Ensino Superior, Tecnologia Assistiva e Inclusão de PcDs: Um Estudo Bibliométrico

Higher Education, Assistive Technology and Inclusion of Pwds: A Bibliometric Study

Educación Superior, Tecnología de Asistencia e Inclusión de PcDs: Un Estudio Bibliométrico

 

Estela Maris Giordani

Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria – RS, Brasil.

estela.giordani@ufsm.br

 

Gabriel Banqueri Casemiro

Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria – RS, Brasil.

gabcasemiro@gmail.com

 

Ieda Ferreira Banqueri Casemiro

Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria – RS, Brasil.

iedabanqueri@gmail.com

 

Rafaela Butzke Geloch

Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria – RS, Brasil.

rafageloch@gmail.com

 

Recebido em 18 de outubro de 2025

Aprovado em 24 de outubro de 2025

Publicado em 08 de dezembro de 2025

 

RESUMO

Este artigo investiga o estado da arte construído em torno de estudos a respeito de processos de ensino-aprendizagem inclusivos voltados para a Educação Superior. Estuda, por meio de uma análise bibliométrica, relações estabelecidas entre Tecnologia Assistiva, Inclusão e Permanência de Pessoas com Deficiência (PcDs) na Educação, tal como aparecem em artigos armazenados no repositório Web of Science (WoS), entre os anos de 1993 e 2022. Neste estudo, foi considerada uma amostra composta por 89 documentos catalogados pelo repositório WoS no campo de saberes da Educação e que foram tratados, sistematizados, visualizados e analisados com o uso da ferramenta Biblioshiny – interface gráfica do Pacote R R Studio – e do Pacote Bibliometrix. O estudo revelou que as publicações em torno do tema Tecnologia Assistiva aplicada à Educação Superior, ou, em outras palavras, Tecnologia Assistiva como mecanismo de inclusão e permanência de discentes PcDs na Educação Superior, configuram um campo de estudos multidisciplinar, mas ainda em fase inicial de construção de suas teorias, de suas metodologias e de suas possíveis aplicações como recurso didático no Ensino Superior; mostram, portanto, que esta nova área de saberes acha-se, ainda, em fase de delimitação e de definição de seu próprio objeto, sob os pressupostos de saberes multidisciplinares, como uma condição sine qua non para o seu desenvolvimento efetivo e sua autodefinição como conjunto de saberes, de ferramentas, de práticas, de métodos e de recursos didáticos voltados para a inclusão de PcDs e para a democratização e ampliação do processo de ensino-aprendizagem na Educação Superior.

Palavras-chave: Educação superior; Tecnologia assistiva; Pessoas com deficiência.

 

ABSTRACT

This article investigates the state of the art in studies on inclusive teaching and learning processes in higher education courses. Through bibliometric analysis, it examines the predicted relationships between assistive technology, inclusion, and retention of people with disabilities (PwDs) in education, as reported in articles stored in the Web of Science (WoS) repository between 1993 and 2022. This study considered a sample of 89 documents cataloged by the WoS repository in the field of education. These documents were processed, systematized, visualized, and analyzed using the Biblioshiny tool—a graphical interface for the R Studio package—and the Bibliometrix package. The study revealed that publications on the topic of Assistive Technology applied to Higher Education, or, in other words, Assistive Technology as a mechanism for the inclusion and retention of students with disabilities in Higher Education, constitute a multidisciplinary field of study, but still in the initial phase of constructing its theories, methodologies, and possible applications as a teaching resource in Higher Education. They therefore show that this new area of ​​knowledge is still in the process of delimitation and definition of its own object, under the assumptions of multidisciplinary knowledge, as a sine qua non condition for its effective development and self-definition as a set of knowledge, tools, practices, methods, and teaching resources aimed at the inclusion of students with disabilities and the democratization and expansion of the teaching-learning process in Higher Education.

Keywords: Higher education; Assistive technology; People with disabilities.

 

RESUMEN

Este artículo investiga el estado del arte en estudios sobre procesos inclusivos de enseñanza y aprendizaje en la Educación Superior. Mediante análisis bibliométrico, examina las relaciones establecidas entre la Tecnología de Asistencia, la Inclusión y la Retención de Personas con Discapacidad (PcD) en Educación, según aparecen en artículos del repositorio Web of Science (WoS) entre 1993 y 2022. Este estudio consideró una muestra de 89 documentos catalogados por el repositorio WoS en el ámbito de la Educación. Estos documentos se procesaron, sistematizaron, visualizaron y analizaron utilizando la herramienta Biblioshiny (una interfaz gráfica para el paquete R Studio) y el paquete Bibliometrix. El estudio reveló que las publicaciones sobre Tecnología de Asistencia aplicada a la Educación Superior, o, en otras palabras, la Tecnología de Asistencia como mecanismo para la inclusión y retención de estudiantes con discapacidad en la Educación Superior, constituyen un campo de estudio multidisciplinario, pero aún en la fase inicial de construcción de sus teorías, metodologías y posibles aplicaciones como recurso didáctico en la Educación Superior. Por lo tanto, muestran que esta nueva área de conocimiento aún se encuentra en proceso de delimitación y definición de su propio objeto, bajo los supuestos del conocimiento multidisciplinario, como condición sine qua non para su efectivo desarrollo y autodefinición como un conjunto de conocimientos, herramientas, prácticas, métodos y recursos didácticos orientados a la inclusión de estudiantes con discapacidad y a la democratización y expansión del proceso de enseñanza-aprendizaje en la Educación Superior.

Palabras clave: Educación superior; Tecnología de asistencia; Personas con discapacidad.

 

 

Introdução

As imposições econômicas, políticas e sociais do mundo contemporâneo, desde meados do século XX, têm exigido de todas as nações ocidentais e orientais, a construção de novos caminhos para a cooperação entre os povos, para a humanização das relações e para a reordenação cultural e jurídica das sociedades (Organizações das Nações Unidas, 1948). Tendo em vista os propósitos de manter a paz entre as nações, de propiciar um convívio humano mais justo e mais democrático e de garantir o respeito aos direitos inalienáveis do ser humano, propugnados pela Organização das Nações Unidas (ONU), também se tem colocado em pauta, no centro desta construção, a proposição de uma sociedade e de uma cultura mais inclusivas, a partir de leis, de ideias e de práticas individuais e coletivas, de arranjos e de rearranjos simbólicos e físicos, institucionais e organizacionais (ONU, 1948; Brasil, 1988).

Nesse sentido, destaca-se na pauta de políticas públicas contemporâneas, a inclusão de Pessoas com Deficiência (PcDs) em todos os âmbitos da sociedade – na vida econômica, social, cultural, organizacional e institucional (Luño, 1998). Não obstante, apesar de vários documentos garantirem os direitos humanos das PcDs (Brasil, 1988; 2008; 2009), ainda há um longo caminho de acesso das PcDs ao Ensino Superior no Brasil. Conforme indicam Gándara Carballido (2019) e Yngaunis (2023), embora o número de matrículas de PcDs no Ensino Superior tenha crescido de 2020 para 2021 em 14%, ainda é baixa a representatividade de estudantes PcDs nas universidades. Nesse sentido, Gándara Carballido (2019) aponta para a necessidade de se politizar a discussão dos direitos de todos os grupos excluídos e para a necessidade de se ampliar a potência e a participação de todos grupos interessados nas lutas sociais por direitos.

Considerando este contexto, neste artigo se investiga o estado da arte em torno de processos de ensino-aprendizagem inclusivos na Educação Superior, como pauta vinculada à reordenação política, jurídica e cultural da sociedade sedimentada no direito humano. De modo mais específico, apresenta uma análise bibliométrica de estudos que versam a respeito das relações estabelecidas entre Tecnologia Assistiva, Inclusão e Permanência de PcDs na Educação Superior, tal como se apresentam nos documentos armazenados pelo repositório Web of Science (WoS), no período compreendido entre 1993 e 2022.

No estudo, utiliza-se o aplicativo Biblioshiny – interface gráfica do Pacote R R Studio – e o Pacote Bibliometrix – para o tratamento, para a sistematização, para a visualização e para a análise dos dados obtidos do WoS. Trabalha-se com a hipótese de que a Tecnologia Assistiva é um mecanismo de inclusão e permanência de discentes PcDs na Educação Superior e de que o estudo e o desenvolvimento do campo das relações entre Tecnologia Assistiva, Inclusão Social e Educação Superior demandam sempre um esforço de cooperação entre diferentes áreas do conhecimento, supondo a multidisciplinaridade, não somente da natureza desse objeto, mas também de todas as suas teorias e suas práticas.

 

Pessoas com Deficiência (PcDs) e a Inclusão na Educação Superior

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define PcDs como aquelas pessoas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial que, em interação com diversas barreiras, podem ter obstruída a sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas (Organização Mundial da Saúde/ONU, 2006). Segundo dados da OMS e do Fundo das Nações Unidas para a Infância, em seu primeiro Relatório Mundial de Tecnologia Assistiva, cerca de 2,5 bilhões de pessoas no mundo têm algum tipo de deficiência, ou seja, declaram ter algum grau de dificuldade em, ao menos, uma das habilidades investigadas (enxergar, ouvir, caminhar, subir degraus) ou declaram possuir algum grau de deficiência mental/intelectual (Fundo das Nações Unidas para a Infância, 2021). Dos 2,5 bilhões, cerca de 1 bilhão encontra-se completamente desassistida de tecnologias assistivas básicas, como cadeiras de rodas, aparelhos auditivos ou aplicativos que apoiem a comunicação e a cognição e, nesse sentido, apresenta grandes dificuldades para realizar suas atividades cotidianas com plena autonomia e independência. Segundo as estimativas da OMS e UNICEF, este número deve alcançar a cifra de 3,5 bilhões de pessoas até 2050 (Unicef, 2021).

Apesar deste número ser alarmante, a situação poderia ser muito mais drástica se não houvesse, desde os anos 1960 e 1970, um esforço global de discussão a respeito de leis de direitos humanos e sociais e sua natureza universalizante, notadamente, esforço acompanhado do aparecimento de instituições especializadas no atendimento de PcDs, tais como a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e a Organização Internacional do Trabalho (OIT), que têm buscado fomentar a equiparação de direitos para as PcDs, estimular um intercâmbio de conhecimentos sobre a condição das PcDs e estabelecer processos de inclusão social de PcDs.

Assim, dentre as ações que já fomentaram, incentivaram e estabeleceram processos de inclusão social para PcDs, destacam-se: em 1971, a Declaração dos Direitos de Pessoas com Deficiência Mental; em 1975, a Declaração dos Direitos das Pessoas Portadoras de Deficiência; em 1981, o Ano Internacional das Pessoas Deficientes; em 1982, o Programa de Ação Mundial Relativo às Pessoas com Deficiência; em 1983, o Programa de Reabilitação Profissional e Emprego de Pessoas Deficientes; em 1993, as Normas sobre a Equiparação de Oportunidades para Pessoas com Deficiência; em 1999, a Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as PcDs; em 1999, a Carta para o Terceiro Milênio; em 2001, a Classificação Internacional da Funcionalidade, Incapacidade e Saúde; e, em 2007, a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência.

Para Guterres (2020, s. p.), secretário geral da ONU, “A educação é a chave para o desenvolvimento pessoal e o futuro das sociedades. Desbloqueia oportunidades e reduz desigualdades. É o alicerce das sociedades informadas e tolerantes e o principal impulsionador do desenvolvimento sustentável”. Na conjuntura de inclusão social de PcDs, a educação aparece como um direito humano fundamentador do convívio social democrático, abrangendo um importante mecanismo para os processos de inclusão social. A educação proporciona acessar e conhecer – teórica e praticamente – os símbolos e arranjos sociais possíveis, ampliando a vida social e o desenvolvimento individual e coletivo, favorecendo a plena inclusão. Neste sentido, versando sobre acessibilidade, inclusão, educação inclusiva, vida independente e o pleno empoderamento para todos e todas, documentos como: A Declaração Mundial sobre Educação para Todos (1990), a Declaração de Salamanca (1994) e a Declaração de Sapporo (2002), são assumidos como os marcos mundiais mais significativos para fomentar a inclusão de PcDs no contexto educacional.

Na história dos processos inclusivos de PcDs no contexto educacional, a parcela da Educação Superior é aquela que tem se apresentado como maior desafio, configurando-se como cenário de maior urgência para a construção de soluções (Rocha, 2020). Conforme a Declaração de Salamanca (1994, p. 28), as universidades desempenham a função de tomadoras de decisão na educação “especial”, de forma mais contundente, “[...] com relação à pesquisa, à avaliação, à preparação de formadores de professores e à elaboração de programas e materiais pedagógicos […]” inclusivos e democráticos. A Declaração indica, também, que poderia ser estabelecida uma aproximação entre as universidades e os centros de Ensino Superior em países desenvolvidos, a fim de estabelecer uma inter-relação entre pesquisa e capacitação, além de uma efetiva participação das próprias PcDs, para que contribuam em seu próprio processo de inclusão, partilhando seu entendimento do que se faz essencial e indispensável para que isso aconteça.

A inclusão e a permanência de PcDs na Educação Superior demanda, pois, grandes esforços e progressos nas políticas públicas e, sobremaneira, o desenvolvimento efetivo de ferramentas, de práticas, de métodos e de recursos didáticos inclusivos para a ampliação e para a democratização dos processos de acesso e ensino-aprendizagem, configurando caminhos – arranjos simbólicos e físicos (layouts) – desafiadores, mas exitosos, que possam eliminar e fazer superar todos os tipos de barreiras (Siqueira; Santana, 2010; Dalla Déa; Rocha, 2016).

Conforme Sassaki (2009, 2010), seriam barreiras arquitetônicas (barreiras físicas), comunicacionais (comunicação entre pessoas), metodológicas (barreira nos métodos e técnicas de lazer, trabalho, educação, etc.), instrumentais (barreira de instrumentos, ferramentas, utensílios, etc.), programáticas (barreiras embutidas em políticas públicas, legislações, normas, etc.) e, finalmente, atitudinais (preconceitos, estereótipos, estigmas e discriminações nos comportamentos da sociedade). Essas barreiras, relacionadas tanto à mobilidade, quanto à aprendizagem e às demais situações vivenciadas pelas PcDs, impossibilitam ou reduzem as possibilidades de realização de suas tarefas do dia a dia, sejam elas no âmbito domiciliar, educacional, laborial e de lazer, entre outras (Cruz et al., 2015). É, pois, justamente, dentro deste universo de discussões a respeito de barreiras e de superação de barreiras impostas a PcDs que aparece, mais recentemente, um novo campo de saberes denominado Tecnologia assistiva.

 

Tecnologia assistiva

O desenvolvimento tecnológico e os progressos jurídicos e filosóficos alcançados pelas sociedades contemporâneas têm contribuído, em larga escala, para a autonomia, para a independência, para a qualidade de vida e para a inclusão social de PcDs na vida econômica, política, social e cultural. A emergência de novas tecnologias facilita as interações e alterações da configuração social, atravessando todos os seus aspectos, desde o cultural até o econômico. O “[...] desenvolvimento e utilização de novas tecnologias modifica, de maneira profunda, a relação do ser humano com o conhecimento” (Martínez; Bizelli; Inforsato, 2017, p. 1436) de si mesmo, do outro e do mundo em que ele se insere.

De modo particular, esta tecnologia vocacionada para a promoção da autonomia, da independência, da qualidade de vida e da inclusão social de PcDs têm sido nomeada como Tecnologia assistiva, o que, de acordo com Bersch e Sartoretto (2017), pode aparecer também com outros nomes, tais como: Ajudas técnicas, Tecnologia de apoio, Tecnologia adaptativa ou Adaptações. Por Tecnologia assistiva, entende-se, pois, um conjunto de recursos e serviços tecnológicos disponibilizados às PcDs, no sentido de eliminar e superar todos os tipos de barreiras para a inclusão em todos os campos da sociedade, buscando fomentar o diálogo, a dignidade e a integração humana, social e digital, tanto nas comunidades, instituições, quanto no todo do tecido social (Bersch, 2008, 2013; Conte; Ourique; Basegio, 2017). O termo Tecnologia assistiva tem origem em Assistive technology, usado, pela primeira vez, em 1988 nos EUA, como um elemento jurídico dentro da legislação norte-americana conhecida como Public Law 100-407; em 1998, o termo foi atualizado como Assistive technology Act de 1998 – P.L. 105-394, S. 2432.

Este elemento jurídico compõe, finalmente, o ADA – American with Disabilities Act, documento que regulamenta o direito de cidadãos PcDs estadunidenses, além de constituir a base legal para a captação e concessão de fundos públicos para a aquisição de recursos e serviços de que necessitem as PcDs. Sendo assim, Tecnologia assistiva pode ser definida como “[…] todo e qualquer item, equipamento ou parte dele, produto ou sistema fabricado em série ou sob medida utilizado para aumentar, manter ou melhorar as capacidades funcionais das pessoas com deficiência”, abrangendo, ainda, todos os “[…] serviços que auxiliam diretamente uma pessoa com deficiência […]”. Neste caso, os serviços que compõem o conjunto da Tecnologia assistiva podem ser definidos como “[…] aqueles prestados profissionalmente à pessoa com deficiência visando selecionar, obter ou usar um instrumento de tecnologia assistiva” (Bersch; Sartoretto, 2017, s. p). E, por sua vez, os recursos podem ser definidos como todos os materiais e instrumentos que servem de apoio às PcDs em qualquer processo de aprendizagem e prática da vida social.

Pensando a Tecnologia assistiva, mais amplamente, como uma teoria e como uma prática de ciência em torno de um objeto, ela pode ser entendida, ainda, como:

[…] uma área do conhecimento, de característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à atividade e participação de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social (Brasil, 2009, s. p).

 

Assim sendo, a Tecnologia assistiva presente na vida de PcDs pode abrir as portas para a educação, criando condições para que PcDs participem do cotidiano da escolarização (Manzini, 2005; Galvão Filho, 2009, 2022). Negar o acesso de PcDs à Tecnologia assistiva constituiria, pois, uma violação dos próprios direitos humanos, além de ser uma demonstração de visão precária a respeito da natureza democrática da vida social e do próprio funcionamento da economia-mundo, já que obstruiria a qualificação de PcDs para o mercado de trabalho e a sua participação na geração de riqueza para a perpetuação das sociedades.

Desse modo, pensando a relação estrita entre Tecnologia assistiva e inclusão de PcDs na Educação Superior, toma-se a Tecnologia assistiva como um conjunto de recursos, serviços, ferramentas, práticas e métodos que possibilitam a eliminação, a superação de todos os tipos de barreiras ao acesso, à permanência e ao êxito de PcDs nos processos de aprendizagem em contextos educacionais formais ou informais, sobretudo, no contexto da educação e da profissionalização de PcDs em nível superior.

 

Metodologia

Este estudo foi delineado como uma pesquisa bibliométrica. Para Ekundayo e Okoh (2018), este tipo de pesquisa pode analisar tanto aspectos quantitativos, quanto aspectos qualitativos do objeto. Como corpus da pesquisa, optou-se pela base de dados Web of Science (WoS) que, segundo Mongeon e Paul-Hus (2015), possui uma característica importante: é bastante completa em informações, tendo em vista que inclui todos os tipos de artigos e indexam autores, endereços institucionais e referências bibliográficas. Os parâmetros determinados na coleção principal da WoS abrangem resumos, palavras-chave do autor e keywords plus de publicações indexadas. Delimitou-se a pesquisa a partir dos termos em inglês Higher education e Assistive technology – grafados sem aspas, no sentido de identificar, de modo geral, os registros dos termos solicitados. Visando, todavia, publicações que unissem os termos pesquisados, foi utilizado, entre eles, o operador and.

Foram encontradas 877 publicações indexadas, referentes ao período de 1993 a 2023. Foi aplicado, então, um primeiro filtro temporal, que eliminou um documento datado de 2023. Desse modo, chegou-se à base de dados considerada, preliminarmente, como amostra da pesquisa, que foi de 876 publicações realizadas entre os anos de 1993 e 2022. Foi aplicado, então, um segundo filtro, na seção Tipos de Documentos, e, assim, foram excluídos documentos do tipo acesso antecipado, artigo de dados e capítulos de livros. Mantiveram-se, então, da amostra inicial, 830 documentos do tipo artigos, artigos de conferência e artigos de revisão, a partir dos quais iniciam-se as considerações deste trabalho. Como interesse mais específico, foi aplicado o filtro de seleção de áreas de saber (áreas de pesquisa), mantendo-se apenas a área de pesquisa em Educação (Education educacional research). Nesse sentido, o corpus da análise da pesquisa restringiu-se a 89 documentos que, efetivamente, estabelecem uma relação entre os termos Tecnologia assistiva, Inclusão e permanência de Pessoas com Deficiência (PcDs) na Educação Superior, do ponto de vista da área de Educação, tendo em vista que seus resumos confirmaram sua aderência aos temas.

Definido, pois, o corpus da análise, as informações sobre os 89 documentos, classificados por relevância, foram exportados do WoS para um Arquivo sem Formatação (Plain text file), de modo completo e com as devidas referências (Full record and Cited references), criando um arquivo de dados para posterior análise, por meio de ferramentas de análise bibliométrica adequadas.

Objetivando o tratamento, a sistematização, a visualização e a análise dos dados da amostra em arquivo Plain text file obtidos do WoS, foi utilizado o aplicativo Biblioshiny – interface gráfica do pacote R – R Studio – e o pacote de análise Bibliometrix (Aria; Cuccurullo, 2017) – que, para Conceição Moreira, Guimarães e Tsunoda (2020), se apresentam como ferramentas de grande abrangência e capacidade no número de análises, possibilitando, neste trabalho, uma ampla visualização do estado da arte do campo de relações entre Tecnologia assistiva e Inclusão de PcDs na Educação Superior. Foram considerados os dados a respeito dos Autores mais relevantes (Produção); da Produção ao longo dos anos; Lei de Lotka; Impacto (H-Index; G-Index; M-Index; Total de citações); Afiliações mais relevantes; País dos autores; Países mais citados; Produção científica por país; Fontes mais relevantes (produção); Fontes mais citadas; Lei de Bradford; Impacto (H-Index; G-Index; Mindex; Total de citações); Source dynamics; Documentos mais citados (global); Documentos mais citados (local); Referências mais citadas; Reference spectroscopy; Palavras mais citadas (Palavras-chave/autor); Keyword plus; Título; Resumo; Word dynamics; WordCloud; e TreeMaps.

 

Resultados e análise dos dados

Levando-se em conta a amostra inicial dos dados encontrados no Portal de Periódicos da CAPES, de que foram selecionados 830 documentos, publicados entre os anos de 1993 e 2022, sob 110 diferentes rótulos de saber, distribuídos por 69 diferentes áreas do conhecimento, conforme as classificações dadas pela própria WoS, já seria possível constatar: primeiro, um vertiginoso aumento do interesse global na discussão em torno dos temas da Tecnologia Assistiva e da Inclusão e Permanência de Pessoas com Deficiência (PcDs) na sociedade, com quase 3.200 autores escrevendo sobre esta temática, sendo mais de 20% em cooperações internacionais, e, de modo mais específico, a presença desta temática na Educação em todos os níveis, com destaque para o nível da Educação Superior. Segundo, que o tema demanda, desde o início de sua história de pesquisa e estudos, um esforço de cooperação entre diferentes áreas do conhecimento, supondo a multidisciplinaridade não somente da natureza do objeto em questão, mas também da natureza dos próprios estudos e pesquisas.

Este quadro de interesse nos coloca, desde o início, diante de uma tendência de mudança positiva de posição das sociedades mundiais em relação ao processo de garantia dos direitos humanos básicos, como são o da Inclusão e o da Educação. Esta progressiva mudança de interesse revelada pelos números e pela variedade de pontos de vista, não é, entretanto, gratuita. Ela é fomentada pelos desdobramentos da Declaração dos Direitos Humanos (1948) que se dão, de modo mais amplo, a partir da década de 1990, com Declaração Mundial sobre Educação para Todos (ONU, 1990), na Declaração de Salamanca (ONU, 1994) e na Declaração de Sapporo (ONU, 2002), todas estas versando sobre acessibilidade, inclusão, educação inclusiva, vida independente e pleno empoderamento para todas e todos.

Figura 1 – Visão geral sobre a amostra inicial


Fonte: Dados da pesquisa, 2023

 

A década de 1990 tornou-se, assim, um divisor de águas para a discussão e para o fomento de uma sociedade mais democrática e inclusiva e para a inclusão de PcDs na sociedade e, de modo mais específico, para a inclusão de PcDs no contexto educacional.

De modo mais específico, entretanto, quando o ponto de partida dos estudos e pesquisas é, exclusivamente, a área de Educação (descrita na WoS como Education Educational Research), os números promissores dos estudos se modificam drasticamente. Dos 830 documentos encontrados, apenas 89 (10,7%) são iniciativas da área de Educação e as publicações destacadas só se dão a partir do ano de 2007, contando com a participação, indispensável, de pesquisadores de outras áreas, como das Engenharias e da Medicina.

Estes 89 documentos encontrados, reunidos em arquivo Plain text file exportado para a análise no Bibliometrix, podem ser vislumbrados, de modo geral, na Figura 2:

 

Figura 2 – Visão geral sobre a amostra definitiva


 

Fonte: Dados da pesquisa, 2023

 

A Figura 2 mostra que 89 documentos foram considerados completos e analisados pelo Bibliometrix. Mostra, ainda, que os documentos foram produzidos entre os anos de 2007 e 2022 por um grande número de pesquisadores (257 authors) e ressalta a proeminência do trabalho coletivo sobre o trabalho individual nesta área do saber, com uma média de 3 pesquisadores envolvidos em cada trabalho (2,99 co author per doc), sendo que apenas 12 documentos resultam de produção individual. Mostra também o envolvimento de 65 diferentes origens (países, centros de pesquisa e periódicos) dedicadas a pesquisas e estudos a respeito da relação entre Tecnologia Assistiva e Inclusão e Permanência de PcDs no Ensino Superior (65 sources). Vale dizer, ainda, que cerca de 14,61% dos trabalhos se deram por cooperações e co-autorias internacionais (co-authorship). A despeito disso, os 89 documentos investigados serviram como referência a 3089 trabalhos (references) e, em média, cada documento já foi citado mais de 5.500 vezes em trabalhos sobre o tema (5.562 average citation per doc).

A seguir, o Gráfico 1 apresenta a produção científica projetada no tempo, ou seja, apresenta uma visão histórica da produção anual entre os anos de 2007 e 2022.

Gráfico 1 – Produção científica anual


 

Fonte: Dados da pesquisa, 2023

 

O Gráfico 1 permite perceber uma curva exponencial positiva de interesse nos estudos da relação entre Tecnologia assistiva, Inclusão e permanência de PcDs na Educação Superior, do ponto de vista da área de estudos em Educação, a partir de 2007. Apesar de oscilações negativas em 2011, 2016 e 2019, a curva de crescimento é ascendente, com exponencial crescimento de 800% entre o número de documentos produzidos em 2007 e o número de documentos produzidos em 2022 (de 2 para 16 documentos). Destaca-se o crescimento acentuado do número de estudos nos últimos 3 anos – 2020, 2021 e 2022 (de 10 para 16).

O Gráfico 2 apresenta uma visão histórica da produção de diferentes países em torno do tema, entre os anos de 2007 e 2022.

 

 

 

Gráfico 2 – Produção científica nos países


 

Fonte: Dados da pesquisa, 2023

O Gráfico 2 mostra os 7 países que mais têm contribuído para o crescimento das pesquisas e estudos sobre o tema. São eles: os 2 pioneiros – Estados Unidos (EUA) e Romênia, a partir de 2007. A partir de 2010, os pioneiros são acompanhados pelo Reino Unido. A partir de 2017, Brasil e Jordânia entram nas discussões e, somente a partir de 2019, aparece a Rússia. Exceção feita aos Estados Unidos, a produção dos demais países mostra-se, ainda, bastante incipiente.

Já, o Gráfico 3 expõe os 10 países mais citados como produtores de conhecimento em torno do tema:

 

Gráfico 3 – Países mais citados como produtores de conhecimento


 

Fonte: Dados da pesquisa, 2023

Como se pode verificar no Gráfico 3, Estados Unidos (240 citações), Irlanda (72 citações), China (34 citações), Nova Zelândia (32 citações), Reino Unido (26 citações), Austrália (15 citações), Marrocos (15 citações), Jordânia (13 citações), Japão (6 citações) e Rússia (6 citações) são os países mais citados como produtores de saberes em torno das relações entre Tecnologia assistiva, Inclusão e permanência de PcDs na Educação Superior.

A comparação entre os Gráficos 2 e 3 revela que, apesar de Brasil, Romênia e Espanha terem composto a lista dos 7 países que mais fomentam a discussão do tema, eles ainda não aparecem na lista entre os mais referenciados nos estudos globais.

Apesar de os pesquisadores estarem sediados em países diferentes, já se pode destacar uma promissora rede de cooperação de produção entre os pesquisadores. É o que mostra a Figura 3, a seguir:

Figura 3 – Cooperação de trabalhos entre países

 


 

 

Fonte: Dados da pesquisa, 2023

 

A Figura 3 apresenta 5 clusters, que revelam diversas relações de cooperação de trabalho: entre Estados Unidos, México, Espanha, China e Tunísia (Cluster 1- azul), entre Reino Unido, Nova Zelândia, Irlanda, Líbano, Israel e Romênia (Cluster 2 – vermelho), entre Egito, Marrocos e Arábia Saudita (Cluster 3 – verde), entre Jordânia, Kuwait e Qatar (Cluster 4 – roxo) e, finalmente, entre Turquia e Rússia (Cluster 5 – cor de laranja). É visível, nesta figura, de modo mais extensivo, que existe uma relação de cooperação direta entre os países e pesquisadores dos países presentes nos clusters 1, 2 e 3. É também notável o isolamento das pesquisas produzidas nos países presentes nos clusters 4 e 5.

No Gráfico 4, estão as mais relevantes fontes de publicações dedicadas ao tema da Tecnologia assistiva relacionada à Inclusão e à permanência de PcDs no Ensino Superior.

 

 

Gráfico 4 – Fontes de publicação mais relevantes


 

Fonte: Dados da pesquisa, 2023

 

O Gráfico 4 apresenta as 10 mais influentes fontes de publicação de trabalhos sobre o tema: 1. Education and Information Tecnologies (6 documentos), 2. Education Sciences (3 documentos), 3. Exceptionality (3 documentos), 4. Interventi- on in School and Clinic (3 documentos), 5. Journal of Special Education (3 documen- tos), 6. Teacher Education and Special Education (3 documentos), 7. 6th International Conference on Education and New Learning Technologies (EDULEARN 2014) (2 documentos), 8. 7th International Conference of Education, Research and Innovation (ICERI 2014) (2 documentos), 9. 8th International Conference of Education, Research and Innovation (ICERI 2015) (2 documentos), 10. 9th International Technology, Education and Development Conference (INTED 2015) (2 documentos).

No Gráfico 5, aparecem listados os 10 principais centros de pesquisa em torno dos temas Tecnologia assistiva e Inclusão e permanência de PcDs no Ensino Superior.

 

Gráfico 5 – Instituições de vínculos mais relevantes


 

Fonte: Dados da pesquisa, 2023

 

O Gráfico 5 apresenta os seguintes centros de pesquisa: Houston Preparatory Academy (Estados Unidos) (4 documentos), Universidade Estadual do Centro-Oeste (Brasil) (4 documentos), Colorado State University (Estados Unidos) (3 documentos), Universidade Federal do ABC (Brasil) (3 documentos), Michigan State University (Estados Unidos) (3 documentos), Technical University of Cluj-Napoca (Romênia) (3 documentos), Universidade Federal do Paraná (Brasil) (3 documentos), The University of Jordan (Jordânia) (3 documentos), University of Kentuck (Estados Unidos) (3 documentos) e University of Texas at Austin (Estados Unidos) (3 documentos). Notadamente, entre os 10 maiores centros de pesquisa, 5 se encontram nos Estados Unidos e 3, no Brasil, revelando a prevalência histórica dos Estados Unidos nesta discussão, mas, ao mesmo tempo, o Brasil como um novo centro promissor para as discussões do tema.

O Gráfico 6 mostra os 10 autores mais relevantes e influentes na discussão do tema em todo mundo.

Gráfico 6 – Autores mais relevantes


 

Fonte: Dados da pesquisa, 2023

 

O Gráfico 6 destaca a relevância e influência de 10 pesquisadores de diversos centros de pesquisa espalhados pelo mundo: 1. Benson, D. L.; 2. Berger, H. M.; 3. Bouck, E. C.; 4. Dababneh, K.; 5. Fraga, F. J.; 6. Leria, L. A.; 7. Mandru, D.; 8. Abdallah, A.; 9. Abell, M.; e 10. Abu Doush, I. Entre estes, ressalte-se a presença de 2 brasileiros: Francisco J. Fraga, da Universidade Federal do ABC (UFABC) e Lucinda de A. Leria, da Faculdade de Tecnologia do Estado de São Paulo (FATEC).

O Gráfico 7 mostra os documentos mais citados globalmente:

 

 

 

Gráfico 7 – Documentos mais citados globalmente

 


 

Fonte: Dados da pesquisa, 2023

O Gráfico 7 destaca os 10 documentos mais citados globalmente em torno do tema da Tecnologia Assistiva e Inclusão e Permanência de PcDs na Educação Superior. Entre estes, destacam-se, aqui, os três primeiros:

1.  Getzel, E. E. (2008). Addressing the persistence and retention of students with disabilities. Higher education: Incorporating key strategies and supports on campus. Ex- ceptionality, 16(4), 207–219, com 84 citações. Neste documento, o autor aborda questões de tecnologia assistiva que contribuem para a permanência de estudantes PcDs na universidade.

2.  Hanafin, J.; Kenny, M.; Shevlin, M. (2007). Including young people with disabilities: Assessment challenges in higher education. High Education, 54:435-448, com 72 citações. Neste documento, os autores tratam da inclusão de jovens no ensino superior, mais especialmente, discutindo os desafios dos processos de avaliação.

3.  Van Rooij, S. W.; Zirkle, K. (2016). Balancing Pedagogy, Student Readiness and Accessibility: A Case Study in Collaborative Online Course Development. The Internet and Higher Education, 28, 1-7, com 42 citações. Neste documento, os autores tratam do uso da internet como uma ferramenta de acessibilidade em sala de aula, apontando-a como eliminação de fronteiras para o acesso, para a pesquisa e para os compartilhamentos de informações que fluem com maior facilidade e rapidez, graças à tecnologia.

Por fim, nesta seção, foi possível observar que a amostra analisada é relevante, no sentido de fazer perceber que a temática que relaciona Tecnologia assistiva, Inclusão e permanência de Pessoas com Deficiência (PcDs) na Educação Superior ganha um crescimento com o passar dos anos, em diversas áreas do conhecimento, em diversos países e em diversos centros de pesquisa. Nota-se, de modo geral, que as revistas, universidades e pesquisadores que têm se destacado nesta nova área do saber são do meio acadêmico internacional, com estudos de relevância sob diversas perspectivas de abordagem, que vinculam e que aproximam diversas áreas do saber e diversos centros de pesquisa. Destaca-se, nesse sentido, a importância de se publicar e partilhar pesquisas, mesmo em áreas ainda incipientes de saber, tanto no âmbito local, quanto no âmbito internacional (Asnake, 2015). Merece destaque, também, o fato de que, no mesmo sentido, o Brasil, nos últimos cinco anos, desponta como um promissor centro de pesquisas sobre o tema da Tecnologia assistiva relacionado à Inclusão de PcDs na Educação, de modo especial, na Educação Superior.

 

Conclusão

Considerando o estado da arte construído em torno dos processos de ensino-aprendizagem inclusivos da Educação Superior, de modo mais específico, procedendo uma análise bibliométrica das relações estabelecidas entre Tecnologia Assistiva, Inclusão e Permanência de Pessoas com Deficiência (PcDs) na Educação Superior, tal como se constituem nos documentos armazenados pelo repositório Web of Science (WoS), do período compreendido entre 1993 e 2022, após o tratamento, a sistematização, a visualização e a análise dos dados pelo uso da ferramenta Biblioshiny – interface gráfica do Pacote R – R Studio – e o Pacote Bibliometrix, constatou-se que os 830 documentos da amostra preliminar estão distribuídos em 110 diferentes categorias de publicação, revelando amplo diálogo entre mais de 60 diferentes áreas do saber, tanto antigas, quanto novas, que estão elencadas na WoS.

Quando considerada, mais especificamente, somente a parcela de 89 documentos – pouco mais de 10% do total da produção – catalogada no campo de saberes da Educação (na WoS, Education Educacional Research), constatou-se que as publicações a respeito do tema Tecnologia Assistiva aplicada à Educação Superior, ou seja, Tecnologia Assistiva como mecanismo de inclusão e permanência de discentes PcDs na Educação Superior, configuram-se como um campo de estudos ainda novo, que se acha em fase inicial de construção de suas teorias, de suas metodologias e de suas possíveis aplicações. Encontra-se, pois, ainda, em fase de delimitação e definição do próprio objeto, métodos e objetivos, necessariamente, como trabalho interdisciplinar, o que tem demandado um contínuo esforço de cooperação entre diferentes áreas do saber, de diferentes pesquisadores, de diferentes origens e afiliações acadêmicas.

Os estudos encontrados, entretanto, têm, como objetivo específico, o desenvolvimento efetivo de ferramentas, de práticas, de métodos e de recursos inclusivos para a ampliação e para democratização dos processos de ensino-aprendizagem em todos os níveis, e, de modo mais específico, na Educação Superior, no sentido de promover a inclusão e a permanência de PcDs na vida educacional, mas, de modo geral, em todos os âmbitos da sociedade: vida econômica, política, social e cultural.

Os resultados desta pesquisa revelam a natureza multidisciplinar e o caminho de cooperação do e para o desenvolvimento desta nova área do conhecimento – a área da Tecnologia Assistiva aplicada à Educação Superior – o que, todavia, se apresenta, também, como a maior dificuldade, limite ou barreira a ser ultrapassada por esta nova área de saberes. No contexto dessa pesquisa, essa foi uma das dificuldades e limitações enfrentadas, o que pode ter interferido no recorte e seleção das publicações encontradas. Outra limitação e ao mesmo tempo uma contribuição, considera-se que as pessoas que necessitam de Tecnologias assistivas, nem sempre têm a condição de expressar ou revelar as necessidades reais pelas quais passam e, neste estudo, não foi possível levantar essa importante demanda emergente. Por outro lado, a contribuição dessa pesquisa, está em revelar a complexidade da área e do tema que é de abordagem multidisciplinar.

As dificuldades, limites e barreiras da nova área se dão, justamente, na natureza, necessariamente, coletiva e multidisciplinar, tanto das teorias, quanto do objeto das pesquisas e dos resultados das pesquisas da área. Entende-se, ao mesmo tempo que, a contribuição desta pesquisa leva a evidenciar a complexidade desta temática que, o tempo todo, demanda esforços de cooperação de diversos pesquisadores oriundos de diversas áreas. Estes situam-se no âmbito político e precisam estar motivados por princípios jurídicos e filosóficos democráticos, inclusivos, humanistas e humanitários, que constituem uma ética nova do direito humano à vida, em uma sociedade de diferentes, em que todos os diferentes, entretanto, têm direito a uma vida igualmente digna.

 

REFERÊNCIAS

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