Educação Científica para Sexualidade: Análise Bibliográfica de Aspectos de Ensino Destinado aos Estudantes Surdos do Brasil
Scientific Education for Sexuality: Bibliographic Analysis of Teaching Aspects for Deaf Students in Brazil
Educación Científica para la Sexualidad: Análisis Bibliográfico de Aspectos de Enseñanza para Estudiantes Sordos en Brasil
Universidade Estadual de Londrina, Londrina – PR, Brasil.
Universidade Estadual de Londrina, Londrina – PR, Brasil.
Recebido em 21 de setembro de 2024
Aprovado em 02 de outubro de 2025
Publicado em 16 de outubro de 2025
No ensino de Ciências, a sexualidade é um tema que deve ser amplamente abordado, principalmente entre adolescentes que, com a puberdade, passam por mudanças físicas e emocionais geradoras de diversos questionamentos. No/a adolescente surdo/a, isto não é diferente, haja vista que a puberdade também aflora o seu desenvolvimento emocional e sexual. Conforme evidencia a literatura, é baixa a quantidade de pesquisas que buscam articular as temáticas da sexualidade e da surdez. É nesse sentido que buscamos contribuir, analisando e sistematizando elementos relativos ao ensino da sexualidade destinados aos estudantes surdos brasileiros do Ensino Fundamental. O principal objetivo que guiou essa pesquisa foi identificar, analisar e problematizar aspectos de ensino interligados à sexualidade do estudante surdo presentes na literatura. Como abordagem metodológica, adotou-se um levantamento bibliográfico em função de sua pertinência e adequação às intencionalidades estabelecidas na pesquisa. A obtenção e análise dos dados subsidiou-se no referencial teórico metodológico da análise de conteúdo. Dentre as inferências é possível destacar a confirmação da hipótese de que as investigações que interligam as temáticas sexualidade e surdez continuam em escassez, contribuindo para entraves epistemológicos. Logo, é preciso que as pesquisas brasileiras busquem colocar em prática a interdisciplinaridade científica, articulando temáticas relevantes ao contexto do/a estudante surdo/a, que segundo as evidências são considerados vulneráveis em diversos aspectos, entres eles a Educação Sexual (ES).
Palavras-chave: Educação sexual; Ciência; Surdez.
ABSTRACT
In Science teaching, sexuality is a topic that must be widely addressed, especially among adolescents who, with puberty, undergo physical and emotional changes that generate several questions. In deaf adolescents, this is no different, given that puberty also touches on their emotional and sexual development. As evidenced by the literature, the amount of research that seeks to articulate the themes of sexuality and deafness is low. It is in this sense that we seek to contribute, analyzing and systematizing elements related to the teaching of sexuality for Brazilian deaf elementary school students. The main objective that guided this research was to identify, problematize and analyze teaching aspects linked to the deaf student's sexuality present in the literature. As a methodological approach, a bibliographic survey was adopted due to its pertinence and adequacy to the intentions established in the research. Obtaining and analyzing data was based on the methodological theoretical framework of content analysis. Among the inferences, it is possible to highlight the confirmation of the hypothesis that investigations that link the themes of sexuality and deafness remain scarce, contributing to epistemological obstacles. Therefore, it is necessary for Brazilian research to promote scientific interdisciplinary development, articulating themes in Science Education relevant to the context of the deaf student, who, according to the evidence, are considered vulnerable in several aspects, including Sex Education.
Keywords: Sex education; Science; Deafness.
RESUMEN
En la enseñanza de las Ciencias, la sexualidad es un tema que debe ser ampliamente abordado, especialmente entre los adolescentes que, con la pubertad, pasan por cambios físicos y emocionales que generan diversos interrogantes. En los adolescentes sordos esto no es diferente, dado que la pubertad también toca su desarrollo emocional y sexual. Como lo evidencia la literatura, la cantidad de investigaciones que buscan articular los temas de la sexualidad y la sordera es baja. Es en este sentido que buscamos contribuir, analizando y sistematizando elementos relacionados con la enseñanza de la sexualidad para alumnos brasileños sordos de enseñanza básica. El objetivo principal que orientó esta investigación fue identificar, problematizar y analizar aspectos didácticos vinculados a la sexualidad del estudiante sordo presentes en la literatura. Como enfoque metodológico se adoptó el levantamiento bibliográfico por su pertinencia y adecuación a las intenciones establecidas en la investigación. La obtención y análisis de datos se basó en el marco teórico metodológico del análisis de contenido. Entre las inferencias, es posible destacar la confirmación de la hipótesis de que las investigaciones que vinculan los temas de la sexualidad y la sordera siguen siendo escasas, lo que contribuye a los obstáculos epistemológicos. Por lo tanto, es necesario que la investigación brasileña busque poner en práctica la interdisciplinariedad científica, articulando temas relevantes para el contexto del estudiante sordo, que, según la evidencia, es considerado vulnerable en varios aspectos, incluida la Educación Sexual.
Palabras clave: Educación sexual; Ciencia; Sordera.
Introdução
A sexualidade é uma dimensão humana que transcende os aspectos biológicos, haja vista que é social e culturamente construída (FIGUEIRÓ, 2020). Para a autora, a sexualidade abrange carinho, afetividade, prazer, gestos, toque e intimidade, bem como valores e normas morais estabelecidos por cada cultura.
Essa concepção vai ao encontro de Louro (1999), quando diz que a sexualidade está na escola e no sujeito, não podendo ser algo que possa ser desligado. Além disso, a autora complementa, dizendo que:
Um movimento importante parece ser, portanto, assumir que nenhuma forma de sexualidade é natural ou espontânea, mas que, em vez disso, todas as formas de viver a sexualidade são produzidas, ensinadas e “fabricadas” ao longo da vida, através de muitas pedagogias escolares, familiares, culturais; através de muitas instâncias e práticas (LOURO, 2009, p. 35).
No que tange à sexualidade de adolescentes com deficiência, tem-se que esse grupo está mais suscetível à vulnerabilidade, como exploração sexual, abusos, gravidez indesejada, entre outros (BRASIL, 2006). Essa vulnerabilidade pode ser observada, por exemplo, nas informações divulgadas pelo Atlas da Violência (IPEA, 2021).
A sexualidade do sujeito surdo[1], especificidade desta pesquisa, é um tema cuja investigação detalhada e aprofundada é necessária (FONTANA; SCHWIDERKE; TRINDADE, 2018). Por mais que a sexualidade desse grupo se desenvolva assim como a de outras pessoas (GLAT, 1992; GLAT; FREITAS, 1996), observa-se que, no contexto da surdez, existem pontos a serem discutidos, como por exemplo: o modo como o ensino é trabalhado, se adaptações são feitas e de que modo; a Libras no processo de letramento e Educação Científica, entre outras questões. Assim sendo, é relevante interligar essas áreas e analisar o contexto do ensino e da educação, a fim de diminuir entraves epistemológicos (MÜLLER, 2017), ou seja, clarificar o “saber como”.
No que tange às justificativas para a elegibilidade desta investigação, temos que ela possibilitará identificar, analisar e sistematizar informações e elementos teórico-metodológicos relevantes para a elaboração de futuras abordagens voltadas ao processo de ensino e aprendizagem de estudantes surdos/as, bem como para a formação docente. Tendo em vista essa lacuna em relação a esses temas, este trabalho se propôs a realizar uma pesquisa diagnóstica, atualizando e alimentando os dados a respeito dessa linha de investigação envolvendo a sexualidade e a surdez.
As questões que serviram de base para essa investigação foram as seguintes: o que tem sido discutido em trabalhos científicos a respeito da sexualidade e da surdez divulgados nos últimos anos, e quais os apontamentos em relação às questões relativas ao ensino/educação de estudantes surdos? Existe alguma perspectiva produzida para o Ensino Fundamental (EF)[2]? O objetivo geral foi identificar, analisar e problematizar aspectos de ensino interligados à sexualidade do estudante surdo presentes na literatura científica brasileira.
Metodologia
As características da presente investigação estão incorporadas às particularidades da pesquisa de natureza qualitativa, descritiva e interpretativa. Como abordagem metodológica, adotamos a análise bibliográfica, discutida por Gil (2000), em função de sua pertinência e adequação às intencionalidades estabelecidas nesta pesquisa. Essa análise foi realizada a partir da busca de trabalhos nacionais que relacionassem as temáticas da sexualidade e da surdez. Ou seja, essa investigação se dedicou a buscar e analisar as produções brasileiras publicadas no período compreendido entre janeiro de 2016 e janeiro de 2023.
Foram escolhidos os seguintes objetos de pesquisa:
· Programas de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Educação cuja nota fosse 5, 6 e 7, de acordo com a avaliação trienal da Capes (2013);
· Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Científica (ENPEC) (Edições: 2011; 2013; 2015; 2017; 2019; 2021);
· Repositórios Nacionais (Catálogo de Teses e Dissertações da Capes; Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações);
· Periódicos Científicos da área de Ensino (WebQualis 2013), classificados nos extratos A1, A2 e B1.
O critério de delimitação e escolha dos periódicos consultados foi originado a partir do artigo de Rocha-Oliveira; Machado; Siqueira (2017). Sendo assim, utilizando as revistas escolhidas pelos/as autores/as citados acima, investigamos se havia algo relacionado à sexualidade e à surdez, haja vista que o foco dos autores foi a formação docente para educação inclusiva.
As combinações utilizadas para obter os trabalhos foram: “Educação Sexual” AND “Surdez”, “Educação Sexual” AND “Surdo/a”, “Educação Sexual” AND “Deficiente Auditivo”. O mesmo foi feito para as expressões “Sexualidade”, “Orientação Sexual”, “Educação para Sexualidade” e “Saúde Sexual”, todas foram relacionados com os descritores “Surdez”, “Surdo/a” e “Deficiência Auditiva”.
Os critérios para a seleção dos trabalhos foram: ter na amostra sujeitos surdos ou com deficiência auditiva; contribuir de algum modo para a temática da sexualidade do sujeito surdo ou com deficiência auditiva. Já os critérios de exclusão foram: pesquisas que não possuíssem o foco e/ou os descritores desejados; investigações anteriores aos anos delimitados; envolverem na amostra sujeitos que não sejam usuários da Libras.
A metodologia de análise dos dados obtidos baseou-se no referencial teórico metodológico da Análise de Conteúdo (BARDIN, 2016), a qual se refere a um conjunto de procedimentos de caráter sistemático. Essa modalidade de análise textual divide-se em três etapas: pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados e interpretação. Além disso, foram desenvolvidas unidades prévias de Contexto (UC), bem como as unidades prévias de Registro (UR). Segundo Bardin (2016) as UC são:
[...] unidade de compreensão para codificar a unidade de registro e corresponde ao segmento da mensagem, cujas dimensões (superiores às da unidade de registro) são ótimas para que se possa compreender a significação exata da unidade de registro (BARDIN, 2016, p. 137).
Cabe destacar que, em nosso grupo de pesquisa, o IFHIECEM (Investigações em Filosofia e História da Ciência, Educação Científica e Matemática), foi desenvolvido uma especialização adaptada do que Bardin chama de Análise de Conteúdo Temática, no sentido de realizar certos cuidados com as UR, uma vez que elas devem ser elaboradas como hipóteses dedutivas com base na literatura científica da área. Ou seja, quando possíveis hipóteses são evidenciadas na bibliografia, existe um trabalho voltado para descrever o que e como essas hipóteses estão sendo expressas nos documentos objeto de análise. Logo, todo o processo desenvolvido a priori garante que a pesquisa apresente maior consistência e rigor científico em relação à metodologia utilizada. Destaca-se a contribuição dos/das integrantes do grupo de pesquisa associado aos autores na decodificação intersubjetiva, na construção das unidades, na classificação dos registros e nas análises e discussões.
Unidades Temáticas do Levantamento Bibliográfico
Tivemos como objetivo, na UC 1, apresentada abaixo, investigar e refletir a respeito das principais temáticas presentes nas pesquisas que relacionam a sexualidade humana com a surdez.
Quadro 1 – UR para a UC 1 do levantamento bibliográfico
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UC 1 Temáticas Evidenciada nos Trabalhos Relacionando a Sexualidade e a Surdez |
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UR |
Descrição |
Explicação do registro |
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1.1 |
Abordam a sexualidade humana por meio das discussões das ISTs. |
Para agrupar as pesquisas que utilizaram as Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) para contextualizar a temática da sexualidade humana. |
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1.2 |
Abordam a sexualidade humana por meio de estudos a respeito da Homossexualidade. |
Para agrupar as pesquisas que fizeram uso da homossexualidade para contextualizar e abordar a sexualidade humana. |
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1.3 |
Abordam a sexualidade humana expondo a temática da violência e ou abuso sexual. |
Para agrupar as pesquisas que se utilizaram de contextos e/ou situações de violência e abuso sexual para abordar e contextualizar a sexualidade humana. |
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1.4 |
Abordam a sexualidade humana por meio de representações e imaginários sociais. |
Para agrupar as pesquisas que fizeram uso dos mitos e representações/imaginários sociais presentes nos discursos dos/as estudantes surdos/as, a fim de compreender melhor o modo como esses/as estudantes compreendem a sua sexualidade. |
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1.5 |
Abordam a sexualidade humana por meio de métodos contraceptivos e ou de emergência. |
Para agrupar as pesquisas que utilizaram a temática voltada aos métodos contraceptivos e/ou de emergência para trabalhar a sexualidade humana com os estudantes surdos ou para contextualizar a temática da sexualidade e da surdez. |
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URE 1.1 |
Abordam a sexualidade humana por meio do seu conceito. |
Para agrupar as pesquisas que utilizaram o conceito ou a concepção de sexualidade humana para desenvolver uma investigação. |
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URE 1.2 |
Abordam a sexualidade humana relacionando com a Libras. |
Para agrupar as pesquisas que relacionam a temática da sexualidade humana com a Língua de Sinais (Libras). |
Fonte: elaborado pelos autores (2022)
Quadro 2 – UR para a UC 2 do levantamento bibliográfico
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UC 2 Abordagens de Ensino de Sexualidade Evidenciadas nas Pesquisas |
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UR |
Descrição |
Explicação do registro |
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2.1 |
Religiosa Católica e Religiosa Protestante (Tradicional). |
“[...] é a formação do cristão, e o sexo é vinculado ao amor pelo parceiro, ao casamento e à procriação. A vivência da sexualidade está condicionada à submissão às normas religiosas oficiais” (FIGUEIRÓ, 1996, p. 52) |
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2.2 |
Religiosa Católica e Religiosa Protestante (Libertadora). |
“[...] em primeiro plano está a conservação dos princípios cristãos fundamentais, como por exemplo: o amor, o respeito mútuo e a justiça. A Educação Sexual é encarada como instrumento de transformação social” (FIGUEIRÓ, 1996, p. 52). |
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2.3 |
Médica. |
“[...] é a díade saúde-doença (com ênfase na ação terapêutica para tratamento de desajustes sexuais, ansiedade ou angústias relativas à sexualidade); valoriza o fornecimento de informações em contexto de relação terapêutica ou de programas preventivos da saúde pública, para assegurar a saúde sexual do indivíduo e da coletividade” (FIGUEIRÓ, 1996, p. 52). |
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2.4 |
Pedagógica. |
“[...] o processo de ensino/aprendizagem é a característica fundamental. É dada ênfase ao aspecto informativo, na qual pode-se incluir também o aspecto formativo (discussão de valores, atitudes e sentimentos)” (FIGUEIRÓ, 1996, p. 52). |
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2.5 |
Emancipatória. |
“[...] consiste em perceber na Educação Sexual um compromisso com a transformação social, conduzindo as discussões para as questões que envolvem relações de poder, aceitação das diferenças e respeito pelas minorias. Há também uma preocupação em resgatar o erotismo (o prazer da vida e a visão positiva da sexualidade) e as questões de gênero [...]” (FIGUEIRÓ, 1996, p. 52). |
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2.6 |
Ausência ou não compreensão da abordagem. |
Para agrupar os trabalhos que não fizeram uso de uma abordagem específica e/ou não citou no corpo do trabalho. |
Fonte: elaborado pelos autores, adaptado de Figueiró (1996).
Quadro 3 – UR para a UC 3 do levantamento bibliográfico
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UC 3 Formação Docente para Sexualidade e Surdez |
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UR |
Descrição |
Explicação do registro |
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3.1 |
Noções de docentes a respeito da sexualidade e surdez. |
Para agrupar pesquisas que analisem percepções e concepções acerca da sexualidade dos/as estudantes surdos/as presentes nos discursos de docentes. |
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3.2 |
Noções de docentes a respeito de Didática das Ciências aplicada à sexualidade de estudantes surdos. |
Para agrupar as abordagens de ensino e/ou sequências didáticas voltadas a proporcionar momentos de aprendizagem e reflexão acerca da sexualidade das pessoas surdas. |
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3.3 |
Formação inicial de professores/as. |
Para agrupar pesquisas que investiguem atividades e/ou práticas voltadas à formação inicial referente à sexualidade humana e/ou surdez. |
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3.4 |
Formação em serviço de professores/as. |
Para agrupar pesquisas que investiguem atividades e/ou práticas voltadas à formação em serviço referente à sexualidade humana e/ou surdez. |
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3.5 |
Análise de currículos em licenciaturas de Ciências Biológicas que investiguem os documentos balizadores quanto à inserção e à articulação da temática da sexualidade e surdez. |
Para agrupar pesquisas que tenham como objeto o currículo de curso de graduação, visando à inserção da temática da sexualidade e da surdez nas disciplinas voltadas ao ensino de ciências. |
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3.6 |
Não desenvolveu uma investigação voltada à formação docente. |
Para agrupar pesquisas com foco diferente da formação docente. |
Fonte: elaborado pelos autores (2022)
A partir da busca utilizando os descritores enunciados na metodologia, oito estudos foram selecionados. Os estudos foram escritos entre o período de janeiro de 2016 a janeiro de 2023. Do total de trabalhos, metade é artigos científicos e a outra metade teses e/ou dissertações. A quantidade identificada se concentrou nos extratos Qualis A2 (três) e B1 (um) do WebQualis (2013). Dentre as hipóteses, inferimos que esse resultado também seja fruto da delimitação adotada, que privilegiou os periódicos da área de ensino/educa e analisou uma quantidade específica de revistas científicas.
A seguir, no Quadro 5, é possível observar a relação dos autores/as, o título do trabalho, o ano de publicação, a revista responsável pela divulgação e o código utilizado na classificação dos artigos.
Quadro 5 – Artigos publicados entre os anos de 2016 e 2021
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Autor/a |
Título do Artigo |
Ano |
Código |
Revista |
Qualis |
|
Márcia B. C. Müller, Denise R. Q. da Silva, Maria A. M. Yunes |
Gênero e Sexualidade: Reflexões acerca do imaginário social docente na Educação de surdos. |
2016 |
R1 |
Criar Educação |
B1 |
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Victor H. de O. Henrique, Alex S. H. de J. Freitas, Edna L. Hardoim |
Sexualidade e Educação: Uma comparação entre alunos surdos e não surdos. |
2018 |
R2 |
Interfaces |
A2 |
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Rosane T. Fontana, Patricia F. Schwiderke, Maria A. B. Trindade |
As Infecções Sexualmente Transmissíveis na percepção de pessoas surdas. |
2018 |
R3 |
Práxis |
A2 |
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Jessica N. de Carvalho, Suzete A. O. Gomes, Ruth M. Mariani Braz |
Construindo um Blog Educativo sobre a Sexualidade para alunos com Deficiência Auditiva. |
2020 |
R4 |
Práxis |
A2 |
Fonte: elaborado pelos autores (2022).
Legenda: R: referencial
No Quadro 6 é possível visualizar as informações referentes às teses e dissertações encontradas no processo inicial de busca.
Quadro 6 – Teses e dissertações com a temática Sexualidade e Surdez
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Autor/ra |
Título |
Ano |
Instituição/ Programa |
Código |
Região |
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Marcia B. C. Muller
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Surdez, Gênero e Sexualidade: Qual o Imaginário Social em Uma Escola de Ensino Fundamental Bilíngue no Sul do Brasil. |
2017 |
Universidade La Salle Educação |
T1 |
Sul |
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Alfabetização Científica no Ensino Médio: A Análise de Uma Experiência Didática no Ensino de Biologia na Perspectiva da Surdez. |
2017 |
UFF Diversidade e Inclusão
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D1 |
Sudeste |
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A (Des)Construção da Identidade/Diferença Através da Normalidade: Surdez e Homossexualidade. |
2019 |
UFPR Educação |
D2 |
Sul |
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Luana C. Salla |
Um Estudo de Teses e Dissertações Sobre a Educação Sexual da Pessoa com Surdez. |
2020 |
UNESP Educação Sexual |
D3 |
Sudeste |
Fonte: elaborado pelos autores (2022).
Legenda: T: (Tese); D: (Dissertação).
Classificação dos Resultados da Unidade de Contexto 1 do Levantamento Bibliográfico
Na UR 1.1 “Abordam a sexualidade por meio das discussões das ISTs”, foram classificados dois registros. Um deles “investigou saberes de estudantes surdos sobre Infecções Sexualmente Transmissíveis” (R3), enquanto o outro desenvolveu um blog para “facilitar o processo de ensino-aprendizagem sobre as doenças sexualmente transmissíveis” para estudantes com deficiência auditiva (R4).
Na UR 1.2 “Abordam a sexualidade por meio de estudos a respeito da Homossexualidade”, foi encontrado um registro. Nesse trabalho houve uma “investigação sobre a conexão entre a surdez e a homossexualidade” (D2).
UR 1.3 “Abordam a sexualidade expondo a temática da violência e ou abuso sexual”, não houve registros.
Na UR 1.4 “Abordam a sexualidade por meio de representações e/ou imaginários sociais”, foram encontrados dois registros. No primeiro foram realizadas “reflexões acerca do imaginário social docente na educação de surdos” (R1), enquanto que o segundo tem como temática o “Imaginário Social na Educação de Surdos em relação à surdez, gênero e sexualidade” (T1).
UR 1.5 “Abordam a sexualidade por meio de métodos contraceptivos e/ou de emergência”, não houve registros.
Na URE 1.1 “Abordam a sexualidade por meio do seu conceito”, foram encontrados dois registros. Em (R2) foi investigado a “concepção de sexualidade de alunos surdos e não surdos, e saber como a expressam”, enquanto que em D1 se trata de um relato de prática que teve como intuito “favorecer a construção de conceitos ligados à reprodução, sexualidade [...]”.
Na URE 1.2 “Abordam a sexualidade relacionando-a à Libras”, foi encontrado um registro. D3 buscou-se “instigar a reflexão acerca do uso da Língua Brasileira de Sinais, LIBRAS, e quais orientações, no contexto da sexualidade, o surdo recebe”.
Classificação dos Resultados da Unidade de Contexto 2 do Levantamento Bibliográfico
Na UR 2.1 “Religiosa Católica e Religiosa Protestante (Tradicional)”, UR 2.2 “Religiosa Católica e Religiosa Protestante (Libertadora)”, UR 2.3 “Médica”, 2.4 “Pedagógica”, UR 2.5 “Emancipatória”, não foram encontrados registros.
Na UR 2.6 “Ausência ou não compreensão da abordagem”, foram alocados oitos registros. Nos trabalhos encontrados não foram utilizadas abordagens para tratar da sexualidade.
Na UR 3.1 “Noções docentes a respeito da sexualidade de estudantes surdos/as”, foram encontrados dois registros. Em R1 foram realizadas “reflexões sobre a surdez, na perspectiva de gênero e sexualidade, pensada na formação docente”. T1, por sua vez, investigou “o imaginário social, das/os docentes, em uma Escola Bilíngue, e suas concepções em relação à surdez e às pessoas surdas, à gênero e à sexualidade [...]”.
Na UR 3.2 “Noções docentes a respeito de Didática das Ciências”, UR 3.3 “Formação inicial de professores/as”, UR 3.4 “Formação em serviço de professores/as, UR 3.5 “Análise de currículos em licenciaturas de Ciências Biológicas que investiguem os documentos balizadores quanto à inserção e à articulação da temática da sexualidade e surdez”, não foram encontrados registros.
Na UR 3.6 “Não desenvolveu uma investigação voltada à formação docente”, foram encontrados seis registros.
Discussão
De acordo com Bardin (2016), após o processo de unitarização e descrição dos dados, ocorre a etapa de elaboração do texto que relaciona ou confronta os resultados obtidos com a fundamentação teórica. Desse modo, neste tópico será apresentada a discussão elaborada a partir de nossas referências teóricas.
Com base nos resultados obtidos no levantamento bibliográfico, observa-se algo já evidenciado na literatura, isto é, a necessidade de publicações que visem relacionar a temática da sexualidade à surdez (MÜLLER; QUARESMA, 2015; SILVA et al., 2018; SILVA, FRASSON-COSTA; ROCHA, 2019; GUIMARÃES; SILVA, 2020a, 2020b; SALLA, 2020; SILVA, 2022).
Como hipótese, acredita-se que essa baixa quantidade de trabalhos seja fruto, entre as possibilidades existentes, da invisibilidade das questões relacionadas à sexualidade, fato esse evidente nos documentos nacionais (SILVA, 2020), mais especificamente, da sexualidade das pessoas com algum tipo de deficiência, temática pouco abordada nos cursos de formação inicial (SOUSA et al., 2009). Logo, essa invisibilidade contribui para o baixo número de publicações.
Sendo assim, é possível inferir que a literatura acerca da sexualidade da pessoa surda ainda é escassa e foi confirmada com a presente pesquisa. Além disso, não podemos negar que houve crescimento, embora ainda não expressivo, nas publicações interligando as temáticas de interesse, uma vez que nesta investigação foi encontrada uma quantidade maior de trabalhos, em um menor período de pesquisa mais recente.
Aspectos de Ensino Evidenciados na Literatura
No trabalho de Henrique, Freitas e Hardoim (2018) (R2), os/as estudantes surdos/as apontaram as palestras e os filmes (com debate) como atividades que gostariam que fossem desenvolvidas na escola para abordar a sexualidade. De acordo com os/as autores/as, os filmes podem ser uma boa ferramenta para compreender questões atreladas às relações humanas e à sexualidade. No que se refere ao estudante surdo, os filmes são relevantes no sentido de serem uma ferramenta visual, fator significativo para a aprendizagem (GLAT, 2004).
Fontana, Schwiderke e Trindade (2018) (R3), também observaram a palestra como uma prática na qual os/as estudantes obtêm informações. Logo, o “formato” em que ela é realizada pode ser uma estratégia na hora de lecionar determinadas temáticas, dentre elas, a sexualidade. Entretando, reiteramos que atividades em pequeno grupo funcionam melhor que aulas expositivas puras (TULLIS e GOLDSTONE, 2020).
Em Carvalho; Gomes e Braz (2020) (R4) foi desenvolvido um blog educativo com o intuito de ajudar docentes de Ciências e Biologia em sua prática. Nesse blog são catalogados outros materiais relacionados à sexualidade, facilitando o trabalho docente. No que tange às pesquisas que desenvolvem um produto voltado à ES com foco na surdez, existem: Silva et al. (2018); Silva; Frasson-Costa e Rocha (2019) que contribuem disponibilizando materiais físicos e digitais (TICs).
Na pesquisa de Boaventura (2019) (D2) é possível identificar que existe a falta de vídeos em Libras que tratem, de forma objetiva e didática, da homofobia. Diante dessa situação, foi desenvolvido um vídeo a respeito do tema com a participação de uma jovem surda, indo ao encontro com o desenvolvimento científico desenvolvido de forma coletiva. Nesse ponto é preciso destacar o quão prejudicial é esse cenário de carência de materiais didáticos que busquem privilegiar os sentidos dos/as estudantes. É preciso que haja uma preocupação por parte do Estado brasileiro e das universidades em relação à acessibilidade de estudantes surdos/as, cegos/as, e com outras deficiências. Adicionalmente, o corpo docente brasileiro deve também se sensibilizar e agir a favor de acessibilidade e inclusão.
Salla (2020) (D3), por sua vez, destaca a importância da Libras no processo de ensino da sexualidade como um elemento vital para a aprendizagem do sujeito surdo. No contexto da Libras, tem-se que ela é necessária em qualquer tipo de ensino, seja ele da sexualidade, ou não. Nesse sentido, indagamos acerca da abordagem do bilinguismo, isto é, da Libras ser a L1 (língua primária), e a Língua Portuguesa (LP) ser a L2 (língua secundária), privilegiando a história e a cultura do/a estudante.
Cabe destacar que são plurais as pesquisas que versam a respeito da Libras como fator fundamental no processo de desenvolvimento e formação do indivíduo surdo (BOAVENTURA, 2019), uma vez que se trata de sua língua de conforto, sendo importante para estruturação e renovação de conceitos (COUTO, 2017).
Couto (2017) (D1) desenvolveu uma sequência didática voltada ao letramento científico de estudantes surdos/as EM. Como estratégias de ensino a pesquisadora utilizou interações dialógicas e de autoridade, rodas de conversa/debate, recorreu à História da Ciência (HC), resolução de problemas, de recursos tecnológicos, materiais didáticos e paradidáticos, trabalhos individuais e em grupo, relembrou e expandiu conhecimentos ofertados em anos anteriores, além de usar imagens em movimento, como filmes comerciais e educativos, e imagens fixas como slides, imagens impressas em livros, jornais e revistas.
Outro ponto relevante foi que a autora, antes de iniciar o debate do filme, solicitou que os/as estudantes contassem a respeito do mesmo, pois essa estratégia “pode auxiliar na construção e organização do pensamento” (COUTO, 2017, p. 27). Ainda nessa pesquisa foi feita uma problematização a respeito do uso de imagens como elementos para comunicação de conceitos científicos. (SOUZA, 2014). Todavia, devido às naturezas polissêmicas de imagens, elas podem transmitir significados diferentes (GOUVÊA; MARTINS, 2001). Nesse sentido é importante analisar como essas imagens estão sendo percebidas pelos/as estudantes e se estão favorecendo a assimilação de conceitos.
Além dos aspectos de ensino expostos acima, foi possível identificar em trabalhos que não entraram no processo de análise, devido ao delineamento temporal (mas contribuíram com o referencial teórico), o uso de estratégias de ensino como: mapas conceituais (MALLMANN, 2009); uso de tecnologias (RAMOS, 2013; ÁFIO, 2015; MAGALHÃES, 2016; LEITE, 2017); materiais didáticos (SANTOS, 2015) e modelos educativos (SOUZA, 2002) no ensino da sexualidade.
Segundo Rocha et al. (2015), toda estratégia que busque e estimule a ampliação tátil, visual e sensorial dos/as surdos/as usando recursos didáticos plurais poderá contribuir para e na aprendizagem desse público, principalmente no que tange o aprendizado das ciências da natureza. Dessa forma, para ocorrer uma aprendizagem significativa do/a estudante surdo/a, é preciso que os conteúdos façam sentido, despertando a curiosidade e o interesse (COSTA; KELMAN, 2013), auxiliando na promoção do letramento científico e oferecendo conceitos úteis na formação como cidadãos (LINHARES; TASCHETTO, 2009).
Para a alfabetização científica dos surdos, Santana e Sofiato (2018) relatam que abordagens e/ou práticas epistêmicas destinadas a esse público devem incluir a História da Ciência (HC), bem como os/as surdos/as que contribuíram para o desenvolvimento da Ciência. No tange à HC, estratégia identificada em Couto (2007) contribui com exemplos históricos de investigação, hipóteses, modelos e teorias, além de minimizar as fragmentações intelectuais que existem hoje em dia, e ser importante para o processo de relacionar diferentes temáticas (MATTHEWS, 1995). Além disso, sua relação estaria baseada em princípios, como estimular uma melhor compreensão dos métodos científicos e formar cidadãos mais críticos, reflexivos e humanizados.
De acordo com Azevedo; Giroto e Santana (2015) a produção científica voltada à surdez teve avanços significativos nos últimos dez anos, trazendo novas abordagens, tecnologias e profissionais envolvidos com a educação dos estudantes surdos. Todavia, a construção de conceitos científicos, entre eles os de Biologia, ainda é pouco expressiva (FLORENTINO et al., 2015). Na literatura é possível encontrar relatos que demonstram e reafirmam a dificuldade de consolidar conhecimentos referentes à área de Ciências e Biologia com os estudantes, uma vez que se trata de conhecimentos complexos e abstratos (COUTO, 2017).
Observamos, a partir dos trabalhos científicos, aspectos significativos voltados às abordagens para o ensino de sexualidade para o/a estudante surdo/a. Dessa forma, é preciso que o/a docente procure conhecer esses materiais, bem como aplicá-los ao seu contexto, devendo haver adaptações conforme as necessidades dos/as seus/suas aprendizes.
A temática Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) (UR 1.1) obteve dois registros, situando-se entre as três temáticas mais evidenciadas nesta pesquisa. A partir desse resultado, confirma-se a hipótese inicial de que essa unidade apresentaria registros, uma vez que a literatura aponta que o conhecimento dos/as estudantes surdos/as a respeito das ISTs é falho e/ou equivocado, evidenciando a necessidade de intervenções que abordem esse tema.
Na pesquisa de Bento (2005), os estudantes demonstraram não conhecer as possíveis infecções que se transmite por meio das relações sexuais. Já em Fernandes (2008), os/as estudantes acreditavam que patologias transmitidas por picada de insetos também eram de transmissão sexual, ou que espirros, tosse e beijos também eram formas de se adquirir ISTs. Fontana; Trindade e Schwiderke (2018), anos depois, também evidenciaram haver um conhecimento limitado no que tange às ISTs.
Como explicação para esse desconhecimento, podemos citar Carvalho; Gomes e Braz (2020) quando dizem que os/as surdos/as, e nesse sentido englobam-se pessoas com outras deficiências, enfrentam dificuldades no acesso à saúde. Soma-se a isso a falta de informação, ou a presença de informações transmitidas de forma incorreta e pouco significativa, que o contribui para o acometimento de enfermidades, entre elas as ISTs (SILVA et al., 2018).
Em Fonte et al. (2018) foi identificado que jovens sem deficiência também apresentam um conhecimento abaixo do esperado. Já em Pereira et al. (2020), observou-se que, de 258 jovens, 78 ou (30%) apresentavam ISTs. Ou seja, é preciso destacar que, em certa medida, esse conhecimento falho também se estende para os/às jovens sem deficiência, visto que atualmente há um alto índice de adolescentes contaminando-se com o vírus do HIV, a bactéria que causa a sífilis e outras ISTs.
A temática destinada às discussões acerca da homossexualidade (UR 1.2) obteve um registro. Segundo Abreu, Silva e Zuchiwschi (2015), existe uma carência de pesquisas que problematizem os assuntos relativos às orientações afetivo-sexuais do sujeito surdo. Nesse sentido, Boaventura (2019, p. 34) ressalta ser importante desenvolver reflexões a respeito da “existência e resistência do surdo gay no contexto de uma maioria ouvinte que produz e reproduz padrões de uma cultura heteronormativa e hegemônica”.
A UR 1.3, voltada à abordagem da sexualidade, expôs a temática da violência e/ou abuso sexual, mas também não reuniu nenhum registro que, em suma, vai na contramão dos dados que apontam uma maior propensão de pessoas com deficiência sofrerem algum tipo de violência ou exploração sexual (GLAT, 2004; GIL; MERESNAM, 2005; BRASIL, 2006; ANDERSON; PEZZAROSSI, 2012). Inferimos que esse resultado possa decorrer da delimitação metodológica desta pesquisa. Todavia é preciso destacar a necessidade de investigações que visem não apenas debater e problematizar esse assunto, mas desenvolver mecanismos e processos de proteção por, meio de políticas públicas baseadas nas especificidades do sujeito surdo (MÜLLER, 2017).
As representações e/ou imaginários sociais (UR 1.4) obtiveram dois exemplares. Além dos registros obtidos desta presente pesquisa, é possível visualizar o interesse de década a década em compreender o imaginário ou a representação de estudantes surdos nos trabalhos de Lebedeff (1993), Fernandes (2008), Guimarães (2019), Guimarães e Silva (2020).
De acordo com Müller e Quaresma (2015), o imaginário social refere-se às significações produzidas em uma sociedade e constitui uma dimensão simbólica. Por meio dessa dimensão as pessoas expressam suas crenças, mitos e concepções. “[...] Tudo o que se apresenta, no mundo social-histórico, está indissociavelmente entrelaçado com o simbólico. Não que se esgota nele”. (CASTORIADIS, 1982, p. 142). Desse modo, o imaginário social contribui no sentido de compreender os significados que cada um tem a respeito das coisas, de entender a maneira de agir, pensar, aprender, além de servir como base para realização de práxis, além de permitir olhar a educação como um todo (MÜLLER; QUARESMA, 2015). A representação social, por sua vez, é uma forma de apreensão da realidade, que ocorre por meio da ação e da comunicação no contexto social, constituindo uma construção que o indivíduo utiliza para compreender o mundo (MOSCOVICI, 2011).
Assim, é significativo que haja pesquisas voltadas a compreender não apenas o imaginário e as representações dos/as estudantes surdos/as, mas dos/as docentes que lecionam para esse público. É por meio dessa ação que se identifica possíveis equívocos, podendo reorganizar e/ou aprimorar o conhecimento desses indivíduos. Em Müller (2017), por exemplo, é investigado o imaginário de discentes e docentes acerca da surdez, gênero e sexualidade no contexto de uma escola bilíngue. No geral, o trabalho observou que os objetos de pesquisa se demonstraram favoráveis para questões de gênero e sexualidade, entretanto existem indícios de silenciamento no que tange essas temáticas na escola.
Já no estudo de Guimarães e Silva (2020), as representações de jovens surdos/as acerca da sexualidade estão ancoradas no cuidado com a saúde, nas relações com a família e com os pares, e na troca íntima de afeto.
A UR 1.5, relativa aos métodos contraceptivos e/ou de emergência, também não apresentou registros. No estudo de Henrique; Freitas e Hardoim (2018) foi observado uma forte consciência quanto ao uso de métodos contraceptivos, o que, talvez, explique o fato de não haver publicações com essa temática, uma vez que se trata de assunto já compreendido entre alguns estudantes surdos.
Entretanto, Ribeiro (2011) e Guimarães e Silva (2020) observaram que estudantes não dispunham de informações detalhadas acerca dos métodos contraceptivos, sendo essa lacuna atribuída à barreira linguística presente em seus contextos sociais. Logo, observa-se uma certa contraposição na literatura. Acreditamos que a discordância entre os dados é explicada em função do contexto na qual os/as estudantes estão envolvidos, que em suma, pode variar de um lugar para outro, fazendo com que a aprendizagem seja diferente.
Em Guimarães e Silva (2020), os motivos elencados pelos/as surdos/as para não utilizar o preservativo — principal método contraceptivo citado — foram a confiança no/a parceiro/a, relações de curta duração ou recusa do próprio indivíduo/parceiro/a.
De acordo com Beraldo (2003), a promoção e o debate da sexualidade na escola transformam a instituição em um espaço de prevenção integral, no qual o/a estudante pode adotar comportamentos preventivos. Desse modo, é importante que esse assunto, no ambiente escolar e fora dele, seja tratado de forma espontânea e com satisfação, podendo assim alcançar resultados qualitativamente positivos (FIGUEIRÓ, 2001), uma vez que a sexualidade faz parte de nossas vidas, e nesse sentido é fundamental conhecer os mecanismos de proteção e/ou de emergência.
A URE (1.1) apresentou um número considerável de registros, abordando a sexualidade por meio do seu conceito e concepção. Em R2, foi investigado a concepção de estudantes ouvintes e surdos a respeito da sexualidade. No que diz respeito aos estudantes surdos, a concepção de sexualidade, da maioria, está ligada ao ato sexual propriamente dito, deixando de lado os aspectos emocionais, afetivos, sociais e históricos. D1, por sua vez, buscou favorecer a construção dos conceitos atrelados à reprodução e sexualidade.
Dessa forma, confirma-se o que Müller e Quaresma (2015) reiteram ao apontar que a sexualidade trabalhada com estudantes surdos/as costuma limitar-se a uma perspectiva biológica, sendo, quando muito, abordada sob o viés preventivo (MÜLLER, 2017).
Conforme evidenciado na fundamentação teórica, o conceito de sexualidade tem se ampliado ao longo das décadas, incorporando aspectos relevantes para sua compreensão. Desse modo, é de suma importância que as pesquisas científicas busquem investigar se o conceito/concepção dos/as estudantes tem acompanhado essa trajetória histórica, e se os novos aspectos relativos ao conceito têm sido incorporados aos seus entendimentos.
Também foi possível observar a temática sexualidade sendo relacionada à Libras (URE 1.2). Em Machado (2006), nota-se que o sujeito surdo reconhece as diferenças entre sua língua e a dos colegas ouvintes. Diante desse contexto, torna-se importante destacar a relevância da Libras na formação do/a aluno/a surdo/a, debate esse já esclarecido na literatura.
Outro ponto importante é o uso da Libras no âmbito familiar, visto que, quando introduzida desde cedo, possibilita um ambiente linguístico mais efetivo e afetivo para a criança ou o jovem (QUADROS, 2012; GÓES, 2000). Logo. é preciso que os pais, desde cedo, busquem interagir com seus/suas filhos/as por meio da Libras, assim o processo educacional assume uma dimensão diferente, afetiva e mais significativa.
Segundo Lacerda; Gàrcia e Jarque (2020), Libras “[...] é a língua, como sistema de signos, que cria condições para a interação entre indivíduos e o partilhar de uma mesma cultura”. Quando o sujeito surdo possui pais surdos, ocorre que o desenvolvimento e aquisição da língua e da cultura surda é mais amplo. Todavia, de acordo com Lacerda e Lodi (2009), a maioria dos/as jovens surdos/as são de família cujos pais são ouvintes e utilizam o português oral e escrito. Assim, esses jovens acabam por ficarem inseridos/as em um ambiente cuja linguagem é adquirida de forma fragmentada.
Esses resultados evidenciam as lacunas e potencialidades epistemológicas, linguísticas e educacionais no que se refere às temáticas que relacionam a sexualidade e surdez.
Na unidade voltada às abordagens de ES (religiosa, médica, pedagógica e emancipatória), nenhum trabalho fez uso desse componente metodológico e/ou mencionou no corpo do texto. Conforme aponta Furlani (2016), é preciso se dedicar às abordagens de ES, uma vez que elas possuem uma implicação não só educativa, mas políticas para o trabalho docente. Segundo a autora,
[...] cada uma delas pressupõe uma concepção de educação, em entendimento de sexualidade e de vida sexual humana, um entendimento de valores morais e éticos da vida em sociedade, um entendimento de direitos e de sujeitos merecedores desses direitos e, sobretudo, cada uma dessas abordagens define a prática docente e o perfil da/o professora/or que pensará, planejará e desenvolverá essa Educação Sexual (FURLANI, 2016, p. 15).
Dessa forma, as diferentes abordagens de ensino podem proporcionar ao docente uma ferramenta didática para sua prática. Tendo em vista os valores assumidos pelo/a professor/a, pode ser que a escolha de certa abordagem não seja condizente com as evidências científicas, que, por sua vez, demonstram que a abordagem emancipatória é a mais significativa.
Ao comentar a respeito do trabalho de ES, Nunes (2006) salienta que essa ação deve ocorrer por meio de práticas emancipadoras cujo preparo deve ocorrer a partir de leituras pedagógicas e teórico-científicas. A ação emancipatória torna-se efetiva quando articula a teoria, a reflexão analítica, com a ação consistente, metódica, politicamente determinada, com intencionalidade propositiva. Chamamos emancipatória a perspectiva que visa “produzir autonomia crítica, cultural e simbólica, esclarecimento científico, libertação de toda forma de alienação e erro, de toda submissão, engodo, falácia ou pensamento colonizado, incapaz de esclarecer os processos materiais, culturais e políticos” (NUNES, 2003, p. 35).
É importante destacar que abordagens que articulam e integram a História e a Filosofia da Ciência (HFC) são destacáveis, uma vez que trazem elementos (teóricos e metodológicos) importantes. Em Batista (2009), é possível observar alguns exemplos dessas abordagens, bem como seus resultados. Dessa forma, utilizar-se de aspectos da HFC para abordar a sexualidade se apresenta como uma possibilidade de não só enriquecer o ensino, mas contextualizar essa temática, considerando que a sexualidade deve ser compreendida no âmbito da história da humanidade (LOURO, 2000).
Formação Docente para Sexualidade e Surdez (UC 3)
Conforme comenta Müller (2017), não é difícil encontrar falas docentes que expressam a dificuldade de lecionar certas temáticas, entre elas a da sexualidade. E tendo em vista que a temática da sexualidade está presente, principalmente, no contexto do/a professor/a que leciona Ciências e ou Biologia, que podem atuar com estudantes surdos/as, torna-se relevante trazer esse tópico à discussão.
Dentre os trabalhos encontrados no levantamento bibliográfico, dois (R1 e T1) tiveram como foco a formação docente. Em ambos, foram investigados os imaginários docentes a respeito da sexualidade e da surdez (UR 3.1). Em T1, tanto os/as discentes, quanto os/as docentes, discordam que o/a surdo/a não demonstra interesse pela sexualidade. Isso possibilita problematizar visões equivocadas, e de senso comum, que acreditam que pessoas com deficiência não tenham libido ou sejam “assexuadas” (MAIA, 2006, 2010; RIBEIRO, 2011).
Apesar do resultado mostrar poucas iniciativas voltadas à formação docente, tem-se que existe uma quantidade baixa de investigações que visem estudar o imaginário social docente acerca da sexualidade do estudante surdo (MÜLLER; QUARESMA, 2015). Logo, o resultado encontrado nesta investigação complementa o que os/as autores/as citados anteriormente consideram, e confirmam a hipótese de que ainda são insuficientes as intervenções voltadas à formação inicial e em serviço de docentes.
Em outras pesquisas (R3; R4 e D1), ainda que o foco não tenha sido a formação docente, é possível encontrar iniciativas voltadas a subsidiar o trabalho docente. Nelas, foram desenvolvidos produtos educacionais passíveis de inserção na prática pedagógica, o que revela uma preocupação com a temática da formação docente nos estudos acerca da sexualidade e surdez.
Todavia, destaca-se que existe uma carência de investigações que busquem desenvolver intervenções didáticas voltadas à formação inicial e/ou em serviço no que tange a temática de gênero (SOUZA, 2017; SACHS, 2019; FONTANA, 2021). Essas abordagens, quando significativas, possibilitam desenvolver um ambiente de ensino e aprendizagem mais ricos, reflexivos e efetivos quando comparado com o ensino mecânico e tecnicista.
Como exemplo de abordagem voltada à formação docente, com foco na surdez, cita-se Suelen Felicetti (2021) que desenvolveu uma sequência didática articulando conhecimentos acerca do DNA, interdisciplinaridade e educação inclusiva de estudantes surdos/as. Essa pesquisa teve como objetivo oferecer aos docentes de Biologia, saberes acerca de como lecionar de forma significativa e interdisciplinar o conteúdo biológico em uma perspectiva inclusiva. Levando em conta que a sexualidade é um conhecimento social (HEILBORN, 2006), é preciso que ela seja abordada de forma interdisciplinar, assim como foi feito pela autora, estimulando a autonomia e o desenvolvimento de compreensão da sexualidade das e pelas pessoas com surdez (RIBEIRO, 2011).
Em relação à unidade de contexto voltada à formação, observa-se que saberes docentes a respeito de Didática das Ciências e de análise de currículos em licenciaturas de Ciências Biológicas que, envolvem os documentos orientadores acerca inserção e articulação da temática da sexualidade e surdez, se apresentam como possíveis frentes de investigação para contribuir com a área da formação docente.
No trabalho de Silva et al. (2020), por exemplo, observa-se que docentes de Ciências e Biologia afirmam não se sentir preparados ou habilitados para lecionar a jovens com deficiência. Além desse estudo, lacunas na formação docente também são evidenciadas nas pesquisas de Glat e Pletsch (2011) e Mantoan (2006). Cabe, então, a formação inicial promover e oferecer conhecimentos profissionais necessários à prática docente, ou seja, àqueles que constituem as bases para o exercício da profissão (GARCÍA, 1999).
Esse processo formativo é fundamental para que o/a docente tenha clareza a respeito dos caminhos significativos de acolhimento e mediação, tornando o processo de recepção de estudantes surdos/as — sejam em escolas inclusivas ou bilíngues — mais acolhedor, reflexivo e comprometido com a construção de conhecimentos científicos e sociais, disciplinares e interdisciplinares, dentre os quais estão os referentes à sexualidade (SANTOS, 2018).
Considerações finais
A partir dos dados obtidos empiricamente no processo de análise, é possível inferir que os objetivos foram alcançados, uma vez que foi possível responder às indagações iniciais, bem como confirmar e refutar hipóteses formuladas.
Com base na literatura que articula as temáticas da sexualidade e da surdez, já se esperava encontrar uma quantidade reduzida de pesquisas com esse enfoque. Além de ser pouco trabalhada, quando ocorre, nota-se que o tratamento dessas temáticas tende a ser superficial e preventivo, enfatizando apenas os aspectos biológicos. Levando em consideração o exposto, bem como outros questionamentos que surgiram no planejamento dessa investigação, se optou por realizar uma revisão no âmbito nacional brasileiro.
Destaca-se que, antes desta investigação, não era possível observar com detalhamento que elementos de ensino voltados às particularidades dos/as estudantes surdos/as estavam sendo discutidos nos estudos científicos, quais os desdobramentos que eram problematizados, bem como as perspectivas envolvidas.
No processo de levantamento, observou-se que apesar desta presente investigação encontrar uma quantidade maior de trabalhos, quando comparado com outras investigações da natureza, ainda são baixos o número de pesquisas que interligam as temáticas da sexualidade e da surdez. Dentre as contribuições, destaca-se que essa investigação permitiu realizar um diagnóstico das publicações recentes, atualizando os dados a respeito do tema já aqui descrito. Com isso, espera-se que este trabalho possa orientar atuais e futuras práticas educativas destinadas a esse público, não apenas em escolas bilíngues, mas nas inclusivas, que também são responsáveis por acolher esses/as estudantes.
Um próximo desdobramento deste estudo será a elaboração, a partir dos elementos aqui obtidos, de propostas metodológicas voltadas a estudantes surdos do EF, ou para formação inicial e em serviço de docentes de diferentes áreas, mas principalmente para os/as de Ciências e Biologia, haja vista que são os/as que normalmente costumam lecionar essa temática.
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[1]O Art. 2 do decreto 5.626 define pessoa surda como aquela que, por ter perda auditiva, compreende e interage com o mundo por meio de experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da Libras.
[2]Foi selecionado dar destaque ao ensino fundamental pois é nesse seguimento que se iniciam, de maneira aprofundada, as questões relativas à sexualidade e que são fundamentais para o progresso dos estudantes no ensino médio.