Revista Digital de Ensino de Filosofia (ReFiLo): a mensageira santa-mariense da educação filosófica no Brasil

 

Digital Journal of Philosophy Teaching (ReFiLo): the Santa Maria messenger of philosophical education in Brazil

 

Anderson Luis da Paixão Café

Doutor pela Universidade Federal da Bahia, Salvador, BA, Brasil.

andersoncafe2011@gmail.com - https://orcid.org/0000-0003-0653-9608

 

Adelmária Ione dos Santos

Mestra pela Universidade do Vale de Taquari, Lajeado, RS, Brasil.

adelmariaione@yahoo.com.br –  https://orcid.org/0000-0003-2078-0211

 

Isna Gabriel Sia

Graduado pela Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira, São Francisco do Conde, BA, Brasil.

isnanynamara@gmail.com – https://orcid.org/0000-0002-1128-4235

 

Recebido em 01 de março de 2022

Aprovado em 03 de julho de 2022

Publicado em 02 de setembro de 2022

 

RESUMO: É bastante conhecida a interrogação do filósofo Immanuel Kant a respeito da possibilidade ou não de se ensinar filosofia. Partindo-se da premissa de que não é possível dissociar a filosofia de seu ensino, este artigo se propôs a responder a seguinte questão: de que maneira a Revista Digital de Ensino de Filosofia (ReFiLo) contribui para o debate e o fortalecimento da educação filosófica no Brasil? Para responder a esta pergunta, realizou-se uma pesquisa de natureza qualitativa e quantitativa, adotando-se a pesquisa bibliométrica para caracterizar a produção científica publicada pela revista entre 2015 e 2021. Os resultados do estudo indicaram que a ReFiLo difundiu 116 publicações, as quais 76% referem-se a artigos de periódicos científicos. Os dados revelaram, ainda, que essas publicações foram produzidas por 155 filósofos e filósofas da educação com formações acadêmicas variadas, especialmente nas áreas de filosofia e educação. Os resultados mostraram, também, que a pesquisa bibliográfica e a documental foram as mais utilizadas na construção dos trabalhos publicados pela ReFiLo. As 116 publicações geraram um total de 217 palavras-chave, que representaram o conteúdo filosófico-educacional dos trabalhos comunicados. Por fim, os dados sinalizaram que as 116 publicações foram escritas, sustentando-se teórica e metodologicamente, em 1.011 obras. Esta pesquisa concluiu que a ReFiLo se caracteriza por ser um periódico filosófico-educacional aberto e democrático que recepciona, avalia e publica reflexões sobre a educação filosófica produzida por autores/as com diferentes capitais filosófico-educacionais acumulados e que promovem os movimentos de resistências para manter a filosofia viva nos currículos escolares.

Palavras-chave: Revista Digital de Ensino de Filosofia; Produção científica; Educação filosófica.

 

ABSTRACT: The question of the philosopher Immanuel Kant about the possibility or not of teaching philosophy is well known. Starting from the premise that it is not possible to dissociate philosophy from its teaching, this article proposes to answer the following question: in what way does the Digital Journal of Philosophy Teaching (ReFiLo) contribute to the debate and strengthening of philosophical education in Brazil? To answer this question, a qualitative and quantitative research was carried out, adopting bibliometric research to characterize the scientific production published by the journal between 2015 and 2021. The results of the study indicated that ReFiLo disseminated 116 publications, which 76% refer to articles in scientific journals. The data also revealed that these publications were produced by 155 philosophers of education with varied academic backgrounds, especially in the areas of philosophy and education. The results also showed that bibliographic and documental research were the most used in the construction of works published by ReFiLo. The 116 publications generated a total of 217 keywords that represented the philosophical-educational content of the reported works. Finally, the data indicated that the 116 publications were written theoretically and methodologically based on 1,011 works. This research concluded that ReFiLo is characterized by being an open and democratic philosophical-educational journal that welcomes, evaluates and publishes reflections on philosophical education produced by authors with different accumulated philosophical-educational capital and that promote resistance movements to maintain living philosophy in school curricula.

Keywords: Digital Journal of Philosophy Teaching; Scientific production; Philosophical education.

 

Introdução

          A filosofia, popularmente falando, é conhecida como a mãe de todas as outras áreas do saber. Foi por meio da mãe filosofia, que todos os outros filhos e filhas (a arte; a ciência e a cultura, somente para citar algumas) vieram ao mundo no intuito de possibilitar, aos habitantes terrenos, uma experiência única e singular em seus processos existenciais.

Como todas as outras mães, a mãe filosofia também possui uma capacidade imensa de gerar filhos e filhas pródigas com múltiplas possibilidades de ser, fabricando-os a partir de uma multiplicidade de ferramentas conceituais, teóricas e práticas sem as quais a vida humana seria praticamente impossível porque faltariam, aos humanos, artefatos simbólicos e culturais, através dos quais se é possível dar sentido à vida.

Apesar da diversidade conceitual da mãe filosofia, pode-se afirmar que alguns aspectos dessas variações são muito comuns entre si, a exemplo da concepção de que a filosofia seria uma espécie de movimento intelectual e/ou força cognitiva propulsora que desafiaria o sujeito a pensar por conta própria.

Dessa maneira, se a etimologia da palavra filosofia remete ao entendimento de “amor” ao “saber”, não é de qualquer saber que se está falando, mas de um saber forjado com base na elaboração de um pensamento crítico, reflexivo, argumentativo, analítico e racional capaz de retirar os indivíduos “[...] da falsa segurança da opinião [e mergulhá-lo] no caos do não pensamento para, pensando, produzir equilíbrios possíveis, sempre instáveis, sempre dinâmicos” (GALLO, 2012, p. 25).

Nesse sentido, a mãe filosofia está atrelada à força do pensar crítico e reflexivo; à ênfase, como ressalta o filósofo Walter Kohan, na exaltação de determinadas palavras e/ou na invisibilidade de outras, em uma luta constante de narrativas e discursos, que pretendem explicar, racionalmente, determinados aspectos da realidade, sempre com a perspectiva do desenvolvimento de um pensamento provisório e inacabado.

Mas será que é possível ensinar filosofia? Essa é uma das perguntas que, ainda hoje, move uma diversidade de estudos desenvolvidos no campo da educação filosófica. O filósofo alemão, Immanuel Kant, em sua crítica da razão pura, argumentou que não seria possível ensinar filosofia, mas apenas a filosofar. Com essa interpretação, Kant queria dizer que é possível ensinar alguém a pensar, mas não seria possível ensinar a filosofia, enquanto corpus de conhecimento pronto e acabado, até mesmo porque a mesma estaria em processo de construção, não possuindo, portanto, um ponto final em sua história.

Apesar de a filosofia ser contínua, por não possuir um ponto final em sua história, algumas indagações emerge como as seguintes: seria possível pensar a partir do já pensado, ou seja, através da própria história da filosofia em movimento? Será que os problemas enfrentados pelos/as filósofos/as, no decorrer da história, não poderiam colaborar para se pensar os problemas atuais? Partindo-se, por sua vez, do pressuposto de que “[...] ensinar filosofia implica ensinar a filosofar” (CERLETTI, 2009, p. 79), algumas questões são postas para o debate dos filósofos e das filósofas da educação, a saber: o que ensinar em sala de aula? Quais estratégias utilizar para socializar conteúdos didáticos? Quais recursos didáticos utilizar? Por quanto tempo ensinar? Como avaliar?

Assim, essas e tantas outras questões, que atravessam o campo da ensinagem e da aprendizagem filosófica, são tratadas em cursos de licenciatura e pós-graduação lato e stricto sensu; em atividades de extensão universitária; em planos de capacitação para professores/as de filosofia da educação básica, os quais são difundidos, de modo geral, em periódicos científicos que se constituem enquanto espaços de circulação de saberes e motores para a construção de novas reflexões filosófico-educacionais.

No Brasil, ainda são poucos os periódicos científicos nos quais educadores e educadoras filosóficas difundem os resultados de estudos e esse aspecto, certamente, está relacionado, não unicamente, mas, sobretudo, à recente estruturação e reconhecimento da área de Ensino dentro das diretrizes de avaliação da pós-graduação stricto sensu, no país.

Para se ter uma idéia da escassez de periódicos científicos na área de ensino de filosofia, ao se consultar as 430 folhas do Qualis periódicos, do último quadriênio, formulada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, encontraram-se 11 (onze) revistas, que articulam saberes dos campos da filosofia e da educação, cujos títulos são os seguintes: (1) Educação e Filosofia (UFU); (2) Conjectura: filosofia e educação; (3) Pensando: revista de filosofia (UFPI); (4) Filosofia e Educação; (5) Revista Sul-Americana de Filosofia e Educação; (6) Cadernos do PET-Filosofia (UFPI); (7) Cadernos do PET-Filosofia (UFPR); (8) Jornal de Filosofia nas Escolas; (9) Revista Pesquisa em Foco em Educação e Filosofia; (10) Saberes: revista interdisciplinar de filosofia e educação e (11) Revista Digital de Ensino de Filosofia.

Como se pode perceber, a única revista científica que trata, especificamente, sobre o tema do ensino de filosofia, estando aberta para recepcionar manuscritos produzidos por graduandos e graduados; mestrandos e mestres; doutorando e doutores; pós-doutores e professores da educação básica, que ensinam a disciplina de Filosofia, em sala de aula, é a Revista Digital de Ensino de Filosofia, que foi escolhida, para este estudo, pela relevância de suas publicações para os educadores e educadoras filosóficas.

Nesse sentido, esta pesquisa tentou entender de que modo a Revista Digital de Ensino de Filosofia (ReFiLo), periódico publicado pelo Centro de Educação da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul, tem contribuído para o debate e o fortalecimento das discussões ocorridas no campo da educação filosófica, no Brasil? Para responder a essa questão, o estudo objetivou caracterizar a produção intelectual publicada pela revista nos últimos 7 anos (entre 2015 e 2021), apresentando, também, um perfil acadêmico dos educadores e das educadoras filosóficas que se desafiaram a construir as suas narrativas sobre os processos de ensinagem e aprendizagem no campo da educação filosófica.

Para atingir ao objetivo estabelecido, desenvolveu-se uma pesquisa de natureza qualitativa e quantitativa, a partir da utilização da técnica bibliométrica, que, de acordo com Araújo (2006), refere-se à contagem de publicações científicas comunicadas em diferentes suportes informacionais, a fim de direcionar os rumos das pesquisas científicas e/ou filosóficas. Neste artigo, levantou-se, tabulou-se e caracterizou-se 116 publicações, difundidas pela ReFiLo, entre 2015 e 2021. Para tanto, foram construídas planilhas, no Microsoft Excel, com os seguintes dados: (1) nome dos autores/as; (2) titulação acadêmica na graduação e pós-graduação; (3) vinculação profissional; (4) tipo de publicações; (5) Título e subtítulo da publicação; (6) Palavras-chave; (7) Número de página; (8) Metodologia utilizada; (9) Quantidade de documentos referenciados e (10) Obras citadas.

Assim, ao se dar prosseguimento à leitura deste artigo, o/a leitor/a encontrará, além dessa brevíssima introdução, uma seção com a apresentação e a discussão dos principais resultados da pesquisa e uma parte final, que contem as principais considerações deste estudo.

 

ReFiLo: uma experiência santa-mariense de propagação da educação filosófica

Na sociedade brasileira, não são poucos os ataques sistemáticos para a exclusão da filosofia, da sociologia e das demais disciplinas do campo das ciências humanas do currículo da educação básica. Nesse sentido, é possível afirmar que a filosofia vive uma espécie de movimento pendular, no qual ora adentra a estrutura curricular oficial e ora é expulsa dela, sob a alegação de sua desnecessidade em face a uma sociedade que se configura pelo instrumentalismo e imediatismo do fazer em detrimento do pensar.

É justamente em um desses movimentos de retorno da disciplina de filosofia ao componente curricular da educação básica que nasceu, em 05 de maio de 2015, a Revista Digital de Ensino de Filosofia – ReFiLo, editada pelo Centro de Educação da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), cuja proposta, relatada pelas editoras, no primeiro volume e número da revista, consiste em contribuir para a “[...] expansão de estudos, pesquisas e projetos sobre o tema do ensino e da aprendizagem da filosofia” (TOMAZETTI; BENETTI, 2015, p.1).

Dessa maneira, a ReFiLo chegou ao mundo filosófico-educacional no intuito de potencializar a circulação de ideias, pensamentos, reflexões, críticas e práticas educativas sobre a educação filosófica no Brasil, constituindo-se em um espaço de resistência “[...] ao embrutecimento que os ataques à filosofia representam em nossa sociedade” (NASCIMENTO; TOMAZETTI, 2020, p.1), que são legitimados, por sua vez, pelos mais variados discursos normativos produzidos pelo Estado brasileiro e incentivados pelos seus atores econômicos que querem imputar, ao conhecimento filosófico, um lugar de “inutilidade” e, mais recentemente, de “corruptor” da juventude e de “obstáculo” para o exercício das demais disciplinas escolares, nos currículos da educação básica.

Nesse sentido, se a ReFiLo é um espaço democrático de circulação de ideias e um campo de resistência ao movimento pendular que insiste em expulsar a filosofia de dentro das escolas da educação média, então a escrita potencializada pelos educadores e pelas educadoras filosóficas que publicaram na revista, de acordo com Tomazetti e Benetti (2016, p. 1), é um “[...] campo de luta que pode movimentar a vida” (TOMAZETTI; BENETTI, 2016, p.1) e que está expressa na edição de 12 números, publicados pela revista, entre 2015 e 2021. A ReFiLo surgiu sendo publicada, semestralmente. Entretanto, a partir do ano de 2019, o periódico passou a recepcionar textos continuamente e, em 2020, foi lançado o seu primeiro número de publicação contínua, o que significou que os escritos passaram a ser publicados, imediatamente, após serem avaliados e aprovados pelos/as pareceristas.

A ReFiLo, conforme evidenciou o quadro 1, publicou, entre 2015 e 2021, 116 publicações divididas nas seguintes categorias: (1) artigo científico; (2) tradução; (3) resenha; (4) relato de experiência e (5) entrevista, perfazendo, portanto, uma média de 16 publicações por ano.

 

Quadro 1 – Tipos de produções científicas, por anos de publicação, editadas pela ReFiLo, entre 2015 e 2021.

Tipos de produções
 científicas

Anos de publicação

 

 

2015

2016

2017

2018

2019

2020

2021

 

 

Artigo científico

9

8

11

11

11

20

18

 

 

Tradução

0

0

0

1

0

0

0

 

 

Resenha

0

1

1

1

0

1

2

 

 

Relato de experiência

3

3

1

2

3

2

1

 

 

Entrevista

2

1

2

1

0

0

0

 

 

Subtotal

14

13

15

16

14

23

21

 

Total geral

116

 

Fonte: Os/as autores/as a partir de dados levantados na Revista Digital de Ensino de Filosofia (ReFiLo) e Plataforma Lattes do CNPq.

 

Ao se analisar o quadro 1, percebeu-se que, dentre os cinco tipos de produções científicas editadas pela ReFiLo, no período estudado, o artigo de periódico científico foi o mais utilizado pelos educadores e educadoras filosóficas para difundirem as suas reflexões, pensamentos e práticas a respeito dos processos de ensinagem e aprendizagem filosófica. A revista publicou, no período analisado, um total de 88 artigos científicos, correspondendo a 76% de toda a produção científica disseminada, no período recortado neste artigo. É muito provável que o/a leitor/a já tenha percebido, no quadro acima, que a maior quantidade de artigos produzidos ocorreu entre os anos 2020 e 2021, justamente quando a ReFiLo passou a ser publicada continuamente, sendo que a quantidade de artigos publicados nesses dois anos (38 trabalhos) correspondeu a 43% do total de artigos publicados pela revista. Esses dados, de certa forma, revelam os esforços da revista em ampliar, ainda mais, o seu espaço para publicação e discussão de questões referentes à educação filosófica, justamente em um dos momentos históricos mais desafiadores para o ensino de filosofia no país, quando, de uma só canetada presidencial, foi posto em execução o arsenal documental que tenta excluir, de vez, a filosofia dos currículos escolares da educação básica.

O quadro 1 indicou, também, que os relatos de experiências foram, após os artigos científicos, os meios mais utilizados pelos/as autores/as para relatarem as suas ações educacionais, no que tange ao processo de ensino e aprendizagem filosófica ocorridos em sala de aula e nos demais espaços de formação educacional. No período, foram produzidos 15 relatos, correspondendo a 13% do total de publicações editadas pela ReFiLo.

Os dados dispostos no quadro 1 revelaram, inclusive, que os artigos científicos e os relatórios de experiências foram os tipos de produções mais publicados em todos os anos de existência da ReFiLo. As resenhas não foram publicadas em 2015 e 2019 e as entrevistas não foram produzidas em 2019, 2020 e 2021. Um dado que chamou à atenção foi o pequeno número de traduções publicadas em comparação aos demais tipos de publicações. A produção de traduções foi incentivada a partir do segundo número de 2018, quando as editoras, na ocasião, registraram que, naquele número, não teriam “[...] uma entrevista, mas [que seriam brindadas] com o envio [e publicação] da tradução de O curso filosófico, de Jean François Lyotard, realizada por André Luis La Salvia” (TOMAZETTI; BENETTI; GALLINA, 2018, p.1).

As 116 produções, comunicadas pela ReFiLo, foram produzidas por 155 filósofos e filósofas da educação com formações acadêmicas variadas e vinculados/as às diferentes instituições escolares, universitárias e/ou administrativas, como será abordado mais adiante. Dessas 155 pessoas, 99 são homens e 56 são mulheres. O número de homens, portanto, representou quase o dobro do número de mulheres, o que indica, por sua vez, a necessidade de uma maior participação das mulheres nas reflexões filosóficas e educacionais sobre o ensino de filosofia no Brasil. É muito provável que esse resultado esteja atrelado ao histórico de maior presença masculina na produção epistemológica e histórica do campo da filosofia, a exemplo do que revelou o estudo desenvolvido por Fernanda Gabriela Soares dos Santos, publicado pela ReFiLo, em 2019, quando, no artigo intitulado “Teoria feminista e ensino de filosofia”, a autora problematizou a ausência das mulheres na tradição epistemológica da área.

No quadro 2, é possível conhecer os cursos de graduação cursados pelos educadores e pelas educadoras filosóficas que difundiram as suas reflexões na ReFiLo, entre 2015 e 2021. O quadro evidenciou que há uma predominância de autores/as que obtiveram as suas formações nos cursos de filosofia (121) e pedagogia/educação (14) que são, justamente, as áreas nas quais a ReFiLo está classificada na tabela de conhecimentos do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq), a saber: educação 7.08.00.00-6 e filosofia 7.01.00.00-4.

 

Quadro 2 – Cursos de graduação cursados pelos educadores e pelas educadoras filosóficas que publicaram, na ReFiLo, entre 2015 e 2021.

Cursos de
graduação

Ocorrências

Cursos de
graduação

Ocorrências

Filosofia

121

Biblioteconomia

1

Pedagogia

14

Bioética

1

História

11

Comunicação Estética

1

Teologia

7

Comunicação Social

1

Ciências Humanas

5

Ciências

1

Ciências Sociais

5

Educação Artística

1

Letras

5

Educação Física

1

Geografia

4

Gestão Comercial

1

Administração

2

Matemática

1

Ciências Biológicas

2

Produção Audiovisual

1

Música

2

Química

1

Psicologia

2

Serviço Social

1

 

Total geral

192

Fonte: Os/as autores/as a partir de dados levantados na Revista Digital de Ensino de Filosofia (ReFiLo) e Plataforma Lattes do CNPq.

 

Ao se observar o quadro 2, nota-se que 70% dos títulos acadêmicos obtidos pelos educadores e pelas educadoras filosóficas que optaram em contribuir para as reflexões sobre a educação filosófica promovida pela ReFiLo são das áreas de filosofia e/ou de pedagogia, evidenciando a pertinência da formação acadêmica dos/as autores/as aos objetivos da revista santa-mariense. Vale destacar que a divergência entre o número de títulos de graduação (192) e o número de autores/as (155), que publicaram na revista, ocorre porque muitos educadores e educadoras filosóficas possuem mais de uma titulação de graduação registrada em seus currículos.

O quadro 2 permitiu constatar, inclusive, que dos 24 cursos de graduação cursados pelos educadores e educadoras filosóficas, apenas 5 deles (ciências biológicas, música, ciências, matemática e química) não pertencem à grande área das ciências humanas e sociais aplicadas, o que revela, de certa forma, a aderência da ReFiLo ao campo das humanidades com a predominância de seus/suas autores/as advindos dessa grande área do saber humano.

Um aspecto interessante desses dados foi o elevado número de artigos científicos com pelo menos um dos/as autores/as formado/as em filosofia. Para se ter uma ideia dos números, dos 88 artigos publicados na ReFiLo, 81 deles, isto é, 92% foram produzidos por pelo mesmo um/a autor/a com graduação em filosofia, o que indica o interesse dos/as filósofos/as em discutirem questões educacionais e não apenas temáticas especializadas do campo filosófico.

Os 192 títulos de graduação, registrados na Plataforma Lattes do CNPq, foram concedidos por 89 instituições de ensino superior localizadas, predominantemente, em território nacional, o que indica o potencial formativo dessas instituições na formação de quadros críticos e analíticos dispostos a difundirem saberes e corroborarem para a produção de novas reflexões sobre a educação filosófica.

No quadro 3, são elencados os cursos de pós-graduação stricto sensu, em nível de mestrado, cursados pelos educadores e pelas educadoras filosóficas que produziram trabalhos para a ReFilo. Enquanto que no quadro 2 foram registradas 192 graduações cursadas, isto é, quase todos/as autores/as possuem pelo menos um curso de graduação concluído e/ou em conclusão, no quadro 3, percebe-se que quase 70% dos 155 autores/as que publicaram na ReFiLo possuem pelo menos um curso de mestrado acadêmico e/ou profissional concluído. Inclusive, muitos dos trabalhos publicados na revista derivaram das dissertações defendidas nos programas de pós-graduação stricto sensu.

          Novamente, assim como registrado no quadro 2, as áreas de filosofia e educação se destacaram entre os cursos de mestrado concluídos pelos educadores e pelas educadoras filosóficas. A área de filosofia registrou 48 ocorrências e educação 27, totalizando 75 títulos entre essas duas áreas do conhecimento as quais a ReFiLo se encontra, como já dito, classificada na tabela de área do conhecimento do CNPq. Esses dados reforçam a coerência da revista em relação ao seu escopo temático ao priorizar a difusão de pensamentos, reflexões, pesquisas e práticas educativas próprias dos processos de ensinagem e aprendizagem filosófica.

 

Quadro 3 – Cursos de mestrado cursados pelos educadores e pelas educadoras filosóficas que publicaram, na ReFiLo, entre 2015 e 2021.

Cursos de mestrado

Ocorrências

Cursos de mestrado

Ocorrências

Filosofia

48

Crítica Cultural

1

Educação

27

Cultura e Sociedade

1

Ciências Sociais

3

Educação nas Ciências

1

História das Ciências

2

Extensão Rural

1

Ensino de Ciências

2

Filosofia Sistemática

1

Filosofia da Educação

2

Formação Docente

1

Geografia

2

Letras

1

Bioética

1

Linguística

1

Ciências Ambientais

1

História

1

Ciências da Comunicação

1

Memória Social

1

Ciência da Informação

1

Química

1

Ciência Política

1

Teologia

1

Total Geral

103

Fonte: Os/as autores/as a partir de dados levantados na Revista Digital de Ensino de Filosofia (ReFiLo) e Plataforma Lattes do CNPq.

 

Ao se observar os dados expostos no quadro 3, assim como ocorreu no quadro 2, percebeu-se, novamente, um predomínio de cursos de mestrado realizados na grande área das ciências humanas e sociais aplicadas. Quando somadas as titulações obtidas pelos/as autores/as da ReFiLo, nas áreas de filosofia e educação, essas representam 73% de todos os cursos de mestrado cursados pelos/as educadores/as filosóficos/as estudados/as nesta pesquisa. Dos 24 cursos de mestrado elencados acima, apenas 1 (Química) está situado no campo das ciências exatas e naturais, o que revela, novamente, a aderência da formação acadêmica dos/as autor/as às problematizações filosóficas e educacionais tratadas na ReFiLo.

Os 103 títulos de mestrado foram concedidos por 48 instituições de ensino superior, sendo que dessas, apenas 4: (1) Universidade de Lisboa; (2) Pontifícia Università Gregoriana; (3) Ateneo Pontifício Regina Apostolorum e (4) Pontifícia Universidade Gregoriana estão localizadas no exterior, indicando, portanto, a potencialidade das instituições de ensino e pesquisa nacionais na formação de pesquisadores/as dedicados/as às temáticas da educação filosófica no país.

No gráfico 1, são elencados os cursos de doutorado cursados pelos 47 educadores e educadoras filosóficas que publicaram na ReFiLo, entre 2015 e 2021. Assim como ocorreu na graduação e no mestrado, houve uma predominância de formação doutoral nas áreas de filosofia (17 títulos) e educação (19 títulos) que, juntas, representam quase 80% dos demais cursos de formação doutoral realizados/as pelos/as autores/as estudados/as nesta pesquisa.

 

Gráfico 1 - Cursos de doutorado cursados pelos educadores e pelas educadoras filosóficas que publicaram, na ReFILo, entre 2015 e 2021.

 

 

Fonte: Os/as autores/as a partir de dados levantados na Revista Digital de Ensino de Filosofia (ReFiLo) e Plataforma Lattes do CNPq.

 

 

A leitura do gráfico 1 permitiu perceber uma predominância de formação dos educadores e das educadoras filosóficas na grande área das ciências humanas e sociais aplicadas. Enquanto que, na graduação, observou-se que apenas 5 dos 24 cursos não pertenciam ao panteão das ciências humanas e sociais aplicadas e, no mestrado, apenas Química não se enquadrava nessa tendência de predomínio das humanas na formação dos educadores/as filosóficos/as, no doutorado, os números revelaram que a totalidade da formação doutoral ocorreu nas humanidades.

Dos 17 títulos de doutorado em filosofia obtidos pelos/as autores/as da ReFiLo, as instituições de ensino que mais concederam essas titulações foram: (1) Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), com 2 formações; (2) Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), com 2 formações; (3) Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), com 2 formações e a (4) Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com 2 formações. Em relação aos 19 títulos de doutorado em educação registrados nos currículos de quem publicou na ReFiLo, no período estudado, as instituições de ensino que mais concederam essas titulações foram: (1) Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com 3 títulos; (2) Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), com 3 títulos; (3) Universidade Estadual Paulista (UNESP), com 3 títulos e (4) Universidade de São Paulo (USP), com 2 títulos e (5) Universidade de Passo Fundo (UFP), com 2 títulos.

Assim como foi verificado no mestrado, houve uma predominância de instituições nacionais na concessão dos títulos de doutorado dos/as autores/as que publicaram na ReFiLo entre 2015 e 2021. Os 47 títulos de doutorado catalogados nesta pesquisa foram concedidos por 26 instituições de ensino e pesquisa, sendo que 23 delas funcionam em território nacional e apenas 3 são estrangeiras, a saber: (1) Universidad Iberoamericana; (2) Pontifícia Universidade Gregoriana e (3) Pontifícia Universidade Antonianum, evidenciando, mais uma vez, a força de potência das instituições nacionais na formação de pesquisadores dedicados às problemáticas educacionais, especialmente no campo da educação filosófica.

Um aspecto interessante desses dados foi o elevado número de mestres (66%) em comparação ao número de doutores (30%), que publicaram, na ReFiLo, entre 2015 e 2021. É muito provável que esses números estejam relacionados, de certa forma, ao perfil do periódico que, como dito anteriormente, publica não apenas artigos científicos, mas, também, relatos de experiências produzidos, muitas vezes, por mestres que desenvolveram as suas dissertações, aplicando técnicas e/ou métodos de ensinagem nos espaços formais e informais de aprendizagem. Outra possibilidade explicativa para esses números estaria relacionado ao fato de que, muitos doutorando, para atenderem as métricas de produtividade da Capes, optaram em publicar os resultados parciais de suas pesquisas com os orientadores, quando ainda eram doutorandos e não doutores, o que os levaram a informar a titulação de mestres, visto que doutorando corresponde a um processo de formação doutoral e não a um título acadêmico propriamente dito.

Ainda que a ReFiLo seja uma revista aberta para recepcionar reflexões produzidas por estudantes de graduação, mestrado e doutorado e professores da educação básica e superior, o que mostra a vitalidade do periódico para abarcar a multiplicidade de interpretações sobre o fenômeno da ensinagem e aprendizagem filosófica produzidas, tanto no seio da formação acadêmica, quanto nos espaços da prática docente, a revista, também, foi contemplada com escritas reflexivas produzidas por pós-doutores/as nos campos da filosofia, da educação e da ensinagem filosófica. Dos/as 12 pós-doutores/as que publicaram, na ReFiLo, entre 2015 e 2021, 6 deles/as possuem titulação em educação; 4 em filosofia e 2 em ensino de filosofia, o que engrandece a ReFiLo e seus/as leitores/as com contribuições de pesquisadores/as dotados/as de elevado capital filosófico-educacional acumulado.

Conhecida a trajetória de formação acadêmica dos 155 educadores e educadoras filosóficas que publicaram seus trabalhos, na ReFiLo, observou-se que 64 pessoas se encontram vinculados como professores/as da educação básica e outras 50 atuam como docentes em instituições de ensino superior. Das 64 pessoas que trabalham na educação básica, 5 atuam em escolas municipais; 31 em escolas estaduais; 16 em escolas ou institutos federais e 12 são professores de escolas particulares. Nesse sentido, os dados revelaram que as reflexões, publicadas na revista, foram elaboradas, predominantemente, por autores/as que atuam dentro das salas de aula de escolas públicas, visto que 52 pessoas (81%) estão vinculadas a escolas municipais e/ou estaduais e/ou federais enquanto (19%) estão vinculadas a escolas privadas.

Em relação as 50 pessoas que atuam na educação superior, os dados revelaram que 1 atua em instituição de ensino superior municipal; 19 em instituição de ensino superior estadual; 19 em instituição de ensino superior federal e 11 em instituição de ensino superior privada. Nota-se, novamente, que os/as autores/as que publicaram trabalhos, na ReFiLo, estão vinculados, predominantemente, às instituições públicas de ensino superior, pois das 50 pessoas, 39, ou seja, 78%, fazem parte do quadro de professores da educação superior municipal e/ou estadual e/ou federal.

Nesse sentido, das 155 pessoas que publicaram na ReFiLo, 116 estão vinculadas à educação básica ou ao ensino superior. Dessas 155 pessoas, 38 delas estavam vinculadas, quando da publicação de seus trabalhos, na ReFiLo, a algum programa de concessão de bolsas de iniciação científica, mestrado e/ou doutorado, o que revela a abertura democrática da revista para oportunizar, aos jovens pesquisadores em formação, a difusão de pesquisas, práticas educativas e reflexões sobre a ensinagem filosófica. Por último, os dados relacionados à vinculação profissional, indicaram que apenas 3 pessoas não estiveram vinculadas, diretamente, às atividades docentes, quando da publicação de seus trabalhos, na revista.

De acordo com o exposto anteriormente, a ReFiLo publicou, entre 2015 e 2021, 116 publicações, cuja maioria foi realizada sob a forma de autoria única, conforme revela o quadro 4, apresentado abaixo.

 

Quadro 4 – Tipo de autoria, por ano, das publicações editadas pela ReFiLo, entre 2015 e 2021.

Anos de publicação

Autoria única

Dois autores

Três autores

Quatro autores

Cinco ou
mais autores

Total de Publicações

2015

6

6

0

1

1

14

2016

8

4

0

1

0

13

2017

8

3

3

0

1

15

2018

8

5

1

2

0

16

2019

13

0

0

0

1

14

2020

13

7

3

0

0

23

2021

10

9

2

0

0

21

Total

66

34

9

4

3

116

Fonte: Os/as autores/as a partir de dados levantados na Revista Digital de Ensino de Filosofia (ReFiLo).

`

 

Diferentes pesquisadores/as, que abordam temáticas pertencentes aos campos da comunicação científica e políticas científicas, a exemplo de Léa Velho (1997); Arthur Meadows (1999); Maria das Graças Targino (2000); Suzana Pinheiro Mueller (2005) e Dayse Pires Noronha (2008), somente para citar alguns, são defensores/as de que cada grande área do conhecimento humano possui os seus canais preferenciais de comunicação científica e, com isso, essas áreas, também, possuem particularidades em relação aos seus tipos de autoria.

De acordo com esses estudos, os/as pesquisadores/as vinculados/as ao campo das ciências humanas e sociais aplicadas tendem a publicar os resultados de suas pesquisas, predominantemente, sob a forma de autoria única porque, nas humanidades, diferentemente de outras áreas do conhecimento, a colaboração científica ainda está em processo de formação e consolidação, apesar das atuais políticas de avaliação da produção científica, de autoria da Capes e do CNPq, incentivarem a produção colaborativa em todas as áreas do saber.

Dessa maneira, o quadro 4 revelou que, das 116 publicações editadas pela ReFiLo, 66 foram publicadas por um/a único/a autor/a, correspondendo a 57% do total de trabalhos publicados pela revista. Esses dados ratificam, portanto, as pesquisas de Velho (1997); Meadows (1999); Targino (2000); Mueller (2005) e Noronha (2008), quanto ao processo de formação e consolidação da rede de co-autoria, no campo das ciências humanas. Dados como esses revelam a particularidade e a singularidade de uma área do saber que, ao longo do tempo, prestigiou a autoria única enquanto símbolo de conquista e de reputação acadêmica e científica, no interior do campo científico, o que tem demandado, das agências de fomento e avaliação, um olhar sensível e diferenciado no julgamento das produções intelectuais geradas nas humanidades.

Ainda que exista uma predominância de publicações, geradas sob a forma de autoria única, os dados do quadro 4 mostraram, também, que existe um número significativo de publicações (50 das 116) que foram produzidas sob a forma de coautoria, especialmente entre professores/as e alunos/as de graduação e professores/as e alunos/as de programas de pós-graduação stricto sensu, indicando a tendência da ReFiLo em colaborar para a consolidação e o fortalecimento da rede de colaboração científica, no campo das humanidades, a partir da temática da educação filosófica.

No gráfico 2, são apresentadas as técnicas de pesquisas mais utilizadas pelos educadores e educadoras filosóficas para construírem as suas reflexões sobre a educação filosófica, publicada na ReFiLo.

 

   Gráfico 2 – Técnicas de pesquisas adotadas nas publicações editadas pela ReFiLo, entre 2015 e 2021.

     

 

 

 

 

 

 

 

 

 

   Fonte: Os/as autores/as a partir de dados levantados na Revista Digital de Ensino de Filosofia  (ReFiLo).

 

O gráfico 2 mostrou que, das 116 publicações difundidas pela ReFiLo, nos seus primeiros 7 (sete) anos de existência, foram registradas um total de 158 ocorrências em relação às técnicas de pesquisas. Essa distorção numérica ocorreu porque, muitas vezes, em uma única pesquisa, foi adotada mais de uma técnica de pesquisa, a exemplo do que ocorreu quando um educador ou educadora filosófica opta em analisar os parâmetros curriculares nacionais do curso de filosofia à luz de um conceito filosófico, fazendo uso, tanto da pesquisa bibliográfica, quanto da pesquisa documental.

Os dados dispostos no gráfico 2 mostram, ainda, que a pesquisa bibliográfica foi a técnica mais utilizada pelos educadores e educadoras filosóficas para construírem as suas reflexões. Essa técnica de pesquisa, de acordo com Gil (2010, p. 29), oferece sustentação teórica para tratar diferentes temáticas, sendo elaborada a partir de “[...] material já publicado. Tradicionalmente, esta modalidade de pesquisa inclui livros, revistas, jornais, teses, dissertações e anais de eventos científicos”.

A predominância da pesquisa bibliográfica sugere uma preferência dos/as autores/as pelo desenvolvimento de um tipo de abordagem teórica e reflexiva que, a partir de categorias e/ou conceitos filosóficos produzidos na história da filosofia, permite a problematização de questões contemporâneas associadas ao ensino de filosofia. Assim, categorias filosóficas como “autonomia”; “esclarecimento”; “banalidade do mal”; “cuidado de si”; “hiper modernidade”; “vontade de potência” “ordem do discurso”; “filosofia maior” e outras foram articuladas pelos/as autores/as da ReFiLo para pensarem a respeito dos problemas relacionados à ensinagem e à aprendizagem filosófica em sala de aula.

Os dados dispostos no gráfico 2 deixaram evidentes que a pesquisa documental também foi muito utilizada para a construção de reflexões filosófico-educacionais comunicadas na ReFiLo. Esse fato esteve relacionado ao grande número de trabalhos direcionados à análise de políticas educacionais que definiram os rumos do ensino de filosofia nos currículos escolares, especialmente a partir das leis 11.684, de 2008, que tornaram obrigatórios o ensino de filosofia e da sociologia, no ensino médio, e do retrocesso educacional brasileiro, quando da publicação da lei 13.415, de 2017, que desobrigou a presença da filosofia nos currículos escolares.

Outra técnica de pesquisa bastante utilizada nos trabalhos publicados, na ReFiLo, foi a pesquisa participante que consiste na “[...] participação real do pesquisador na comunidade ou grupo. Ele se incorpora ao grupo, confunde-se com ele. Fica tão próximo quanto um membro do grupo que está estudando e participa das atividades normais deste” (MARCONI; LAKATOS, 2010, p. 177). Nas publicações da revista, muitos foram os relatos de experiência nos quais os/as educadores/as filosóficos/as se incluíram, integralmente, à dinâmica de atuação dos sujeitos de suas pesquisas de tal modo a lhes permitir a construção de textos concisos, claros, objetivos e consistentes.

Na figura 1, que corresponde a uma nuvem de palavras chave apresentada sob a forma de uma coruja, símbolo tradicional da filosofia, encontram-se os 13 descritores mais utilizados para representar os conteúdos temáticos dos trabalhos publicados, na ReFiLo, entre 2015 e 2021.


Figura 1 – Nuvem das 13 palavras-chave mais utilizadas na representação do conteúdo temático das publicações editadas pela ReFiLo entre 2015 e 2021.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fonte: Os/as autores/as a partir de dados levantados na Revista Digital de Ensino de Filosofia (ReFiLo).

 

Para representar o conteúdo temático dos 116 trabalhos publicados, na ReFiLo, foram estabelecidas 217 palavras-chave, o que gerou um universo de 414 ocorrências, ou seja, para cada trabalho publicado na revista foram indicadas, em média, 3 palavras-chave. Das 217 palavras encontradas nas publicações analisadas, 13 delas, a saber: (1) ensino de filosofia; (2) filosofia; (3) ensino médio; (4) educação; (5) ensino; (6) currículo; (7) BNCC; (8) experiência; (9) metodologia; (10) formação; (11) PIBID; (12) Vida e (13) aprendizagem apareceram com maior frequência nas reflexões sobre ensino de filosofia.

Além desses 13 descritores, mais utilizados nas publicações difundidas pela ReFiLo, nos seus primeiros 7 anos de existência, destacou-se, também, outras 20 palavras chaves, na tentativa de oferecer, aos leitores, uma visão panorâmica da diversidade temática publicada pela revista. Palavras como: (1) Identidade filosófica; (2) Gestão democrática; (3) Experimento de pensamento; (4) Interdisciplinaridade; (5) Formação cultural; (6) Teatro; (7) Formação do eu; (8) Formação omnilateral; (9) Avaliação emancipatória; (10) Infância; (11) Cinema; (12) Redações filosóficas; (13) Aprendizagem significativa; (14) Liberdade; (15) Autonomia; (16) Letra de música; (17) Felicidade; (18) Sequência didática; (19) Literatura e (20) Filosofia da libertação compuseram o rol de descritores que representam as categorias filosóficas e/ou metodológicas, trabalhadas pelos educadores e educadoras filosóficas, para produzirem novos saberes acadêmicos relacionados ao processo de ensinagem e aprendizagem filosófica.

Para completar o mapa da caracterização geral da produção intelectual publicada na ReFiLo foi construído o quadro 5 que traz as 15 obras e/ou documentos governamentais mais utilizados pelos/as autores/as para fundamentar as suas reflexões sobre os diferentes aspectos da educação filosófica no Brasil.

 

Quadro 5 – Top 15 das obras e documentos governamentais mais utilizados nas publicações difundidas, pela ReFiLo, entre 2015 e 2021.

Referências das obras

 

Número de ocorrências

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: MEC, 2018.

52

BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio: Ciências Humanas e suas Tecnologias. Brasília: MEC, 1999.

38

LIPMAN, Matthew. A filosofia vai à escola. Tradução de Maria Elice de Brzezinski Prestes e Lúcia Maria Silva Kennedy. São Paulo: Summus, 1990.

31

LIPMAN, Matthew. O pensar na educação. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 2008.

30

CERLETTI, Alejandro. O ensino de filosofia como problema filosófico. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2009.

26

KANT, I. Resposta à pergunta: o que é o esclarecimento?. In: _____. Textos seletos. Petrópolis: Vozes, 1974.

23

CABRERA, Julio. O cinema pensa: uma introdução à filosofia através dos filmes. Rio de Janeiro: Rocco, 2006.

23

BRASIL. Ministério da Educação. Orientações curriculares para o ensino médio: volume 3: Ciências Humanas e suas tecnologias. Brasília: MEC, 2006.

 

22

MURCHO, Desiderio Orlando Figueiredo. A natureza da filosofia e o seu ensino. Educação, Santa Maria, v.27, n.2, p. 13-17, 2002.

21

GALLO, Sílvio. A filosofia e seu ensino: conceito e transversalidade. In: SIL VEIRA, R. J.Trentin; GOTO, Roberto (orgs.). Filosofia no Ensino Médio: temas problemas e propostas. São Paulo: Edições Loyola, 2007.

 

19

LIPMAN, M.; SHARP, A. M.; OSCANYAN, F. S. A filosofia na sala de aula. São Paulo: Nova Alexandria, 2001.

19

NIETZSCHE, Friedrich. Sobre o futuro de nossos estabelecimentos de ensino. In: ______. Escritos sobre Educação. Tradução de N. C. M. Sobrinho. 4. ed. Rio de Janeiro: PUC; São Paulo: Loyola, 2009.

 

18

ASPIS, R. P. L.; GALLO, S. D. O. Ensinar Filosofia: um livro para professores. São Paulo: Atta Midia e Educação, 2009.

17

BENJAMIN, Walter. A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica. In: ______. Magia e técnica, arte e política. Tradução de Sergio Paulo Rouanet. 3. ed. São Paulo: Brasiliense, 1987.

 

17

TROMBETTA, G. L.; BORTOLINI, B. O. de.; KAPCZYNSKI, A. L. (Orgs.). Filosofia nos olhos: experiências de ensino. Passo Fundo: Berthier Aldeia Sul, 2003.

 

16

Fonte: Os/as autores/as a partir de dados levantados na Revista Digital de Ensino de Filosofia (ReFiLo).

 

Entre 2015 e 2021, a ReFiLo publicou, conforme exposto no quadro 1, 116 publicações entre artigos científicos, relatos de experiências, traduções, resenhas e entrevistas que foram fundamentadas teórico e metodologicamente em 1.011 obras de autoria individual e coletiva de intelectuais brasileiros e estrangeiros.

Esses números revelaram que, em média, cada trabalho publicado na ReFiLo referenciou, pelo menos, 9 diferentes obras que deram fundamentos para as pesquisas e reflexões socializadas pela revista. Os dados indicaram, também, que essas obras contribuíram para gerar um total de 3.170 citações diretas e/ou indiretas encontradas nos textos publicados pela revista, sinalizando, portanto, que cada trabalho publicado fez uso, em média, de 27 citações sob as quais os educadores e as educadoras filosóficas se ancoraram, para parafrasear Isaac Newton, de modo a enxergarem, mais amplamente, as problemáticas sobre o ensino de filosofia no país.

Ao realizar a leitura do quadro 5, percebeu-se que as duas obras mais citadas para a construção dos trabalhos comunicados na ReFiLo foram dois documentos governamentais que são fundamentais na definição das diretrizes curriculares no Brasil e, por consequência, do futuro da filosofia nos currículos escolares do ensino médio, a saber: (1) Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e (2) Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). A análise do quadro 5 revelou, ainda, que todas as obras portadoras de pensamentos, críticas e reflexões de autores/as não governamentais estão voltadas para a abordagem sobre o ensino de filosofia e as estratégias de socialização de saberes filosóficos em sala de aula.

Dentre as 15 obras referenciadas no quadro 5, 3 delas foram escritas pelo filósofo americano Matthew Lipman (a filosofia vai à escola; o pensar na educação e a filosofia na sala de aula), evidenciando as preocupações dos educadores e das educadoras filosóficas quanto às estratégias de ensinagem dos conteúdos filosóficos para crianças, pois é preciso lembrar que o referido filósofo é uma referência no desenvolvimento de reflexões relacionadas à filosofia infantil.

O quadro 5 revelou, também, a presença de dois autores bastante citados nas reflexões filosóficas e educacionais publicadas na ReFiLo que foi o professor Silvio Gallo, entrevistado pela ReFiLo na segunda edição de 2016 e o professor Alejandro Cerletti que, juntos, constituem referências fundamentais para se pensar o ensino de filosofia como problema filosófico. Ambos os pensadores, apesar de suas particularidades, entendem que não há uma receita pronta e acabada a ser transmitida e um professor ou a uma professora de filosofia a fim de torná-los eficientes no que tange a socialização de saberes filosóficos. Para esses autores, são os próprios problemas encontrados em sala de aula que permitirão aos docentes construírem as suas próprias metodologias a fim de tornar atraentes os conteúdos filosóficos ministrados para crianças, jovens, adolescentes e adultos.

Finalizando a análise do quadro 5, notou-se que apenas 3 pensadores clássicos da história da filosofia ocidental (Immanuel Kant; Friedrich Nietzsche e Walter Benjamin) constaram entre os/as autores/as mais utilizados/as na construção das argumentações filosóficas e educacionais publicadas na ReFiLo, o que talvez evidencie o quanto a “filosofia menor” (latino-americana e brasileira) possui um enorme potencial de resistência ao pensamento europeizado que tudo quer padronizar e universalizar. É certo que a ReFiLo tem corroborado para difundir um saber filosófico e educacional construído com base em fundamentos da “filosofia maior” ocidentalizada e europeizada, mas é certo, também, que a revista tem se mostrado aberta e receptiva às reflexões construídas com base na “filosofia menor”, ou seja, na filosofia que pensa e reflete sobre os problemas latinos e brasileiros, a qual está totalmente imbricada com uma realidade social específica que precisa ser problematizada, questionada e tencionada.

 

Considerações finais

Enquanto pensadores clássicos da história da filosofia, a exemplo de Immanuel Kant e Friedrich Hegel, propuseram grandes debates filosóficos a respeito da possibilidade ou não de se ensinar a pensar através da filosofia, no Brasil, a disciplina tem sido objeto de constantes perseguições por parte de uma elite do atraso, para usar a expressão de Jessé Souza (2019), que é possuidora de uma mentalidade colonialista e escravocrata que quer, a todo custo, impedir a população de desenvolver um pensamento crítico, analítico e reflexivo capaz de questionar os abusos de poder e de autoridade política que estão vigentes, até hoje, na sociedade brasileira.

Entretanto, como disse o filósofo francês Michel Foucault (1984; 1987), todo poder encontra o seu ponto de resistência e a ReFiLo, a mensageira santa-mariense da educação filosófica no Brasil, é o espaço típico da resistência às imposições tirânicas que querem, de toda maneira, colocar a filosofia para fora dos currículos escolares, oferecendo à comunidade filosófica e educacional diferentes perspectivas sobre o ensino de filosofia.

Jovem, mas com uma força vital extremamente potente, a ReFiLo difundiu, nos seus primeiros 7 anos de existência, 116 publicações, cuja maioria ocorreu em artigo científico (76% de toda produção da revista). Esses manuscritos foram escritos por graduandos e graduados; mestrandos e mestres; doutorandos e doutores; pós-doutorandos e pós-doutores que, formados, predominantemente, nos campos da filosofia e da educação, produziram suas reflexões e pensamentos, ancorando-se em 1.011 obras, de autoria individual e coletiva, de intelectuais brasileiros e estrangeiros, do porte de Matthew Lipman; Silvio Gallo; Walter Kohan; Alejandro Cerletti e outros.

A ReFiLo foi utilizada por 155 autores, sendo que a maioria deles foi do gênero masculino (99 autores). Esses dados indicam, portanto, a necessidade de se formular políticas científicas, no campo do ensino de filosofia, no sentido de promover uma maior inclusão e participação das mulheres na produção filosófica e epistemológica do campo que, historicamente, foi ocupado, em sua maioria, pelos homens.

Os dados da pesquisa revelaram, também, que os educadores e as educadoras filosóficas, estudadas nesta pesquisa, adotaram 217 descritores, para representar o conteúdo filosófico-educacional da produção difundida pela revista, evidenciando a riqueza temática das discussões acadêmicas no trato das questões relacionadas ao processo de ensinagem e aprendizagem filosófica.

Apesar de ser uma pesquisa inicial e panorâmica que pretendeu caracterizar, de modo geral, a produção intelectual difundida por uma revista científica de grande relevância acadêmica para o campo do ensino de filosofia, espera-se que as linhas, traçadas neste manuscrito, motivem os educadores e as educadoras filosóficas a resistirem a todas as tentativas de se excluir a mãe filosofia dos currículos escolares da educação básica, visto que a mãe filosofia tem sempre o potencial de lançar, no mundo, seres humanos altamente capazes de pensarem por conta própria e abandonarem, como evidenciou Nietzsche, em seus vários escritos, as muletas epistemológicas que ditam os rumos de suas vidas.

 

Referências

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