação entre raízes e tronco/galhos.

 

Orientações gerais sobre a elaboração de resumo

O resumo é um gênero acadêmico normalizado pela ABNT por meio da NBR 6028 (2. ed., 2021). Segundo a referida norma, entende-se por resumo uma “apresentação concisa dos pontos relevantes de um documento” (NBR 6028, 2. ed., 2.4). Ainda segundo a norma, os resumos podem ser indicativos ou informativos, residindo a diferença entre eles no fato de o resumo informativo ter detalhamento suficiente para dispensar a consulta ao original. Do ponto de vista formal, um resumo se caracteriza por ser constituído por um único parágrafo e por estar acompanhado de palavras-chave. A NBR 6028 sugere ainda que o resumo seja escrito em terceira pessoa, isto é, que não seja escrito nem na primeira pessoa do singular, nem na primeira pessoa do plural, mas essa sugestão com frequência não é seguida no trabalho acadêmico em filosofia, no qual é muito comum o uso das duas formas da primeira pessoa (seja como for, é preciso que o resumo e o artigo tenham uniformidade de discurso, ou seja, que o texto não oscile entre diferentes tipos de discurso). Ainda no que se refere especificamente ao trabalho acadêmico em filosofia, é importante notar que os resumos que antecedem os artigos são do tipo indicativo, devendo apresentar o problema (ou os objetivos), a fonte e, eventualmente, um esboço da tese. A extensão do resumo e o número de palavras-chave são variáveis, pois dependem do periódico para o qual o artigo será submetido. A Kriterion, por exemplo, estabelece um limite de 200 palavras para o resumo e de três a seis palavras-chave.

 

Tabela 2: Exemplo de resumo indicativo

SOUSA, Meline. Os processos de aquisição dos termos do silogismo segundo a investigação noética de Avicena. Kriterion, v. 56, n. 131, p. 25-44, 2015.

 

Resumo: Tendo em vista o desacordo entre os comentadores contemporâneos acerca do modo pelo qual o intelecto teorético conhece no “Kitāb al-nafs” de Avicena, investigo se esta atividade se realiza por um sentido interno que é auxiliado pelo intelecto a fim de abstrair a forma material ou se é uma atividade exclusiva do intelecto que não depende das formas materiais, mas apenas da intuição das formas inteligíveis. Contudo, algumas passagens das seções V.5 e V.6, nas quais são descritas a atividade conjunta entre intelecto e os sentidos internos e a sua atividade própria, conduzem à conclusão segundo a qual são necessários dois elementos para que o conhecimento seja realizado: a unificação da multiplicidade e a multiplicação da unidade; em outras palavras, não é suficiente que o intelecto, em conjunto com as faculdades estimativa e cogitativa, conceitualize os termos menor e maior do silogismo, mas ele também precisa intuir o termo médio.

Palavras-chave: Epistemologia; intelecto; filosofia medieval

Fonte: Elaboração do autor.

 

Quando não estão sujeitos às regras dos periódicos, ou seja, quando são elaborados para uso próprio, é desnecessário dizer que os resumos podem ser mais extensos. Sugere-se que os resumos feitos como parte dos estudos sejam do tipo informativo e que possuam a extensão necessária para conter a identificação e a síntese do problema, da tese e dos argumentos, além da definição dos principais conceitos da obra lida. O resumo informativo equivale, assim, ao que se pode chamar de reconstrução lógica, dado que não preserva o encadeamento linear ou sequencial do texto, como no fichamento (cuja explicação se encontra a seguir), mas reelabora-o de modo a explicitar sinopticamente seus elementos estruturantes.7

 

Tabela 3: Esquema de resumo informativo

Sobrenome, Nome. Título do artigo. Nome do periódico, volume, número, página inicial-final, ano.

 

No artigo..., o(a) autor(a) se coloca o seguinte problema:.... Sua posição perante o problema é que.... Essa posição encontra-se fundamentada nos seguintes argumentos:.... Na demonstração de sua tese, o(a) autor(a) refuta duas objeções, a saber:..... A primeira delas é refutada com a afirmação de que...; a segunda, com... A primeira objeção é extraída do livro... de...; a segunda, do artigo... de.... O(a) autor(a) define expressamente os conceitos de.... O texto é rico em analogias, a mais importante das quais é a analogia..., já que esclarece a relação entre os conceitos... presentes na tese.

Fonte: Elaboração do autor.

 

Orientações gerais sobre a elaboração de fichamento

A escrita acadêmica é constituída por diferentes gêneros, como já apontado. O fichamento é um desses gêneros, mas possui uma característica que o distingue da quase totalidade dos demais: não estar voltado para publicação, mas para o estudo. Ao se fazer um fichamento, o objetivo é realizar uma subdivisão do texto lido com base em seus blocos temáticos, identificando e destacando seus elementos estruturantes: o problema, a tese, os argumentos e os conceitos (e, quando houver, os demais elementos estruturantes, como objeções, respostas, analogias, exemplos, etc.). Um fichamento, portanto, não é uma paráfrase, nem um conjunto de resumos parágrafo por parágrafo, tampouco uma coletânea de citações. Em termos bastante concretos, o fichamento consiste no desmembramento do texto em seus blocos de sentido com a finalidade de explicitar suas articulações, estabelecendo com clareza os passos do raciocínio desenvolvido pelo(a) autor(a). Noutras palavras, sua finalidade é indicar o encadeamento do raciocínio de maneira linear, razão pela qual o fichamento difere do resumo informativo, em que se busca uma reconstrução lógica sinóptica do texto lido.

Sendo um gênero voltado para o estudo, não há uma normalização que determine como um fichamento deve ser elaborado. Em razão disso, sugere-se aqui que o fichamento tenha o seguinte formato:8 uma seção inicial, bastante curta, contendo unicamente a referência da obra de acordo com as normas da ABNT; a seção principal, tão longa quanto necessário, contendo a indicação da subdivisão em blocos temáticos e a análise dos elementos estruturantes, conforme o modelo a seguir:

 

Tabela 4: Esquema de fichamento

Sobrenome, Nome. Título em negrito: subtítulo sem negrito. Tradução: Nome do(a) tradutor(a). Edição. Cidade: Editora, ano.

 

1o Capítulo:

§§ 1-6: [Título do primeiro bloco temático a ser dado pelo(a) estudante]

a) No início do texto, autor apresenta sua tese (§ 1): ... [Identificação da tese]

b) Em seguida o autor define os conceitos centrais de sua tese (§§ 2-4):

b1) O conceito X quer dizer... (§§ 2-3) [Definição do conceito]

b2) O conceito Y quer dizer... (§ 4) [Definição do conceito]

c) Por fim, o autor apresenta e responde uma objeção à tese (§§ 5-6):

c1) A primeira objeção é... (§ 5) [Síntese da objeção]

c2) A resposta à primeira objeção é... (§ 6) [Síntese da resposta à objeção]

 

§§ 7-10: [Título do segundo bloco temático a ser dado pelo(a) estudante]

a)...

b)...

 

§§ 11-19: [Título do terceiro bloco temático a ser dado pelo(a) estudante]

a)...

b)...

 

2o Capítulo:

§§ 1-8: [Título do primeiro bloco temático a ser dado pelo(a) estudante]

a)...

b)...

 

**Obs: Para se fazer o fichamento, é preciso identificar com clareza as unidades em que o texto foi decomposto. No presente modelo, essas unidades são os parágrafos (donde o símbolo §§), o que então exige que se faça uma enumeração manual no texto. Evidentemente, essas unidades podem ser as páginas. O importante é que fique claro em que unidade o texto foi decomposto para se assegurar a inteligibilidade de sua subdivisão em blocos temáticos. Convém notar, porém, que várias obras filosóficas possuem uma forma própria de identificação – e de citação – de suas unidades e, nesses casos, é preciso segui-la. Um exemplo disso é o referenciamento alfanumérico presente nas boas edições das obras de Platão e Aristóteles.

Fonte: Elaboração do autor.

 

Orientações gerais sobre a bibliografia secundária e o levantamento bibliográfico

Ao longo da graduação em filosofia, é essencial a leitura da bibliografia primária, ou seja, das obras dos(as) filósofos(as). Essa é uma tarefa imprescindível, condição necessária para uma boa formação. Contudo, uma boa formação em filosofia requer ainda o uso adequado da bibliografia secundária, isto é, dos comentários às obras dos(as) filósofos(as). Esse uso resume-se a duas finalidades básicas, que serão apresentadas a seguir, mas cujo entendimento requer uma exposição prévia do que são os comentários e de qual é seu veículo de divulgação.

Os comentários são interpretações (com grande frequência de natureza histórica) centradas num problema baseado (i) numa determinada obra, (ii) em parte de uma obra ou (iii) em diferentes obras, seja de um(a) mesmo(a) autor(a), seja de mais de um autor(a). Seu gênero característico é o artigo e seu veículo de divulgação mais comum são os periódicos. Periódicos são revistas (normalmente vinculadas a departamentos universitários) que só publicam textos depois da revisão por pares. No trabalho acadêmico em filosofia, por conseguinte, entende-se por periódico uma revista com textos de pessoas dedicadas à pesquisa filosófica – quase sempre doutores(as) e doutorandos(as). Trata-se, em suma, de um tipo de publicação bastante especializada. No Brasil, alguns dos principais periódicos em filosofia são os seguintes: Kriterion, Discurso, Manuscrito, O que nos faz pensar, Trans/Form/Ação, Analytica, Síntese, Dissertatio, Dois Pontos, Ethic@, Filosofia Unisonos, Veritas (todos eles de acesso gratuito). Ressalte-se, todavia, que o ranqueamento dos periódicos depende do critério adotado.9 Naturalmente, há também os periódicos estrangeiros. Em filosofia, não há uma hegemonia da língua inglesa, de modo que o idioma predominante pode muito bem ser o francês ou o alemão, conforme a área de estudo. Essa pluralidade é um desafio, sobretudo na graduação, já que o domínio de línguas estrangeiras permite o acesso a uma enorme quantidade de material indisponível em português.10

Feita a exposição do que é um comentário e de seu veículo de divulgação, é possível agora discutir de maneira mais precisa o uso da bibliografia secundária. A esse respeito, é preciso inicialmente dizer que os comentários jamais devem substituir a leitura da bibliografia primária. Seu uso, portanto, deve ser subsidiário. Ao longo da graduação, duas são suas finalidades básicas: (1ª) a apreensão dos elementos necessários para se iniciar a leitura de uma obra ou a abordagem de um problema, tese, argumento ou conceito, isto é, a apreensão dos elementos necessários para se conseguir “entrar” num determinado texto ou discussão; (2ª) o aprimoramento da compreensão de uma determinada obra, problema, tese, argumento ou conceito, isto é, o estudo das principais interpretações acerca de uma obra, problema, etc. Como, porém, atingir esses dois fins? Ora, os comentários possuem diferentes graus de profundidade (dos introdutórios e panorâmicos aos detalhados e eruditos), de modo que é preciso encontrar o texto adequado para o que se deseja. Assim, no que se refere à primeira finalidade, uma alternativa é consultar bons manuais e/ou dicionários de filosofia (p. ex. História da Filosofia Antiga, de Giovanni Reale, ou o Dicionário de Filosofia, de J. Ferrater Mora); no que se refere à segunda, um caminho interessante é identificar os(as) grandes especialistas da obra, problema, área ou autor(a) de interesse e buscar suas publicações. Essa tarefa – buscar publicações – é o que se chama de levantamento bibliográfico e merece um detalhamento particular.

Como fazer o levantamento bibliográfico? Há diferentes formas de fazê-lo. Inicialmente, graças às facilidades propiciadas pela internet, convém utilizar o Google Acadêmico e a Scielo,11 além de pesquisar o acervo das bibliotecas das grandes universidades. Um caminho mais tradicional, mas muito eficiente, é conferir as referências bibliográficas dos livros e artigos já lidos ou indicados pelos(as) professores(as) nos programas das disciplinas. Nesse mesmo sentido, vale a pena consultar boas coletâneas, como o compêndio The Cambridge Companion to..., que possui vários volumes traduzidos para o português (publicados pela editora Ideias & Letras). Para quem lê em inglês, a consulta à Stanford Encyclopedia of Philosophy é sempre útil.12 Outra alternativa frutífera, agora na busca de dissertações e teses, é consultar o Catálogo da Capes.13  Quando se trata de inventariar as publicações de um(a) pesquisador(a) vinculado(a) a instituições brasileiras, pode-se buscar seu currículo na Plataforma Lattes do CNPq e então ver, entre outras informações, a lista de seus artigos, livros e capítulos de livros.14

 

Orientações gerais sobre a formatação

Hoje em dia, os textos elaborados no trabalho acadêmico são feitos por meio do Word, o que facilita bastante não só o processo de escrita e revisão, mas também o de formatação. Quanto à formatação, os padrões são essencialmente os seguintes:

 

ü  Fonte: Times New Roman;

ü  Tamanho: 12 para o corpo do texto e 11 para as citações de mais de três linhas, as notas de rodapé, a paginação, a legenda de ilustrações e tabelas;

ü  Alinhamento: justificado;

ü  Espaçamento: 1,5 para o corpo do texto; 1 para o resumo, as palavras-chave, as citações de mais de três linhas, as notas de rodapé, a legenda de ilustrações e tabelas;

ü  Margens: superior e esquerda: 3cm; inferior e direita: 2 cm;

ü  Citações: as citações de até três linhas devem estar entre aspas duplas; as citações de mais de três linhas devem estar sem aspas, com recuo de 4cm da margem esquerda, espaçamento simples e tamanho 11;

ü  Sistema de chamada: autor-ano, p. ex.: Sacrini (2019), Sacrini (2019, p. 40), (Sacrini, 2019);

ü  Numeração das páginas: em algarismos arábicos, no canto superior direito, a partir da primeira página do elemento propriamente textual (isto é, não se numera a capa e os demais elementos pré-textuais, caso existentes).

 

A formatação dos textos acadêmicos possui ainda uma série de outros detalhes, todos normalizados pela ABNT. Para uma visão de conjunto e um maior detalhamento dessas normas, as bibliotecas universitárias costumam elaborar manuais, como o Manual de normalização e estrutura de trabalhos acadêmicos disponível no site da biblioteca da Universidade Federal de Lavras.15 Especificamente no que se refere às citações e ao sistema de chamada, sugere-se vivamente a consulta à NBR 10520.

 

Sugestão bibliográfica comentada (por tema e ordem de relevância)

Sobre a estrutura dos textos filosóficos:

PORTA, Mário. A Filosofia a partir de seus problemas: didática e metodologia do estudo filosófico. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2004. (Imprescindível: 1ª parte, cap. 2 e 4.)

 

FOLSCHEID, Dominique ; WUNENBURGER, Jean-Jacques. Metodologia filosófica. Tradução: P. Neves. São Paulo: Martins Fontes, 2006. (Imprescindível: 1ª parte, seção I, cap. II, § I; 2ª parte, seção I, cap. III; léxico, mas deve-se levar em conta que algumas considerações restringem-se à cultura escolar francesa.)

 

Sobre a leitura:

SACRINI, Marcus. Leitura e escrita de textos argumentativos. São Paulo: Edusp, 2019. (Imprescindível: cap. 4-6.)

 

LIBÂNEO, João Batista. Introdução à vida intelectual. 3. ed. São Paulo: Loyola, 2006. (Destaque: 2ª parte, cap. 13.)

 

Sobre a escrita acadêmica e os gêneros acadêmicos:

MOTTA-ROTH, Désirré; HENDGES, Graciela R. Produção textual na universidade. São Paulo: Parábola editorial, 2010. (Destaque: cap. 2-5.)

 

AQUINO, Ítalo de S. Como escrever artigos científicos. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. (Destaque: cap. 6-15, 18.)

 

DINIZ, Débora; MUNHOZ, Ana Terra M. Cópia e pastiche: o plágio na comunicação acadêmica. Argumentum, v. 1, n. 3, p. 11-28, 2011.

 

**Obs.: Alguns aspectos formais variam conforme a área do conhecimento.

 

Sobre a escrita de textos argumentativos e os fundamentos da lógica:

SACRINI, Marcus. Leitura e escrita de textos argumentativos. São Paulo: Edusp, 2019. (Imprescindível: cap. 7-8.)

 

SACRINI, Marcus. Introdução à análise argumentativa: teoria e prática. São Paulo: Paulus, 2016. (Destaque: cap. 1-6.)

 

MARTINICH, Aloysius. P. Ensaio filosófico: o que é, como se faz. Tradução: A. Sobral. São Paulo: Loyola, 2002. (Destaque: cap. 3-4, 6-7.)

 

WESTON, Anthony. A arte de argumentar. 2. ed. Tradução e apêndice: D. Murcho. Lisboa: Gradiva, 2005. (Destaque: cap. 1, 7-9.)

 

Sobre a língua portuguesa e a precisão-correção expressiva:

BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 39. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2019.

 

EMEDIATO, Wander. A fórmula do texto: redação, argumentação e leitura. São Paulo: Geração Editorial, 2008.

 

GARCIA, Othon. M. Comunicação em prosa moderna. 25. ed. Rio de Janeiro: Fundação FGV, 2006.

 

KURY, Adriano. G. Para falar melhor e escrever o português. 2. ed. revista e atualizada. Rio de Janeiro: Lexicon, 2013.

 

PIACENTINI, Maria Tereza Q. Manual da boa escrita: vírgula, crase, palavras compostas. 2. ed. Rio de Janeiro: Lexicon, 2017.

 

**Obs.: Os diferentes tópicos abordados nos livros devem ser consultados conforme a necessidade ou o interesse de cada estudante.

 

Cursos online e gratuitos de escrita acadêmica:

PRÁTICAS de leitura e escrita acadêmicas – Aulas USP. 33 vídeos. Publicado pelo canal Canal USP. Disponível em: https://www.youtube.com/playlist?list=PLAudUnJeNg4vWJhEJ_da26C-QW5qiS7uZ Acesso em: 02 dez. 2021. (Imprescindível: Aula 1, partes 1-3; Aula 10, partes 1-3.)

 

CURSO de escrita acadêmica. 18 vídeos. Publicado pelo canal Rosana Pinheiro-Machado. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=wo_nMwQYObk&list=PLB-VAwdZA2BFjZxjGJjubPM8Mj9BXU6vg&index=1 Acesso em: 02 dez. 2021. (Destaque: Aulas 7 e 10-11.)

 

Obras introdutórias, caso seja preciso:

SEVERINO, Antônio. Como ler um texto de filosofia. São Paulo: Paulus, 2008. (Destaque: parte 1.)

 

LAZZARIN, Luís F. Introdução à escrita acadêmica. Santa Maria: UFSM, NTE, UAB, 2016.

 

Normas (vigentes em agosto de 2023) da ABNT:

ABNT NBR 6022. 2. ed. 2018. (Artigo)

 

ABNT NBR 6023. 2. ed. 2018. (Referências)

 

ABNT NBR 6028. 2. ed. 2021. (Resumo, resenha, recensão)

 

ABNT NBR 10520. 2023. (Citações)


 

Referências

AQUINO, Ítalo de S. Como escrever artigos científicos. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.

 

BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 39. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2019.

 

DINIZ, Débora; MUNHOZ, Ana Terra M. Cópia e pastiche: o plágio na comunicação acadêmica. Argumentum, v. 1, n. 3, p. 11-28, 2011.

 

EMEDIATO, Wander. A fórmula do texto: redação, argumentação e leitura. São Paulo: Geração Editorial, 2008.

 

FOLSCHEID, Dominique ; WUNENBURGER, Jean-Jacques. Metodologia filosófica. Tradução: P. Neves. São Paulo: Martins Fontes, 2006.

 

GARCIA, Othon. M. Comunicação em prosa moderna. 25. ed. Rio de Janeiro: Fundação FGV, 2006.

 

KURY, Adriano. G. Para falar melhor e escrever o português. 2. ed. revista e atualizada. Rio de Janeiro: Lexicon, 2013.

 

LAZZARIN, Luís F. Introdução à escrita acadêmica. Santa Maria: UFSM, NTE, UAB, 2016.

 

LIBANEO, João Batista. Introdução à vida intelectual. 3. ed. São Paulo: Loyola, 2006.

 

MARTINICH, Aloysius. P. Ensaio filosófico: o que é, como se faz. Tradução: A. Sobral. São Paulo: Loyola, 2002.

 

MOTTA-ROTH, Désirré; HENDGES, Graciela R. Produção textual na universidade. São Paulo: Parábola editorial, 2010.

 

PIACENTINI, Maria Tereza Q. Manual da boa escrita: vírgula, crase, palavras compostas. 2. ed. Rio de Janeiro: Lexicon, 2017.

 

PORTA, Mário. A Filosofia a partir de seus problemas: didática e metodologia do estudo filosófico. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2004.

 

SACRINI, Marcus. Leitura e escrita de textos argumentativos. São Paulo: Edusp, 2019.

 

SACRINI, Marcus. Introdução à análise argumentativa: teoria e prática. São Paulo: Paulus, 2016.

 

SEVERINO, Antônio. Como ler um texto de filosofia. São Paulo: Paulus, 2008. (Destaque: parte 1.)

 

WESTON, Anthony. A arte de argumentar. 2. ed. Tradução e apêndice: D. Murcho. Lisboa: Gradiva, 2005.

 

Desenho de rosto

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Notas

1 Vários(as) colegas contribuíram para a elaboração do presente trabalho. Agradeço-os(as) enormemente pela leitura e pelas sugestões: Alexandre Filordi de Carvalho, Arthur Klik de Lima, Federico Orsini, Gabriel Xavier, Lea Silveira, Leonardo Rennó Santos, Lincoln Frias, Marcus Sacrini, Mariana Condé, Meline Sousa, Renato Belo, Roberta Miquelanti e Rodrigo Marcos de Jesus.

2 A escrita acadêmica é composta por diferentes gêneros: resumo, resenha, recensão, ensaio e artigo. Há ainda outros dois gêneros, ambos não destinados à publicação: o já mencionado fichamento (cuja finalidade é o estudo) e o projeto (voltado para a submissão a editais de concurso e de agências de fomento à pesquisa).

3 Num projeto de pesquisa, a exposição do objetivo é dividida em objetivo geral e objetivos específicos. Isso também pode acontecer num artigo. Os objetivos específicos representam as etapas a serem gradualmente alcançadas para se atingir o objetivo geral.

4 Nos artigos a serem redigidos ao longo da graduação, é imprescindível explorar a bibliografia secundária, já que esse é um requisito formal do gênero, mas convém notar que o recurso aos comentários pode se dar em diferentes níveis de aprofundamento e de extensão. Num artigo de final de disciplina, torna-se então necessário que professor(a) e estudantes pactuem o que se espera quanto ao diálogo crítico com a bibliografia secundária. A pactuação também deve ocorrer acerca de outros aspectos formais, como a extensão do resumo e o número de palavras-chave.

5 As citações devem seguir a NBR 10520; as referências bibliográficas, a NBR 6023. 2. ed. 2018. Alguns periódicos adotam normalizações específicas, mas o trabalho acadêmico – na graduação, mestrado e doutorado – segue a ABNT, salvo orientação expressa em contrário.

6 Evidentemente, há ainda o plágio, que não é propriamente um erro na elaboração de um artigo, mas uma falha moral. A esse respeito, cf. Diniz e Munhoz (2011). Nos estágios iniciais do trabalho acadêmico, entretanto, é possível supor que o plágio às vezes ocorra de maneira não intencional, ou seja, como decorrência da ignorância acerca dos padrões convencionais de citação e paráfrase.

7 Essa proposta de resumo informativo corresponde em parte ao que Sacrini (2019, p. 155-157) chama de fichamento sintético.

8 Essa proposta de fichamento baseia-se amplamente no que Sacrini (2019, p. 146-154) chama de fichamento detalhado. Vale destacar que o fichamento (ou fichamento detalhado) é uma etapa preparatória para o resumo informativo (ou fichamento sintético).

9 No Brasil, adota-se como referência o chamado Qualis Periódicos, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior (Capes), fundação vinculada ao Ministério da Educação voltada para a pós-graduação strictu sensu. Veja-se: https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/public/consultas/coleta/veiculoPublicacaoQualis/listaConsultaGeralPeriodicos.jsf Acesso: 16 fevereiro 2023. Internacionalmente, contudo, o critério de ranqueamento tende a ser o fator de impacto. Veja-se https://www.scimagojr.com/journalrank.php?category=1211 Acesso em: 16 maio 2022.

10 Para quem almeja fazer pós-graduação, o estudo de uma primeira e, idealmente, de uma segunda língua estrangeira deve começar o mais cedo possível (sugerem-se inglês, francês, alemão ou italiano, mas convém notar que o espanhol, embora pouco valorizado nos processos de seleção de pós-graduação em filosofia no Brasil, é uma língua importante nos estudos sobre ensino de filosofia e, obviamente, sobre filosofia latino-americana, além de ser bastante útil para o acesso a traduções de obras clássicas inexistentes em português). Esse aprendizado é condição para o acesso a boa parte da bibliografia secundária em qualquer área de estudo, mas, além disso, é também condição para a leitura da bibliografia primária no idioma original, uma exigência no doutorado (quem almeja um doutorado em filosofia antiga ou islâmica precisa ainda dedicar-se, conforme o caso, ao grego, latim ou árabe).

11 Veja-se: https://scholar.google.com.br/schhp?hl=pt-BR&as_sdt=0,5 e https://www.scielo.br/ Acesso em: 16 maio 2022.

12 Veja-se: https://plato.stanford.edu/ Acesso em: 16 maio 2022.

13 Veja-se: https://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/ Acesso em: 09 jun 2022.

14 O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) é a principal agência de fomento à pesquisa no Brasil. Sua página na internet abriga a Plataforma Lattes, que congrega o currículo de todos(as) os(as) principais pesquisadores(as) atuando no Brasil. Veja-se: https://lattes.cnpq.br/ Acesso em: 16 maio 2022.

15 Veja-se: http://repositorio.ufla.br/jspui/handle/1/58933 Acesso em: 20 março 2024.