Universidade Federal de Santa Maria
Enflo, Santa Maria, v. 12, e85578, 2024
DOI: 10.5902/2316980X85578
ISSN 2316-980X
Submissão: 31/10/2023 • Aprovação: 25/09/2024 • Publicação: 25/11/2024
Artigos
Influência da compactação do solo na regeneração natural em uma pista de pouso desativada em processo de recuperação
Influence of soil compaction on natural regeneration on a deactivated gravel airstrip in the land restoration process
Frederico Augusto Guimarães GuilhermeII
IUniversidade Federal de Jataí, Instituto de Ciências Agrárias, Jataí, Goiás, GO, Brasil
IIUniversidade Federal de Jataí, Instituto de Biociências, Jataí, Goiás, GO, Brasil
IIIUniversidade Federal de Lavras, Escola de Ciências Agrárias de Lavras, Lavras, Minas Gerais, MG, Brasil
RESUMO
A regeneração natural tem se mostrado um bom indicador do estado de recuperação de áreas degradadas. Desta forma, este trabalho foi realizado com o objetivo de conhecer a florística e a estrutura da comunidade vegetal regenerante e avaliar a influência da resistência do solo à penetração sobre as variáveis diâmetro, altura, densidade e área basal da regeneração natural de espécies arbustivo-arbóreas, em uma área degradada em processo de recuperação. O estudo foi realizado em uma pista de pouso desativada no município de Itutinga, MG. Para inventário da regeneração natural, foram lançadas 19 parcelas sistemáticas de 5 m x 2 m, perfazendo área amostral de 190 m². Foram levantadas todas as espécies arbustivas ou arbóreas que apresentaram altura maior ou igual a 10 cm, que foram medidas no diâmetro ao nível do solo e na altura. A influência da resistência mecânica do solo à penetração sobre o diâmetro, a altura, a densidade e a área basal da regeneração foram calculadas pelo índice de Correlação de Pearson. A avaliação ocorreu 17 anos após o reflorestamento, que foi realizado por meio de plantio em quincôncio, em área total. A regeneração apresentou satisfatório desenvolvimento e diversidade, indicando que a sucessão florestal ocorre naturalmente. O diâmetro e a altura das plantas arbustivo-arbóreas regenerantes foram influenciados negativamente pela compactação do solo em camadas abaixo de 40 cm de profundidade. Algumas espécies que se destacaram em crescimento podem ser recomendadas para plantios em áreas degradadas pela compactação do solo. Recomenda-se a subsolagem profunda cruzada em áreas degradadas por corte ou aterro do solo.
Palavras-chave: Recuperação de áreas degradadas; Resistência do solo à penetração; Sucessão florestal
Natural regeneration has been shown to be a good indicator of the state of land restoration. Therefore, this work was carried out with the aim of understanding the floristics and structure of the regenerating plant community and evaluating the influence of soil penetration resistance on the variables diameter, height, density, and basal area of the natural regeneration of shrub-tree species in a degraded area in the land restoration process. The study was carried out on a deactivated airstrip in the municipality of Itutinga, MG. To inventory natural regeneration, 19 systematic plots of 5 m x 2 m were launched, totaling a sampling area of 190 m². All shrub or tree species that had a height greater than or equal to 10 cm were surveyed, which were measured in diameter at ground level and in height. The influence of the soil's mechanical resistance to penetration on the diameter, height, density, and basal area of regeneration were calculated using the Pearson Correlation index. The evaluation took place 17 years after reforestation, which was carried out through quincunx planting across the entire area. The regeneration showed satisfactory development and diversity, indicating that forest succession occurs naturally. The diameter and height of regenerating shrub-tree plants were negatively influenced by soil compaction in layers below 40 cm deep. Some species that stand out in growth can be recommended for planting in areas degraded by soil compaction. Deep cross subsoiling is recommended in areas degraded by cutting or filling the soil.
Keywords: Land restoration; Soil penetration resistance; Forest succession
Por se constituírem como a fonte de energia renovável mais importante para o país, as usinas hidrelétricas são consideradas pela legislação brasileira como obras de utilidade pública. Estas e seus empreendimentos associados, por sua vez, causam degradação ambiental e social nas fases de construção e operação. Desta forma, a legislação ambiental determina que os empreendedores devem recuperar os danos das atividades degradadoras (Margutti et al., 2021).
A construção de hidrelétricas e estruturas auxiliares como estradas de acesso, áreas de empréstimo, bota foras e pistas de pouso são atividades que envolvem o uso de implementos pesados e máquinas de terraplanagem de alta capacidade. Estes projetos de engenharia em grande escala promovem a compactação do solo, principalmente nas camadas mais próximas da superfície. O dano concomitante à estrutura do solo pode dificultar o crescimento dos sistemas radiculares das plantas, e também reduz a aeração e a infiltração de água, provocando escoamento superficial e erosão (Carvalho et al., 2015).
A degradação física é o mais evidente e preocupante estágio de degradação de uma área, pois a compactação do solo desencadeia problemas como erosão, lixiviação e baixa produtividade. Além disso, a compactação promove a degradação da estrutura do solo, resultando em impactos negativos nas propriedades físicas, com prejuízos ao crescimento das plantas, devido à restrição ao crescimento do sistema radicular (Mioto et al., 2020). Um importante indicador desta degradação é a resistência do solo à penetração (RP), o qual é diretamente influenciado por processos que promovem a compactação de solos (Jourgholami et al., 2019).
Uma vez que o processo de restauração de ecossistemas florestais degradados começa, é preciso avaliá-los e monitorá-los para verificar se os objetivos propostos foram alcançados. Para este efeito, podem ser utilizados diversos instrumentos de monitoramento. Neste caso, a regeneração natural tem se mostrado um bom indicador do estado de recuperação de áreas degradadas (Campos; Martins, 2016).
O efeito da resistência do solo à penetração (RP) sobre a sucessão florestal em áreas degradas é muito importante e tem sido avaliado por diversos autores, pois, o aumento do grau de resistência do solo a penetração (compactação do solo) em áreas degradadas diminui a densidade da regeneração natural, influenciando negativamente na sustentação da cobertura vegetal (Silva et al., 2018). Lage (2016), a partir da caracterização dos atributos químicos e físicos (incluindo a RP) de substratos degradados pela construção de rodovias, observou que estes apresentam elevada limitação ao desenvolvimento de plantas colonizadoras, devido a compactação, carência de macronutrientes e matéria orgânica e baixa capacidade de troca catiônica. Cava (2019) elaborou modelos que demonstraram que os atributos do solo (proporção de partículas finas, resistência à penetração e saturação por bases) explicaram parte da variação do ritmo de recuperação da vegetação do cerrado em pastagens abandonadas. Desta forma, o objetivo deste trabalho foi realizar o levantamento florístico e fitossociológico e avaliar a influência da resistência do solo à penetração sobre as variáveis diâmetro ao nível do solo, altura, densidade e área basal da regeneração natural de espécies arbustivo-arbóreas em uma área degradada em recuperação em uma pista de pouso desativada no município de Itutinga, MG.
O estudo foi conduzido na sub-bacia do Alto Rio Grande, em área de influência das hidrelétricas de Camargos e Itutinga, no sul de MG, nas coordenadas 21°19’35’’ sul e 44°36’40’’ oeste. Esta sub-bacia pertence à Bacia do Rio Grande, cuja nascente localiza-se junto à Serra da Mantiqueira, drenando até o reservatório das referidas usinas, por meio de dois rios principais, Grande e Aiuruoca (Mello et al., 2010). O clima, de acordo com classificação de Köppen, é Cwa, caracterizado por verões amenos e úmidos e invernos frios e secos, com temperatura média anual de 19 °C e precipitação média anual de 1.500 mm (Mello et al., 2012). As principais unidades de solos na região sob influência do Reservatório de Itutinga/Camargos são Cambissolos, Latossolos, Neossolos Litólicos e Solos Hidromórficos (Giarola, 1994). A região corresponde a um mosaico vegetacional composto por um ecótono entre duas fisionomias vegetais distintas: floresta estacional semidecidual e cerrado típico (Velozo et al., 1992).
A área foi ocupada por uma pista de pouso não pavimentada desativada que serviu de apoio para a construção das Usinas Hidrelétricas de Camargos e Itutinga, no domínio fitogeográfico do Alto Rio Grande, em Minas Gerais. Após a desativação da pista de pouso, o local encontrava-se degradado pela compactação do solo e foi reflorestado de forma mista com espécies nativas e exóticas. Este reflorestamento foi desenvolvido no âmbito do convênio Cemig/Ufla/Faepe, que passou a desenvolver estudos na região sob influência destas hidrelétricas para desenvolver metodologias aplicadas a recuperação de ecossistemas florestais degradados, como uma forma de suavizar os impactos ambientais provocados pela criação dos reservatórios. As práticas mecânicas de recuperação realizadas foram a construção de terraços em nível e a subsolagem de toda a área, com posterior sulcamento em nível intercalado às linhas de subsolagem. O modelo de plantio utilizado foi o de sucessão secundária e plantio em quincôncio, em área total, onde cada muda de espécie clímax foi posicionada no centro de um quadrado composto de quatro mudas de espécies pioneiras.
Para inventário da regeneração natural, foram lançadas 19 parcelas sistemáticas de 5 m x 2 m, com sua maior dimensão disposta transversalmente ao declive, perfazendo uma área amostral de 190 m². Foram inclusas no inventário todas as espécies arbustivas ou arbóreas que apresentaram altura maior ou igual a 10 cm, que foram medidas no diâmetro ao nível do solo e na altura. As identificações foram feitas no campo por especialistas. Quando a identificação em campo não foi possível, o material botânico foi herborizado e comparado com amostras existentes no Herbário da Universidade Federal de Lavras (Herbário Esal). A nomenclatura das espécies, gêneros e famílias foi atualizada pelo Programa Plantas do Brasil: Resgate Histórico e Herbário Virtual para o Conhecimento e Conservação da Flora Brasileira – REFLORA, uma parceria entre o CNPq e o Jardim Botânico do Rio de Janeiro (REFLORA, 2023). O aspecto da área em processo de recuperação na ocasião da avaliação da regeneração natural é apresentado na Figura 1.
Figura 1 – Aspecto do estrato arbóreo e da regeneração natural durante a realização deste estudo na área degradada em recuperação no município de Itutinga, MG
Fonte: Autores (2024)
As árvores foram classificadas quanto à fitofisionomia de origem de acordo com Oliveira Filho (2006) e, à síndrome de dispersão e à classificação sucessional, de acordo com as metodologias propostas por Barbosa et al. (2017). Os parâmetros fitossociológicos estimados foram densidade, frequência e dominância, em valores absolutos e relativos, além do valor de importância (VI), de acordo com Scolforo, Pulz e Melo (1998). Os índices de diversidade de Shannon (H’) e de equabilidade de Pielou (J’) foram calculados conforme Magurran (1988) e Souza e Soares (2013). Também foi avaliada a regeneração natural do fragmento florestal mais próximo da área de estudo, adotando os mesmos critérios de inclusão. Esse fragmento foi utilizado como ecossistema de referência para comparação dos dados de regeneração natural.
A resistência mecânica do solo à penetração foi determinada utilizando o penetrômetro de impacto modelo IAA/PLANALSUCAR-STOLF, de acordo com Stolf et al. (1983), até uma profundidade de 60 cm. Por se tratar de parcelas para avaliação da regeneração natural com pequenas dimensões, a avaliação da resistência do solo à penetração foi feita em um ponto de amostragem no centro de cada uma. Os cálculos foram realizados com o apoio do programa PENETRON’, tendo os valores, obtidos em Kgf/cm², sido convertidos em MPa, multiplicando-se pela constante 0,098. A influência da resistência mecânica do solo à penetração sobre o diâmetro, a altura, a densidade e a área basal da regeneração foi calculada pelo índice de Correlação de Pearson r, utilizando-se o Microsoft Excel®. A avaliação ocorreu 17 anos após o reflorestamento.
A família Fabaceae apresentou 197 indivíduos, seguida de Myrtaceae com 187, Anacardiaceae com 113, Primulaceae com 57 e Annonaceae com 47 indivíduos. As outras 22 famílias tiveram menos de 40 indivíduos (Tabela 1). Houve predominância de espécies com síndrome de dispersão zoocórica, com 72 % dos indivíduos regenerantes (Figura 2 a). A proporção considerável de autocoria se deve principalmente à densidade encontrada de regenerantes de Anadenanthera colubrina (Tabela 1). Com relação à classificação sucessional, 69 % dos indivíduos foram classificados como pertencentes as espécies não pioneiras, características grupos ecológicos secundários ou climácicos (Figura 2 b). A distribuição dos indivíduos regenerantes inventariados de acordo com a origem é apresentada na Figura 2 c, onde se observa que praticamente só foram encontradas espécies nativas, com 97% do total. As exóticas encontradas foram Eriobotrya japonica, Psidium guajava e Syzygium cumini.
Tabela 1 – Relação das espécies arbustivo-arbóreas encontradas na regeneração natural na área degradada reflorestada na região do Alto Rio Grande, MG
Família/Espécie |
Ni |
S.D. |
C.S. |
Origem |
P. R. |
Anacardiaceae |
|
||||
Lithraea molleoides (Vell.) Engl. |
20 |
Zoo |
P |
Nat |
X |
Tapirira guianensis Aubl. |
92 |
Zoo |
NP |
Nat |
- |
Tapirira obtusa (Benth.) J.D.Mitch. |
1 |
Zoo |
NP |
Nat |
- |
Annonaceae |
|
|
|||
Annona dolabripetala Raddi |
46 |
Zoo |
P |
Nat |
- |
Duguetia furfuracea (A.St.-Hil.) Saff. |
1 |
Zoo |
NP |
Nat |
- |
Araliaceae |
|
|
|||
Dendropanax cuneatus (DC.) Decne. & Planch. |
1 |
Zoo |
P |
Nat |
- |
Asteraceae |
|
|
|||
Baccharis dracunculifolia DC. |
4 |
Ane |
P |
Nat |
- |
Eremanthus incanus (Less.) Less. |
18 |
Ane |
P |
Nat |
- |
Vernonanthura polyanthes (Sprengel) Vega & Dematteis |
7 |
Ane |
P |
Nat |
- |
Bignoniaceae |
|
|
|||
Zeyheria montana Mart. |
1 |
Ane |
NP |
Nat |
- |
Burseraceae |
|
|
|||
Protium heptaphyllum (Aubl.) Marchand |
2 |
Zoo |
NP |
Nat |
- |
Calophyllaceae |
|
|
|||
Calophyllum brasiliense Cambess. |
6 |
Zoo |
NP |
Nat |
- |
Erythroxylaceae |
|
|
|||
Erythroxylum deciduum A.St.-Hil. |
10 |
Zoo |
NP |
Nat |
- |
Euphorbiaceae |
|
|
|||
Alchornea triplinervia (Spreng.) Müll.Arg. |
3 |
Zoo |
P |
Nat |
- |
Fabaceae |
|
|
|||
Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan |
125 |
Aut |
NP |
Nat |
X |
Andira fraxinifolia Benth. |
2 |
Zoo |
NP |
Nat |
- |
Copaifera langsdorffii Desf. |
9 |
Zoo |
NP |
Nat |
X |
Machaerium stipitatum Vogel |
13 |
Ane |
NP |
Nat |
- |
Machaerium villosum Vogel |
1 |
Ane |
NP |
Nat |
X |
Piptadenia gonoacantha (Mart.) J.F.Macbr. |
9 |
Aut |
P |
Nat |
X |
Platypodium elegans Vogel |
3 |
Ane |
P |
Nat |
- |
Senna macranthera (DC. ex Collad.) H.S.Irwin & Barneby |
35 |
Aut |
P |
Nat |
X |
Hypericaceae |
|
|
|||
Vismia brasiliensis Choisy |
1 |
Zoo |
NP |
Nat |
- |
Lacistemataceae |
|
|
|||
Lacistema hasslerianum Chodat |
2 |
Zoo |
NP |
Nat |
- |
Lamiaceae |
|
|
|||
Aegiphila integrifolia (Jacq.) Moldenke |
3 |
Zoo |
P |
Nat |
- |
Lauraceae |
|
||||
Cryptocarya aschersoniana Mez |
6 |
Zoo |
NP |
Nat |
- |
Nectandra nitidula Nees & Mart. |
11 |
Zoo |
NP |
Nat |
- |
Nectandra oppositifolia Nees & Mart. |
1 |
Zoo |
P |
Nat |
X |
Ocotea corymbosa (Meisn.) Mez |
2 |
Zoo |
NP |
Nat |
- |
Ocotea pomaderroides (Meisn.) Mez |
9 |
Zoo |
- |
Nat |
- |
Malpighiaceae |
|
||||
Byrsonima intermedia A.Juss. |
1 |
Zoo |
P |
Nat |
- |
Melastomataceae |
|
||||
Miconia flammea Casar. |
5 |
Zoo |
P |
Nat |
- |
Miconia ligustroides (DC.) Naudin |
3 |
Zoo |
NP |
Nat |
-- |
Miconia pepericarpa (Mart.) DC. |
2 |
Zoo |
P |
Nat |
- |
Pleroma ursinum (Cham.) Triana |
3 |
Ane |
P |
Nat |
- |
Myrtaceae |
|
||||
Blepharocalyx salicifolius (Kunth) O. Berg |
35 |
Zoo |
NP |
Nat |
- |
Eugenia bimarginata DC. |
4 |
Zoo |
NP |
Nat |
- |
Myrcia splendens (Sw.) DC. |
117 |
Zoo |
NP |
Nat |
- |
Myrcia tomentosa (Aubl.) DC. |
16 |
Zoo |
NP |
Nat |
- |
Myrcia venulosa DC. |
1 |
Zoo |
P |
Nat |
- |
Pimenta pseudocaryophyllus (Gomes) Landrum |
1 |
Zoo |
NP |
Nat |
- |
Psidium guajava L. |
1 |
Zoo |
- |
Ex/Br |
X |
Syzygium cumini (L.) Skeels |
12 |
Zoo |
- |
Ex/Br |
X |
Peraceae |
|
||||
Pera glabrata (Schott) Baill. |
9 |
Zoo |
P |
Nat |
- |
Primulaceae |
|
||||
Myrsine coriacea (Sw.) R.Br. ex Roem. & Schult. |
39 |
Zoo |
P |
Nat |
X |
Myrsine umbellata Mart. |
18 |
Zoo |
NP |
Nat |
X |
Rosaceae |
|
||||
Eriobotrya japonica (Thunb.) Lindl. |
1 |
Zoo |
- |
Ex/Br |
X |
Rubiaceae |
|
||||
Cordiera concolor (Cham.) Kuntze |
5 |
Zoo |
P |
Nat |
- |
Psychotria sp. |
1 |
Zoo |
NP |
Nat |
- |
Randia armata (Sw.) DC. |
1 |
Zoo |
NP |
Nat |
- |
Rutaceae |
|
||||
Zanthoxylum rhoifolium Lam. |
17 |
Zoo |
NP |
Nat |
X |
Salicaceae |
|
||||
Casearia lasiophylla Eichler |
31 |
Zoo |
NP |
Nat |
- |
Casearia sylvestris Sw. |
5 |
Zoo |
P |
Nat |
- |
Sapindaceae |
|
||||
Cupania vernalis Cambess. |
2 |
Zoo |
NP |
Nat |
- |
Siparunaceae |
|
||||
Siparuna guianensis Aubl. |
1 |
Zoo |
NP |
Nat |
- |
Solanaceae |
|
||||
Solanacea 1 |
3 |
- |
- |
- |
- |
Solanum granulosoleprosum Dunal |
1 |
Zoo |
P |
Nat |
- |
Solanum pseudoquina A.St.-Hil. |
1 |
Zoo |
P |
Nat |
- |
Styracaceae |
|
||||
Styrax ferrugineus Nees & Mart. |
35 |
Zoo |
NP |
Nat |
- |
Indeterminadas |
|
||||
Indeterminada 1 |
2 |
- |
- |
- |
- |
Indeterminada 2 |
1 |
- |
- |
- |
- |
Indeterminada 3 |
1 |
- |
- |
- |
- |
Indeterminada 4 |
1 |
- |
- |
- |
- |
Indeterminada 5 |
1 |
- |
- |
- |
- |
Indeterminada 6 |
1 |
- |
- |
- |
- |
Indeterminada 7 |
1 |
- |
- |
- |
- |
Total |
823 |
- |
- |
- |
- |
Fonte: os autores (2024)
Nota: (Ni = Número de indivíduos; S.D. = Síndrome de dispersão - Zoo: espécie dispersa por animais, Ane: espécie dispersa pelo vento e, Aut: espécie dispersa por estratégias da própria planta; C.S. = Classificação sucessional - P: Pioneira, NP: Não Pioneira; Origem - Nat: ocorre naturalmente na região do Alto Rio Grande, Ex/Br: não ocorre naturalmente no Brasil. P. R. = Espécie utilizada no reflorestamento).
Figura 2 – Síndrome de dispersão (a), classificação sucessional (b) e origem (c) dos indivíduos arbustivo-arbóreos regenerantes na área degradada reflorestada na região do Alto Rio Grande, MG
Fonte: Autores (2024)
Os parâmetros fitossociológicos das espécies amostradas em regeneração natural são apresentados na Tabela 2. De acordo com os resultados, as cinco espécies com maior valor de importância (VI) foram Myrcia splendens, Tapirira guianensis, Anadenanthera colubrina, Myrsine coriacea e Eremanthus incanus, que representaram juntas 47,5 % de todos os indivíduos inventariados na área de estudo. As espécies com maior frequência, ou seja, melhor distribuídas pela área em recuperação, foram M. splendens, Annona dolabripetala, Senna macranthera, T. guianensis e M. coriacea.
A densidade encontrada foi de 43.315,88 plantas/ha, onde as principais espécies que contribuíram para tal resultado, como se observa na Tabela 2, foram A. colubrina (15,19 %), M. splendens (14,22 %), T. guianensis (11,18 %), A. dolabripetala (5,59 %) e M. coriacea (4,74 %). A biomassa de regenerantes, que foi medida indiretamente pela área basal, foi influenciada também por espécies que não foram as mais abundantes, mas que apresentaram dominância relativa considerável, como E. incanus, M. coriacea e Styrax ferrugineus (Tabela 2). O valor índice de diversidade de Shannon (H’) encontrado foi de 3,161 e da equabilidade de Pielou (J’) foi de 0,754.
Tabela 2 – Parâmetros fitossociológicos das espécies arbustivo-arbóreas encontradas na regeneração natural na área degradada reflorestada na região do Alto Rio Grande, MG
Espécie |
FR |
DR |
DoR |
VI |
||||
Myrcia splendens (Sw.) DC. |
6,25 |
14,22 |
14,55 |
35,02 |
||||
Tapirira guianensis Aubl. |
5,21 |
11,18 |
16,91 |
33,30 |
||||
Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan |
2,43 |
15,19 |
6,58 |
24,20 |
||||
Myrsine coriacea (Sw.) R.Br. ex Roem. & Schult. |
4,51 |
4,74 |
9,60 |
18,86 |
||||
Eremanthus incanus (Less.) Less. |
2,08 |
2,19 |
11,75 |
16,02 |
||||
Annona dolabripetala Raddi |
5,56 |
5,59 |
4,66 |
15,80 |
||||
Styrax ferrugineus Nees & Mart. |
4,17 |
4,25 |
5,83 |
14,25 |
||||
Senna macranthera (DC. ex Collad.) H.S.Irwin & Barneby |
5,56 |
4,25 |
3,43 |
13,24 |
||||
Casearia lasiophylla Eichler |
4,51 |
3,77 |
2,73 |
11,01 |
||||
Blepharocalyx salicifolius (Kunth) O. Berg |
3,47 |
4,25 |
2,78 |
10,51 |
||||
Myrsine umbellata Mart. |
3,13 |
2,19 |
1,24 |
6,55 |
||||
Pera glabrata (Schott) Baill. |
3,13 |
1,09 |
2,30 |
6,52 |
||||
Myrcia tomentosa (Aubl.) DC. |
3,82 |
1,94 |
0,54 |
6,30 |
||||
Zanthoxylum rhoifolium Lam. |
3,13 |
2,07 |
0,77 |
5,96 |
||||
Lithraea molleoides (Vell.) Engl. |
2,08 |
2,43 |
1,09 |
5,61 |
||||
Machaerium stipitatum Vogel |
2,43 |
1,58 |
1,27 |
5,28 |
||||
Vernonanthura polyanthes (Sprengel) Vega & Dematteis |
2,08 |
0,85 |
2,32 |
5,26 |
||||
Erythroxylum deciduum A.St.-Hil. |
2,43 |
1,22 |
1,22 |
4,87 |
||||
Copaifera langsdorffii Desf. |
2,43 |
1,09 |
0,87 |
4,40 |
||||
Nectandra nitidula Nees & Mart. |
2,08 |
1,34 |
0,96 |
4,38 |
||||
Ocotea pomaderroides (Meisn.) Mez |
1,39 |
1,09 |
0,78 |
3,26 |
||||
Cordiera concolor (Cham.) Kuntze |
1,74 |
0,61 |
0,89 |
3,23 |
||||
Syzygium cumini (L.) Skeels |
1,39 |
1,46 |
0,05 |
2,89 |
||||
Piptadenia gonoacantha (Mart.) J.F.Macbr. |
1,39 |
1,09 |
0,32 |
2,81 |
||||
Baccharis dracunculifolia DC. |
1,39 |
0,49 |
0,72 |
2,60 |
||||
Cryptocarya aschersoniana Mez |
1,39 |
0,73 |
0,35 |
2,46 |
||||
Aegiphila integrifolia (Jacq.) Moldenke |
1,04 |
0,36 |
0,86 |
2,27 |
||||
Casearia sylvestris Sw. |
1,39 |
0,61 |
0,17 |
2,16 |
||||
Pleroma ursinum (Cham.) Triana |
1,04 |
0,36 |
0,60 |
2,01 |
||||
Eugenia bimarginata DC. |
1,39 |
0,49 |
0,05 |
1,92 |
||||
Calophyllum brasiliense Cambess. |
1,04 |
0,73 |
0,08 |
1,85 |
||||
Miconia flammea Casar. |
0,69 |
0,61 |
0,34 |
1,64 |
||||
Alchornea triplinervia (Spreng.) Müll.Arg. |
0,69 |
0,36 |
0,32 |
1,38 |
||||
Protium heptaphyllum (Aubl.) Marchand |
0,69 |
0,24 |
0,30 |
1,24 |
||||
Miconia ligustroides (DC.) Naudin |
0,69 |
0,36 |
0,15 |
1,21 |
||||
Siparuna guianensis Aubl. |
0,35 |
0,12 |
0,74 |
1,21 |
||||
Miconia pepericarpa (Mart.) DC. |
0,69 |
0,24 |
0,10 |
1,04 |
||||
Cupania vernalis Cambess. |
0,69 |
0,24 |
0,06 |
1,00 |
||||
Lacistema hasslerianum Chodat |
0,69 |
0,24 |
0,04 |
0,97 |
||||
Andira fraxinifolia Benth. |
0,69 |
0,24 |
0,03 |
0,97 |
||||
Indeterminada 2 |
0,35 |
0,12 |
0,40 |
0,86 |
||||
Tapirira obtusa (Benth.) J.D.Mitch. |
0,35 |
0,12 |
0,40 |
0,86 |
||||
Ocotea corymbosa (Meisn.) Mez |
0,35 |
0,24 |
0,18 |
0,77 |
||||
Solanaceae 1 |
0,35 |
0,36 |
0,05 |
0,76 |
||||
Platypodium elegans Vogel |
0,35 |
0,36 |
0,02 |
0,73 |
||||
Indeterminada 1 |
0,35 |
0,24 |
0,06 |
0,65 |
||||
Dendropanax cuneatus (DC.) Decne. & Planch. |
0,35 |
0,12 |
0,12 |
0,59 |
||||
Indeterminada 7 |
0,35 |
0,12 |
0,08 |
0,55 |
||||
Indeterminada 5 |
0,35 |
0,12 |
0,06 |
0,53 |
||||
Indeterminada 3 |
0,35 |
0,12 |
0,05 |
0,51 |
||||
Solanum granulosoleprosum Dunal |
0,35 |
0,12 |
0,05 |
0,51 |
||||
Vismia brasiliensis Choisy |
0,35 |
0,12 |
0,03 |
0,50 |
||||
Eriobotrya japonica (Thunb.) Lindl. |
0,35 |
0,12 |
0,03 |
0,50 |
||||
Indeterminada 6 |
0,35 |
0,12 |
0,02 |
0,49 |
||||
Solanum pseudoquina A.St.-Hil. |
0,35 |
0,12 |
0,02 |
0,49 |
||||
Duguetia furfuracea (A.St.-Hil.) Saff. |
0,35 |
0,12 |
0,02 |
0,49 |
||||
Pimenta pseudocaryophyllus (Gomes) Landrum |
0,35 |
0,12 |
0,01 |
0,48 |
||||
Myrcia venulosa DC. |
0,35 |
0,12 |
0,01 |
0,48 |
||||
Zeyheria montana Mart. |
0,35 |
0,12 |
0,01 |
0,48 |
||||
Psidium guajava L. |
0,35 |
0,12 |
0,01 |
0,48 |
||||
Randia armata (Sw.) DC. |
0,35 |
0,12 |
0,01 |
0,48 |
||||
Byrsonima intermedia A.Juss. |
0,35 |
0,12 |
0,01 |
0,47 |
||||
Machaerium villosum Vogel |
0,35 |
0,12 |
0,01 |
0,47 |
||||
Psychotria sp. |
0,35 |
0,12 |
0,01 |
0,47 |
||||
Nectandra oppositifolia Nees & Mart. |
0,35 |
0,12 |
0,00 |
0,47 |
||||
Indeterminada 4 |
0,35 |
0,12 |
0,00 |
0,47 |
||||
Total |
100,00 |
100,00 |
100,00 |
300,00 |
||||
Fonte: Autores (2024)
Nota: (FR = frequência relativa, DR = densidade relativa, DoR = dominância relativa e VI = valor de importância).
A correlação entre a resistência do solo à penetração em diferentes profundidades e as variáveis da regeneração natural diâmetro ao nível do solo (DAS), altura, densidade de plantas por hectare e área basal é apresentada na Tabela 3. Houve correlação negativa significativa da resistência do solo à penetração, que é uma medida indireta de compactação do solo, na profundidade de 40-60cm, para as variáveis DAS e altura.
Tabela 3 – Índice de Correlação de Pearson r entre a resistência do solo à penetração e variáveis da regeneração natural na área degradada reflorestada na região do Alto Rio Grande, MG
Resistência à penetração (profundidade - cm) |
DAS (cm) |
Altura (m) |
Densidade (ind.ha-1) |
Área Basal (m²) |
0-20 |
-0,144 |
-0,204 |
-0,239 |
-0,356 |
20-40 |
-0,190 |
-0,284 |
0,098 |
-0,218 |
40-60 |
-0,430* |
-0,459* |
0,249 |
-0,133 |
Fonte: Autores (2024)
Nota: * = Diferença significativa com probabilidade ≤ 5%. DAS: diâmetro à altura do solo.
Os resultados deste estudo mostraram que, após 17 anos do plantio, a comunidade vegetal regenerante é rica e diversificada, assemelhando-se a áreas em bom estado de conservação (Oliveira et al., 2015) e em processos de restauração (Ferrreira et al., 2023). Os resultados mostraram que Fabaceae foi a família com maior número de indivíduos e espécies. A predominância de Fabaceae na regeneração natural em áreas degradadas é comum no Cerrado e na Mata Atlântica (Jesus et al., 2016), devido as características da família como a capacidade de fixação de biológica de nitrogênio e o estabelecimento de simbiose com bactérias diazotróficas e fungos micorrízicos em solos degradados (Moura et al., 2020). Entretanto, uma observação interessante é que Myrtaceae apresentou apenas 10 indivíduos a menos, o que é muito positivo, pois, as espécies dessa família apresentam grande importância na restauração florestal, com seus frutos suculentos e carnosos que são fontes de alimento à fauna silvestre. Muitos animais que se alimentam desses frutos acabam veiculando a dispersão das sementes e favorecendo a sobrevivência e permanência dessas espécies (Staggemeier et al., 2015).
O predomínio de espécies zoocóricas, que representou 72% dos indivíduos levantados, indica que as árvores utilizadas no plantio foram eficientes para atração da fauna, o que é fundamental para o sucesso de projetos de recuperação de áreas degradadas (Fróes et al., 2020), ao contribuírem, por exemplo, com a colonização de espécies alóctones. A zoocoria é predominante em florestas tropicais, com porcentagens superiores à 60% (Carmo; Morellato, 2001), sendo comumente representada em florestas conservadas e áreas em processos de restauração (Ferreira et al., 2018). Com exceção de A. colubrina, espécie autocórica mais abundante no levantamento, as espécies zoocóricas M. splendens e T. guianensis obtiveram a segunda e maior abundância. Essas duas espécies são frequentes em levantamentos de regeneração natural em florestas estacionais semideciduais (Oliveira et al., 2015), as quais possuem grande importância ecológica, no que tange à alimentação e atração de animais dispersores.
Com relação à classificação sucessional, o fato de 69% dos indivíduos levantados serem classificados como pertencentes a espécies não pioneiras (Figura 2) indica mudanças na composição de espécies e avanço na sucessão florestal. Espécies pioneiras, típicas de estágios sucessionais iniciais, que são abundantes na região como Cecropia pachystachya e Trema micranta, que inclusive foram utilizadas no plantio, não foram observadas. Após 17 anos de plantio, a área em processo de recuperação apresenta dossel contínuo, e isso tem permitido o estabelecimento de plantas de estágios mais avançados da sucessão, que são tolerantes à sombra.
Apesar de as espécies nativas predominarem no levantamento, foram identificadas três espécies exóticas (Syzygium cumini, Eriobotrya japonica e Psidium guajava), conhecidas popularmente como jambolão, nêspera e goiaba, respectivamente, que juntas totalizaram 2 % do total. Essas espécies foram utilizadas no plantio, mas somente o jambolão foi contabilizado com abundância expressiva (12 indivíduos) (Tabela 1). O uso de espécies exóticas em consorciação com espécies nativas é permitido pelo Código Florestal Brasileiro em algumas situações para recomposição de Áreas de Preservação Permanente e da Reserva Legal (Brasil, 2012). Contudo, os plantios florestais devem favorecer a regeneração natural de espécies nativas e o uso de espécies com potencial de se tornarem invasoras não é recomendado. Pelo o fato de essas três espécies terem sido encontradas em número reduzido, considera-se que não seriam motivo de preocupação, pois são consideradas exóticas casuais, que eventualmente se reproduzem no ambiente no qual foram introduzidas e não são capazes de manter uma população autônoma em longo prazo (Silva, Ferreira e Gama, 2021). Associado a isso, um estudo florístico de monitoramento de componentes florestais duas décadas após o plantio, na mesma bacia hidrográfica do estudo, revelou que espécies arbóreas exóticas nem sempre são invasoras em áreas sob restauração ecológica, pois a resistência biótica nas comunidades reunidas impede que as árvores exóticas aumentem sua abundância e tornam-se invasoras (Londe et al., 2020).
Os valores de densidade e dos índices de diversidade de Shannon (H’) e de equabilidade de Pielou (J’) foram comparados com os dados da regeneração natural obtidos utilizando o mesmo critério de inclusão no fragmento florestal mais próximo, localizado a 300 metros de distância. Para a área de estudo na pista de pouso desativada, o H’ foi 3,161, o J’ foi de 0,754 e a densidade de 43.316 plantas/ha. Para o fragmento, o H’ foi 2,822, o J’ foi de 0,691 e a densidade 29.590 plantas/ha. Estes resultados são considerados indicadores positivos de recuperação da área, pois todos foram superiores aos do fragmento, que foi considerado o ecossistema de referência, que são ecossistemas naturais próximos e do mesmo tipo fitogeográfico do local em recuperação e são utilizados para verificar a efetividade dos processos de recuperação (Brancalion et al., 2015).
Com relação ao valor de importância das espécies (VI), é importante ser destacado que das cinco espécies com maior valor, três não foram plantadas (Tabela 1), indicando que os diásporos são de origem alóctone, de fragmentos florestais da região. Myrcia splendens, espécie que apresentou o maior VI, possui ampla distribuição, sendo encontrada em todos os estados do Brasil (REFLORA, 2023). Considerando sua ampla distribuição no território brasileiro, a espécie apresenta variações estruturais em resposta aos diferentes ambientes (Amorim et al., 2016), o que explica o seu sucesso na colonização de áreas degradadas, como foi verificado neste estudo. Tapirira guianensis é considerada uma espécie nucleadora, de elevado potencial biótico ou pouca limitação de dispersão (Oliveira et al., 2015). Essas duas espécies com os maiores VI possuem grande importância para a conservação e recuperação de áreas degradadas, por produzirem e dispersarem grande quantidade de sementes são fonte de alimento para elevado número de espécies animais, que podem possibilitar a colonização de outras espécies e o avanço sucessional da área. Já Anadenanthera colubrina se destacou-se em VI devido sua expressiva abundância, em que foi observada grande quantidade de indivíduos de regenerantes sob a copa de árvores adultas plantadas dessa espécie e ausência em outros locais, conforme é indicado pela alta densidade e frequência relativa (Tabela 2).
A espécie Myrsine coriacea, utilizada no plantio, apresentou o quarto maior valor de importância (Tabela 2). Zimmermann (2021) identificou um elevado número espécies de aves que interagem com Myrsine coriacea e afirma que o uso e manejo dessa espécie vegetal em projetos de restauração ecológica se mostra como importante e viável estratégia para se reconstruir ambientes degradados. Eremanthus incanus foi a quinta espécie em valor de importância, destacando-se principalmente por apresentar alto valor de dominância relativa (Tabela 2), com indivíduos de maior porte, sendo os primeiros a se estabelecerem na área. Segundo Ferreira et al. (2014), essa espécie se destaca por possuir grande capacidade de regeneração, rusticidade e baixa exigência edáfica, se desenvolvendo em solos rasos, pouco férteis e em altitudes entre 700 e 1800 m, onde outra cultura, agrícola ou florestal, dificilmente teria sucesso. Ferreira et al. (2016) verificaram que E. incanus foi a planta regenerante que mais se desenvolveu em área de exploração de cascalho no mesmo município. Portanto, essa espécie possui alto potencial para a recuperação de áreas degradadas com substratos compactados e pobres em nutrientes.
Apesar de todas as camadas do solo, de forma geral, afetarem negativamente a estrutura da comunidade regenerante, os resultados deste estudo mostraram que as camadas compactadas mais profundas (40-60 cm) tiveram efeitos negativos significativos no diâmetro à altura do solo e a altura dos indivíduos. Esse resultado provavelmente deve-se ao fato de que o preparo do solo pode ter descompactado o solo apenas superficialmente. Mesmo a subsolagem a 60 cm de profundidade parece não ter sido totalmente eficiente, pois a mesma foi realizada apenas nas linhas de plantio das mudas no reflorestamento. Desta forma, apesar da área apresentar uma recuperação satisfatória, há uma influência negativa das características limitantes do substrato. Constata-se que há uma clara tendência de redução do DAS e da altura com o aumento da compactação do solo avaliada via resistência do solo à penetração na profundidade de 40-60cm. O efeito negativo da compactação sobre o crescimento de espécies florestais em plantios e em regeneração natural já foi constatado por diversos autores (Ferreira et al., 2023; Rocha et al., 2015), onde a massa de raiz e da parte aérea decresce à medida que se aumenta o grau de compactação (Rodrigues et al., 2022; Spliethoff et al., 2020). Deste modo, a resposta dessas variáveis biométricas indica que, provavelmente, a existência de camadas compactadas são as principais responsáveis por esta variação de crescimento da regeneração natural.
A regeneração natural apresenta satisfatório desenvolvimento e diversidade, com predominância de espécies não pioneiras, indicando que a sucessão florestal ocorre naturalmente. O diâmetro e a altura das plantas arbustivo-arbóreas regenerantes foram influenciados negativamente pela compactação do solo em camadas abaixo de 40 cm de profundidade. Por se destacarem na regeneração natural, as espécies M. splendens, T. guianensis, A. colubrina, M. coriacea e E. incanus podem ser recomendadas para plantios em áreas degradadas pela compactação do solo. Como a presença de camadas restritivas ao desenvolvimento radicular reduziu o crescimento das plantas, recomenda-se a subsolagem profunda cruzada em duas direções perpendiculares, em áreas degradadas por corte ou aterro do solo e, não apenas na linha de plantio, como realizado no local de estudo.
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Contribuição de autoria
1 – Wendy Carniello Ferreira
Universidade Federal de Jataí, Engenheiro Agrônomo, Doutor em Engenharia Florestal
https://orcid.org/0000-0002-0068-5084 • wendy@ufj.edu.br
Contribuição: realização das atividades de campo, escrita científica, análises dos dados, correção final.
2 – Deivid Lopes Machado
Universidade Federal de Jataí, Engenheiro Florestal, Doutor em Ciência Florestal
https://orcid.org/0000-0002-0567-4288 • deivid.machado@ufj.edu.br
Contribuição: escrita científica, análises dos dados, correção final.
3 – Frederico Augusto Guimarães Guilherme
Biólogo, Doutor em Ciências Biológicas
https://orcid.org/0000-0002-5623-4127 • fredericoagg@ufj.edu.br
Contribuição: escrita científica, análises dos dados, correção final.
4 – Soraya Alvarenga Botelho
Universidade Federal de Lavras, Engenheira Florestal, Doutora em Engenharia Florestal
https://orcid.org/0000-0003-4178-465X • sbotelho@ufla.br
Contribuição: orientação, escrita científica, análises dos dados, correção final.
Como citar este artigo
FERREIRA, W. C.; MACHADO, D. L.; GUILHERME, F. A. G.; BOTELHO, S. A. Influência da compactação do solo na regeneração natural em uma pista de pouso desativada em processo de recuperação. Revista Ecologia e Nutrição Florestal, Santa Maria, v. 12, e85578, 2024. DOI 10.5902/2316980X85578. Disponível em: https://doi.org/10.5902/2316980X85578. Acesso em: dia mês abreviado. ano.