A leitura de mundo como base para o ensino de Filosofia na perspectiva de Paulo Freire
The reading the world as a foundation for teaching philosophy from a Freirian perspective
Letícia Regina dos Santos Rodrigues Fucuhara
Mestre pela Universidade Estadual de Londrina, Londrina, PR, Brasil.
leticia.fucuhara@gmail.com - https://orcid.org/0000-0001-7165-1335
Darcísio Natal Muraro
Professor doutor na Universidade Estadual de Londrina, Londrina, PR, Brasil.
murarodnm@gmail.com - https://orcid.org/0000-0002-5413-8385
Recebido em 01 de setembro de 2021
Aprovado em 22 de novembro de 2021
Publicado em 09 de fevereiro de 2022
RESUMO: Este artigo procurou explorar as memórias e experiências vivenciadas pelos pesquisadores, analisando-as com a Filosofia da Educação de Paulo Freire a fim de buscar contribuições para a prática docente no ensino de Filosofia. Partindo do conceito de leitura de mundo elaborado por Freire na obra A importância do ato de ler, e de contribuições afins a essa concepção nas principais obras do autor, foram analisadas algumas experiências pessoais permitindo compreender o processo educacional de ensino de Filosofia como uma práxis de reconstrução crítica da experiência. O artigo resultou em uma aproximação entre a Filosofia da Educação de Freire com o ensino de Filosofia como experiência de pensamento dialógica, democrática e libertadora. Evidenciou-se a importância de proporcionar aos alunos e alunas, a experiência filosófica a partir de suas leituras de mundo.
Palavras-chave: Leitura de mundo; Ensino de Filosofia; experiência; diálogo; democracia.
ABSTRACT: This article seeks to explore personal memories and experiences analyzed through Paulo Freire´s educational philosophy, aiming to contribute to philosophy teachers´ pedagogical practices. Stemming from the concept of reading the world developed by Freire in “The importance of the act of reading”, and consonant contributions in the main Paulo Freire texts, we analyzed a few personal experiences allowing us to comprehend the educational process of teaching Philosophy as a reconstructive practice of such experiences. This article resulted in an approximation between Paulo Freire's educational philosophy to the teaching of philosophy as a dialogical, democratic, and liberating thought experiment. We highlight the importance of fostering philosophical learning experiences grounded on student´s readings of the world.
Keywords: Reading the world; Teaching Philosophy; experience; dialogue; democracy.
Introdução
Ao pensar sobre quais são as maiores riquezas da humanidade, é possível remeter-se ao vasto conteúdo literário produzido pelas mais distintas áreas do conhecimento. Pela leitura é possível conhecer as experiências significativas do passado e do presente, e vislumbrar seus reflexos num futuro como um constructo da ação intencional do ser humano. Contudo, consideramos que a mera leitura dos escritos não representa uma compreensão genuína e transformadora se não for acompanhada de uma “leitura de mundo” que permita ao sujeito constituir-se leitor e se situar num contexto existencial. Para Paulo Freire, “A leitura do mundo precede a leitura da palavra [...]. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto.” (FREIRE, 1989, p. 9).
Se a leitura é parte fundamental do processo de ensino e aprendizagem, ler o mundo é o primeiro contato com a linguagem, com a alfabetização, com a prática, com a superação dos medos e transformação da realidade. Em busca de uma aprendizagem significativa, que permita ao estudante pensar suas experiências, a leitura da palavra vem somar à sua leitura de mundo, através de suas representações e associações do texto e o contexto. E Freire faz este exercício de resgatar sua leitura de mundo ao pensar a importância da prática da leitura:
Ao ensaiar escrever sobre a importância do ato de ler, eu me senti levado - e até gostosamente - a "reler" momentos fundamentais de minha prática, guardados na memória, desde as experiências mais remotas de minha infância, de minha adolescência, de minha mocidade, em que a compreensão crítica da importância do ato de ler se veio em mim constituindo. (FREIRE, 1989, p. 9).
De modo semelhante, como estudantes e pesquisadores acadêmicos, valorizamos a produção e leitura da palavra escrita, mas ressaltamos também a importância de se pensar o texto a partir das práticas e memórias vivenciadas. E diante da implantação do Novo Ensino Médio alinhado a um novo currículo da BNCC[1] previsto para 2022 (G1, 2021), da incerteza de que nesta mudança ainda terá espaço para um ensino filosófico e dialógico que considera a experiência do educando, surge a necessidade de reafirmar a importância de um ensino que considere a experiência humana.
Propomo-nos, portanto, a fazer o mesmo exercício de Freire para pensar a prática pedagógica. O exercício de ler e reler as experiências educacionais, seja a partir de nossas vivências como alunos e alunas ou como professores e professoras, para assim, se pensar filosoficamente a educação, à luz das obras freirianas e para evidenciar a importância de um ensino capaz de proporcionar o desenvolvimento do pensar filosófico dos adolescentes. Esta associação de memórias e vivências será feita em primeira pessoa para preservar a narrativa, de forma que o texto não se torne impessoal nos relatos das próprias vivências[2].
Da leitura da mesa e do quintal para a sala de aula
Minha leitura de mundo é permeada pelas memórias dos afáveis e calorosos momentos de café da manhã em uma família de sete pessoas, sucedidos pelo silêncio contrastante e enigmático que vinha quando saíam para trabalhar ou ir para a escola. Como caçula, ficava com minha mãe, que embora muito atenciosa, tinha responsabilidades com a casa e com atividades autônomas para melhorar a renda familiar.
A experiência de ver toda a família partir para seus afazeres cotidianos, cogitou o sonho de um dia embarcar nessa aventura e ir para escola. A noção do que me esperava era vaga, mas cheia de curiosidade. Ouvia minha irmã se queixar de problemas com colegas e professora, mas invejava o fato dos “mais grandes” saírem sozinhos. Além disso, eu sabia que na escola havia parquinho e outras crianças, o que me deixava bem empolgada esperando chegar a minha vez de ter uma mochila cheia de cadernos, livros e outros materiais escolares para alçar a posição de estudante.
Embora eu adorasse a casa cheia, logo me distraía sozinha em um universo paralelo que me é prazeroso até hoje. Minha imaginação e interação individual com o mundo começou naquele quintal, ele era o mundo que eu lia! Lá, a rede virava meu barco e o chão era o mar. Lá eu criava histórias e até as galinhas, porquinhos da índia, gatas, pilares e vassouras se tornavam os personagens. Lá eu fui cozinheira, marinheira, guarda florestal, acampante, combatente, noiva, esposa, exploradora, aluna, professora e tantas outras personagens.
Naquela casa os machucados me ensinaram que as feridas doloridas um dia se fecham e a dor passa, os dias chuvosos sem poder sair, podem se tornar momentos aconchegantes quando me proponho a construir cabaninhas de coberta no quarto, e que a responsabilidade de desfazer a cabaninha e arrumar tudo de volta, era minha. Na cozinha descobri que alimentos simples poderiam se transformar em deliciosas guloseimas e que depois haveria louças para lavar. Nas palavras de Freire, lembrando-se de suas brincadeiras às sombras das árvores, “experimentava em riscos menores que me preparavam para riscos e aventuras maiores” (FREIRE, 1989, p. 9). Em meu “primeiro mundo”, “ia apreendendo no meu trato com eles nas minhas relações com meus irmãos mais velhos e com meus pais” (FREIRE, 1989, p. 9).
Finalmente chegou meu primeiro dia de aula em que fui presenteada com uma cartilha. Minha irmã e suas amigas me levaram para a escola e pela primeira vez me vi entre estranhos: não havia ninguém conhecido e a insegurança se instalou rapidamente, entretanto logo me distraí e me animei com os novos coleguinhas, com o refeitório que dava merenda de graça e o parquinho que a professora deixava ir ao fim do dia. Lembro-me da professora ensinando a dobrar papéis e chamou isso de dobradura. Achei esta palavra bem adulta, me senti capaz de fazer algo importante e em outra atividade, fui elogiada por fazer duas bolinhas de papel crepom ao mesmo tempo.
De forma análoga ao que Freire percebeu, nem sempre a leitura da palavra ensinada na escola, correspondia com a leitura de mundo que eu já havia vivenciado. “Primeiro, a ‘leitura’ do mundo, do pequeno mundo em que me movia; depois, a leitura da palavra que nem sempre, ao longo de minha escolarização, foi a leitura da ‘palavra mundo’” (FREIRE, 1989, p. 9). Certo dia, a professora nos pediu para desenhar o cômodo preferido em nossa casa. A atividade me remeteu ao lugar onde eu desfrutava das conversas e risadas na mesa, onde o degustar se misturava com o som de risos, alegria e afetividade, onde eu observava, curiosa, as misturas que minha mãe fazia, que resultavam em prazerosas refeições. O desenho da cozinha fora minha leitura de mundo. Mas quando chegou minha vez de mostrar o desenho, a professora, diante de toda a classe, emitiu um julgamento sobre o desenho com um caráter condenatório: “Mas a cozinha?”, indagou ela. “Tantos lugares mais gostosos, a sala, o quarto que dá para descansar... e você prefere a cozinha?”.
Em minha infância cheia de energia, não me parecia tão prazeroso um lugar que fosse para descansar. Em contraste, como adoro cozinhar e comer, cozinhas me atraem até hoje, ainda que na arquitetura atual as mesas não fiquem mais nas cozinhas, mas que fora minha experiência na infância. É possível que, na casa daquela professora, a sala de jantar estivesse separada da cozinha, permitindo-lhe outra leitura de mundo que lhe servia como critério para julgar as demais realidades. Hoje entendo que não havia nada de errado em minha preferência pela cozinha, eu estava levando minha leitura de mundo para a escola, estava compartilhando meu mundo com os colegas e com a professora, mas começou a parecer que minha leitura não era aceita, e que era necessário substituí-la pelos novos conhecimentos, padrões e preferências. Esse acontecimento provocou a indagação: ser adulto é preferir descansar? Isto me levou a pensar que crescer seria algo muito chato. Hoje penso ser possível associar a postura dela com o que Freire quis dizer com “narcisismo oral”:
Quem apenas fala e jamais ouve; quem “imobiliza” o conhecimento e o transfere a estudantes, não importa se de escolas primárias ou universitárias; quem ouve o eco apenas de suas próprias palavras, numa espécie de narcisismo oral, quem considera petulância da classe trabalhadora reivindicar seus direitos, quem pensa, por outro lado, que a classe trabalhadora é demasiado inculta e incapaz, necessitando, por isso, de ser libertada de cima para baixo, não tem realmente nada que ver com libertação, nem democracia. Pelo contrário, quem assim atua e assim pensa, consciente ou inconscientemente, ajuda a preservação das estruturas autoritárias. (FREIRE, 1989, p. 17).
Certa vez uma professora, aproximando-se pelas costas, observou-me escrevendo o numeral sete (7) em que eu começava pela base da linha e não da esquerda para a direita para depois descer até a base. Ela ficou inconformada e verbalizou sua indignação perante a turma, conversou com minha mãe quando ela foi me buscar, falou de minhas dificuldades de aprendizagem, e enfatizou a forma estranha que eu usava para escrever o número sete. Lembro-me do meu irmão me ensinando pacientemente como escrever o sete e, embora até admitisse que o meu sete era mais bonito, eu escrevia iniciando pela ponta errada. À época, fiquei pensando: por que meu sete não era aceito se era bonito? Por que tinha que ter um lado para começar, se no final todos e todas percebiam que era um sete? Aliás, a professora só me corrigiu quando me observou e talvez este seja um dos motivos do porquê até hoje me sinto insegura e tensa quando um professor ou chefe observa o que estou fazendo.
Embora eu sempre tenha tido habilidade de fazer amizades e parcerias para conversar na sala de aula e passar o recreio, sempre tive medo dos colegas que me zombavam e diminuíam. A professora sempre usava uma analogia na sala de aula de que havia alunos que sempre estavam atrás do trem, pois não conseguiam embarcar como a maioria. E em uma proposta de aula sobre a representação de uma viagem, um aluno desenhou um trem cheio de carinhas embarcadas, e eu e minha amiguinha correndo atrás. Quando ele explicou em sala o desenho e de quem se tratava, a sala prorrompeu em risos, inclusive a professora, e em nenhum momento ela o repreendeu por isso, ao contrário, reforçou o mérito de quem se dedica para ser um bom aluno ou aluna que não fica para trás.
Minha sagrada mesa começou a se tornar desconfortável quando minha dificuldade de aprendizagem virou o assunto nela, quando minha mãe e meus irmãos dedicaram ali, horas que me pareciam intermináveis, tentando me fazer compreender os conteúdos. Tentar entender era uma árdua tarefa e eu apenas desejava me levantar da mesa e fazer qualquer outra coisa que não fosse estudar. Eu era incapaz de corresponder àquele ensino conteudista, que Freire (1987) chamou de “bancário”, pois apenas deposita conteúdos na mente dos alunos, para que eles o reproduzam, nada em minha mente parecia ser depositado. Minha habilidade com leitura e escrita não eram percebidas, ainda que as bibliotecárias sempre me elogiavam de eu ser a leitora mais assídua.
Embora eu adorasse a biblioteca, a cantina e as amizades, a escola muitas vezes era um suplício, pois foi marcada pelo sentimento de inadequação, me sentia incapaz de dar as respostas que eram consideradas corretas, em alguns momentos me retraí e fui extremamente submissa e quieta, em outros, extravasei, matei aula e procurei me divertir ao máximo para que minha passagem pela escola tivesse algum sentido e utilidade. Já que eu era uma péssima aluna mesmo, por que não aproveitar outros prazeres? Em alguns momentos agi com rebeldia aquele sistema que não me incluía, me pesava o discurso de que eu precisava estudar para ser alguém na vida e com angústia, cogitava a possibilidade de que o meu fim fosse o fracasso. Como consequência, me sentia ainda mais alheia a todo o processo educacional, o que é possível de ser compreendido pela reflexão de Freire:
[...] podemos esperar nos filhos e alunos ora posições rebeldes, refratárias a quaisquer limites, disciplina ou autoridade, mas também apatia, obediência exagerada, anuência sem crítica ou resistência ao discurso do autoritário, renúncia a si mesmo, medo à liberdade. (FREIRE, 1997, p. 38).
Minha trajetória na escola é marcada por contrastes, pois em alguns momentos tive professores encantadores e que me fizeram perceber meu potencial. Depois de reprovar a terceira série, fui para uma escola simples e pequena, a escola tinha até alguns cômodos que ainda eram de madeira. Lá eu fiz novas amizades, ninguém era inimigo de ninguém, nas poucas vezes que riam uns dos outros, era só por ser engraçado mesmo, eu não via maldade e entendia que ninguém estava sendo inferiorizado. Senti que a professora gostava de seus alunos e alunas, lembro-me de ouvi-la contando com alegria para outras professoras sobre a nova aluna que havia recebido, e do orgulho que tinha da turma, fazendo-me gostar de fazer parte desse grupo.
Nesta escolinha, pela primeira vez, eu me vi como inteligente, minhas dificuldades de aprendizagem pareciam não existir mais, descobri diversas capacidades. Ali, escrever passou a ser prazeroso, nas redações eu podia expressar minha leitura de mundo, e isso foi visto como criatividade tanto pela professora Lúcia na terceira série, como pela professora Rita na quarta série. Eu adorava os elogios destas professoras e aprendi a ouvir suas críticas, pois sentia que elas valorizavam o que eu escrevia e me ajudavam a crescer. E assim, eu entendia que tudo o que diziam era porque acreditavam em meu potencial de melhorar, motivando-me a dar o meu melhor. Talvez elas nem soubessem quem era Paulo Freire, mas aquelas professoras faziam jus a amorosidade na educação que ele propõe:
Ama-se na medida em que se busca comunicação, integração a partir da comunicação com os demais. Não há educação sem amor. O amor implica luta contra o egoísmo. Quem não é capaz de amar os seres inacabados não pode educar. Não há educação imposta, como não há amor imposto. Quem não ama não compreende o próximo, não o respeita. Não há educação do medo. Nada se pode temer da educação quando se ama. (FREIRE, 1979, p. 15).
Como esta escolinha oferecia ensino somente até a quarta série, para continuar os estudos na etapa do ginásio tive que mudar de escola. A mudança foi impactante, pois as aulas passaram a ser disciplinares, lecionadas por vários professores e professoras, sendo um para cada disciplina. Neste sistema, eu me destacava em algumas disciplinas, e era uma péssima aluna em outras. Tive alguns professores encantadores e amorosos, mas o sentimento negativo que eu introjetava por causa de outros, me levava a rejeitar completamente a ideia de que a educação fosse algo bom e útil. Teve momentos em que nada na escola me fazia sentido, a não ser estar com os colegas, desfrutar dos livros da biblioteca e da deliciosa merenda, principalmente quando era mingau de chocolate!
No mais, sentia uma enorme inadequação ao sistema educacional e me achava “burra” e incapaz de dar opinião em sala de aula, pois era zombada por alunos e professores por não conseguir responder o que era considerado como a resposta certa. Tanto por parte de colegas quanto de professores e professoras, fui rotulada, punida e envergonhada por ter notas ruins em matemática, por ter medo de bola, por me defender. Fui chamada de insolente e mentirosa quando denunciei ofensas e agressões, sendo que eu nem sabia o que era ser insolente.
Para Freire (1987), opressores são os que oprimem, exploram e violentam, que usam de uma falsa generosidade para manter uma ordem social injusta “[...] que se nutre da morte, do desalento, da miséria.” (FREIRE, 1987, p.17). Os oprimidos são os que têm a sua “Vocação negada na injustiça, na exploração, na opressão, na violência dos opressores [...] sua humanidade roubada.” (FREIRE, 1987, p. 16). Minha leitura de mundo associada com a da palavra, me permite compreender como a opressão acompanhou a minha experiência na escola.
Na ânsia juvenil de querer mudar o mundo, finalmente terminei o ensino médio acreditando ter me livrado da escola para sempre! Eu não tinha a pretensão de trocar de lugar, de aluna oprimida para professora opressora, pois minha visão da docência era extremamente negativa e eu não queria ser como eles. Em contrapartida, por diversos momentos em que me sentia oprimida na escola, eu imaginava como seria ser professora e o quanto eu poderia agir diferentemente daquelas práticas autoritárias. Mas ainda assim, eu rejeitava veemente esta possibilidade, pois para mim a escola era inútil pelo que fazia. Não tinha conhecimento de que a opressão vinha de todo um sistema ainda mais arraigado, onde a violência dos opressores também os faz desumanizados e oprimidos. Eu não percebia o potencial que os oprimidos têm de libertar a si e aos opressores. (FREIRE, 1987).
Foi uma enorme surpresa quando consegui um emprego em um projeto social e pela primeira vez me vi em uma sala cheia de alunos, o que me deu vontade de sair correndo. Eu havia sido atraída pela prática social e inclusiva que tanto me inquietava e não imaginava que se tratava de uma atividade como professora. Mas naquele lugar, fiz as pazes com a educação ao perceber o potencial dela para a transformação social. Conforme Freire, “a educação modela as almas e recria os corações, ela é a alavanca das mudanças sociais” (1989, p. 18).
Na mesma época, me deparei com o livro O mundo de Sofia de Jostein Gaarder (1997). Como eu não havia tido a disciplina de Filosofia no Ensino Médio, o que começou com uma curiosidade, virou uma descoberta incrível sobre mim mesma! Descobri que o ser filósofo consistia em ser justamente aquele que não se adequa a este mundo satisfazendo-se com o senso comum, mas ser aquele que questiona em busca da razão e da compreensão de si mesmo e do mundo, dentre várias outras características da postura filosófica. Ao descobrir a Filosofia me senti como se tivesse voltado para casa, para minha sagrada mesa e meu quintal.
Por meu apego às ideias, fui fazer faculdade de Filosofia sem me dar conta de que estava escolhendo a profissão de professora, imaginei que fosse algo temporário. No estágio, acompanhei uma excelente filósofa, que possuía uma bagagem teórica honrosa. Mas em sua aula, os alunos a ignoravam, conversavam sem parar e a voz dela se perdia em meio àquele alarido: eles não tinham o mínimo respeito pela professora e pelo momento destinado a uma aula de Filosofia, nem parecia que uma aula estava acontecendo.
Esta experiência colocou o desafio de pensar a aula de Filosofia, não como algo agressivo como algumas aulas que eu havia vivenciado, mas que também não fosse passiva e banal a ponto dos alunos não aproveitarem a oportunidade para crescer. A Filosofia é a poeira produzida pelas mentes ao longo da história da humanidade e o tempo todo somos influenciados por esta poeira de ideias, pois é a partir delas que aprendemos a pensar (DEWEY, 1958). A Filosofia possui princípios e valores para incluir e transformar os alunos e a sociedade, e isso não poderia ser desperdiçado em uma aula desinteressante e desrespeitada.
Percebo que senti um pouco do que Freire sentiu quando narra um fato que presenciou na casa de colegas, quando o menino aprisionou um pintinho e tornou-se dono da situação ao dizer que se os pais dissessem algo, ele mataria o animalzinho. O silêncio e a inércia dos pais salvou o pintinho, mas sobre aquele dia, Freire (2000, p. 36) diz: “Nunca esqueci o juramento que fiz em face de tamanha licenciosidade: se vier a ser pai, jamais serei um pai assim”, de modo semelhante, prometi a mim mesma que se um dia eu fosse professora de Filosofia, jamais seria licenciosa a ponto de deixar um momento tão importante ser desperdiçado.
O outro extremo na forma de educar os filhos que preocupou Freire igualmente é o exercício da tirania da autoridade, “Mas, a mim me dá pena também e preocupação, igualmente, quando convivo com famílias que vivem a outra tirania, a da autoridade, em que crianças caladas, cabisbaixas, 'bem-comportadas', submissas nada podem” (FREIRE, 2000, p. 36, aspas no original). E ao remeter-me sobre os anos escolares em que me senti oprimida, reafirmei aquilo que sempre esteve em mim, que se eu fosse professora, jamais seria autoritária e malvada, mas procuraria me colocar no lugar dos alunos e das alunas.
Percebo que assim como ocorre estes dois extremos com pais e mães, ocorre na escola com professores e professoras, e tanto um ensino autoritário, como um licencioso é uma tirania, uma imoralidade, uma opressão das capacidades de aprender e decidir. Seja no menino que aprisiona um animal indefeso e usa como ameaça e manipulação, ou no adulto que abusa do poder, priva, exclui e domestica. Uma educação deve promover o crescimento de cada estudante e rejeitar toda postura e prática que contraria a humanidade do outro.
Mas qual seria então o equilíbrio positivo entre não ser um autoritário e nem licencioso quando educa? Freire destaca a importância de educar com autoridade e exemplifica narrando que ele e sua esposa nunca deixavam de repreender os filhos, “[...] falávamos seriamente com eles. Contudo, nunca dissemos ‘não’ sem dar as razões pelas quais dizíamos ‘não’.” (1986, p.63).
De modo semelhante, como professor, Freire deixou uma aluna da pós-graduação tecer críticas à sua forma de educar e não a expulsou. Quando ela terminou de falar, Freire falou “[...] seriamente, usando a autoridade do professor, e no final do semestre ela teve uma boa nota. Era uma mulher capaz.” (FREIRE, 1986, p. 63). A capacidade e a criticidade daquela mulher foram respeitadas por Freire, contudo, foi necessária uma fala de autoridade do mestre. E ele alerta os educadores que um aluno poderá testar a veracidade do seu discurso: “[...] aqui temos o direito de pensar e fazer perguntas, de criticar – e não apenas direito, mas dever [...]” e acrescenta que se você pune o aluno por criticar, “você não estava sendo honesto [...]. Seu discurso não tinha valor algum”. Diante deste impasse de entrepor limites, mas não punir a criticidade, o próprio Freire indaga: “Percebe como é difícil?” (FREIRE, 1986, p. 62).
E quando me tornei professora, percebi o quanto é difícil ter autoridade sem ser autoritária e nem licenciosa, é um processo em que eu erro e aprendo constantemente. Nestes 10 anos atuando como professora de Filosofia aprendi a amar não só a educação em si, como os alunos. Procuro resgatar minhas lembranças da adolescência e me colocar no lugar deles em cada aula e situação, de modo semelhante, procuro mostrar-lhes que sou uma pessoa humana comum, que gosta de ser respeitada e ouvida assim como eles.
A Filosofia no ensino médio é a oportunidade do adolescente refazer a leitura de sua própria experiência. Ao proporcionar o trabalho de reflexão sobre os conceitos e as concepções filosóficas, ela pode contribuir para que os jovens façam a sua experiência de revisão e transformem sua leitura de mundo. A Filosofia tem uma palavra a dizer, um conceito para balizar as experiências de leitura de mundo, trazendo a reflexão para o campo dos problemas existenciais, proporcionando uma ressignificação aprofundada e ampliando a possibilidade de tomar decisões e de agir.
A práxis filosófica aproveita os relatos da leitura registrada, a de mundo e da palavra e a revisita a partir da reflexão. Assim, ela pode contribuir para a transformação do adolescente que se descobre capaz de pensar e se autogovernar pautado pela reflexão e não domesticado pelas crenças impostas. A Filosofia tem o papel de libertar dos preconceitos e prejuízos das crenças não examinadas e consentidas. O trabalho de pensamento filosófico implica em ressignificar a experiência para criar resistência aos preconceitos, ao autoritarismo, ao machismo, às injustiças que suprimem a dimensão de humanidade da experiência.
O pensar resgata a natureza humana, enquanto o ensino bancário suprime esta natureza. Enquanto minha capacidade de pensar foi suprimida, minha mente insistia em perceber que algo estava errado com todo aquele sistema que me oprimia. Por sua vez, a minha humanidade estava lá, concorrendo com a insegurança e sentimento de incapacidade. A Filosofia me possibilitou a reencontrar minha dimensão humana na experiência, iniciou um processo de libertação de uma experiência que estava reprimida. Sem este trabalho de esclarecimento e conscientização das limitações impostas, a própria experiência poderia continuar empobrecida e a Filosofia teria deixado de fazer germinar a libertação.
A leitura de mundo é toda a bagagem de experiência trazida pelos alunos. E é esta experiência que buscamos trazer para sala de aula como oportunidade de cozinhar a experiência, para que adquira sabor, se transforme em sabedoria nutritiva. A Filosofia é como colocar alimentos em cima da mesa para trabalhar sobre eles, e sobre o mundo e sobre si mesmo.[3] E o diálogo é o modo de fazer e refazer a experiência da leitura de mundo e da palavra. Para Freire (1989), o diálogo é pensar o próprio conhecimento e leitura de mundo em confronto com outras leituras de palavra para iluminar a nossa leitura de mundo.
Adoro a “cabecinha curiosa” dos adolescentes, buscando meios de se encontrar como pessoa e de serem respeitados e aceitos como são. É incrível como nesta fase, a necessidade de aceitação é ainda mais gritante e o quanto uma “chamada” de atenção na frente dos colegas pode feri-los profundamente e torná-los ainda mais arredios ao entrar no modo defensivo! Por sua vez, a Filosofia oportuniza o contato com uma rica tradição de conceitos que podem levar os adolescentes a repensar seus saberes e reconstruir sua própria leitura de mundo.
Já ouvi colegas educadores dizerem que preferem dar aula para crianças, porque eles ainda têm medo, e que não gostam dos adolescentes por eles serem “boca-dura”. Contudo, me admiro dos adolescentes que diferente de mim, não se amedrontam diante de posturas rígidas, mas são capazes de exercitar a empatia quando você diz que está ali “de boa” para pensar junto com eles, mas que considero “muita mancada” quando alguém se acha no direito de mudar o curso de uma aula que é direito de todos e todas. Logo você escuta um sincero e gentil: “foi mal, professora”.
Nos conselhos de classe, escuto professores se gabarem de ter pulso firme, de mostrar quem manda e que por isso, na aula deles, o bendito fulano mais indisciplinado, fica quieto. Muitas vezes, estes mesmos alunos, são os mesmos que me parecem brilhantes, por sua criticidade e participação na aula. Eles se recusam a copiar, não trazem materiais, mas para mim, importa que sejam capazes de dialogar e dissertar um texto com uma visão filosófica do mundo e aplicar o pensar em suas vidas.
Desde o início deixo claro que não pretendo excluir nenhum aluno ou aluna da aula e que vamos procurar resolver tudo entre a gente, através do diálogo e respeito, pondo limites que vamos construir juntos para o bem de toda a sala. Certa vez, tive um aluno extremamente violento, em suas palavras e atitudes, tanto para comigo, como para com seus colegas, ele zombava dos combinados para que a aula fosse agradável para toda a sala e mal deixava alguém falar. Fui taxativa em dizer que não permitiria ofensas e que assim como todas as pessoas da sala eu também tinha a minha vez de falar, mas procurei sempre tratá-lo com respeito, respondendo suas palavras ríspidas com firmeza, colocando limites, mas com educação, respeito e cordialidade, deixando claro que muitas das críticas dele eram pertinentes, mas que isso também não excluía os seus deveres para com a sala.
No meio do ano, este aluno passou a participar das aulas, gabaritar as provas e contar sua história, que me fez entender o porquê ele agia tão raivosamente. No ano seguinte, finalizando o ensino médio, ele veio me dizer que achou o maior absurdo quando eu disse na sala que problemas com os outros deveriam ser resolvidos com conversa, pois na casa dele, sempre foi na base do grito ou da agressão e até então, ele conhecia apenas esta linguagem de fazer valer seus direitos e tinha como certo que ninguém o ouviria de outra forma.
Ele me disse: - “Eu nunca tinha ouvido isso, mas agora acredito que este seja o melhor caminho mesmo.” Quando o conheci, ele parecia ser alguém que não poderia se encaixar em nenhum espaço social, pois tudo era motivo de explosões de raiva e palavras agressivas e de baixo calão. Acredito que os projetos desta escola, modificaram sua forma de lidar com as pessoas, pois posteriormente ele passou a se envolver nas atividades sociais dos projetos, e tive notícias de que ele foi trabalhar como garçom, em um restaurante requintado que prioriza justamente cordialidade no atendimento. Creio que a Filosofia trouxe a ele uma possibilidade de dialogação sobre seus problemas e suas relações humanas.
E ao refletir sobre todo este potencial que a educação filosófica pode proporcionar ao adolescente, me inquieta a possibilidade de que eles sejam privados desta oportunidade. Além da redução de aulas de Filosofia que já ocorreu no Estado do Paraná em 2021, recentemente as editoras enviaram livros didáticos embasados pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC, 2021b) para que nós, professores, possamos escolher. Em nenhum deles encontrei um aprofundamento filosófico, as raras citações aleatórias e descontextualizadas dos pensadores mais conhecidos, eram mescladas com as outras importantes disciplinas de humanas que também foram subtraídas. O Novo Ensino Médio diluiu a Filosofia em um emaranhado de competências gerais (ANPOF, 2021) que me soam como uma padronização nacional de um ensino que não me parece considerar a leitura de mundo dos alunos.
A sala de aula deve trazer aquela sensação agradável de sentar-se a uma mesa cheia, em que o comer e o conversar criam memórias afáveis trazendo conhecimento construído por todos e todas que se assentam nela. Assim, tento levar minha sagrada mesa para cada sala de aula e fazer valer o escutar e o falar que valoriza o mundo e seus outros que Freire vivenciou:
Cada um de nós é um ser no mundo, com o mundo e com os outros. Viver ou encarnar esta constatação evidente, enquanto educador ou educadora, significa reconhecer nos outros - não importa se alfabetizandos ou participantes de cursos universitários; se alunos de escolas do primeiro grau ou se membros de uma assembléia popular - o direito de dizer a sua palavra. Direito deles de falar a que corresponde o nosso dever de escutá-los. De escutá-los corretamente, com a convicção de quem cumpre um dever e não com a malícia de quem faz um favor para receber muito mais em troca. Mas, como escutar implica falar também, ao dever de escutá-los corresponde o direito que igualmente temos de falar a eles. (FREIRE, 1989, p. 17).
Compreendo a importância do professor e da professora escutar seus alunos e alunas e seus anseios. Percebo que uma educação com afeto tem o potencial de promover a sanidade, a felicidade, a força para encarar os problemas da vida de forma corajosa. O amor, conceito implícito à Filosofia, está intimamente ligado ao processo de ensino e aprendizagem. Para Freire:
Não há educação sem amor. O amor implica luta contra o egoísmo. Quem não é capaz de amar os seres inacabados não pode educar. Não há educação imposta, como não há amor imposto. Quem não ama não compreende o próximo, não o respeita. Não há educação do medo. Nada se pode temer da educação quando se ama. (FREIRE, 1979, p. 15).
Para Freire, o ato de educar é capaz de transformar pessoas para que elas transformem o mundo, é o equilíbrio entre dar a liberdade e proporcionar possibilidades para que os educandos desenvolvam suas habilidades e se construam socialmente como pessoa, uns com os outros, sem os deixar soltos e abandonados sem princípios morais, mas sem impor um modo de vida autoritário. O educador amoroso é zeloso de sua autoridade sem ser autoritário e nem licencioso, isto é, não deixa o aluno fazer o que quer, mas não impõe um modo de ser impossível à sua natureza.
O educar, ao cultivar uma postura filosófica, procura respeitar a humanidade que há no educando pelo processo mesmo de encontrar reflexivamente esta condição. A postura amorosa de lidar com os problemas da experiência respeita a diversidade e a dignidade humana, promovendo um pensar democrático, ético, conscientizador, que não se furta e enfrenta os limites, desafios e responsabilidades, a fim de promover uma convivência autêntica, uma “unidade de cooperação em um vínculo crítico e amoroso” (FREIRE, 1967). O fato de hoje eu amar a Filosofia e a Educação, é porque encontrei nelas todo o potencial que eu tanto almejava de transformar o mundo, começando pela transformação da própria experiência. Assim, se desejamos que a escola seja um espaço de aprendizagem, é fundamental transformá-la em um espaço filosófico de diálogo e afetividade, promovendo o senso de respeito, de cooperação, de conscientização e convivência autêntica, como uma mesa afetuosa a qual todos são convidados a se assentar e dialogar.
Considerações finais
Paulo Freire compreendeu a relação profunda e libertadora entre a leitura de mundo como precedendo a leitura da palavra, esta, transformando aquela dialética e solidariamente. Ele partiu da ideia de que todas as pessoas têm um mundo a ser lido e explorado e que a aprendizagem depende desta leitura histórica e socialmente situada submetida à leitura da palavra, constituindo, assim, uma educação genuinamente praticante da libertação. Iluminados por este pressuposto, remetemos às memórias de nossa trajetória de aprendizagem, seja como alunos, quanto como professores, para pensar o tipo de educação transformadora.
Deste prazeroso exercício, foi possível compreender que o ensino de Filosofia é a oportunidade de que a humanidade pensante do adolescente seja convidada para trazer sua leitura de mundo para a sala de aula e associar com a leitura da palavra, aprendida pelos conceitos filosóficos e assim, junto aos outros, venha a libertar-se de limitações e preconceitos, para que possa compreender seu mundo a ponto de transformá-lo.
Diante de uma mudança histórica na educação brasileira com a implantação do Novo Ensino Médio amparada pela BNCC, pensamos ser fundamental que cada professor de Filosofia no ensino médio saiba explorar as poucas horas que serão atribuídas, para fomentar o gosto pelo pensar e pelo dialogar, é o pensar juntos para transformar a própria realidade. Que possamos despertar a curiosidade em relação aos filósofos e o gosto pela leitura de mundo associada à leitura da palavra, de forma que cada estudante venha compartilhar sua experiência a ponto de lermos o mundo uns dos outros de forma solidária e amorosa.
A sala de aula deve ser um espaço prazeroso de diálogo, onde cada estudante seja livre para fazer a sua leitura de mundo e submetê-la ao crivo da e na palavra a partir de um vínculo crítico e amoroso. O professor é um mediador deste processo quando ama seu aluno respeitando sua humanidade dialógica, evitando desvirtuá-lo sobretudo pelo autoritarismo ou pela licenciosidade. A autoridade é educativa quando sabe lidar com limites justos e atribuir responsabilidades, sem impor seu modo de pensar, sem silenciar, sem suprimir a natureza do educando. Autoridade que se pauta pelo diálogo, pratica a democracia como modo ético e epistemológico de lidar com os problemas da experiência, empoderando o estudante de suas capacidades como possibilidades de humanizar o mundo.
Referências
ANPOF - Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia. Sem filosofia não tem base: Carta do GT Filosofar e Ensinar a Filosofar sobre a BNCC. ANPOF, 2021. Disponível em: https://www.anpof.org/comunicacoes/notas-e-comunicados/sem-filosofia-nao-tem-base--carta-do-gt-filosofar-e-ensinar-a-filosofar-sobre-a-bncc. Acesso em 28 ago. 2021.
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BNCC - Base Nacional Comum Curricular. Base Nacional Comum Curricular: Educação é a base. BNCC, 2021b.Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf. Acesso em 28 ago. 2021.
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FUCUHARA, Letícia. A formação da consciência moral na perspectiva de Paulo Freire. PPEdu-UEL – Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Estadual de Londrina, 2021. Disponível em: https://www.ppedu.uel.br/en/more/dissertations-theses/dissertations/category/21-2021?download=474:fucuhara-leticia-regina-dos-santos-rodrigues. Acesso em: 17 nov. 2021.
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Notas:
[1] Base Nacional Comum Curricular (BNCC, 2021a).
[2] Algumas destas experiências já foram narradas pela pesquisadora na dissertação de mestrado em educação: A formação da consciência moral na perspectiva de Paulo Freire (FUCUHARA, 2021) e em publicações do Blog Portal Pós (https://blog.portalpos.com.br/).
[3] Assim como Freire faz a leitura de mundo, Michel Foucault (2006), também faz um exercício de pensar o cuidado de si enquanto reflete a história do pensamento humano. Ele entende o cuidado de si como o voltar a história e rever os problemas na genealogia dos conceitos para compreendê-los. De modo semelhante, Freire propõe a leitura de mundo dialeticamente solidária à leitura da palavra, mas difere no fato de não consistir em um se recolher na subjetividade de um mundo, mas de o entender como uma experiência social da cultura que vivemos.
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