Editorial Dossiê Ensino da Filosofia – Comunicações GT Filosofar e Ensinar a Filosofar

 

 

 

Christian Lindberg Lopes do Nascimento

Professor doutor na Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, Sergipe, Brasil.

christian.lindberg76@gmail.com - https://orcid.org/0000-0003-0325-5757

 

Elisete Medianeira Tomazetti

Professora doutora na Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil.

elisetem2@gmail.com - https://orcid.org/0000-0002-4979-7415

Publicado em 28 de outubro de 2020

É com alegria que apresentamos à comunidade de leitores e leitoras da Revista Digital de Ensino de Filosofia (REFilo) o Dossiê Ensino da Filosofia – Comunicações GT Filosofar e Ensinar a Filosofar. Os sete (7) artigos que integram o dossiê foram apresentados em mesas de comunicações, durante o VI Encontro do GT Filosofar e Ensinar a Filosofar, da ANPOF, realizado na Universidade Federal do Maranhão (UFMA), entre os dias 15 e 17 de outubro de 2019. Sua publicação é uma forma de constituir memória das ideias, dos desafios e das perspectivas da filosofia na escola básica em nosso atual cenário brasileiro. Às recorrentes e históricas ameaças à presença da filosofia na vida escolar das juventudes brasileiras a comunidade filosófica responde com a produção de conhecimento sobre o ensino da filosofia. Fazer circular ideias, argumentos e provocar pensamento em seus leitores e em suas leitoras, é, acreditamos, um modo de resistir ao embrutecimento que os ataques à filosofia representam em nossa sociedade. Na sequência apresentamos cada um dos textos como um convite à sua leitura.

O texto Filosofia e infância: formação docente para atuar em filosofia para/com crianças, de autoria de Gizolene de Fátima Barbosa da Silva Cantalice e Maria Reilta Dantas Cirino, oferece aos leitores e leitoras um estudo sobre o Programa de Filosofia para Crianças (PFpC), idealizado e posto em prática pelo filósofo norte-americano Matthew Lipman, em 1969, e as proposições que se alicerçam no projeto Experiências de Pensamento,  coordenado pelo filósofo e educador argentino Walter Kohan, desde 2007. O foco da análise das autoras é a formação de professores e professoras para atuarem para/com crianças e, por isso, descrevem de maneira detalhada como os dois programas concebem a criança, infância e, em especial, a questão de um método próprio a ser seguido pelos/as professores/as no caso de Lipman e a dimensão da experiência filosófica na escola como um acontecimento, na proposição de Kohan. As autoras consideram que a formação de professores e professoras é fundamental nas duas propostas, pois a aproximação entre a filosofia e as crianças merece atenção e compromisso para contribuir com a construção de sua autonomia.

Já o artigo intitulado Role playing game: uma ferramenta pedagógica para ensinar e aprender filosofia no ensino médio, de autoria de Andreza Dantas, Antunes Ferreira Silva e Antônio Garcia Freire, estrutura-se a partir da pergunta: De que maneira o uso do RPG como ferramenta pedagógica auxilia o processo ativo da aprendizagem nas aulas de filosofia? Os autores realizam, a partir do questionamento, uma reflexão sobre a necessidade de novas metodologias para o ensino da filosofia, considerando o envolvimento e o interesse de estudantes com as novas tecnologias de informação e comunicação. O RPG, Role Playing Game, um jogo digital de interpretação de personagens ou papéis, é destacado como uma ferramenta pedagógica e, ao longo do artigo, é detalhadamente apresentado e problematizado. Os autores destacam a importância de seu uso nas aulas de filosofia, por promover o interesse e a aprendizagem dos/as estudantes. Enfatizam que, “o RPG tem a capacidade de desenvolver um diálogo entre as escolhas realizadas no mundo digital e a vida cotidiana dos/as aluno/as. Deste modo, o uso de jogos digitais nas aulas de filosofia possibilita uma prática pedagógica lúdica e estimula a aprendizagem criatividade”.

Suédson Relva Nogueira e José Teixeira Neto nos oferecem o texto: A avaliação em filosofia na perspectiva da igualdade e da emancipação: “vontade”, “atenção” e “busca”, que é resultado de pesquisa de mestrado Prof-Filo, realizado na Universidade Estadual do Rio Grande do Norte, campus Caicó, cuja pergunta central foi: como repensar a avaliação em Filosofia no Ensino Médio da EECCAM a partir dos signos “igualdade” e “emancipação intelectual” de O mestre ignorante? A perspectiva de avaliação apresentada pelos autores se sustenta na concepção de Filosofia como uma ação e uma atitude emancipatória perante o mundo e seus signos previamente postos. A prática avaliativa proposta, aplicada em uma escola de ensino médio, consistiu na criação de uma ficha avaliativa, concebida a partir dos princípios de “igualdade de inteligência” e “emancipação intelectual”. A avaliação dos/as estudantes buscou atender os critérios de “atenção”, “vontade” e “busca”, a partir da obra O mestre ignorante, de Jacques Rancière. Os resultados da investigação e da experiência escolar realizada reforçam a importância da adoção de uma perspectiva filosófica na proposta didática e avaliativa assumida pelos/as professores/as de filosofia.

O artigo Educação Filosófica como processo de Libertação, de Klédson Tiago Alves de Souza, apresenta um estudo detalhado sobre a filosofia da libertação na América Latina, explorando, em especial, a questão de uma educação filosófica nessa perspectiva. O artigo está organizado nas seguintes seções: Breve incursão no contexto do surgimento da filosofia da libertação; Filosofia da libertação: um pensamento iniciante dos oprimidos; Educação filosófica e libertadora como descoberta do ‘rosto’ latino-americano e, por fim, Educação como ato político: o inédito viável e o método ana-lético. Trata-se, pois, de uma pormenorizada problematização de ideias e conceitos que situam e dão densidade teórica à filosofia da libertação. O autor finaliza afirmando que não se trata de “anular ou excluir o pensamento europeu, nem os autores que o fizeram, mas de pensar criticamente o mesmo a partir da revelação do ‘rosto’ outro, do oprimido, do latino-americano, do asiático, do africano”.

Já, no artigo intitulado A experiência na formação social do sujeito e o interacionismo simbólico em G. H. Mead: contribuições para o Ensino de Filosofia no Ensino Médio, de autoria de José Gilliard Santos Silva, o autor analisa as contribuições dos conceitos interacionismo simbólico, de George Herbert Mead, e agir comunicativo, de Jurgen Habermas, para o Ensino de Filosofia, articulando-os a uma ação educativa contextualizada em uma escola pública. Recorrendo a literatura especializada da área, o autor discorre sobre o Ensino de Filosofia como experiência e exercício do pensamento, relacionando-os a aprendizagem. Conclui a argumentação defendendo a ideia que o ensino de Filosofia deve ser pensado na perspectiva de conduzir os/as estudantes e professores/as a “pensar sempre de outra maneira” ou “buscar outras formas de pensar e saber”, distanciando-se, portanto, das formulações que apontam que o papel do ensino de Filosofia é constituir a consciência crítica e cidadã do/a estudante.

Dagmar Manieri, no artigo Pragmatismo e razão comunicacional: uma contribuição ao aprendizado educacional, desenvolve o texto com o intuito de identificar a potencialidade educativa do conceito habermasiano de razão comunicativa, expondo a crítica que desenvolve contra a razão esclarecedora, típica do Iluminismo. Ao recorrer a autores clássicos do pragmatismo, a exemplo de Richard Rorty e John Dewey, Dagmar conclui que as objeções feitas ao racionalismo apresentam uma abordagem nova sobre a aprendizagem.

O último artigo do dossiê é de autoria de Joildo Dutra de Medeiros e conta com o título Exercícios emancipatórios” para uma aprendizagem da Filosofia no ensino médio a partir de O mestre ignorante de Jacques Rancière, o qual tem por objetivo analisar os conceitos de exercício espirituais, de Pierre Hadot, igualdade e emancipação, de Rancière, para, em seguida, procurar responder se é possível a aprendizagem em Filosofia despertar no/a estudantes suas capacidades intelectuais. Conclui que a aprendizagem da Filosofia no ensino médio deve acontecer por meio de exercícios emancipatórios, nos termos estabelecidos por Walter Kohan, por entender que a Filosofia é uma atividade do pensamento, conduzindo os/as estudantes e professores/as a “pensar sempre de outra maneira” ou “buscar sempre outras formas de pensar e saber”.

Como o leitor e a leitora poderão observar, o presente Dossiê é um convite para a reflexão sobre o Ensino de Filosofia, em seu caráter teórico e também prático nas salas de aula de escolas, marcadas pela riqueza e pluralidade das comunidades e dos contextos sociais em que se situam. Temas como aprendizagem, concepções metodológicas, produtos educacionais e perspectivas filosóficas sobre o Ensino da Filosofia, entre outros, são abordados por autores e autoras de diferentes instituições de ensino superior do país. Que a sua leitura provoque, instigue e produza pensamentos que potencializem experiências filosóficas nas escolas.

 

Correspondência

Christian Lindberg Lopes do Nascimento - Avenida Marechal Rondon, Jardim Rosa Elze, Universidade Federal de Sergipe, Centro de Educação de Ciências Humanas, Departamento de Filosofia, CEP: 49100-000, São Cristóvão, Sergipe, Brasil.

 

DOI: http://dx.doi.org/10.5902/2448065761997