A filantropia das patronesses na assistência social de uma escola especializada na cidade de Pelotas, RS (1950-1969)
The philanthropy of patronesses in the social assistance of a specialized school in the city of Pelotas, RS (1950-1969)
La filantropía de los empleadores en la asistencia social en una escuela especializada de la ciudad de Pelotas, RS (1950-1969)
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Universidade Federal de Pelotas-UFPel, Balsa, Pelotas – RS, Brasil.
Universidade Federal de Pelotas-UFPel, Balsa, Pelotas – RS, Brasil. rafaelsantosdarosa948@gmail.com
Recebido em 27 de março de 2024 Aprovado em 26 de janeiro de 2025 Publicado em 26 de março de 2025
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RESUMO
Considerando que na cidade de Pelotas, no Rio Grande do Sul, a preocupação com a educação especializada para deficientes encontrou suas raízes nas práticas assistenciais da filantropia desenvolvidas por patronesses, apresentamos uma análise das participações e contribuições no auxílio social prestado a Escola Professor Alfredo Dub no período entre 1950 e 1969. A partir de uma abordagem histórica e cultural, possibilitada pela análise de notícias divulgadas nos impressos locais à época, concluímos se tratar da existência de uma rede de sociabilidade que, com a ajuda de patrocínios, publicidades e eventos de caridade, sustentava o trabalho especializado realizado pela fundadora da instituição, Maria de Lourdes Magalhães, com a contribuição da benemerente Carmen Gastal Osório. Por conseguinte, consideramos nas categorias filantropia e mito fundador elementos-chave para a leitura e interpretação histórica das instituições especializadas, uma vez que a noção de mito fundador confere uma narrativa que ajuda a estabelecer uma ligação emocional entre a comunidade surda e a instituição, criando um senso de pertencimento e união.
Palavras-chave: História da Educação; Educação de surdos; Mito fundador.
ABSTRACT
Considering that in the city of Pelotas, in Rio Grande do Sul, the concern with specialized education for the disabled found its roots in the philanthropic assistance practices developed by patrons, we present an analysis of the participation and contributions in the social assistance provided to Escola Professor Alfredo Dub in period between 1950 and 1969. From a historical and cultural approach, made possible by the analysis of news published in the local press at the time, we conclude that it is the existence of a sociability network that, with the help of sponsorships, advertising and charity events , supported the specialized work carried out by the founder of the institution, Maria de Lourdes Magalhães, with contributions from the benefactor Carmen Gastal Osório. Therefore, we consider the categories philanthropy and founding myth to be key elements for the historical reading and interpretation of specialized institutions, since the notion of founding myth provides a narrative that helps to establish an emotional connection between the deaf community and the institution, creating a sense of belonging and unity.
Keywords: History of Education; Education of the deaf; Founding Myth.
RESUMEN
Considerando que en la ciudad de Pelotas, en Rio Grande do Sul, la preocupación por la educación especializada para discapacitados encontró sus raíces en las prácticas de asistencia filantrópica desarrolladas por los patrocinadores, presentamos un análisis de la participación y contribuciones en la asistencia social brindada a la Escola Profesor Alfredo Dub en el período comprendido entre 1950 y 1969. Desde un enfoque histórico y cultural, posible gracias al análisis de noticias publicadas en la prensa local de la época, concluimos que es la existencia de una red de sociabilidad que, con la ayuda de patrocinios, publicidad y eventos benéficos, apoyaron el trabajo especializado realizado por la fundadora de la institución, Maria de Lourdes Magalhães, con aportes de la benefactora Carmen Gastal Osório. Por lo tanto, consideramos las categorías filantropía y mito fundacional como elementos clave para la lectura e interpretación histórica de las instituciones especializadas, ya que la noción de mito fundacional brinda una narrativa que ayuda a establecer una conexión emocional entre la comunidad sorda y la institución, creando un sentido de pertenencia y unidad.
Palabras clave: Historia de la Educación; Educación de sordos; Mito fundacional.
Introdução
O conceito de deficiência física ou intelectual tem sido abordado de diferentes maneiras e representações ao longo da história. Igualmente, são as atitudes da sociedade em relação às pessoas com alguma tipologia de deficiência, uma vez que suas interpretações variam de acordo com as culturas e sociedades de cada época.[1] Segundo Gaudenzi e Ortega (2016), um dos conceitos fundamentais para a caracterização da deficiência está vinculado a sua participação na sociedade, que pode ser indicada pela avaliação do desempenho do indivíduo no meio em que vive. Se, em tempos mais pretéritos elas eram percebidas como resultado de castigos divinos ou como de possessão demoníaca – tornando-as excluídas da sociedade e, de modo geral, vivendo em condições precárias –, atualmente, desde os desenvolvimentos científicos e das descobertas médicas, identificamos uma mudança na percepção sobre a pessoa com deficiência, notadamente, a partir do surgimento de movimentos que, por meio da informação, buscaram integrar esses sujeitos na sociedade de forma mais igualitária.
Os significativos avanços não se dão somente na ordem dos direitos dos sujeitos em condição diferenciada, com a criação de leis e políticas públicas para proteger seus direitos e promover sua inclusão social, mas também pela linguagem que os representam, minimizadas de adjetivações depreciativas, de incapacidades e preconceitos. Esse crescente reconhecimento não é exclusivo em relação às práticas de acessibilidades, pois também se confere prerrogativas centradas na possibilidade de igualdade de oportunidades e integração em todas as áreas da vida.
De acordo com Lanna Júnior (2010) o Brasil, desde meados do século passado e início do XXI, vive um clima de efervescência em torno dos movimentos que lutam pela garantia dos direitos das pessoas com deficiência, sobretudo, impulsionado pelo cenário internacional decorrente da Declaração Universal dos Direitos Humanos.[2] Fundamentados pelos direitos inalienáveis de liberdade, justiça e paz, esses movimentos têm se engajado na busca pela eliminação de barreiras físicas e de atitudes que impeçam a igualdade e a condição de permanência na educação e no mundo do trabalho.
Anterior à década de 1970 no Brasil, as ações direcionadas às pessoas com deficiência estavam centradas nos processos educativos subsidiados, principalmente, por meio de obras caritativas e assistencialistas. Para Paiva e Bendassoli (2017), a mudança de paradigma ocorrida após os anos 70, permitiu pensar nas pessoas com deficiência como participantes da sociedade e teve desdobramentos na política, nas leis, nas instituições sociais como empresas e escolas. Nesse sentido, identificar e analisar em perspectiva histórica as temporalidades anteriores, cuja ausência de garantias e direitos eram marcantes, é fundamental para que possamos perceber os significados e sentidos culturais atribuídos à educação dos sujeitos com deficiência. Revelando, sobretudo, como a sociedade – ao seu tempo – compreendia a figuração social de um mito fundador na educação institucionalmente especializada e o trabalho assistencial desenvolvido por mulheres benemerentes que, por suas ações de caridade, ganhavam as páginas das colunas sociais nos jornais locais.
Dito isso, o presente artigo tem por objetivo empreender uma análise sobre a participação e contribuição das patronesses na assistência social a favor da Escola Professor Alfredo Dub, localizada na cidade de Pelotas, RS, explorando os principais acontecimentos que colaboraram com a manutenção da instituição filantrópica no período entre os anos 1950 e 1969. A temporalidade do estudo se justifica, propriamente, por ter sido nesse período que ocorreram recorrentes atividades beneméritas cuja finalidade era arrecadar fundos econômicos para assistência da educação de “crianças excepcionais”, como eram comumente denominadas à época. Destacamos que foi na relação profissional entre duas importantes figuras femininas que se projetou a interação de outras pessoas e entidades que passaram a se empenhar pela a educação e direito das pessoas com deficiência. A administração da fundadora Maria de Lourdes Furtado Magalhães juntamente com o auxílio da benemerente Carmen Gastal Osório, mesmo agindo em diferentes posições na esfera social, incentivou a participação efetiva da sociedade pelotense na nobre causa de amparar a criança excepcional da Escolinha Alfredo Dub. Ainda assim, foi fundamental o apoio da instituição APAE – Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais –, uma organização filantrópica, de sociedade civil que prestou serviço educacional e assistencial. A colaboração dessas entidades foi essencial para a implementação de práticas pedagógicas mais adequadas e especializadas, bem como para a sensibilização da sociedade em relação à importância da escolarização de pessoas com deficiência. As ações proferidas pela APAE incitaram uma série de reportagens criteriosamente elaboradas e veiculadas nos periódicos da região.
O jornal Diário Popular foi responsável por narrar e compartilhar a maioria das atividades que acontecia em benefício da criança excepcional. A coluna “Encontro Marcado”, que tinha o jornalista Carlos Alberto Motta como redator principal, teve participação vital nesse percurso de avanço e consolidação da educação especial. A partir das notícias publicadas, a sociedade passou e se envolver e engajar no acompanhamento minucioso e detalhado do trabalho desenvolvido na instituição. Não obstante, é imprescindível salientar o papel crucial desempenhado por este jornalista na propagação assertiva de informações e na instigação de debates relevantes para o avanço social. Na época, essas parcerias e alianças estabelecidas desempenharam função inestimável no fortalecimento e sustentabilidade da instituição voltada para o amparo e assistência de crianças surdas e em situação de vulnerabilidade social.
Nesse contexto, discutiremos a importância da atuação na instituição especializada de Maria de Lourdes Magalhães e sua estreita ligação com Carmen Gastal Osório. Ao nos questionarmos sobre as motivações, os resultados e os impactos gerados pelas ações solidárias e suas respectivas implicações nas transformações observadas no âmbito social, educacional e emocional daqueles que foram beneficiados por essa rede de apoio e cuidado, procuramos valorizar e preservar a memória daqueles que, mediados pelo altruísmo, deixaram impacto positivo e duradouro na sociedade.
Em torno do mito fundador: Maria de Lourdes Furtado Magalhães
No dia 27 de setembro de 1949, foi fundada por Maria de Lourdes Furtado Magalhães a Escola Professor Alfredo Dub. A instituição foi criada imediatamente após um mês da visita do fonoaudiólogo e audiometrista Alfredo Dub, um austríaco radicado no Uruguai que trabalhava na Clínica Otorrinolaringológica da Faculdade de Medicina do Ministério Público do Uruguai e que veio até a cidade gaúcha para demonstrar suas técnicas e estudos. Nessa visita a Pelotas, Alfredo Dub dirigiu uma série de orientações sobre técnicas de ensino para pessoas com surdez. Dona Maria de Lourdes que até então atuava em uma pequena escola para deficientes no interior da Cruz Vermelha Brasileira, Filial de Pelotas, se mobilizou para ampliar o processo de institucionalização de uma escola própria para atender as diferentes especificidades dos alunos daquela escola. [3] Tal atitude, lhe rendeu, em grande parte da documentação salvaguardada na instituição de investigação, o reconhecimento como fundadora da única escola para sujeitos surdos de Pelotas.
De modo geral, podemos dizer que a ideia de mito fundador[4] em uma instituição escolar se refere à narrativa ou história fundacional, frequentemente criada para estabelecer a origem, o propósito e a legitimidade de uma determinada instituição educacional. Assim como os mitos fundadores de outras organizações ou sociedades, o mito fundador das instituições escolares serve para unir a comunidade escolar em torno de uma história compartilhada e reforçar a identidade e os valores da instituição. Não obstante, os mitos fundadores podem incluir elementos como a história da fundação da escola, os ideais ou visão dos seus fundadores, os desafios superados ao longo do tempo, as personagens significativas ou exemplares que representam a missão da escola, entre outros aspectos (Julia, 1993). Muitas vezes, esses mitos são idealizados e simplificados para transmitir uma mensagem clara e inspiradora sobre a importância e o legado da instituição educacional. Ao longo da historiografia das instituições escolares tem sido comum encontrar mitos fundadores que destacam a excelência acadêmica, a inovação pedagógica, a dedicação dos educadores, o compromisso com a comunidade, a superação de desafios socioeconômicos, entre outros temas relevantes para a função e valores da escola.[5]
Desse modo, podemos identificar na figura de Maria de Lourdes Furtado Magalhães toda uma importância na narrativa e memória histórica na construção da identidade e da cultura organizacional da Escola Alfredo Dub. Influenciando, inclusive, a forma como a comunidade escolar percebe a sua própria história, valores e propósitos social e educacional.
Em uma entrevista concedida ao jornal Opinião Pública em 14 de abril de 1951, Magalhães abordou diversos aspectos relacionados à educação de “pessoas excepcionais”. Durante o depoimento, a professora enfatizou a importância de oferecer oportunidades de aprendizado e desenvolvimento para aqueles que possuíam “necessidades especiais”, ressaltando a exigência de um olhar mais atento e sensível por parte da sociedade em relação a essa parcela da população. Ela defendia que todos tinham o direito à educação e que cada indivíduo, independentemente de suas limitações, possuía potencialidades a serem exploradas. Ela discutiu sobre os desafios enfrentados pela escola na busca por recursos e apoio governamental para a manutenção e ampliação de suas atividades. Assim como ressaltou a importância do reconhecimento e valorização do trabalho dos educadores que atuavam nesse campo, destacando a necessidade de investimentos contínuos e qualificados na área da educação especial (Pública, 1951, s.p). A entrevista concedida pela professora Magalhães foi um acontecimento na história da Escola Alfredo Dub e um importante registro do comprometimento com a educação especializada e da visão daqueles que lutavam pela inclusão e pela igualdade de oportunidades no cenário educacional da época.
Já na década de 1960, uma outra importante matéria foi publicada, revelando outras figuras proeminentes que se sobressaíram ao longo daquele ano na cidade de Pelotas, elogiando suas conquistas e influência notável na sociedade daquela época. A reportagem intitulada "Pelotas em Destaque", publicada pelo jornal Diário de Notícias em 1962, não se limitou a retratar as figuras proeminentes da cidade, mas também glorificou a importância do reconhecimento público e da valorização das contribuições individuais que colaboravam para o crescimento e o desenvolvimento da comunidade pelotense, noticiando que
A Figura do Ano foi sem dúvida a Assistente Social Maria de Lourdes Furtado Magalhães, que anonimamente desenvolve seus conhecimentos em favor do menor retardado, tendo recuperados muitos, ensinando-lhes a falar, ler e entender a vida. Ela organizou uma Escolinha – chamada de Alfredo Dub, que neste ano ganhou até feitio-oficial, com Estatutos, etc (Diário de Notícias, 1962, p. 1).
A reportagem exemplifica o prestígio de Maria de Lourdes Magalhães como uma das principais mulheres na cidade de Pelotas, destacando não apenas a sua atuação na área social, mas também sua participação ativa na política e defesa dos direitos das “crianças excepcionais”. É importante ressaltar que a divulgação do papel exercido por mulheres, como Maria de Lourdes no desenvolvimento e na transformação da sociedade da época, servia como inspiração para muitas outras que buscavam causar impacto e promover mudanças positivas em um cenário social tipificado pelo patriarcado masculino. Nesse sentido, a história de Maria de Lourdes Magalhães ganhou discursos que exemplificam a força e a determinação de mulheres que, mesmo enfrentando desafios e barreiras sociais, conseguiam desempenhar seu trabalho filantrópico.
A reportagem levantou questões sensíveis em relação à forma como as pessoas com deficiências eram tratadas e retratadas na sociedade. Por exemplo, o uso do termo pejorativo "retardado" demonstrava certa falta de empatia para com esses indivíduos, reforçando estigmas e preconceitos. Por outro lado, a matéria destacou o papel da fundadora da instituição Alfredo Dub, elogiando sua habilidade técnica em auxiliar na aprendizagem e desenvolvimento dos alunos com deficiências. Além disso, foi mencionado que a instituição passava por mudanças em seu regime estatutário, visando melhorias nas condições físicas e no ambiente de trabalho. Essas alterações indicam um esforço em aprimorar o suporte oferecido aos alunos, proporcionando um ambiente mais adequado para seu desenvolvimento educacional e social.
Os extratos dos estatutos da Escola Professor Alfredo Dub também foram divulgados no Diário de Notícias em 17 de agosto de 1962, em Porto Alegre. Consta que:
CAPÍTULO I. - Da Escola e seus fins. - Artigo 1.º- A Escola “Professor Alfredo Dub”, com sede em Pelotas, destina-se à recuperação das crianças portadoras de defeitos físicos e crianças excepcionais, sem distinção de côr ou religião, é uma instituição de fins não lucrativos. Artigo 4.º - Aos alunos será ministrada instrução primária, tratamento com massagens, ginástica ortopédica e vasto serviço de assistência médica, social e pedagógica. Artigo 3.º - A Escola será mantida por uma Associação de Assistência e por auxílios oficiais. - CAPÍTULO V. - Dos Órgãos da Direção. - Artigo 14. º - A Diretora da Escola será constituída pelo Conselho Administrativo: Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais, e pela Diretoria. Artigo 16.º - A Diretoria da Escola será composta de um Diretor, um Secretário, um Tesoureiro e pelo Conselho Administrativo. CAPÍTULO VI. - Do Diretor. - Artigo 19.º - Ao Diretor compete: a) Representar a Escola em juízo ou fora dêle. - CAPÍTULO IX. - Disposições Gerais. - Artigo 22.º - A Escola somente poderá se extinguir por deliberação da maioria absoluta de seus associados, reunidos em Assembléia Geral e seu patrimônio em caso de extinção reverterá em benefício de uma instituição congênere, a juízo da Assembléia. Artigo 23.º - Estes Estatutos só poderão ser modificados em Assembléia Geral. Artigo 24.º - A Escola Professor Alfredo constituirá periodicamente, uma individualidade distinta de seus membros, os quais não responderão subsidiariamente, pelas obrigações contraídas em nome da mesma, pelos representantes legais. Diretora. - Maria de Lourdes Furtado Magalhães, bras., solteira, professora, residente à rua Rui Barbosa n. 566. Secretária - Guiomar de Castro Kaufmann, casada, bras., doméstica, residente à rua Andrades Neves, 904. Tesoureira - Flora Bendjouya, bras., casada, professora, residente, à rua Marechal Deodoro, 560 - Pelotas (Diário de Notícias, 1962, p. 20, Grifos nossos).
O documento divulgou as mudanças ocorridas na antiga classe especial da Cruz Vermelha, que passou a aderir a uma nova estrutura e organização. Essas transformações foram fundamentais para o desenvolvimento e crescimento da instituição, que passou a oferecer novas oportunidades e benefícios para seus alunos.
A coluna Encontro Marcado de 23 de dezembro de 1962 também trouxe à tona os destaques do ano, conforme escolhidos pelo departamento de jornalismo do Diário Popular. Em destaque, a Sra. Maria de Lourdes Magalhães foi eleita a mulher do ano, em virtude de sua dedicada campanha para educar com “carinho” e conhecimento as “crianças excepcionais”. A declaração laudatória de Carlos Motta ressaltou as nobres qualidades da fundadora da Escola Alfredo Dub. Assim, Magalhães foi reconhecida e recebeu os créditos por sua contribuição na educação e recuperação de “crianças retardadas” ou “deficientes”. Vale lembrar, que a designação “recuperação de retardados” era um termo utilizado para descrever o trabalho realizado por pessoas como a Sra. Maria de Lourdes Magalhães, dedicadas à assistência social, filantropia e educação de “crianças excepcionais”. Este termo, embora não mais utilizado devido à sua conotação pejorativa, reflete a realidade de uma época marcada pela classificação da normalidade e padronização social dos sujeitos.
Na historiografia relativa à instituição Alfredo Dub, Maria de Lourdes Magalhães é considerada como sendo uma visionária na abordagem para lidar com as “crianças excepcionais”, uma vez que reconhecia a importância de um ambiente acolhedor e estimulante para o desenvolvimento. Por meio de sua atuação, colaborou para a desconstrução de estigmas e preconceitos, demonstrando que, com “amor”, “dedicação” e uso de recursos adequados, seria possível promover desenvolvimento integral. Seu trabalho inspirou muitas outras pessoas a se envolverem na causa da inclusão e da igualdade de oportunidades, contribuindo para a transformação das políticas públicas e para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva, consolidando a ideia em torno do mito fundador.
A necessidade de educabilidades para pessoas com deficiência fez com que a sociedade pelotense se envolvesse com outras formas de garantir o ensino das “crianças excepcionais”. Tendo a intenção do atendimento às necessidades específicas desses indivíduos, que eram tratados como pacientes em casas assistenciais da região, foi necessário a organização de uma outra instituição que oferecesse as capacitações para o desenvolvimento de suporte pedagógico e técnico. A Escola Alfredo Dub carecia de profissionais capacitados, como professores especializados, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, fonoaudiólogos e psicólogos. Especialistas que possuíssem conhecimento técnico e experiência para lidar com as necessidades particulares. Isso incluía a utilização de tecnologias assistivas, materiais didáticos específicos e estratégias pedagógicas adaptadas. Em resumo, a Escola Alfredo Dub teve que trabalhar muitas vezes em estreita colaboração da comunidade, estabelecendo parcerias com organizações locais, familiares e outros serviços de apoio. Isso, em suma, favoreceu para a criação de outra instituição humanitária, a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), órgão institucional que colaborou com a promoção da inclusão e participação da sociedade.
A criação da APAE e a influência da benemerente Sra. Carmen Gastal Osório: tecendo nexos sobre a filantropia
Considerando os desdobramentos e a repercussão do trabalho desenvolvido na “Escolinha Alfredo Dub” após sua fundação em 1949, a sociedade pelotense começou a se sensibilizar com a causa da “criança excepcional”. No início da década de 1950, a cidade de Pelotas passava por um período de declínio econômico, embora ainda buscasse manter um status de destaque na hegemonia política do Rio Grande do Sul, fato esse que era distante de uma situação financeira confortável.[6] Durante esse período de modernização e desenvolvimento econômico, houve uma mudança no rumo estruturante da cidade: a fisionomia começou a se modernizar, se afastando da arquitetura europeia desejada em outros tempos (Bertoncini, 2019, p. 38). Em Pelotas, assim como acontecia em muitos locais em desenvolvimento, as políticas adotadas frequentemente buscavam seguir o modelo europeu, porém muitas vezes ignorando as realidades culturais e sociais locais. As principais figuras políticas e sociais da cidade gaúcha visavam a estabelecer uma relação social baseada em um modelo eurocêntrico. Isso resultou em processos que privilegiavam a adoção de instituições, leis e práticas europeias em detrimento das abordagens endógenas, mais próprias para atender as suas demandas.
No dia 11 de agosto de 1962, o jornal Diário Popular publicou uma notícia sobre a oficialização da criação da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE). Nessa mesma ocasião, em uma reunião, a senhora Carmen Gastal Osório foi definida como a primeira diretora da instituição. A APAE é uma organização que tem como objetivo promover a inclusão e o bem-estar de pessoas com deficiência intelectual, oferecendo apoio às famílias e aos indivíduos que necessitam de cuidados especiais. Sob a gestão de Carmen Gastal Osório a APAE realizou eventos relacionados às educabilidades especializadas e práticas médicas próprias para atendimento, também, especializado. Essas iniciativas contribuíram não apenas para a conscientização sobre as questões relacionadas à deficiência, mas também para a disseminação de conhecimento e práticas que pudessem melhorar a qualidade de vida dos assistidos. Dessa forma, a APAE se destacou como uma entidade comprometida com a promoção da igualdade e da dignidade para todos. Essa iniciativa representou um marco na história do apoio a pessoas em condição de vulnerabilidade social com deficiências e principalmente às “crianças excepcionais da Escolinha Alfredo Dub”.
Carmen Gastal Osório é figura representativa na história de Pelotas, justamente, por ter iniciado campanhas de arrecadação de fundos para as casas de assistência social da cidade. Durante a década de 1960, foi constante a publicação no jornal Diário Popular de informações que indicavam que a Sra. Carmen Gastal Osório estivesse preparando campanhas para favorecer à educação e recuperação das “crianças excepcionais”. Mencionada diversas vezes nos periódicos locais, Carmen Osório teve sua atuação na sociedade pelotense associada às práticas de assistência social, isso ficou evidente na recorrência de seu nome em mais de 106 recortes de jornais que fazem parte do acervo da Escola Bilíngue Professor Alfredo Dub.
Os acervos documentais são constituídas por um imenso número de recortes e colagens que mostram como a benemerente liderou campanhas em prol da arrecadação de fundos para a escola Alfredo Dub. Nesse contexto, sua presença, evidencia não apenas a dedicação à causa da educação inclusiva, mas também sua habilidade em mobilizar a comunidade em torno de uma causa nobre. O envolvimento local de figuras proeminentes foi fundamental para o sucesso dessas campanhas, que tinham como finalidade garantir recursos para a continuidade do trabalho desenvolvido em associações assistenciais, escolas, casas de saúde, hospitais, clínicas e orfanatos.
Ao entendermos a filantropia como a prática, por parte de indivíduos ou organizações, de fornecer recursos financeiros, materiais ou humanos para beneficiar comunidades ou causas sociais, sem fins lucrativos ou interesse pessoal, podemos associar o trabalho desenvolvido em torno da organização, manutenção e gerenciamento desses recursos à instituição como um conjunto de práticas filantrópicas. Nesse sentido, a categoria filantropia também assume papel significativo para as pesquisas que se debruçam sobre a análise das instituições educativas especializadas, conferindo possíveis significados para as atividades nelas desenvolvidas.
Historicamente, a filantropia tem desempenhado um papel significativo na trajetória da humanidade, muitas vezes associada a figuras proeminentes que, alegoricamente, buscavam fazer a diferença no mundo. No contexto historiográfico, a filantropia pode ser analisada como um reflexo das transformações sociais, políticas e econômicas ao longo do tempo. Além disso, pode ser vista como uma manifestação das desigualdades de poder e riqueza em determinada sociedade, onde indivíduos ou organizações mais privilegiados possuem maior capacidade de realizar doações substanciais. Por outro lado, a filantropia pode ser considerada como uma forma de promover a responsabilidade social e a solidariedade entre os membros de uma comunidade. Em suma, a filantropia é uma categoria emergente para as análises das instituições especializadas que, até hoje, reivindicam pela ajuda e colaboração da sociedade para a sua manutenção.
As patronesses e os eventos de caridade em prol da criança excepcional
Paralelamente às atividades da APAE, um grupo composto por mais de 50 mulheres pelotenses, lideradas também pela Sra. Carmen Gastal Osório atuava em prol da “criança excepcional” durante a década de 1960. As “damas da sociedade pelotense” desempenharam diversas ações para garantir a continuidade dos trabalhos de instituições especializadas. As chamadas patronesses configuravam uma espécie de rede de sociabilidade ativista das causas sociais, reunindo-se para discutir e providenciar a arrecadação de fundos para promover às casas assistenciais da cidade de Pelotas.
Diante do quadro de fontes documentais, citaremos aqui os nomes de 21 patronesses, não querendo afirmar que estas foram as principais, mas apenas destacando as primeiras mencionadas pelo jornal Diário Popular. Além das senhoras Carmen Gastal Osório e Maria de Lourdes Furtado Magalhães foram lembradas pelo periódico: Marininha Osório Alves Pereira, Yaya Xavier, Bebe Bertaso, Vitória Hosni, Vera Moller, Lilita Rechsteiner, Laura Echenique, Conceição Abreu e Lima, Yara Passos Oliveira, Maria Braga, Cely Terra Leite, Enilda Echenique, Iná de Assumpção Melo, Nina Paixão, Beatriz Yen, Moema Kraft, Conceição Kaufmann, Carmen Carpena Moreira, Branca Wiener de Souza, Maria do Carmo Alves Pereira Gastal, Maria da Graça Plégas, entre outras patronesses cujo engajamento e apoio tiveram impacto direto na comunidade e na sociedade em geral daquela época.
É possível que as patronesses atuassem também durante a década de 1950, época em que a Escola Alfredo Dub ainda não contava com profissionais de educação especializada. Com o passar do tempo, as alianças formadas entre as damas da sociedade pelotense e a Escola Alfredo Dub possibilitaram a arrecadação de alimentos, roupas, materiais escolares, equipamentos e dinheiro para a manutenção da instituição. O aporte financeiro também servia para os gastos em medicamentos, para o pagamento de profissionais e viagens, além de outras demandas que deveriam compor a rotina da gestão escolar da instituição filantrópica.
A evolução da Educação Especial no Brasil ao longo do século XX, destaca-se pelos diferentes paradigmas que orientaram as práticas educacionais para as pessoas com deficiência, como a normalização, a integração e a inclusão. Nesse período, houve uma maior conscientização sobre os direitos e as potencialidades das pessoas com deficiência, bem como uma maior influência das teorias pedagógicas e das políticas internacionais sobre a Educação Especial no país (Santos; Rodrigues, 2023, p. 165-166).
É importante destacar que o trabalho dessas senhoras não se restringia apenas ao apoio financeiro, mas também envolvia ações de conscientização, formação profissional e eventos culturais que viabilizassem a melhoria constante do ensino especializado na região. Graças ao empenho e dedicação dessas mulheres, muitas crianças puderam ter acesso a uma educação de qualidade e desenvolver seus potenciais. A Figura 1, ilustra um desses encontros promovidos pelas patronesses.
Figura 1 – Jantar das patronesses no Clube Lyons (1963)
Fonte: Acervo da Escola Alfredo Dub.
O Clube Lyons foi palco de muitos eventos benemerentes, onde as patronesses se reuniam com figuras de destaque da sociedade pelotense, tanto para prestigiar as atrações culturais, quanto para estabelecer novos patrocínios e rumos das suas ações. A imagem acima reproduz um jantar realizado em 1963, quando a Sra. Carmen Gastal liderava a APAE. Podemos afirmar que as patronesses foram figuras fundamentais na promoção e apoio de causas diversas, desempenhando um papel significativo no desenvolvimento de projetos e iniciativas.
A Escola Alfredo Dub, seguiu o legado das patronesses e durante as décadas seguintes organizou eventos dentro e fora da instituição. Essa manutenção cultural foi essencial para que tanto a população pelotense, quantos os alunos surdos adquirissem novos conhecimentos sobre a cultura escolar dos surdos, promovendo um processo de inclusão da comunidade surda na sociedade.
Buscando organizar os dados coletados, elaboramos um quadro temporal a partir do conjunto de recortes de jornais disponíveis no acervo da Escola Alfredo Dub, destacando os principais acontecimentos relativos à assistência institucionalizada que contavam com a participação e/ou organização das benemerentes pelotenses.
Quadro 1 – Eventos Culturais das patronesses noticiados no jornal locais
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ANO |
PEERIÓDICO |
AÇÕES |
PUBLICADO EM |
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1962 |
Diário Popular |
Criação da APAE. |
11 de agosto de 1962 |
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1962 |
Diário Popular |
Aniversário do Clube Campestre - Reportagem publicada no jornal Diário Popular, no espaço destinado às reportagens do jornalista Carlos Alberto Motta em seu caderno "Encontro Marcado", tratou do aniversário do Clube Campestre em outubro de 1962. |
9 de outubro de 1962 |
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1962 |
Diário Popular |
Desfile "Festival da Moda Brasileira - 1963" no Clube Caixeral, evento cultural que destinou a renda arrecadada à Escola Alfredo Dub. |
17 de outubro 1963 |
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1962 |
Diário Popular |
Encontro Marcado do jornalista Carlos Alberto Motta - Festival da Moda Brasileira 63, dia 25 de outubro de 1962, em favor da criança excepcional, no Clube Caixeiral. |
25 de outubro de 1962 |
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1962 |
A Opinião Pública |
Chá das 5 “Five O’ Clock Tea” - Evento cultural particular - Campanha em favor do menor retardado (crianças excepcionais atendidas na Escola Alfredo Dub, orientados por Maria de Lourdes Furtado Magalhães). Local: Palacete da Rua XV de Novembro, no Centro de Pelotas, residência da líder da APAE, a Sra. Carmen Gastal Osório. Reunião com as patronesses. |
6 de novembro de 1962 |
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1963 |
Diário Popular |
Em 9 de maio de 1963, o Brasil testemunhou sua Primeira Moda Feminina no Clube Comercial "Premita Di Firenze". O evento contou com a presença de figuras influentes como Carmen Gastal, Maria de Lourdes e Alfredo Dub. |
8 de maio de 1963 |
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1963 |
Diário Popular |
A renomada jornalista Gilda Marinho palestrou sobre moda e mulheres na Europa, seguido por um coquetel oferecido por Carmen Gastal. O tradicional Chá das 5 foi servido com o apoio das Patronesses, tornando este desfile de moda de inverno de 1963 um evento marcante. |
5 de maio de 1963 |
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1963 |
Diário Popular |
Em 20 de agosto de 1963, ocorreu uma reunião no Lions Clube Pelotas-Norte, onde o Coronel Pedro da Gama proferiu uma palestra para os convidados presentes, como a Sra. Maria de Lourdes Magalhães, Clayr Rutherford, Dr. Sérgio Ivan Borges e suas respectivas esposas. O Dr. Airton Farias Colares e sua esposa também estavam presentes, assim como o Dr. Catão L. Alves da Fonseca, de Passo Fundo. Uma reunião importante que reuniu figuras influentes da época. |
4 de setembro de 1963 |
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1963 |
Diário Popular |
A renomada Professora Graciela Preusa realizou uma exposição de arranjos na Biblioteca Pública Municipal de Pelotas, em benefício da Escola Alfredo Dub. A decoração residencial apresentada trouxe elegância e sofisticação, encantando os visitantes e arrecadando fundos para a instituição de ensino. A iniciativa demonstrou a importância da arte e da solidariedade na comunidade local. |
17 de novembro de 1963 |
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1963 |
Diário Popular |
A Semana dos Excepcionais de 1963 foi um evento de grande importância organizado pela APAE em parceria com a Secretaria de Cultura (SEC). Realizado no dia 28 de agosto de 1963, contou com o apoio de professoras da Escola de Arte Municipal, do Serviço Especializado da Secretaria de Educação e das Patronesses Pelotenses. |
21 de agosto de 1963 |
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1963 |
Diário Popular |
O desfile de 7 de novembro de 1963 em favor do excepcional foi marcado pelo slogan emocionante publicado no jornal DP em outubro de 1963. A mensagem transmitia a importância do apoio e solidariedade, mostrando que com um simples gesto é possível fazer a diferença na vida de quem precisa. O evento destacou a necessidade de colaboração da sociedade para a recuperação e integração dos indivíduos excepcionais. Assim dizia “Estenda-me a mão e lhe provarei do que sou capaz. É com uma palavra ou som, com um sorriso ou lágrima, com agressão ou carinho que lhe peço: AJUDA-ME E SEREI RECUPERADO”. |
17 de outubro de 1963 |
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1963 |
Diário Popular |
O Festival de Moda 64 foi realizado no Grande Hotel, contando com a participação das marcas 3ª. Procópio e Sibrama Boutique, além dos modelos da linha egípcia Arplec de São Leopoldo. O evento destacou as últimas tendências da moda, proporcionando uma experiência única aos participantes e promovendo o talento dos designers e modelos envolvidos. |
2 de novembro de 1963 |
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1964 |
Diário Popular |
Em 14 de maio de 1964, ocorreu o Desfile de Moda 64 na Biblioteca Pública de Pelotas, marcando presença na Feira Nacional de Calçados em São Paulo. Modelista Rosier apresentou suas criações em benefício da Escola Alfredo Dub e Instituto Reverendo Severo. Carmen Gastal Osório, Flora Gastal Osório e Regina Batista foram Patronesses Pelotenses. O evento contou com a presença de "My fair Lady", filme de comédia musical dirigido por George Cukor, baseado na peça teatral Pigmalião de George Bernard Shaw. |
30 de abril de 1964 |
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1964 |
Diário Popular |
No dia 27 de outubro, aconteceu o Coquetel na Residência da Sra. Odete Vieira Moraes, patronesse do lançamento da Moda Feminina Verão de 65. O evento será em favor do Asilo Nossa Senhora Conceição, com um desfile de moda no Clube Diamantinos. A arrecadação foi destinada à Escolinha Alfredo Dub, Instituto de Menores, Instituto Reverendo Severo e Orfanato espírita Nossa Senhora Conceição. Uma oportunidade da sociedade pelotense contribuir para essas instituições de caridade e apreciar as tendências da moda feminina. |
20 de outubro de 1964 |
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1964 |
Diário Popular |
Desfile de Moda Feminina Verão de 65. |
27 de outubro de 1965 |
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1964 |
Diário Popular |
Semana da Pessoa com Deficiência em Pelotas tem suas raízes na possível criação da Semana do Excepcional em agosto de 1964. |
28 de agosto de 1964 |
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1964 |
Diário Popular |
O chá das Patronesses ocorreu durante a semana do excepcional em benefício a criança excepcional. |
27 de agosto de 1964 |
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1964 |
Diário Popular |
No dia 27 de outubro, acontecerá o Coquetel na Residência da Sra. Odete Vieira Moraes, patronesse do lançamento da Moda Feminina Verão de 65. O evento será em favor do Asilo Nossa Senhora Conceição, com um desfile de moda no Clube Diamantinos. A arrecadação será destinada à Escolinha Alfredo Dub, Instituto de Menores, Instituto Reverendo Severo e Orfanato espírita Nossa Senhora Conceição. Uma oportunidade de contribuir para essas instituições de caridade e apreciar as tendências da moda feminina. |
27 de outubro de 1964 |
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1964 |
Diário Popular |
Recital "In Memorian de Beatriz Yen", apresentado por Glória Yen e Pauline Yen. |
6 de dezembro de 1964 |
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1965 |
Diário Popular |
Em abril de 1965, o Clube Diamantinos sediou o famoso Baile do Chapéu, um evento icônico que marcou a época. A festa foi um sucesso, reunindo a sociedade local em uma noite de elegância e diversão. O clima festivo e a música contagiante fizeram dessa noite uma lembrança inesquecível para todos os presentes. O Baile do Chapéu no Clube Diamantinos em abril de 1965 certamente ficará marcado na história da cidade como um evento memorável e cheio de glamour. |
29 de abril de 1965 |
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1965 |
Diário Popular |
Em 6 de maio de 1965, ocorreu um importante Desfile de Moda Inverno 65 envolvendo o Asilo Bom Pastor, o Instituto São Benedito e a Ordem das Carmelitas. O evento foi marcado pela presença de Alfredo Dub, que contribuiu para o sucesso e renome da ocasião. |
6 de maio de 1965 |
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1965 |
Diário Popular |
No dia 25 de Agosto de 1965, a APAE trouxe a Pelotas dois palestrantes estadunidenses para discutir métodos e orientações no tratamento de pessoas excepcionais. Os professores Walter Penrod e James MacClallan compartilharam suas experiências e conhecimentos no Salão da Associação Comercial de Pelotas, às 10h da manhã. Essa palestra foi de extrema importância para a cidade, oferecendo insights valiosos sobre reabilitação vocacional e treinamento para indivíduos com necessidades especiais. |
24 de agosto de 1965 |
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1965 |
Diário Popular |
Em 21 de setembro de 1965, o Lions-Centro lançou uma campanha inovadora durante uma Assembleia-jantar com o objetivo de angariar novos sócios para a Escola Alfredo Dub. A iniciativa demonstrou o compromisso da organização em promover a educação e o desenvolvimento da comunidade local. A ação exemplifica o papel do Lions-Centro como um agente de transformação social e educacional. |
21 de setembro de 1965 |
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1965 |
Diário Popular |
Viagem à Alemanha. |
20 de novembro de 1965 |
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1965 |
Diário Popular |
Palestra no Conservatório de Música. |
30 de outubro de de 1965. |
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1965 |
Diário Popular |
Churrasco e repercussão da Palestra. |
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1965 |
Diário Popular |
No dia 4 de novembro de 1965, o Clube Caixeiral foi palco do desfile de moda da coleção "Aquarela 66". O evento apresentou as tendências e criações do mundo da moda da época, encantando o público com cores, tecidos e estilos inovadores. Foi uma noite marcante para a moda local e um verdadeiro espetáculo de elegância e criatividade. |
28 de outubro de 1965 |
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1966 |
Diário Popular |
Op-Art 66 Desfile de Moda no dia 5 de Maio de 1966. Clube Comercial. |
31 de março de 1966 |
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1966 |
Diário Popular |
Chá Beneficiente na Embaixada de Izrael dia 24 de junho de 1966 na Sociedade Izraelita. |
30 de junho de 1966 |
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1966 |
Diário Popular |
Semana do Excepcional dia 25 à 28 de agosto de 1966. |
21 de agosto de 1966 |
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1967 |
Diário Popular |
Exposição de Painéis e trabalhos artísticos dos alunos do DUB no hall do Grande Hotel, nas atividades Semana do Excepcional de 1967. |
23 de agosto de 1967 |
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1968 |
Diário Popular |
Semana do Excepcional dia 22 a 27 de agosto de 1968. |
21 de setembro de 1968 |
Fonte: os autores.
Em várias reportagens do jornalista Carlos Alberto Motta, em sua coluna Encontro Marcado, foram descritos detalhadamente o ambiente de sociabilidade da elite local em clubes da cidade, como, por exemplo, o Clube Caixeral. Nelas, Motta destacava a aparência “majestosa e os belos lustres de cristal”, o que evidenciava a preocupação com a estética e o requinte característicos da sociedade da época. A ligação entre o clássico, a cultura e a riqueza ressaltada nos textos publicados demonstrava como esses valores eram intrínsecos ao cenário social de Pelotas naquele período, dando nota de que a sociedade mais abastada de Pelotas se valia da notoriedade simbólica das práticas das ações filantrópicas sociais para demonstrar frente a todos o poder do capital cultural e financeiro desse “seleto” grupo.
No acervo da Escola Alfredo Dub também encontramos o registro do início da Semana do Excepcional na cidade de Pelotas, reportada pelo jornal Diário Popular de 1964.[7] Essa iniciativa, que perdura até os dias de hoje, busca sensibilizar a sociedade para a inclusão e valorização das pessoas com deficiência. Eventos, palestras e atividades promoviam a conscientização e a luta por direitos iguais para todos os cidadãos. As APAEs foram constituindo uma prática educacional que levava em conta um amplo e nem sempre sistemático programa educativo, articuladas com as demandas contextuais que lhes eram postas e com as representações que precisaram promover para sua própria sobrevivência institucional (Bezerra e Furtado, 2020, p. 8). A Semana do Excepcional ocorria em praticamente todo o território nacional. Em Pelotas, esse evento era concomitante ao “chá das Patronesses”, uma vez que exploravam o contexto simbólico da Semana do Excepcional para arrecadar fundos financeiros. Os eventos culturais que as patronesses promoviam a favor das casas assistenciais tiveram muitos patrocinadores. Eram lojas, empresas e comerciantes locais que beneficiavam as ações filantrópicas. Muitos clubes e organizações disponibilizaram seu espaço para atividades culturais como: Rotary Clube de Pelotas, Casa da Amizade de Pelotas, Clube Lions Clube Pelotas-Norte, Clube Comercial, Clube Campestre, Grande Hotel, Clube Diamantinos. Conservatório de Música e Sociedade Israelita.
Além da Escola Alfredo Dub, outras casas assistenciais foram beneficiadas, como: Instituto Reverendo Severo, Instituto de Menores, Orfanato Espírita Nossa Senhora Conceição, Asilo Bom Pastor, o Instituto São Benedito e a Ordem das Carmelitas.
No acervo disponível da Escola Alfredo Dub, ainda foi possível ter acesso às fotografias dos eventos beneficentes realizados, em especial aquelas que contam com a participação das patronesses. A seguinte imagem é representativa, pois destaca a Sra. Carmen Gastal, sentada ao centro, ao lado da professora Maria de Lourdes Magalhães a sua esquerda e de outra patronesse a sua direita, cuja identificação não foi possível obter. Também compõem essa fotografia de 1967, alguns alunos da Escola Alfredo Dub. Este registro histórico nos proporciona um vislumbre do cenário e das personalidades envolvidas naquele contexto específico, contribuindo para a preservação da memória e divulgação da história da instituição.
Figura 2 – Apresentação de Natal com a presença da Carmen Gastal (1967)
Fonte: Acervo da Escola Alfredo Dub.
A iniciativa tinha como objetivo discutir os movimentos em prol das casas assistenciais promovidas pela APAE, mostrando o engajamento da alta sociedade local com questões assistenciais. A cobertura jornalística evidenciou a importância dessas iniciativas para fortalecer a identidade local e fomentar o desenvolvimento da comunidade mais carente. Os ingressos para as reuniões organizadas pela Sra. Carmen Gastal e outras senhoras da sociedade de Pelotas chegavam a custar a quantia de trezentos cruzeiros, incluindo um chá “elegantemente” apresentado. A atuação de Osório e outras damas da em prol dos “excepcionais” revela a importância das redes de sociabilidades e contatos na promoção de campanhas sociais. Possivelmente, a utilização de divulgações propagadas pelos jornais locais era uma forma de garantir visibilidade social. De modo geral, essas mulheres se valeram de seus prestígios sociais para desenvolverem uma série de eventos culturais beneficentes.
Considerações finais
Ao longo da história, a generosidade e o apoio social proporcionados por meio de patrocínios, publicidades e ações de caridade por parte daqueles que se dedicaram à causa dos sujeitos “excepcionais” desempenharam papel significativo para a sustentação do trabalho de instituições educativas especializadas. Como vimos, as benemerentes iniciativas que contaram com o engajamento e a solidariedade da comunidade foram essenciais para garantir a continuidade das atividades desenvolvidas pela diretora Maria de Lourdes Furtado Magalhães. As patronesses lideradas pala Sra. Carmen Gastal de Osório também desempenharam função fundamental.
Nesse sentido, as patronesses de Pelotas contribuíram significativamente para a história da educação de surdos, favorecendo à transformação e aperfeiçoamento do sistema educacional especializado. Na história da educação especializada de Pelotas, distintas figuras se destacaram devido a sua contribuição, contudo, é imprescindível ressaltar a importância desempenhada pelo periódico Diário Popular nesse contexto específico e de relevância social. Graças ao apoio prestado pelo jornal e outros “generosos” colaboradores, a Escola Alfredo Dub conseguiu se manter em pleno funcionamento, assegurando a disponibilidade contínua de assistência integral e cuidados especializados às crianças mais vulneráveis e necessitadas da comunidade.
Também, identificamos que foram, especialmente, as mulheres que desempenharam papel crucial nesse labor voluntário. Ao todo foram analisados 106 jornais locais, desses 95 são referências do Diário Popular. De modo que o Diário Popular foi quem mais contribuiu com notícias, manchetes, reportagens, fotografias e até mesmo uma matéria de capa sobre a Escola Alfredo Dub. No referido periódico, uma coluna destacou durante mais de uma década as atividades que envolviam o cotidiano das “crianças excepcionais” que estudavam na escola. A coluna “Encontro Marcado” tratava sobre temas livres ligados à cultura, educação e sociedade. O redator e principal cronista Carlos Alberto Motta se tornou, alegoricamente, a voz dos surdos e por meio de suas narrativas foram criadas campanhas publicitárias para arrecadar sócios para a escola e promover os eventos culturais planejados pela Sra. Carmen Gastal Osório, diretora da APAE e líder das patronesses.
Por fim, cabe destacar dois importantes aspectos abordados neste texto. O primeiro indica a importância do papel de Maria de Lourdes Furtado Magalhães enquanto mito fundador da Escola Alfredo Dub. Consideramos que, em uma instituição especializada de educação para surdos, esse papel seja de extrema importância, pois ele representa a origem, a identidade e os valores da instituição. O mito fundador é uma narrativa que ajuda a estabelecer uma ligação emocional entre a comunidade surda e a instituição, criando um sentimento de pertencimento e união. Ele também pode inspirar e motivar os membros da comunidade a alcançarem seus potenciais, pois representa a história de luta e superação dos surdos ao longo do tempo. O segundo, revela a dimensão que as ações de filantropia possuem para instituições de educação especializadas, pois muitas vezes essas instituições dependem totalmente de doações e recursos externos para manterem suas atividades. A prática da filantropia pode ajudar a suprir necessidades básicas das instituições, como infraestrutura, materiais didáticos, equipamentos, transporte, entre outros. Esses dois elementos se constituem como fundamentais na sustentação e no fortalecimento dos valores e princípios que nortearam a atuação da Escola Alfredo Dub, consolidando sua identidade e seu propósito na História das Instituições Especializadas.
Referências
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Bertoncini, Priscila Maria Dias. Um estudo crítico e comparativo entre as ações de preservação do patrimônio edificado em Laguna/SC e Pelotas/RS, no período de 1985 a 2017. 2019. Dissertação (Mestrado em Educação Matemática) - Programa de Pós-Graduação em Memória Social e Patrimônio Cultural, Instituto de Ciências Humanas, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2019.
Bezerra, Giovanni Ferreira. Furtado, Alessandra Cristina. Educação de Excepcionais no Periódico Mensagem da APAE (1963-1973): uma pedagogia para a modelagem e ajustamento social. Educação em Revista, v. 36, p. e222581, 2020.
Bohm, Fabiane Carvalho. Multiplicação: ensinar e aprender em turmas de alunos surdos do Ensino Fundamental na Escola Especial Professor Alfredo Dub. 2018, 117 f. Dissertação (Mestrado em Educação Matemática) - Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática, Instituto de Física e Matemática, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2018.
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Diário de Notícias. Extratos do Estatutos da “Escola Professor Alfredo Dub” de Pelotas - Rio Grande do Sul. Porto Alegre, p.1, ago. 1962.
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Gaudenzi, Paula. Ortega, Francisco. Problematizando o conceito de deficiência a partir das noções de autonomia e normalidade. Ciência & Saúde Coletiva, v. 21, n. 10, p. 3061–3070, out. 2016.
Diário Popular. Fundada “Associação de Pais e Amigos Dos Excepcionais”. Pelotas, s.p., ago. 1962.
Diário Popular. Encontro Marcado. Pelotas, s.p., dez. 1962.
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Diário Popular. Um milhão de cruzeiros rendeu em caridade “Aquarela-66”. Pelotas, s.p., abr. 1966.
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[1] A preservação dos termos originais utilizados em fontes históricas é essencial para garantir a autenticidade e a integridade de uma pesquisa no campo da História. Manter os termos, como “crianças excepcionais”, “deficientes” ou “necessidades especiais”, utilizados em diferentes épocas, permite uma compreensão mais precisa do contexto social, cultural e científico em que esses conceitos foram formulados. Dessa forma, preservar a originalidade dos termos na pesquisa histórica não é apenas uma escolha metodológica, mas uma ferramenta essencial para garantir a profundidade e a fidelidade da análise do passado.
[2] A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi adotada e proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948. Tornando-se fundamental para a proteção dos direitos de todas as pessoas e propiciando o respeito universal. O documento base não jurídico foi elaborado por John Peters Humphrey (1905-1995), jurista canadense, que contou com a colaboração de representantes de ordens jurídicas e culturais de vários países.
[3] Sobre o processo de criação da Escola Alfredo Dub, ainda na sede da Cruz Vermelha, Filial Pelotas, descrevemos com maior precisão e empreendimento analítico o artigo intitulado “Análise histórica da Cruz Vermelha Brasileira na educação especializada na cidade de Pelotas, RS (1940-1949)”, (Ripe, Rosa, 2025).
[4] Segundo Marilena Chauí (2000) os mitos fundadores operam na demarcação dos momentos de transição ao novo tempo, bem como se consolidam como representantes de um povo por conduzi-los nos momentos marcantes.
[5] Veja-se, por exemplo, os recentes trabalhos de Silva (2023) e Mombach (2020).
[6] No início do século XX, o enriquecimento do proletariado urbano contribuiu para transformações econômicas e sociais – uma nova cidade se desenvolvia. No entanto, a partir da década de 1930, com o declínio econômico da região sul do Rio Grande do Sul em relação ao norte do Estado, que se industrializava, Pelotas e outras localidades da campanha gaúcha passaram a crescer de forma lenta (Bertoncini, 2019, p. 37)
[7] A semana do excepcional é um evento realizado desde 1964 em todo País pela Federação Nacional das Apaes, sempre sendo feito entre os dias 21 e 28 de agosto. O principal objetivo da semana é mostrar para a comunidade a importância do atendimento à pessoa portadora de deficiência. É uma grande mobilização nacional que visa ações de conscientização e intensas atividades sociais, culturais, religiosas e cívicas para reflexão e concretização da garantia dos direitos e cidadania da pessoa com deficiência (correiodaamazonia.com).