Universidade Federal de Santa Maria

Geografia, Ensino & Pesquisa, Santa Maria, v. 25, e32, 2021

DOI: 105902/2236499453300

ISSN 2236-4994

Submissão: 21/08/2020 • Aceito: 29/10/2021 • Publicado: 09/12/2021

Perspectivas da funcionalidade das praças da pequena cidade de Juranda-PR, Brasil

Perspectives on the functionality of squares in the small town of Juranda-PR, Brazil

Marcos Clair BovoI

Paula Josiely Latchuk BragaII

I Universidade Estadual do Paraná, Departamento de Geografia, Campo Mourão, PR, Brasil

http://orcid.org/0000-0003-3582-6702 - mcbovo69@gmail.com

II Universidade Estadual do Paraná, Departamento de Geografia, Campo Mourão, PR, Brasil

https://orcid.org/0000-0003-4847-7097 - paulalatchukbraga@gmail.com

RESUMO

A imagem da cidade não se traduz apenas pela arborização de avenidas, ruas, edifícios e monumentos históricos, mas também pelas praças. As praças são símbolos da história da humanidade desde a ágora grega, passando pelo fórum romano e chegando às praças modernas do período contemporâneo. Esses espaços apresentam diferentes funções que se projetam por meio das práticas de sociabilidade de lazer vivenciadas por diferentes grupos sociais. Além disso, possuem configurações e atividades voltadas por diferentes usuários de diferentes faixas etárias, portanto nesses espaços convivem crianças, jovens, adultos e idosos. Quanto às atividades/funcionalidades, temos: circulação, lazer, contemplação, descanso, cultural, educacional, psicológica, estética e ambiental que varia de lugar para lugar. Assim, a pesquisa objetiva analisar as praças da pequena cidade de Juranda-PR, destacando a funcionalidade desses espaços públicos. O aporte metodológico foi constituído de pesquisa bibliográfica em periódicos científicos, livros, dissertações e teses sobre praças públicas; pesquisa in loco em duas praças com levantamento dos principais tipos de equipamentos e estruturas. Os resultados indicam que as funções como: ambiental, estética e social são as que predominam. Porém, a partir de fevereiro de 2020, a sociabilidade por parte do jurandenses nas praças tornaram-se praticamente nulas devido à pandemia do coronavírus, que obrigou a população ao isolamento social, deixando as praças totalmente vazias.

Palavras-chave: Praça; espaço público; pequena cidade; socialização

ABSTRACT

The city’s image is not only translated by wooded avenues, streets, buildings and historical monuments, but also by squares. Those are symbols of humanity’s history since the Greek Agora, passing through the Roman Forum to nowadays’ modern squares. Such spaces present different functions, projected by means of sociability and leisure practices experienced by diverse social groups. Besides that, they own different configuration and activities directed to different users from different age groups, so we have a gathering of children, teenagers, adults and old people. Regarding activities/functionalities, there are circulation, leisure, contemplation, resting, cultural, educational, psychological, aesthetic and environmental varying from place to place. Thus, this research aims at analyzing the squares in the small town of Juranda-PR, highlighting the functionality of such public spaces. Methodological base consists in bibliographical research in scientific journals, books, dissertations and theses on public squares; on-site research in two squares surveying the main types of equipment and structures. Results show that environmental, aesthetic and social functions are predominant. However, since February 2020, sociability among citizens in the squares have been practically annulated due to the coronavirus pandemic, obliging the population to social isolation, leaving the squares totally empty.

Keywords: Square; public space; small town; socialization

1 INTRODUÇÃO

As praças são unidades urbanísticas indispensáveis para a população que vive nas cidades pequenas, médias e grandes, independente do lugar em que estão localizadas; desempenham várias funções, como a ambiental, estética, social, contemplativa, lazer e de memória coletiva. Para Bovo (2009, p. 109), “nas cidades ocidentais elas são mesmo imprescindíveis, em face ao papel que desempenham na vida social das diversas sociedades nas quais se inserem [...] indicam claramente o nível de criatividade [...] o exercício de direitos e deveres de cidadania”.

Já nas pequenas cidades brasileiras, que apesar da aparente tranquilidade, “elas não estão paradas no tempo, pelo contrário, como em toda cidade é produzida dia-a-dia por seus cidadãos”. Porém, com o decorrer do tempo as diferentes sociedades passam por diferentes “transformações, as relações sociais mudam e a cidade também, ou seja, o espaço vai se organizando/produzindo para atender as necessidades sociais de cada época”. Dessa forma, essa transformação também ocorre “com as praças públicas não é diferente, elas se alteram de acordo com as necessidades da população, modificando suas formas de uso e sua função” afirmam os autores Ré; Bovo (2019, p. 323).

Entender a praça pública é primordial para refletirmos sobre a sua configuração e os seus usos, ou seja, compreender o modo como a sociedade se organiza e se espacializa nesse lugar. Ao longo da história, ocorreram mudanças na sociedade que interferiram no arranjo físico, ou seja, nas formas, nas funções e nos usos desses espaços públicos.

Essa complexidade pode ser compreendida no espaço urbano quando se direciona o olhar para as praças públicas, observando-as para as suas diversas morfologias e para as relações sociais desencadeadas pelos atores que compõem o cotidiano urbano. Esse exercício demanda a compreensão de espacializações próprias que vão pouco a pouco transformando o espaço público da praça, isto é, destinado ao lazer, à sociabilidade e ao exercício político dos habitantes de uma cidade.

Esse exercício político pode ser projetado nas praças públicas por meio de duas esferas da vida social moderna: (a pública e a privada). Essas esferas não são constituídas apenas pela organização social e política, porém elas se constituem pelos seus próprios comportamentos, separando, dessa forma, os mundos da individualidade e da coletividade.

Assim sendo, levando em consideração a sociabilidade e funcionalidade das praças públicas, o presente artigo objetiva analisar as praças da pequena cidade de Juranda-PR, destacando a funcionalidade desses espaços públicos. As praças que serão lócus de pesquisa são: a Praça Henrique Szaferman e a Praça Irani Roque Martins.

As praças encontram-se localizadas na área central da cidade Juranda, cidade que está localizada na mesorregião centro-ocidental paranaense. O município de Juranda possui uma população que foi estimada em 7.340 habitantes em 2019 (IBGE, 2020) e conforme o Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES, 2015), possui uma área de 351,24 km², localiza-se a 519 km distante da capital do estado e apresenta 0,708 quanto ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) em 2010, abaixo do índice do estado que é de 0,749.

Essas praças assumem diferentes posições de destaque no cenário urbano e exercem diferentes papéis no contexto citadino, pois elas estão engendradas em um cotidiano urbano típico das pequenas cidades, em que a vida social de seus habitantes ainda possui vínculos muito fortes com seus espaços públicos.

O aporte metodológico foi constituído de pesquisa quali-quantitativa, sendo constituída de três etapas. A primeira refere-se à realização de levantamento teórico por meio de livros, teses, dissertações, artigos científicos que tivessem as seguintes palavras-chave: praça, espaço público, áreas verdes urbanas e funções. Na sequência foram procedidas as leituras e fichamentos dos textos, tendo como objetivo elaborar a fundamentação teórica da pesquisa.

Já a segunda etapa teve por base a pesquisa in loco na Praça Henrique Szaferman e na Praça Irani Roque Martins, que por meio de uma planilha, levantamos os principais equipamentos e estruturas existentes. Também foram observadas as diferentes funcionalidades das praças em diferentes dias da semana, seguidos de registros fotográficos.

Na última etapa, procedemos à análise dos resultados da pesquisa por meio de dados levantados dos equipamentos, das infraestruturas, das observações realizadas in loco e dos registros fotográficos que foram posteriormente analisados e descritos de maneira detalhada em consonância com o objeto de estudo.

Além da introdução, o artigo encontra-se estruturado em três partes, sendo que na primeira, serão abordados os conceitos, definições e as diferentes funcionalidades das praças enquanto espaço público. Na segunda, serão discutidos os aportes metodológicos da pesquisa e na terceira, apresentamos a análise dos resultados referentes às diferentes funções da Praça Henrique Szaferman e a Praça Irani Roque Martins e, por fim, as considerações finais.

2 A CIDADE, O ESPAÇO PÚBLICO, A PRAÇA E A FUNCIONALIDADE

O espaço público na cidade contemporânea assume inúmeras formas, funções, usos e tamanhos, compreendendo as ruas, avenidas, largos, praças, parques e até a paisagem vista por um observador. Mas afinal, o que significa a expressão público? Para o arquiteto e urbanista Alex (2008, p. 19) em seu livro Projeto da praça, convívio e exclusão do espaço público, o termo público “indica que os locais que concretizam esse espaço são abertos e acessíveis, sem exceção a todas as pessoas. Mas essa determinação geral, embora diminuída ou prejudicada em muitos casos é insuficiente. Atualmente o espaço público plurifuncional”. Alex (2008) pontua que esse espaço é constituído de “praças, cafés, ponto de encontro”, constituindo, assim, em “uma opção em uma vasta rede de possibilidades e lugares, tornando-se difícil prever com exatidão seu uso urbano. Espaços adaptáveis se redesenham-se dentro da própria transformação da cidade”.

Corroborando com Alex (2008), o geógrafo Gomes (2006) evidencia que o espaço público é um conjunto indissociável das formas com as práticas sociais. Para Gomes, essa ideia deve permear o olhar geográfico sobre o espaço público. Seguindo essa linha de raciocínio, o pesquisador Serpa (2011) discorre o espaço público como o espaço da ação política na contemporaneidade, podendo ser espaço simbólico no qual há a manifestação de diferentes ideias de cultura e de sujeitos. Diante dessa perspectiva, Serpa (2011) pontua que a transformação destes espaços públicos em mercadoria e sua consequente apropriação desigual.

Assim sendo, Gomes (2006, p.160) em seu livro: “A condição urbana: ensaios de geopolítica da cidade” destaca a concepção de espaço público com “a ideia de liberdade e igualdade” com base na “separação do privado ou a delimitação do jurídico”, ou seja, a garantia do acesso livre é insuficiente para definir o caráter político de seu significado. Para Gomes (2006, p.160), “os atributos de um espaço público são aqueles que tem relação com a vida pública [...]. É nesta conjuntura que o autor evidencia que “para que esse ‘lugar’ opere uma atividade pública, é necessário que se estabeleça, em primeiro lugar, uma copresença de indivíduo”.

Diante disso, para Gomes (2006, p. 160), “o espaço público, é antes de tudo, o lugar, a praça a rua o shopping, praia, qualquer tipo de espaço onde não haja obstáculos à possibilidade de acesso a participação de qualquer tipo de pessoa”. Assim, o espaço público é visto como um espaço de sociabilidade entre os indivíduos de diferentes classes sociais ou faixas etárias, porém cabe aqui uma ressalva que esse espaço se caracteriza também como um espaço da indiferença, tendo em vista que é regido por regras impostas pela sociedade.

Segundo Gomes (2006, p. 160), o espaço público é o lugar da sociabilidade, ou seja, o “mise-en-scène” da vida pública que prepara o indivíduo para a convivência em sociedade. O geógrafo destaca que: “o lugar físico orienta as práticas, guia os comportamentos, e estes por sua vez, reafirmam o estatuto público deste espaço”, dessa forma o espaço público é indissociável das formas assumidas por meio das práticas sociais.

Sendo a praça um espaço público que teve origem nas ágoras gregas, passando pelo fórum romano e chegando até a contemporaneidade, ela é vista pela sociedade como espaço que desempenha diferentes funções com a estética, ecológica/ambiental, simbólica e social. Além das funções, as praças possuem diferentes formas de uso, dentre elas, podemos destacar (encontro, comércio, manifestações culturais, manifestações políticas), ou seja, desde a sua origem, elas permanecem como lugares de encontro, de circulação de pessoas e de convivência e sociabilidade por ser um espaço público conforme destacados pelos autores Gomes (2006), Serpa (2011) e Alex (2008).

Afinal como podemos definir praça pública?

Para os arquitetos e urbanistas Robba; Macedo (2003, p. 17), as praças são “espaços livres públicos urbanos destinados ao lazer e ao convício da população, acessíveis aos cidadãos e livres de veículos”. Assim, os autores Robba e Macedo valorizam o significado de praça, levando-se em consideração a configuração física desse território.

Corroborando com os autores supracitados, os autores Rigotti (1956), Webb (1990) e Lamas (1993) complementam a abordagem conceitual dos arquitetos. Assim, na acepção de Lamas (1993, p. 102), a praça deve ser vista como: “lugar intencional do encontro, da permanência, dos acontecimentos, de práticas sociais, de manifestações da vida comunitária, e consequentemente, de funções estruturantes e arquiteturas significativas”. Para Rigotti (1956), as praças são concebidas como locais nos quais as pessoas se reúnem para diferentes finalidades, dentre elas podemos pontuar: o religioso, o político, o comercial, além do cultural e social. Já acepção de Webb (1990, p. 28), a praça é conhecida como os microcosmos da vida urbana, oferecendo excitações e descanso, cerimônias públicas, comércio etc., ou seja, é um “lugar para encontrar amigos e ver o mundo passar”.

Assim sendo, a arquiteta e urbanista Lynch (1999, p.18) complementa as reflexões apresentadas anteriormente ao conceituar as praças como: “espaços de encontro e lazer dos transeuntes, são locais de escape dentro do contexto urbano, onde proporcionar o bem-estar dos indivíduos é o principal objetivo”. Diante disso, Lynch pontua que as praças precisam de: “mobiliário e equipamentos urbanos como bancos, iluminação, fontes, coberto vegetal, sombreamento são indispensáveis para atraírem a população e garantirem conforto no espaço público”. Esses elementos quando instalados de forma adequada contribuem com a funcionalidade e sociabilidade do indivíduo nos espaços públicos. Tais equipamentos sempre estiverem presentes nas praças deste a antiguidade até os dias atuais e, no caso do Brasil, eles aparecem no período colonial, no ecletismo, moderno e contemporâneo.

Segundo os autores Robba e Macedo (2003), Rigotti (1956), Webb (1990), Lamas (1993), as praças enquanto espaços públicos tiveram ao longo da história da humanidade grandes transformações sociais desde a Idade Antiga até a Contemporânea, idealizando padrões distintos de organização de cidades de acordo com as necessidades de cada tempo. Dessa maneira, a vida social interferia e ainda continua a interferir nas formas de estruturação do espaço urbano.

Os arquitetos Robba e Macedo (2003) classificam as praças brasileiras em quatro períodos distintos, o colonial, o eclético, o moderno e o contemporâneo e nos quais foram e são desempenhadas diferentes funções, conforme quadro 01.

Quadro1 - períodos das praças públicas no Brasil e suas diferentes funções.

Períodos

Colonial

Eclético

Moderno

Contemporâneo

Função Social das Praças

Convívio social

Uso Religioso Uso militar Comércio e feiras Circulação Recreação

Contemplação Passeio

Convívio social Cenário

Contemplação Recreação Lazer esportivo Lazer cultural Convívio social Cenário

Contemplação Recreação Lazer esportivo Lazer cultural Convívio social Comércio Serviços Circulação Cenário

Fonte: Robba e Macedo, 2002, p. 152.

De acordo com o quadro 01, é possível verificar as diferentes funcionalidades das praças públicas no Brasil, tais funções foram sofrendo alterações de acordo com os períodos, porém o convívio social aparece de forma simultânea em todos os períodos, isso nos dá a ideia da relevância das praças públicas para as pequenas, médias e grandes cidades brasileiras, ou seja, o papel de sociabilidade entre as pessoas.

Para Marx (1980) as praças coloniais eram:

Logradouro público por excelência, a praça deve sua existência, sobretudo, aos adros das nossas igrejas. Se tradicionalmente essa dívida é válida, mais recentemente a praça tem sido confundida com jardim. A praça como tal, para reunião de gente e para um sem número de atividades diferentes, surgiu entre nós, de maneira marcante e típica, diante de capelas ou igrejas, de conventos ou irmandades religiosas. Destacava, aqui e ali, na paisagem urbana estes estabelecimentos de prestígio social. Realçava lhes os edifícios; acolhia os seus frequentadores (MARX, 1980, p.50).

Assim, a partir da praça, instalavam-se os principais prédios da cidade, o comércio, os prédios públicos eram espaços da cidade que representavam poder e o prestígio da nobreza da época. Ali ocorriam diversas atividades dentre elas destacamos convívio social, uso religioso, militar, comércio e feiras, circulação e recreação dentre outros.

Quanto às praças no período eclético, podemos destacar o passeio, a contemplação da natureza, o cenário e a convivência social. De acordo com Robba e Macedo (2002), as praças se dividiam em duas linhas: a clássica e a romântica. Quanto ao estilo clássico, a praça:

[...] estruturou-se sobre uma rigidez geométrica no traçado e plantio, buscando sempre a ortogonalidade e a centralização. [...] Os caminhos dispostos em cruz, conduzindo a um estar central marcado por um ponto focal, geralmente um elemento verticalizado (monumento, fonte, chafariz, coreto, obelisco), tudo isso envolto por um passeio perimetral, caracterizavam a chamada tríade clássica básica (ROBBA e MACEDO, 2002, p.56).

Já na linha romântica, a praça é caracterizada por Robba e Macedo (2002) como:

O estilo fantasioso, devaneador, poético e apaixonado que caracterizava o Romantismo, principalmente nas artes plásticas, música e literatura, surgiu no paisagismo como busca do naturalismo e volta às paisagens idílicas retratadas pelos pintores paisagistas do século XVII. [...] os exemplos de praças com projetos românticos não são muitos, uma vez que essa linha de projeto restringiu-se aos parques e jardins de maior porte (ROBBA e MACEDO, 2002, p.72).

As praças brasileiras que apresentam o estilo romântico são caracterizadas pela valorização da natureza e de suas imagens, apresentam linhas orgânicas e sinuosas, o cenário e a valorização da natureza. Outro aspecto a considerar refere-se à função desempenhada que era o passeio e a contemplação da natureza.

As praças do estilo moderno são caracterizadas pela contemplação, recreação, lazer esportivo, a recreação infantil, lazer cultural, convívio social e cenário. Assim, o estilo moderno perde a rigidez do estilo eclético, apresentando outros elementos artísticos e espaço livre e ajardinado, além disso, a praça tem por base a estrutura formal e funcional do espaço, sendo idealizada para a permanência das pessoas que frequentam e não para simples caminhar dos transeuntes.

Para Robba e Macedo (2002), as praças contemporâneas são destinadas às atividades de contemplação, recreação, lazer esportivo, lazer cultural, convívio social, comércio, serviços, circulação e cenário. Diante disso, as praças apresentam valores ambientais, funcionais, estéticos e simbólicos. No que tange aos valores ambientais, destacam-se: a melhoria do clima urbano, a melhoria da insolação nas áreas densamente povoadas, ajuda no controle da temperatura, dentre outros. Já os valores funcionais estão relacionados às opções de lazer urbano, por fim os valores estéticos e simbólicos contribuem por tornarem as praças objetos referenciais e cênicos na paisagem urbana, exercendo importante papel de identidade onde se localizam.

A partir da figura 01, é possível averiguar que as praças enquanto áreas verdes urbanas desempenham funções semelhantes às já apresentadas no quadro 01 por Robba e Macedo (2002), porém os autores Bargos e Matias (2011) corroboram a acrescentar a função psicológica (agrupando as características das funções apresentadas no quadro1), outras funções relevantes apresentadas pelos autores e a educativa por meio da Educação Ambiental.

Figura 1 - funções das praças enquanto áreas verdes urbanas.

Balões de Funções das Áreas Verdes - Verde.jpg

Fonte: adaptado pelos autores de Bargos e Matias 2011, p 9.

Segundo Bargos e Matias (2011), as áreas verdes urbanas possuem as seguintes funções com suas respectivas características.

Função Social: possibilidade de lazer que essas áreas oferecem à população. Com relação a este aspecto, deve se considerar a necessidade de hierarquização.

Função Estética: diversificação da paisagem construída e embelezamento da cidade. Relacionada a este aspecto deve ser ressaltada a importância da vegetação.

Função ecológica: provimento de melhorias no clima da cidade e na qualidade do ar, água e solo, resultando no bem-estar dos habitantes, devido à presença da vegetação, do solo não impermeabilizado e de uma fauna mais diversificada nessas áreas.

Função Educativa: possibilidade oferecida por tais espaços como ambiente para o desenvolvimento de atividades educativas, extraclasse e de programas de educação ambiental.

Função Psicológica: possibilidade de realização de exercícios, de lazer e de recreação que funcionam como atividades “anteestresse” e relaxamento, uma vez que as pessoas entram em contato com os elementos naturais dessas áreas (BARGOS; MATIAS, 2011, p.9).

Por fim, gostaríamos de destacar que todas as funções apresentadas na elaboração deste artigo são essenciais para a população urbana, principalmente nas pequenas cidades que são carentes de atividades culturais e de lazer, em sua maioria o único espaço de sociabilidade é a praça.

Dessa forma, a praça vem sendo moldada ao longo do tempo pela ação do homem, criando e recriando espaços com múltiplas funções e usos, ganhando historicamente diferentes níveis de importância atribuídos pela sociedade conforme apresentamos neste artigo.

Infelizmente Bovo (2009) alerta para outros problemas que vivenciamos na atualidade que descaracterizam as diferentes funcionalidades das praças enquanto espaço público de sociabilidade. Para Bovo (2009):

[...] alguns espaços públicos foram banalizados ou relegados ao esquecimento, quando não lhes são atribuídas funções diversas. As praças cedem lugar a estacionamentos de automóveis ou então se tornam territórios de desocupados, prostitutas, menores abandonados, mendigos, ladrões, drogados, etc. As calçadas, tomadas por camelôs e vendedores ambulantes, dificultam a circulação de pedestres por esses espaços tidos como públicos. Os parques abandonados transformam-se em áreas de depósitos de lixo urbano. Neste contexto, o cidadão, ou seja, aquele de menor poder aquisitivo, sem poder usufruir desses espaços, vê-se acuado entre o local de trabalho e a moradia (BOVO, 2009, p. 35).

Diante da citação de Bovo (2009), percebemos que precisamos resgatar a funcionalidade das praças enquanto espaço social, ou seja, como local de encontro, de tomada de decisão de interesse da comunidade, de espetáculos, ofícios religiosos, comércio, festas, enfim a vida da cidade passa pela praça. Porém, essas ideias parecem ser ultrapassadas para o momento hodierno nas grandes cidades brasileiras, tendo em vista a quantidade de atrativos oferecidos à população citadina. E nas pequenas cidades como ficam os papéis desempenhados pelas praças públicas? Esses papéis ainda se repetem na contemporaneidade nas pequenas cidades? Essas questões serão respondidas na análise dos resultados dessa pesquisa.

3 AS PRAÇAS DE JURANDA: ANALISANDO AS DIFERENTES FUNCIONALIDADES

Ao iniciarmos as análises dos resultados, vamos apresentar uma breve contextualização geo-histórica do município de Juranda. Etimologicamente “o termo Juranda vem do tupi “jur”: ir, vem; mais “andá”: frutas - frutas que vem”. A origem histórica remonta-se à “Colonizadora Szaferman Ltda, dona de extensa área de terras localizada no interior do município de Campo Mourão que decidiu criar uma cidade. Dessa forma, a referida colonizadora optou por lotear e vender suas terras (FERREIRA, 2006, p. 162).

Segundo Ferreira (2006, p. 162), o nome do município de Juranda “adveio de forma mística, através de uma visão espiritual obtida por João Maffei Rosa, na ocasião em que realizava a derrubada da mata” para implantação da cidade. Ferreira pontua que: “João Maffei, que era espírita, assim como seu irmão Lino Maffei, viu a imagem da índia (cabocla) Juranda e recebeu mensagens de fé e esperança naquele lugar”.

Assim, foi originado o povoado de Juranda, bem como o nome do ribeirão que banha a sede do município. Porém, foi a partir da Lei n. º 15, de 1º de setembro de 1955, que foi criado o distrito administrativo de Juranda, com terriório pertencente ao município de Campo Mourão. Já em 16 de dezembro de 1981, por meio da Lei n. º 7.549 criou-se o município de Juranda, cuja instalação oficial deu-se no dia 1º de fevereiro de 1983, conforme Ferreira (2006).

Após o processo de emancipação do munícipio, Juranda teve como principal atividade econômica a agricultura. Conforme relatos de moradores do município, a principal cultura desenvolvida na época era do algodão, assim afirma Menezez (2012) “a experiência adquirida ao longo dos anos fez com que os pioneiros rompessem as barreiras da dificuldade e fossem adiante no cultivo e na plantação de novos produtos. Entre eles o algodão”. O processo de mecanização da agricultura se deu após os anos 1980 “por meio da modernização da agricultura. Muitos pequenos produtores foram forçados a vender suas terras e migrar, levando a um processo de maior concentração fundiária, afetando assim o desenvolvimento local” (TAVARES; MELO; COSTA, 2013, p.11). Assim, houve uma redução do número de habitantes e um aumento desempregados no município.

Nesse período houve o processo de modernização da agricultura, possibilitando novas expectativas para o desenvolvimento local, como a inserção de uma extensão da Coamo no ano de 1979 no município, ocorrendo o crescimento econômico no município, porém esse crescimento atingiu poucas pessoas, o que fez aumentar, sobremaneira, as dificuldades de uma parte da população que passou a fazer atividades voltadas a subsistência.

Devido às dificuldades e complicações exigidas pelo cultivo do algodão, essa cultura foi substituída pelo cultivo de milho e soja, que são culturas de processo de produção mais rápido e prático, desse modo a mão de obra que era tão solicitada na colheita de algodão foi deixada de lado, ocasionando o êxodo.

A partir da década de 1980, o munícipio começou a perder o seu contingente populacional para outras cidades paranaenses e outros estados brasileiros que ofertavam melhores condições de vida e emprego. Assim, passaram-se 50 anos, e o município não apresenta crescimento populacional significativo, uma vez que a pequena cidade de Juranda possui poucas atividades industriais e comerciais, prevalecendo a produção de gêneros agrícolas ligados à exportação da soja e do milho, ficando a concentração de renda nas mãos dos grandes proprietários agrícolas.

Juranda é uma pequena cidade (figura 02) que oferece poucos atrativos para os citadinos, sendo as principais atividades ir para as lanchonetes, principalmente nos finais de semana, caminhar pela Praça Henrique Szaferman e a Praça Irani Roque Martins (Figura 03) ou mesmo pela avenida principal, onde crianças, jovens, adultos e idosos circulam livremente pela cidade.

Figura 2 - vista parcial da cidade de Juranda.

Fonte: Sistemas de coordenadas Geográficas DATUM SIRGAS, 2000. Base cartográficas: IBGE, 2020. Org. Jeremias Alecio Leperes de Marins.

Porém, no ano de 2020 com a pandemia do coronavírus e com o isolamento social, ouvimos todos os dias a expressão “vamos ficar em casa”, diante do contexto mundial, muitos espaços públicos como parques, praças foram sofrendo gradativamente o esvaziamento, hoje se encontram desertos, pois boa parte da população temem em se contaminar com o vírus. Tal acontecimento tirou dos moradores das pequenas cidades o pouco de lazer que eles tinham, o ir à praça, não pode; o ir ao parque, não pode; o ir à igreja, não ponde; o ir à praça jogar baralho, não pode. Afinal nada pode! Para esses moradores restam o isolamento e as poucas opções da TV aberta no Brasil.

Como podemos perceber, o isolamento social provocou o distanciamento das pessoas e a falta de sociabilidade entre as mesmas, o ir à praça conversar com os amigos, ou simplesmente levar as crianças para brincar ou ainda jogar uma partida de baralho, isso tudo deixou de existir na Praça Henrique Szaferman e a Praça Irani Roque Martins ficam vazias. Fazendo uma analogia com a Praça de São Pedro, os fiéis foram obrigados a deixar de assistir o cerimonial do Papa Francisco que realizou a benção extraordinária Urbi et Orbi, na intenção do fim do coronavírus, em Juranda as pessoas que frequentavam a praça deixaram de ir à missa e de realizar atividades de lazer.

Figura 3 - Localização das praças pesquisada em Juranda.

Fonte: https://media.gazetadopovo.com.br/vozes/2018/07/gazeta-do-povo-blog-concurseiros- juranda-pr-900x589-bc01e0ec.jpg. Acesso 20 de julho de 2020.

Juranda apesar de ser uma pequena cidade está conectada com o mudo, através da mídia, ou as pessoas estão virtualmente conectadas pela internet ou ainda por meio dos seus celulares, isso é uma opção, porém o contato físico e a sociabilidade em grupos andam um pouco “adormecidas”, pois vivemos em tempos de pandemia. Assim sendo, durante a oração, o Papa saudou os fiéis conectados pelas redes sociais dizendo: “no dia de hoje a Praça de São Pedro está fechada, então minha saudação vai diretamente para vocês que estão conectados através da mídia”. Assim, mesmo vazia, a Praça de São Pedro continuou a exercer a sua funcionalidade religiosa, porém a de contemplação não, pois os turistas não estavam lá, enquanto que o Papa sim.

A partir dessa reflexão e por meio da pesquisa in loco na Praça Henrique Szaferman e na Praça Irani Roque Martins e tendo base os autores Robba e Macedo (2002) e Bargos e Matias (2011), vamos apresentar as reflexões sobre as funcionalidades das duas praças, destacando que as praças públicas têm diversas funções, portanto vamos nos ater as que consideramos mais relevantes.

Ao longo da evolução das praças, a função religiosa sempre esteve presente em diferentes períodos da história, e no município de Juranda essa função também é recorrente, como podemos constatar no templo religioso da igreja católica: “Matriz Nossa Senhora Mãe de Deus de Juranda” (Figura 04) faz parte da Praça Irani Roque Martins e é utilizada para as cerimônias religiosas, principalmente nos finais de semana, além de casamentos, batizados, encontro de jovens, catequese dentre outras atividades ligadas à igreja católica. Ao entorno da igreja temos disponibilizados bancos, lixeiras, iluminação e também a presença de plantas ornamentais e amplos gramados que contribui com a estética do local.

Figura 4 - Vista parcial da Matriz Nossa Senhora Mãe de Deus.

Foto: Paula Josiely Latchuk Braga, 2021.

O convívio social sempre esteve presente nas praças enquanto espaço público, como sendo um dos principais meios de sociabilidade nas pequenas cidades, e essa função está presente tanto na Praça Henrique Szaferman como na Praça Irani Roque Martins. Dentre o convívio social, temos a terceira idade, as crianças com os pais que frequentam o parque infantil, o quiosque e o restaurante, as pessoas que vão à igreja católica, são exemplos de espaços de sociabilidade entre os moradores, porém esses espaços estão vazios devido à pandemia do coronavírus.

Assim sendo, esse convívio social ocorre com frequência entre a terceira idade, principalmente nos finais da tarde, quando as pessoas se reúnem para jogar nas mesinhas que estão disponibilizadas nas praças. Para Bovo (2009, p. 124), “o número de pessoas da terceira idade tem crescido em escala mundial, devido ao aumento da expectativa de vida verificado nos últimos anos. Para melhorar a qualidade de vida da população nessa faixa etária é preciso que o Poder Público ofereça opções de lazer”. Diante disso, é importante que a gestão pública municipal de Juranda crie espaços alternativos para descanso, contemplação, recreação e práticas de exercícios para atender a esses moradores dessa faixa etária.

Outro elemento de convívio social nas praças são os parques infantis, enquanto algumas crianças brincam nos diferentes equipamentos instalados, ocorre a interação entre outras que se divertem e correm no parquinho e os pais das crianças interagem entre si. Esse convívio é muito importante para as crianças, pois estão em fase de desenvolvimento e a cada momento uma nova descoberta. Bovo (2009, p. 126) corrobora com essa ideia ao dizer que “os parques infantis constituem elementos integradores das praças públicas, desde que cumpram a sua função, que é proporcionar lazer ao público infantil. Para isso temos que levar em consideração suas condições de uso, ou seja, a qualidade dos equipamentos instalados”.

No caso do parquinho infantil das praças, os equipamentos instalados precisam de manutenção e alguns necessitam ser substituídos por estarem quebrados ou enferrujados, outros necessitam de pinturas. Diante dessa situação, é relevante que a gestão municipal invista em novos brinquedos, principalmente de outros materiais que não sejam de ferro, o ideal é que os brinquedos sejam de cores e desenhos variados, e adequá-los à capacidade psicomotora da idade das crianças que frequentam esses dois logradouros, pontua Bovo (2009). É importante destacar que poucos pais levam as crianças ao parquinho, pois temem que se machuquem em equipamentos quebrados ou enferrujados.

Já as funções culturais acontecem todos os anos, são atividades programadas no calendário de eventos da Prefeitura Municipal de Juranda, dentre as atividades, podemos destacar: as festividades religiosas (Figura 05), comemorações do aniversário de Juranda, as atividades realizadas nos dias das crianças e os shows. Essas atividades são atrativas para a população local, a praça é vivida por boa parte dos jurandenses. A praça além de assumir a função cultural, assume também a função social por meio da interação entre os moradores.

A circulação de pessoas em espaços públicos é uma constante em todas as cidades, desde as pequenas até as grandes cidades brasileiras, o ir e vir é um direito constitucional e de necessidade do ser humano e isso não é diferente em Juranda, pois vários citadinos circulam dia a dia pelas praças ou indo para o trabalho ou indo para o comércio local. Porém, o caminhar pela praça pressupõe os caminhos sejam adequados, ou seja, não pode ter nenhum obstáculo que venha provocar acidente ao transeunte. Nesse sentido, a acessibilidade é fundamental em qualquer espaço público independente do local: praça, parque, calçada etc, enfim devem ser acessíveis aos cidadãos.

Figura 5 - festividade religiosa praça em Juranda.

Fonte: acervo cultural de Juranda.

Muitos moradores de Juranda usam os caminhos da Praça Henrique Szaferman para deslocarem-se até a rodoviária, pois esta é considerada com uma edificação institucional. Para Benevolo (1993), desde o fórum romano, a praça era rodeada por edifícios públicos ligados ao lazer, como os teatros, anfiteatros e termas, como também pelo palácio e os edifícios administrativos. Porém, no tempo presente, as edificações institucionais são os prédios públicos, ou seja, escolas, creches, teatros, bibliotecas, centros de educação infantil, postos de saúde, etc., neste sentido a rodoviária também é parte dessas instituições de Juranda.

Para Bargos e Matias (2011), a função estética contribui com embelezamento da cidade, no caso de Juranda, tanto a Praça Henrique Szaferman e a Praça Irani Roque Martins desempenham essa função, seja por meio dos elementos construídos ou por meio dos elementos naturais. É importante destacar que tanto no período colonial, quanto no ecletismo moderno e contemporâneo, a estética esteve presentes, seja por meio de estatuetas, bustos, corretos, fontes, chafarizes que sempre provocaram admirações pelas diferentes formas de representação de elementos no espaço público.

O chafariz, também conhecido espelho d`água, é um “elemento decorativo que teve origem no período renascentista, tornando-se comum em praças públicas, juntamente com as igrejas ou edifícios públicos” (BOVO, 2009, p.130). No período renascentista quase todas as praças tinham a presença de um chafariz, pois era um elemento fundamental que servia como ponto de atração para aquele espaço.

No caso específico do chafariz que encontra instalado na Praça Praça Irani Roque Martins não tem despertado atenção das pessoas que frequentam a praça, pois o mesmo não é ligado com frequência e dificilmente trocam a água que fica suja e cheira mal, tornando-se, assim, um recurso perdido, pois se for limpo e estiver sempre em funcionamento, torna o ambiente mais alegre e apreciado, principalmente pelas crianças. Além dessa situação, cabe alertar o poder público municipal que a água parada contribui para a disseminação de doenças, dentre elas a dengue que tem atingido muitas cidades paranaenses, inclusive levando ao óbito muitos citadinos.

Outros elementos também contribuem com a estética das praças são: “os canteiros das praças públicas [...] os seus traçados geométricos, associados com os diversos tipos de plantas ornamentais, conferem uma boa qualidade paisagística e colocam os usuários em contato com a natureza” (BOVO, 2009, p. 135). No caso das praças em estudo, constatamos que os canteiros com gramados são bem cuidados e com a grama sempre podada que dá um aspecto bem agradável para as pessoas que frequentam esse espaço público. Também podemos destacar a arquitetura da igreja, o chafariz e a arborização florida (Figura 06) que dão características especiais à praça.

Figura 6 - vista parcial da Praça Irani Roque Martins.

Foto: Paula Josiely Latchuk Braga, 2020.

Por fim, apresentamos a função ecológica ou ambiental das praças em estudo enquanto áreas verdes urbanas. Tal função está relacionada à vegetação que é um componente físico da paisagem urbana e caracteriza-se pela aparência, rugosidade no meio das edificações, juntamente com as áreas gramadas. Assim, a vegetação atua como condicionante térmico natural e auxilia no reabastecimento dos lençóis de água subterrânea através de sua infiltração no subsolo. No caso das duas praças, ambas possuem gramados e espécies arbustivas e arbóreas que contribuem com a qualidade ambiental da cidade.

Dessa forma, entendemos que a Praça Henrique Szaferman e a Praça Irani Roque Martins possuem diferentes funcionalidade, de acordo com os pesquisadores Robba e Macedo (2008) e Bargos e Matias (2011), tais funções, muitas vezes, sobrepõem a outra, por exemplo, a estética e a ecológica ou ainda a cultural e a social.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As praças no Brasil constituem espaços estruturadores das cidades brasileiras, são lugares públicos de encontro e convívio entre diferentes grupos sociais e pessoas de diferentes faixas etárias, isto é, de construção de cidadania e de democracia. Assim sendo, a Praça Henrique Szaferman e a Praça Irani Roque Martins têm desempenhado diferentes funções na pequena cidade de Juranda, contribuindo assim para a convivência e sociabilidade das mesmas. Diante disso, as praças necessitam de políticas públicas voltadas à manutenção, conservação e substituição de equipamentos, visando o atendimento de forma adequada. Também é relevante destacar os aspectos relacionados ao paisagismo, ou seja, a arborização, aos canteiros e aos gramados que devem ser cuidados constantemente.

Dentre os pontos positivos da Praça Henrique Szaferman, podemos destacar: a facilidade de acesso ao público; a manutenção e a limpeza da praça pelos funcionários da prefeitura; os restaurantes instalados que servem de pontos de encontros para jovens, famílias e trabalhadores que vão fazer suas refeições e a oferta de um ambiente tranquilo para as pessoas que frequentam, dentre outros.

Já a Praça Irani Roque Martins apresenta os seguintes aspectos positivos: boa iluminação; os bancos e mesas estão bem conservados e são utilizados pelas pessoas que frequentam a praça; os bancos e mesas são utilizados constantemente nos finais de tarde pela terceira idade para a prática de jogos, possibilitando a socialização; ambiente tranquilo para as pessoas que frequentam; o restaurante que serve de ponto de encontro entre famílias, jovens e trabalhadores que vão fazer as refeições; a limpeza da praça pelos funcionários da prefeitura, dentre outros.

Porém, ambas apresentam alguns problemas que poderiam ser resolvidos pela gestão municipal, no caso da Praça Henrique Szaferman por meio da pesquisa in loco, constatamos as necessidades de instalação de bancos; os espaços de lazer precisam ser melhorados; apresenta pouca vegetação. Já na Praça Irani Roque Martins, os problemas são idênticos aos da Praça Henrique Szaferman, porém outro ponto negativo se refere aos brinquedos do parque infantil, que não são seguros, pois muitos estão parcialmente danificados ou deteriorados pela ferrugem, situação que os colocam em risco às crianças.

É neste contexto que propomos algumas sugestões para o planejamento e gestão desses espaços públicos, conforme especificados a seguir:

a) explorar alternativas paisagísticas adequadas para as praças que não sobrecarreguem o orçamento do município e levem em consideração as condições climáticas e os habitates da cidade;

b) criar políticas públicas visando à implantação e recuperação das estruturas e dos equipamentos mobiliários a serem implantados nas praças, levando em consideração as funções básicas desses espaços públicos, que são a socialização e o lazer, podendo ser de caráter cultural, recreativo, esportivo ou contemplativo;

c) desenvolver políticas públicas de conscientização da população sobre a importância das áreas verdes urbanas, estimulando o uso desses espaços livres como meio de promover a qualidade de vida da população de Juranda;

d) inserir na decoração, painéis com grafite colorido utilizando cores vibrantes e também na infraestrutura, buscando valorizar as praças enquanto espaço público e os artistas locais;

e) instalação de parque infantil com equipamentos, utilizando cores, desenhos variados de forma a adequá-los à capacidade psicomotora da idade das crianças, além da utilização da grama sintética.

f) desenvolver atividades culturais, valorizando a comunidade local, por meio da música, da dança, do artesanato valorizando a sociabilidade do espaço público.

Essas são apenas algumas propostas que deixamos neste artigo, porém inúmeras outras poderiam ser aplicadas nas praças de Juranda, nesse sentido repensar o futuro é necessário. E repensar o futuro pressupõe o que se pode fazer após a pandemia do coranavírus, como vão ficar os espaços públicos, provavelmente relegados em segundo plano pela gestão municipal, principalmente nos orçamentos. No entanto, existe uma possiblidade que deve ser considerada como relevante para a população - a socialização das duas praças por meio da cultura, do lazer, etc. Para que isso aconteça, é preciso que haja políticas públicas que envolvam a sociedade, trazendo os artistas locais para a praça, seja por meio da música ou da dança e outras modalidades culturais e artísticas.

Agradecimentos

A Fundação Araucária pelo apoio no projeto de pesquisa.

Referências

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1 – Marcos Clair Bovo:

Doutor em geografia pela Universidade Estadual Paulista - campus de Presidente Prudente. Mestre em geografia pela Universidade estadual de Maringá. Atualmente é Professor e coordenador do Programa de Pós -Graduação Interdisciplinar em Sociedade e Desenvolvimento (PPGSeD) da Unespar- campus de Campo Mourão e professor adjunto do colegiado de Geografia da mesma instituição.

http://orcid.org/0000-0003-3582-6702 - mcbovo69@gmail.com

Contribuição: Redação e elaboração do manuscrito. Coleta e análise de dados. Participação e análise da discussão dos resultados. Revisão e aprovação da versão final do artigo.

2 – Paula Josiely Latchuk Braga:

Graduanda do curso de Graduação em Geografia da Universidade Estadual do Paraná-Campus Campo Mourão.

https://orcid.org/0000-0003-4847-7097 - paulalatchukbraga@gmail.com

Contribuição: Redação e elaboração do manuscrito. Coleta e análise de dados. Participação e análise da discussão dos resultados. Revisão e aprovação da versão final do artigo.

Como citar este artigo

BOVO, M. C.; BRAGA, P. J. L. Perspectivas da funcionalidade das praças da pequena cidade de Juranda-PR, Brasil. Geografia Ensino & Pesquisa, Santa Maria, v. 25, e32, p. 1-28, 2021. DOI 10.5902/2236499453300. Disponível em: https://doi.org/10.5902/2236499453300. Acesso em: dia mês abreviado. ano.