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Universidade Federal de Santa Maria
Enflo, Santa Maria, v. 12, e84367, 2024
DOI: 10.5902/2316980X84367
ISSN 2316-980X
Submissão: 06/07/2023 • Aprovação: 14/11/2023 • Publicação: 03/06/2024
Artigos
Densidade de raízes de Megathyrsus maximus BRS Quênia e Urochloa brizantha BRS Piatã em sistemas silvipastoris
Root density of Megathyrsus maximus BRS Quênia and Urochloa brizantha BRS Piatã in silvipastorl system
Paulo Vitor Divino Xavier de FreitasII
I Universidade Federal de Goiás, Escola de Agronomia, Goiânia,
Goiás, GO, Brasil
II Universidade Estadual de Goiás, Campus Oeste, São Luís de
Montes Belos, Goiás, GO, Brasil
III Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária, EMBRAPA Florestas, Colombo,
Paraná, PR, Brasil
IV Instituto Federal de Goiás, Polo de Inovação, Goiânia,
Goiás, GO, Brasil
RESUMO
Objetivou-se com o presente estudo determinar a densidade radicular de forrageiras Megathyrsus maximus e Urochloa brizantha na profundidade de 0-20 cm do solo, em relação a suas distâncias do componente arbóreo em dois sistemas de integração pecuária-floresta com duas idades. Para este estudo foram realizados os seguintes sistemas de integração pecuária-floresta: um sistema com 3 anos de idade composto por clones de eucalipto AEC-043 espaçados em arranjos de linhas simples de 15x2 m e componente forrageiro Megathyrsus maximus cv. Quenia; o outro sistema possui 2 anos de idade e clones de eucalipto AEC-2034 com o mesmo arranjo florestal e componente forrageiro Urochloa brizantha BRS Piatã. Cinco transectos foram escolhidos aleatoriamente em cada um dos sistemas de integração pecuária-floresta e mensurados 5 distâncias a partir do componente arbóreo para coleta das raízes no período da seca. As raízes foram separadas do solo e secadas para avaliação de biomassa. Na área com o sistema de integração pecuária-floresta com 2 anos de idade com clones de eucalipto AEC-2043 e forrageira Urochloa brizantha, foi apresentada a maior média de produção de densidade total de raízes na distância de 5 metros do componente arbóreo, com valor de 11,75 g e menor densidade radicular na distância zero com 8,63 g. No sistema de integração pecuária-floresta de 3 anos, com clones de eucalipto AEC-043 e componente forrageiro Megathyrsus maximus, a maior concentração de densidade de raiz ocorreu na distância zero com 10,23 g e menor densidade radicular na distância 5 m com 4,45 g. Nos dois sistemas o eucalipto influenciou o sistema radicular da gramínea forrageira.
Palavras-chave: Integração pecuária-floresta; Quantidade radicular; Forrageiras
ABSTRACT
Keywords: Livestock-forest integration; Root density; Fodder plant
Em razão da necessidade de diversificação de pastagens, almejando forrageiras mais competitivas e produtivas em cada sistema, muitos estudos são realizados no Brasil. As cultivares Megathyrsus e Urochloa traduzem essa realidade, com alta produtividade e facilidade de manejo, apresentando resultados otimistas em solos bem drenados e manejo rotativo nos biomas Amazônia e Cerrado (Jank et al., 2017). Em função desta elevada qualidade e produtividade, estas espécies forrageiras vêm sendo uma opção para o cultivo em sistemas silvipastoris (Almeida et al., 2017).
De acordo com Moraes et al. (2016), a diversificação de espécies, proporcionada por estes sistemas, dispõe de distintos sistemas radiculares que auxiliam no processo, a longo prazo, de melhoria da qualidade de propriedades químicas, físicas (Auler et al., 2017) e biológicas do solo (Bueno et al., 2018). Dentre as explicações para o aumento de produtividade em sistemas agroflorestais estão as relacionadas à melhoria de distribuição das raízes no perfil do solo e ao incremento do desenvolvimento radicular em camadas mais profundas (Benjamin; Nielsen, 2006; Laclau et al., 2013).
A compreensão da caracterização, quantificação da densidade do sistema radicular das diferentes espécies, submetidas a diferentes interações, em sistemas integrados, poderá contribuir para o entendimento da dinâmica de ciclagem de nutrientes, manutenção da biodiversidade do solo e potencial de estoque de carbono do solo (Campos et al., 2017; Hirte et al., 2018).
Estudos relacionados a forrageiras em sistemas de integração pecuária-floresta são comumente voltados para a parte aérea e pouco se estuda sobre o sistema radicular. Diante do exposto, objetivou-se com o presente trabalho quantificar a densidade do sistema radicular das raízes de forrageiras Megathyrsus maximus BRS Quênia e Urochloa brizantha BRS Piatã, na profundidade de 0-20 cm do solo, em relação a suas distâncias do componente arbóreo em dois sistemas de integração pecuária-floresta com duas idades.
2.1 Características gerais da área
O estudo foi realizado na fazenda Macaúba, situada no município de Inaciolândia- GO nos anos 2018/2019 nas seguintes coordenadas geográficas: 18°32’ S e 49°48’ W com altitude média de 459 m (Figura 1). O clima é do tipo Aw, de acordo com a classificação de Köppen, característico dos climas úmidos tropicais, com duas estações bem definidas, seca no inverno e úmida no verão (Cardoso et al., 2014). A temperatura média anual é de 24,8 °C, com máxima de 36,2 °C em setembro e mínima 22,1 °C em junho. A precipitação média anual de 1427 mm, concentrando-se entre outubro e março. Em relação à distribuição das chuvas, o maior volume dá-se no mês de janeiro, média 271 mm, e o mais seco ocorre no mês de junho, com 10 mm (Climate-Data.org, 2017).
O solo predominante nestes locais é Latossolos Vermelhos Distróficos e proeminentemente de textura muito argilosa e argilosa. Apresenta baixa disponibilidade de macro e micronutrientes, reduzido teor de matéria orgânica e a fração argila, constituída principalmente por caulinita, goethita ou gibbsita (IBGE, 2010; Santos et al., 2018).
Figura 1 – Vista aérea do sistema de integração pecuária-floresta (identificado pelos pontos amarelos) em Inaciolândia, Goiás
Fonte: Os autores (2023)
2.2 Implantação do Sistema de Integração Lavoura Pecuária Floresta
O estudo foi realizado em 2 áreas distintas de integração pecuária floresta com duas idades. A área “A” apresentava 3 anos de idade, foi instalada em novembro de 2016 e possuía aproximadamente 40 ha. Para início do projeto de implantação do sistema, houve uma sequência de manejos visando o preparo da área. Em 2016 foi cultivado o componente agrícola, soja (Glycine max), em área total. Com a colheita da soja, em fevereiro de 2017, houve o cultivo do componente arbóreo, clone híbrido AEC-043 (originado do cruzamento entre E. citrodora x E. torelliana) e do milheto nas entrelinhas por 150 dias com o intuito de minimizar o ataque dos grilos nas mudas de eucalipto. Em novembro do mesmo ano houve o plantio de soja novamente, desta vez nas entrelinhas do eucalipto e após a colheita da soja em fevereiro de 2018 foi cultivado o componente forrageiro, Megathyrsus maximus cv BRS-Quênia.
A área “B” era a mais recente e apresentava idade de 2 anos, que foi instalada em novembro de 2017 e possuía uma área de aproximadamente 40 ha. O manejo adotado nesta área foi semelhante ao da área “A”, diferindo apenas a época de cultivo. Para início do projeto de implantação do sistema silvipastoril, houve uma sequência de manejos visando o preparo da área.
Em 2017 foi cultivado o componente agrícola, soja (Glycine max), em área total. Com a colheita da soja, em fevereiro de 2018, houve o cultivo do componente arbóreo, clone híbrido AEC-2043, originado do cruzamento entre ((E. camaldulensis x E. grandis) x E. urophyla) e do milheto, com o intuito de minimizar o ataque dos grilos nas mudas de eucalipto. Em novembro do mesmo ano houve o plantio de soja novamente, desta vez nas entrelinhas do eucalipto e após a colheita da soja em fevereiro de 2019 foi cultivado o componente forrageiro, Urochloa brizantha – BRS Piatã.
Para o plantio das mudas dos clones de eucalipto, foi realizado primeiramente, o controle das formigas e dos cupins para ambas as áreas. Na linha de plantio foi realizado sulcagem com subsolador monohaste a 60 cm de profundidade, e em seguida realizada a aplicação de 300 kg ha-1 de Mono-Amônio-Fosfato (MAP), na formulação 11-52-00 (N-P205-K20). Após o estabelecimento das mudas na área, foi realizado adubação de cobertura, com 120 g de 20-00-20 (N-P205-K20) por planta.
A semeadura do componente forrageiro foi realizada utilizando plantadeira, mantendo uma distância mínima de 1,0 m do eucalipto, com o objetivo de reduzir a competição inicial entre as espécies. A adubação de plantio e cobertura consistiu-se em 350 kg ha-1 do adubo formulado 08-28-16 (N-P205-K20) e 200 kg ha-1 de ureia com 45% de N (parcelado em duas aplicações, metade em cada aplicação), respectivamente. Foram realizados todos os tratos culturais e silviculturais imprescindíveis para cada cultura, respeitando-se as suas recomendações técnicas.
Para o arranjo espacial do eucalipto, realizou-se o plantio em renques de linha simples, no espaçamento 2 metros entre plantas e 15 metros entre os renques, totalizando 333 árvores por hectare. Para permitir melhor insolação das culturas consorciadas nas entrelinhas, os renques de plantio foram orientados no sentido Leste-Oeste para maior entrada de luz ao longo do dia. O arranjo foi o mesmo para as duas áreas de estudos.
2.3 Coleta e densidade das raízes e estoque de carbono
A coleta foi realizada em 24 de agosto de 2020 no período da seca. Na primeira área foram coletadas as amostras após 2 anos do plantio de Urochloa brizantha – BRS Piatã. Na segunda área foram coletadas amostras após 3 anos do plantio da forrageira Megathyrsus maximus cv. Quênia.
Para a amostragem, uma vez que os locais para cada transectos de distância (ao todo cinco transectos) foram escolhidos de forma aleatorizada, excluindo a borda de 30 m da área de ILP. Cada transecto foi realizado entre os renques de árvores e em cada um deles cinco pontos amostrais (distâncias de: 0 m; 1 m; 3 m; 5 m e 7 m) (Figura 2). Em cada ponto foram coletadas subamostras, totalizando 75 amostras em cada uma das áreas de integração pecuária-floresta (IPF) (Figura 3). A distância zero foi localizada encostada ao tronco da árvore.
O procedimento de amostragem adotado teve o intuito de cobrir possíveis interferências na distribuição do sistema radicular das forrageiras (abrangendo área de gradiente de sombra provocado pelo sistema arbóreo). Atentou-se também para a escolha dos pontos amostrais, desconsiderando uma faixa próxima às extremidades do talhão, denominada bordadura (30m), pois é uma região que apresenta regime de luminosidade diferente, o que poderia influenciar os resultados.
Figura 2 – Esquema da amostragem de raízes das forrageiras Megathyrsus maximus cv. Quênia e Urochloa brizantha - BRS Piatã nos sistemas integração pecuária-floresta no município de Inaciolândia- GO
Fonte: Elaborado por Caio Henrique Januário Calassa (2022)
Com auxílio de um trado tipo caneco, com 7,3 cm de diâmetro, a amostra de solo foi na camada de 0-20 cm de profundidade (volume do cilindro: 837,2 cm³). Esse tipo de trado foi utilizado devido a necessidade de um recipiente cilíndrico para contabilizar o volume de solo e raízes de forma precisa. As subamostras foram espaçadas 0,25 m x 0,25 m x 0,25 m, formando um triângulo (Figura 3). O solo coletado foi armazenado em saco plástico, com a devida identificação, e mantido em temperatura ambiente até o momento da separação das raízes do solo.
Na separação das raízes do solo, utilizou-se de um conjunto de peneiras de malha Mesh com 7 mm; 20 mm; 40 mm e 60 mm. Primeiramente foram utilizadas duas peneiras sobrepostas, a superior com malha de 40 mm e a inferior com malha de 20 mm. O solo foi depositado em pequenas porções na peneira superior e peneirado para a retirada das raízes.
Figura 3 – Esquema demonstrativo de coleta das amostras de raízes em sistemas silvipastoril no município de Inaciolândia Goiás. A - Medição das distâncias com a trena; B - Coleta do solo e raízes com trado tipo caneco; C - Três subamostras coletadas por distância; D - Solo armazenado e identificado
Fonte: Os autores (2023)
O processo de separação das raízes procedeu com a adição de um volume de água limpa em um recipiente grande (bacia). Posteriormente foi depositado o solo dentro deste recipiente com água e devido a densidade da raiz ser menor que a da água as raízes flutuavam e permaneciam na superfície da água. Com as peneiras descritas acima foi coletado todo o material radicular que se encontrava na superfície e posteriormente lavado em água corrente. As raízes mais grossas que eram evidentemente do eucalipto foram retiradas da amostra. Já plantas daninhas e/ou outras plantas espontâneas na área, caso fossem encontradas, foram retiradas com raiz do local e preferencialmente coletadas amostras longe da incidência delas. Raízes apodrecidas ou em decomposição que puderam ser visualizadas foram contabilizadas da mesma forma das raízes frescas, mas sem separação entre elas.
Na sequência, as raízes foram colocadas para secar ao sol e posteriormente acondicionadas em sacos de papel devidamente identificados. Após a separação das raízes, todas as amostras foram encaminhadas para o Laboratório de Ecologia de Plantas (ECOFLOR) da Universidade Federal de Goiás. No laboratório, as amostras foram acondicionadas em uma estufa de circulação e renovação de ar, com temperatura de 65ºC, por aproximadamente 72h com o objetivo de proceder a secagem do material até a obtenção de peso constante. Depois das amostras totalmente secas, elas foram pesadas em uma balança de precisão, onde a massa seca de raízes foi quantificada em gramas.
2.4 Análise Estatística
Os valores de densidade de raízes de cada repetição foram somados para formar um valor médio de densidade por distância, sendo considerado apenas a média por distância e as réplicas verdadeiras sendo os diferentes transectos. Para analisar as variáveis, foi realizado o teste de Shapiro-Wilk e verificaram-se os dados sem distribuição normal, assim sendo foi utilizado o teste de Kruskal-Wallis (c2) com nível de significância (p < 0,05) para verificar se existiam diferenças entre a densidade de raízes e as distâncias. Todas as análises foram feitas através do Software Past (Hammer et al., 2017). Para facilitar a interpretação visual dos resultados, foram feitos gráficos de boxplot considerando os valores das densidades de raiz dos diferentes capins e nas diferentes distâncias. Não foram comparados estatisticamente a densidade de raiz dos diferentes capins entre as duas espécies por não ser uma comparação válida entre elas, devido ao delineamento amostral, assim a comparação foi realizada apenas dentro das mesmas espécies, nas diferentes distâncias das árvores.
O sistema de integração pecuária-floresta com 2 anos de idade e clones híbridos de eucalipto AEC-2043 e forrageira Urochloa brizantha cv Piatã apresentou a maior produção de densidade total de raízes na distância de 5 metros do componente arbóreo, com valor de 11,75 g seguidos das distâncias 3 metros, com valor médio de 10,89 g, e 7 metros com valor médio de 10,81 g (Figura 4A). A distância zero apresentou a menor densidade radicular com 8,63 g. Observou-se que a maior variação de densidade de raízes ocorre entre as distâncias zero e sete, o que era o esperado, pois na distância zero é onde há maior influência do sombreamento sobre a forrageira Urochloa brizantha cv Piatã.
Figura 4 – A. Densidade de raízes de Urochloa brizantha BRS Piatã em diferentes distâncias em relação ao componente arbóreo clone híbrido de eucalipto AEC- 2034 com dois anos de cultivo no município de Inaciolândia-GO por 837,2 cm³; B. Densidade de raízes de Megathyrsus maximus cv. Quênia em diferentes distancias em relação ao componente arbóreo clone híbrido de eucalipto AEC-043 no município de Inaciolândia-GO por por 837,2 cm³
Fonte: Os autores (2023)
Na área com sistema de integração pecuária-floresta de 3 anos, com clones híbridos de eucalipto AEC-043 e componente forrageiro Megathyrsus maximus cv. Quênia, a maior concentração de densidade de raízes foi no ponto zero, ou seja, no componente arbóreo (Figura 4B). A maior média de densidade de raízes foi encontrada na distância zero com 10,23 g, diferindo das demais distâncias que não apresentaram diferença significativa entre si. A densidade de raízes na distância zero apresentou maior variabilidade que a encontrada nas demais distâncias (Figura 4B).
A maior densidade de raízes foi encontrada na distância 0. As demais foram semelhantes, sendo a 5 metros com 4,45 g, seguida da distância de 7, 3 e 1 metros com valores de densidade de raízes igual a 4,82 g; 4,85 g; 5,56 g respectivamente.
Sob as condições experimentais estudadas, na primeira área de sistema silvipastoril com 2 anos de idade em um solo Latossolo, ocorreram níveis de competição ou alopatia entre as espécies. Os resultados indicam diminuição do desenvolvimento de raízes da forrageira Urochloa brizantha BRS Piatã à medida que se aproxima do componente arbóreo. Resultado similar foi encontrado por Sarto et al. (2020), em que avaliando o efeito da introdução do componente arbóreo eucalipto na densidade radicular em um pasto cultivado com Urochloa brizantha em diferentes distâncias 0 (linha de plantio); 2; 4 e 6 m (meio das parcelas) em relação à árvore. A adição do eucalipto na pastagem reduziu a densidade de comprimento de raiz, densidade e diâmetro de raiz próximo às árvores, observando uma diminuição de 36% na densidade de raízes comparada ao monocultivo (Sarto et al., 2020).
Da mesma forma, Paciullo et al. (2010) avaliando o efeito de sombreamento na densidade aérea e densidade e densidade radicular de forrageira Urochloa decumbens em sistema silvipastoril submetidos à lotação rotativa e composto por espécies de Eucalyptus grandis e Acacia mangium, constataram que a forragem verde e a densidade de raízes, expressa em matéria seca, foram menores sob a copa das árvores. Houve quedas de 41,4% na densidade radicular nas fileiras das árvores. A redução do sistema radicular da planta forrageira próximo a arbórea se dá pelo fato do sombreamento das arbóreas, que provocam que a gramínea, na buscar por luz, mobilize mais recursos para o crescimento de desenvolvimento da parte aérea.
Existe uma relação tênue entre a parte aérea e o sistema radicular (Gregory, 2006; Defrenet et al., 2016). De acordo com Rosado et al. (2011), reduzidos valores de densidade radicular após a desfolha estão associados a uma maior alocação de carbono na densidade da parte aérea durante a estação de crescimento. Esta estratégia fisiológica da planta proporciona rápida recuperação da parte aérea da forragem, promovendo o desenvolvimento de área foliar para atividade fotossintética, diminuindo a demanda de carbono pela raiz. A produção de raízes finas também é influenciada pela fenologia da planta e pelas propriedades do solo (Six et al., 2004; Whalley et al., 2005).
Em sistemas de integração, o componente arbóreo impõe sombreamento para as plantas cultivadas no sub-bosque e interfere diretamente na radiação interceptada, principalmente nas forrageiras mais próximas às árvores e, consequentemente, afeta o crescimento e desenvolvimento destas forrageiras tanto da parte aérea quanto do sistema radicular (Guenni et al., 2008). Como pode ser percebido nos resultados encontrados no presente estudo, o componente arbóreo afetou a densidade radicular de Urochloa brizantha quanto estas estão alocadas mais próximas do eucalipto. Vale ressaltar que a mudança no desenvolvimento do sistema radicular pode se estender para outras gramíneas. Ao avaliar o efeito do sombreamento, nos níveis de 25%, 50% e 75%, no crescimento de partes das plantas de Coastcross-1, Pennisetum purpureum cv. Cameron e Urochloa brizantha cv. Marandu. concluíram que todas as espécies apresentaram redução da matéria seca radicular, entretanto a Urochloa brizantha apresentou, no mínimo, três vezes mais peso seco (g/planta) nas raízes do que outras espécies forrageiras (Oliveira; Souto, 2001).
A combinação entre a gramínea Megathyrsus maximus cv. Quênia e clones de eucalipto AEC-2034, que compreende a composição do sistema de integração-pecuária-floresta de 3 anos apresentou uma relação inversa à esperada. Observou-se uma maior densidade de raízes próximo a árvore, na distância zero, onde se espera uma maior influência do componente arbóreo sobre a forrageira. Estudos realizados por Montejo-Martínez et al. (2019) apresentaram resultados similares aos encontrados no presente trabalho. Ao avaliar a densidade acima e abaixo do solo em dois sistemas silvipastoris, um compreendendo Leucaena leucocephala (árvore leguminosa) e Cynodon plectostachyus (grama) e as outras L. leucocephala e Megathyrsus maximus em diferentes épocas de colheita observaram que a forrageira P. maximum obteve maior densidade e densidade radicular comparada com a Cynodon plectostachyus no perfil do solo. Em contraste ao estudo realizado, trabalhos desenvolvidos por Durr e Rangel (2000) evidenciaram, ao trabalhar com níveis de sombreamento em P. maximum, uma menor densidade radicular em detrimento da densidade da parte aérea, onde a razão parte aérea/raiz reduziu à medida que o nível de sombreamento aumentou.
A maneira como ocorre o desenvolvimento das raízes, ou seja, seu hábito de enraizamento tem grande influência sobre o seu crescimento e precisa ser bem compreendido. Fica claro que o hábito de crescimento radicular determina o volume de solo ocupado pelas raízes. A densidade de raízes está associada ao grau de exploração desse solo e à capacidade de eliminação ou dominação por espécies concorrentes (Gonçalves; Miranda, 2000). De acordo com Forrester et al. (2006), a estratificação do sistema radicular é importante para a coexistência de diferentes espécies na mesma área, especialmente se os recursos são limitantes. Plantas sob sombra geralmente modificam seu padrão de alocação de densidade, favorecendo a produção das partes aéreas em detrimento das raízes, para maximizar a exposição à luz solar sob condições de radiação limitadas (Durr; Rangel, 2000; Guenni et al., 2008).
Em sistemas de integração pecuária-floresta, há influência do componente arbóreo eucalipto na densidade radicular da forrageiras Urochloa brizantha BRS Piatã e Megathyrsus maximus cv Quênia. A intensidade dessa influência pode variar com a distância em que a gramínea se encontra do Eucalipto.
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Contribuição de autoria
1 – Hérica André Da Silva
Universidade Federal de Goiás, Mestre em Agronomia
https://orcid.org/0000-0002-0647-4536, hericasilva_20@hotmail.com
Contribuição: realização das atividades de campo, escrita científica, análises dos dados, correção final.
2 – Amanda Prudente Velozo
Universidade Federal de Goiás, Mestrado em Agronomia, Doutoranda em Agronomia
https://orcid.org/0009-0005-2424-7934, velozo_a@hotmail.com
Contribuição: realização das atividades de campo, escrita científica, análises dos dados, correção final.
3 – Paulo Vitor Divino Xavier de Freitas
Universidade Estadual de Goiás, Doutor em Zootecnia
https://orcid.org/0000-0003-2671-1030, paulovitor_freitas@hotmail.com
Contribuição: Escrita científica, correção e orientação, escrita final.
4 – Abílio Rodrigues Pacheco
Embrapa Floresta, Doutorado em Agronomia
https://orcid.org/0009-0008-4852-8900, abilio.pacheco@embrapa.br
Contribuição: Concepção do trabalho, realização do delineamento experimental/amostral, escrita científica, escrita final.
5 – Francine Neves Calil
Universidade Federal de Goiás, Doutora em Ciências Florestais
https://orcid.org/0000-0003-2882-9622, fncalil@gmail.com
Contribuição: Concepção do trabalho, realização do delineamento experimental/amostral, análise de dados, escrita científica, correção e orientação, escrita final.
6 – Carlos de Melo e Silva-Neto (correspondente)
Instituto Federal de Goiás. Doutor em Agronomia
https://orcid.org/0000-0001-8624-3836, carloskoa@gmail.com
Contribuição: Concepção do trabalho, realização do delineamento experimental/amostral, análise de dados, escrita científica, correção e orientação, escrita final.
Como citar este artigo
SILVA, H. A.; VELOZO, A. P.; FREITAS, P. V. D. X.; PACHECO, A. R.; CALIL, F. N.; SILVA-NETO, C. M. Densidade de raízes de Megathyrsus maximus BRS Quênia e Urochloa brizantha BRS Piatã em sistemas silvipastoris. Revista Ecologia e Nutrição Florestal, Santa Maria, v. 12, e84367, 2024. DOI 10.5902/2316980X84367. Disponível em: https://doi.org/10.5902/2316980X84367. Acesso em: dia mês abreviado. ano.