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Universidade Federal de Santa Maria

Exten. Rur., Santa Maria, v. 32, e73483, 2025

DOI: 10.5902/2318179673483

ISSN 2318-1796

Submissão: 12/12/2022 Aprovação: 12/02/2025 Publicação: 11/07/2025

1 INTRODUÇÃO.. 3

2 METODOLOGIA.. 8

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO.. 9

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS. 16

REFERÊNCIAS. 17

 

Artigos

Extensão rural e pluralismo institucional: experiências com a vitivinicultura no Planalto Catarinense

Rural extension and institutional pluralism: experiences with viticulture in the Plateau Catarinense

Cleber José Bosetti IÍcone

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Cristian Soldi IÍcone

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Leocir José Welter IÍcone

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I Universidade Federal de Santa Catarina  , Curitibanos, SC, Brasi

RESUMO

O objetivo desse artigo é analisar as práticas e abordagens do Pluralismo institucional aplicadas nas ações extensionistas voltadas para o desenvolvimento da vitivinicultura no município de Curitibanos, localizado no território do Planalto Catarinense. A viticultura é uma atividade em expansão na região, impulsionada por políticas públicas municipais e pela inclusão do território na Indicação Geográfica (IG) para os vinhos finos de altitude de Santa Catarina. A presença do Centro de Ciências Rurais (CCR) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) no município de Curitibanos, por meio do Núcleo de Estudos da Uva e do Vinho (NEUVIN) em parceria com outras instituições, tem contribuído para o desenvolvimento da vitivinicultura por meio de atividades de pesquisa e extensão. Em termos metodológicos, o artigo apresenta uma reflexão teórico-metodológica acerca das ações extensionistas realizadas e suas aderências à abordagem do pluralismo institucional. Como resultados, as ações extensionistas conduzidas sob a abordagem do pluralismo institucional e ancoradas na interdisciplinaridade, têm contribuído para os processos de inovação social em termos de produtos e processos e, por conseguinte, colaborado para o desenvolvimento do território do Planalto Catarinense. Com isso, infere-se que tanto a interdisciplinaridade quanto a abordagem do pluralismo institucional são fundamentais para a sustentação do papel esperado para o extensionismo na atualidade.

Palavras-chave: Extensão rural, Pluralismo institucional, Vitivinicultura

ABSTRACT

The objective of this article is to analyze the practices and approaches of institutional Pluralism applied in extension actions aimed at the development of viticulture in the municipality of Curitibanos, located on the plateau of Santa Catarina. The viticulture is an expanding activity in the region, driven by municipal public policies and the inclusion of the territory in the Geographical Indication (IG) for fine high wines from Santa Catarina. The presence of the Rural Sciences Center (CCR) of the Federal University of Santa Catarina (UFSC) in the municipality of Curitibanos, through the Nucleus of Grape and Wine Studies (NEUVIN) in partnership with other institutions, has contributed to the development of the viticulture through research and extension activities. In methodological terms, the article presents a theoretical-methodological reflection on the extensionist actions carried out and their adherence to the institutional pluralism approach. As a result, the extension actions conducted under the approach of institutional pluralism and anchored in interdisciplinarity, have contributed to the processes of social innovation in terms of products and processes and, therefore, collaborated for the development of the territory of the Planalto Catarinense. With this, it is inferred that both interdisciplinarity and the approach of institutional pluralism are fundamental to sustain the expected role for extensionism in present time.

Keywords: Rural extension, Institutional pluralism, Viticulture

1 INTRODUÇÃO

O desenvolvimento da vitivinicultura no Brasil, nas últimas décadas, tem se destacado pela adoção de novas cultivares, pelo uso de práticas e processos mais sustentáveis, pela diversificação da produção, pela implementação das Indicações Geográficas (IGs) e pela sua expansão em novas regiões produtoras (Mello, 2018). No Estado de Santa Catarina, as atividades de pesquisa e extensão lideradas pela Empresa de Pesquisa e Extensão Rural (EPAGRI), pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), culminaram na criação da Indicação de Procedência (IP) para os vinhos finos de altitude (Pandolfo; Vianna, 2020). O reconhecimento dos vinhos produzidos na região fez com que a mesma obtivesse notoriedade no âmbito do enoturismo nacional (Ferri; Nodari, 2023).

A microrregião de Curitibanos, localizada no Planalto Catarinense, faz parte do território de composição da IG dos vinhos finos de altitude. Situada entre as latitude 26º a 28º, com uma altitude em torno de 1000 metros acima do nível do mar, a região possui um conjunto de condições apropriadas para a produção de uvas e elaboração de vinhos diferenciados (Rosier, 2018; Souza, et al, 2019; Malinovski, 2021). Nessa perspectiva, a vitivinicultura passou a despontar como uma atividade com potencial de inovação às cadeias de valor da economia local.

Figura 1 – Mapa do território da IP dos Vinhos Finos de Altitude de Santa Catarina

Fonte: Pandolfo; Vianna (2020)

 

Apesar dos aspectos favoráveis mencionados, as condições climáticas da região, com elevada umidade no período primavera-verão, é propícia à incidência de doenças nas videiras. Diante disso, o Núcleo de Estudos da Uva e do Vinho (NEUVIN) do Centro de Ciências Rurais (CCR) da UFSC, passou a trabalhar em pesquisas com as uvas PIWIs (Pilzwiderstandsfähigen, que significa resistente a doenças fúngicas). Diversas pesquisas têm demonstrado que essas variedades apresentam resultados positivos de resistência às referidas doenças (Bonin, 2018; Zanghelini, 2018; Dias, 2020), bem como para o potencial de geração de vinhos finos de qualidade pelas mesmas (De Bem, 2019). Algumas das variedades pesquisadas e avaliadas já estão sendo cultivadas.

Paralelo aos trabalhos de pesquisa realizados na UFSC, desde as leis 5.095/2013 e 5.276/2014, a Prefeitura Municipal de Curitibanos implantou um programa de cooperação técnica e financeira para incentivar a viticultura no Município. Essa política pública tem sido conduzida em parceria com a Associação dos Produtores de Uva e Vinho do município (APRUVAC). Dentre ações desse programa podem-se destacar a distribuição subsidiada de mudas de videiras vitis labruscas e vitis viníferas e o acompanhamento técnico-profissional em uma parceria da prefeitura com a EPAGRI.

Gráfico 1 - Evolução das Unidades Produtivas (UPs) com viticultura em Curitibanos (2006-2017)

 

Fonte: IBGE (2022)

 

Com o aporte da política pública municipal houve um aumento das unidades produtivas que passaram a trabalhar com viticultura e na produção de uvas no município de Curitibanos. Em termos socioeconômicos, a viticultura do município é predominantemente constituída por agricultores familiares que, com o aumento gradativo da produção das videiras no decorrer das safras, precisaram encontrar destino para a uva e seus derivados.

 

Gráfico 2 - Evolução da produção de uvas em toneladas no município de Curitibanos-SC no período (2010-2023)

Fonte: Produção Agrícola Municipal (IBGE, 2024)

 

Um dos produtos derivados da uva que passou a demandar aporte extensionista foi a elaboração do vinho, seja o das vitis labruscas ou das vitis viníferas. A elaboração do vinho é um processo biotecnológico que exige conhecimentos técnicos para se chegar a um produto final de qualidade (Venturini Filho, 2016). Assim, criou-se uma demanda extensionista para qualificar os processos de vinificação.

Para atender as demandas referidas formalizou-se um acordo de cooperação interinstitucional entre a Prefeitura Municipal de Curitibanos, a EPAGRI, a APRUVAC e UFSC, para impulsionar o desenvolvimento da vitivinicultura no município de Curitibanos-SC. Na UFSC, com apoio da FAPESC, foram elaborados os projetos de extensão “Aprimoramento das técnicas de vinificação e gestão da vitivinicultura” e o projeto de pesquisa “Ampliação da infraestrutura do Laboratório Multiusuário de Análise Instrumental”, visando à elaboração e análise de qualidade de produtos fermentados. Diante dos desafios postos, três perspectivas para as ações extensionistas foram delineadas: o pluralismo institucional, a interdisciplinaridade e o desenvolvimento territorial.

O pluralismo institucional emergiu em função da diversidade de problemáticas e demandas que se tornaram relevantes para o extensionismo rural contemporâneo (Diesel; Neuman; Sá, 2012; Klerkx; Landini; Santoyo-Cortés, 2016). Em termos institucionais, consistiu na diversificação das organizações responsáveis pela realização dos serviços e pelos novos papéis a serem desempenhados pelos extensionistas (Diesel; Dias, 2016; Cremaschi; et al., 2019; Borsatto; et al, 2022).

A interdisciplinaridade emergiu como consequência das problemáticas complexas identificadas para o lócus do extensionismo rural contemporâneo (Rivera; Alex, 2004; Diesel; Dias, 2016). Nisso, destacam-se as metodologias participativas, as orquestrações interinstitucionais e as abordagens territoriais (Diesel; Neumann; Sá, 2012; Knook, J; Turner, 2020). Essa perspectiva parte do pressuposto das complexas demandas do rural contemporâneo e chega ao entendimento de que o diálogo e a cooperação entre diferentes instituições é fundamental para atendê-las.

O desenvolvimento territorial consiste em processos sociais cumulativos, coordenados por atores, saberes e instituições de forma a qualificar os recursos existentes em determinado espaço geográfico (Pecqueur, 2013); é impulsionado pela dinamização dos processos produtivos a partir da qualificação de ativos tangíveis e intangíveis (Niederle, 2013) e pela especificação dos produtos obtida com a mobilização dos atores locais que promovem a aprendizagem e a inovação (Pecquer, 2005; Tonneau; et. al, 2017). A mediação dos processos voltados para a inovação e sustentabilidade dos territórios é um dos papeis principais a ser desempenhado pelo extensionismo rural contemporâneo (Caporal, 2020).

Desse modo, a problemática central do presente trabalho é a seguinte: a orientação metodológica extensionista, pautada no pluralismo institucional, na interdisciplinaridade e na abordagem territorial, possui efetividade para atender as demandas extensionistas identificadas no território referido? Além dessa introdução, a segunda seção apresentará o delineamento metodológico do trabalho e a terceira a descrição das atividades realizadas, bem como a análise das mesmas. Por fim, são apresentadas algumas considerações finais acerca do trabalho.

2 Metodologia

As problemáticas centrais que orientaram as ações extensionistas no âmbito da vitivinicultura no município de Curitibanos foram: como qualificar os processos e produtos da vitivinicultura do território? Que abordagens pedagógicas seriam mais adequadas? Como as ações extensionistas poderiam contribuir para o desenvolvimento territorial? Em função disso, foram escolhidas três perspectivas teórico-metodológicas: a) conhecimento das realidades; b) educação pela valorização das experiências; c) abordagem interdisciplinar.

O conhecimento prévio das realidades vividas é um pressuposto fundamental para a condução dos processos educativos que visam despertar a autonomia dos sujeitos (Freire, 2015). Essa dimensão pedagógica da ação extensionista deu-se por meio de visitas informais às unidades produtivas e pelo diálogo interinstitucional com a EPAGRI e a Secretaria Municipal da Agricultura, entidades que realizam a assistência técnica periódica junto aos viticultores. As informações obtidas por meio desse diagnóstico subsidiaram a definição das ferramentas extensionistas subsequentes.

A concepção pedagógica das atividades extensionistas também se pautou na perspectiva da experiência, isto é, na situação pedagógica em que os sujeitos param, olham, observam e deixam-se tocar pelas coisas que estão vivenciando (Larossa, 2021). Sob essa perspectiva foram realizadas as atividades práticas e participativas envolvendo os atores interinstitucionais. A ideia de “fazer juntos” os processos técnicos voltados para o aperfeiçoamento da vitivinicultura, ancorou-se no pressuposto de vivenciar as experiências para que estas proporcionassem processos cognitivos.

Ademais, a pluralidade de atores e instituições envolvidas, cada qual com seus saberes e experiências, proporcionou uma convergência interdisciplinar (Follmann, 2014). O encontro dos diferentes saberes, acadêmicos e não acadêmicos é um dos caminhos para se aproximar da interdisciplinaridade. Na ação extensionista realizada isso se fez presente pelo envolvimento de professores de áreas do conhecimento distintas (química, agronomia, sociologia), técnicos agrícolas, agricultores e instituições distintas (UFSC; EPAGRI; APRUVAC; PREFEITURA MUNICIPAL).

Dessa maneira, o tópico seguinte buscará analisar as ações propriamente ditas realizadas junto aos vitivinicultores do município de curitibanos em função das três perspectivas de atuação extensionista referidas.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Tabela 1- Síntese das atividades e metodologias aplicadas

Ano

Atividade Pedagógica

Procedimentos Metodológicos

2019

Diagnóstico das realidades dos vitivinicultores

Visitas às unidades produtivas; diálogo com os atores institucionais da viticultura; análise sensorial dos vinhos produzidos.

 

2020

Análises químicas da uva

Coleta de amostras da uva no ponto em que os agricultores costumam determinar a colheita para vinificação e análises químicas das mesmas

2021

Dia de Campo

Atividade prática realizada na fazenda experimental da UFSC sobre “Poda em vitis viníferas

 

2021

Cartilha sobre vinificação

Manual técnico com passo a passo do processo de vinificação

 

2022

Curso de vinificação

Curso prático para elaboração de vinhos brancos, tintos e rosés com a participação dos vitivinicultores;

 

2022

Degustação de vinhos

Análise degustativa dos vinhos produzidos pelos vitivinicultores e dos vinhos elaborados no curso de vinificação.

2023

Curso de análise sensorial

Técnicas de análise sensorial e gustativa para aperfeiçoar as habilidades dos vitivinicultores.

 

2024

Ciclo de palestras

Palestras temáticas da implantação do vinhedo às vinificações

 Fonte: autores (2022)

 

O diagnóstico das realidades dos vitivinicultores possibilitou identificar os sistemas produtivos utilizados (convencionais e orgânicos), as características socioeconômicas das unidades produtivas (agricultura familiar e agricultura não familiar) e, principalmente, o saber fazer dos agricultores em relação à elaboração dos vinhos. Esse panorama serviu de parâmetro para a definição das atividades subsequentes, bem como para adequar a linguagem e as estratégias pedagógicas utilizadas nas atividades. Nesse sentido, a abordagem da extensão como comunicação entre sujeitos (Freire, 2015) mostrou-se aderente às proposições extensionistas.

As análises químicas das uvas foram realizadas com o intuito de avaliar os parâmetros físico-químicos do ponto de colheita costumeiramente praticado pelos agricultores. As coletas, inicialmente, contaram com o apoio da EPAGRI e da Secretaria Municipal da Agricultura e, posteriormente, passaram a ser fornecidas como prestação de serviço pela UFSC. Além disso, a Prefeitura Municipal de Curitibanos fez uma parceria com a UFSC na montagem do Laboratório de vinificação, o qual tem como contrapartida as atividades de pesquisa e extensão voltados aos vitivinicultores da região. Assim, diversos parâmetros passaram a ser analisados, com destaques para os sólidos solúveis totais (SST, °Brix), a acidez total titulável (ATT, em mEqH+/L) e o pH.

A primeira atividade prática foi um dia de campo sobre “poda em vitis vinífera”, realizada no campo experimental da UFSC. A partir do diálogo com os viticultores, em que estes descreveram como realizavam a poda em suas unidades produtivas, foram feitas algumas demonstrações práticas de como realizá-la no sistema de condução em espaldeira.

 


Figura 2- Dia de campo sobre poda em videiras

Fonte: autores (2021)

 

Nessa atividade, os agricultores puderam observar de maneira detalhada as diferentes possibilidades de condução da poda nas videiras e sua importância na formação do vinhedo. A condução metodológica do trabalho, orientada pelo diálogo, possibilitou aos viticultores tirar dúvidas pontuais e sistêmicas acerca da poda, da brotação, do desenvolvimento vegetativo e do controle de doenças nas videiras.

Previamente à realização do curso de vinificação, foi produzida uma cartilha prática sobre o tema. A proposta da cartilha foi de colaborar com a qualificação dos processos enológicos a partir da identificação de alguns gargalos cruciais do mesmo, tais como o ponto mais apropriado de colheita das uvas, a sanitização do ambiente e dos utensílios, as temperaturas adequadas em cada etapa do processo, a observação sensorial de defeitos e medidas para sua correção, as trasfegas e o local apropriado para armazenamento do produto final. A cartilha foi entregue aos agricultores durante a realização do curso de vinificação e foi escrita de modo a adequar a linguagem técnica à pluralidade sociocultural (Klerkx; Landini; Santoyo-Cortés, 2016; Knook; Turner, 2020).

O curso prático de vinificação teve como foco a ampliação das metodologias de elaboração de vinhos, apresentando diferentes possibilidades para a vinificação com o objetivo de estimular a diversificação dos produtos elaborados. As uvas utilizadas foram cedidas pelos viticultores e colhidas conforme protocolos das análises químicas anteriormente referidas. O curso foi conduzido de maneira prática e participativa, sendo que em cada procedimento, previamente, realizava-se um diálogo com o intuito de comparar as práticas e experiências dos vitivinicultores. Esse formato pedagógico pautado no dialogismo (Freire, 2015) proporcionou a mobilização de conhecimentos interdisciplinares (Follmann, 2014) e na convergência de diferentes saberes.

 

Figura 3 – Curso prático em vinificação

 

Fonte: autores (2022)

 

No curso foram elaborados diferentes estilos de vinho (brancos, tintos e rosés). A intenção era mostrar como a utilização de diferentes processos de vinificação podem proporcionar, com a mesma uva, produtos distintos e variados. Os processos subsequentes de elaboração do vinho, tais como a fermentação alcóolica, a chaptalização, o controle da densidade, as trasfegas, a clarificação, a segunda sulfitagem, a fermentação malolática e a estabilização proteica, os quais variam conforme o tipo de vinho que se produz, foram descritos na cartilha entregue aos agricultores..

Assim que os vinhos ficaram prontos, o grupo de trabalho organizou uma atividade  de degustação denominada de “Teste de aceitabilidade”. O evento, realizado no Mercado Público Municipal de Curitibanos, contou com a participação dos agricultores que participaram do curso e do público em geral.

 

Figura 4 - Teste de aceitabilidade dos vinhos elaborados

Fonte: autores (2022)

 

 Do ponto de vista metodológico, a atividade consistiu em uma avaliação sensorial e degustativa dos vinhos elaborados. Para o público em geral, a atividade objetivou identificar a aceitabilidade em termos de mercado consumidor por meio do preenchimento de uma ficha avaliativa; para os agricultores foi a continuidade das ações pedagógicas anteriores. Essa atividade buscou sintetizar a perspectiva de aprendizado da experiência a partir daquilo que é sentido pelos sujeitos (LAROSSA, 2021) e, nesse caso, passou pela rememoração sensitiva dos vinhos elaborados anteriormente, pela importância de se considerar os parâmetros químicos do ponto de colheita e, por fim, da experiência sensorial da degustação.

De maneira complementar às atividades de degustação, foi realizado um curso técnico de análise sensorial. A ideia dessa atividade era aperfeiçoar os conhecimentos já incorporados nos processos pedagógicos anteriores a fim de sofisticar as habilidades dos vitivinicultores, inclusive, para a futura venda dos seus produtos aos consumidores. A atividade foi conduzida por um sommelier profissional e contou com a participação tanto de agricultores como do público em geral.

 

Figura 5 - Curso técnico de análise sensorial

Fonte: Acervo autores (2022)

 

No ano de 2024, uma nova organização passou a fazer parte do grupo de instituições voltadas à vitivinicultura no município de Curitibanos: a Una’Viti (Cooperativa agroindustrial dos Fruticultores de Curitibanos e região), com foco na produção de uva, suco e vinho. Ainda fase inicial de suas atividades, a cooperativa demandou à UFSC e à EPAGRI a realização de um ciclo de palestras técnicas para seus associados.

O conjunto de ações extensionistas realizadas pode ser sintetizado pela convergência entre: o ponto de partida da realidade dos agricultores, com seus saberes e experiências; o trabalho colaborativo interinstitucional, com competências e habilidades plurais; e a concepção da extensão rural como um processo de educação continuada ancorada no aprendizado pelo sentido das experiências. Desse modo, o pluralismo institucional tem respondido às demandas dos vitivinicultores do município e contribuído para o desenvolvimento da cadeia de valor da vitivinicultura.

 


Figura 6 - Ciclo de palestras sobre viticultura e enologia

Fonte: acerco dos autores (2024)

 

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento da vitivinicultura no território do Planalto Catarinense tem ocorrido por meio de um conjunto de ações interinstitucionais. No município de Curitibanos, sob a ótica do pluralismo institucional e da atuação interdisciplinar, as ações extensionistas mostraram-se efetivas para estimular o desenvolvimento de competências e habilidades dos vitivinicultores para a geração de novos produtos. Isso foi possível muito em função das ações extensionistas terem sido conduzidas pelos pressupostos pedagógicos do dialogismo, da participação, do direcionamento voltado para proporcionar o aprendizado a partir da experiência e da abertura para a condução interdisciplinar das ações.

Dessa maneira, pode-se inferir que o extensionismo rural, na atual conjuntura histórica, precisa incorporar a complexidade em seus escopos pedagógicos, comunicativos e institucionais. O pluralismo institucional contempla essa complexidade em termos de demandas e dos papeis a serem desempenhados pela extensão rural, porém, é preciso avançar na criatividade pedagógica e na busca pela concretização da interdisciplinaridade para que tais aspectos possam ser efetivamente contemplados.

 

Agradecimentos: os proponentes agradecem a Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (FAPESC - 2021TR1766) e a Prefeitura de Curitibanos (Lei No 6.651/2022) pelo apoio financeiro, Empresa de Pesquisa e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI) e Associação dos Produtores de Uva e Vinho de Curitibanos (APRUVAC) pelo suporte operacional.

REFERÊNCIAS

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Contribuição de autoria

1 – Cleber josé Bosetti

Professor Adjunto do Centro de Ciências Rurais (CCR) da Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC

https://orcid.org/0000-0003-3117-8998 • cbbosetti@yahoo.com.br

Contribuição: Conceituação, metodologia, redação do manuscrito original.

2 – Cristian Soldi

Professor Adjunto na Universidade Federal de Santa Catarina - Campus de Curitibanos

https://orcid.org/0000-0002-3326-8893 • cristian.soldi@ufsc.br

Contribuição: Investigação, recursos e revisão.

3 – Leocir José Welter

Doutor em Ciências Naturais pela Universidade de Karlsruhe - Alemanha

https://orcid.org/0000-0003-1527-7603 • leocir.welter@ufsc.br

Contribuição: Investigação, recursos e revisão.

Como citar este artigo

Bosetti, C. J.; Soldi, C.; Walter, L. J. Extensão rural e pluralismo institucional: experiências com a vitivinicultura no Planalto Catarinense. Extensão Rural, Santa Maria, v. 32, 2025. DOI 10.5902/2318179673483. Disponível em: https://doi.org/10.5902/2318179673483. Acesso em: dia mês abreviado. ano.