Características socioemocionais de crianças com altas habilidades/superdotação: um estudo exploratório

Socio-emotional characteristics of children with giftedness: an exploratory study

 

Características socioemocionales de niños con superdotación: un estudio exploratorio

 

Júlia Reis Negreiros

Pontifícia Universidade Católica de Campinas PUC, Campinas, SP, Brasil.

junegreiros1@gmail.com

 

Solange Muglia Wechsler

Pontifícia Universidade Católica de Campinas PUC, Campinas, SP, Brasil.

wechsler@lexxa.com.br

 

Tatiana de Cássia Nakano

Pontifícia Universidade Católica de Campinas PUC, Campinas, SP, Brasil.

tatiananakano@hotmail.com

 

Angela Mágda Rodrigues Virgolim

Universidade de Brasília, DF Brasil.

angela.virgolim@gmail.com

 

Recebido em 06 de novembro de 2023

Aprovado em 24 de março de 2025

         Publicado em 08 de abril de 2025

 

 

 

 

RESUMO

As altas habilidades/superdotação se marcam pela presença de um potencial elevado em qualquer área do desenvolvimento humano, comparado com pares da mesma idade. Dentre outros aspectos, as características socioemocionais dessas crianças têm sido foco de interesse de pesquisadores, não havendo, até o momento, consenso sobre a questão. Ora tais características são consideradas fatores de proteção, ora fonte de vulnerabilidade. Assim, o presente estudo buscou avaliar características socioemocionais em 37 participantes, com idades entre 9 e 12 anos, de ambos os sexos, divididos em dois grupos:  participantes identificados com AH/SD (n = 15) e sem identificação (n = 22). A amostra respondeu ao Inventário de Habilidades Sociais, Problemas de Comportamento, e Competências Acadêmicas para crianças (SSRS) e a Bateria Online de Inteligência Emocional (BOLIE). A comparação do desempenho dos grupos, por meio do teste Mann-Whitney indicou a existência de diferenças significativas entre os grupos (p ≤ 0,05), em todas as medidas e fatores avaliados, com exceção de um fator do SSRS e um fator da BOLIE, evidenciando um melhor desempenho das crianças superdotadas nos construtos avaliados. Tal resultado reforça a necessidade de atenção aos aspectos socioemocionais dessa população específica, dadas as diferenças encontradas em relação às crianças sem esse quadro.

Palavras-chave: Criança Superdotada; Habilidades Sociais; Inteligência Emocional; Psicologia; Educação Especial.

 

 

ABSTRACT

Giftedness (AH/SD) is marked by high potential in any area of human development, compared to peers of the same age. In addition to other aspects, researchers have been focused on the socio-emotional characteristics of these children, with no consensus to date on this issue. In some cases, these characteristics can be considered protective factors, while in other cases, they may be considered a source of vulnerability. This study assessed socio-emotional characteristics of 37 participants, ages 9 to 12 of both genders, divided into two groups: those who identified as having AH/SD (n = 15) and those who did not identify as having AH/SD (n = 22). The sample completed the Social Skills, Behavior Problems, and Academic Skills Inventory for Children (SSRS) and the Online Emotional Intelligence Battery (BOLIE). Based on the Mann-Whitney test of comparison, significant differences were observed between the groups in all measures and factors evaluated, except for one factor from the SSRS and one factor from the BOLIE, indicating that gifted children performed better on the assessed constructs. Considering the findings, it is important to pay attention to the socio-emotional aspects of this specific population, given the differences found in comparison to children who do not have this condition.

Keywords: Gifted Child; Social skills; Emotional intelligence; Psychology; Special Education.

 

RESUMEN

Las altas capacidades/superdotación (AH/SD) están marcadas por la presencia de un alto potencial en cualquier área del desarrollo humano, en comparación con pares de la misma edad. Entre otros aspectos, las características socioemocionales de estos niños han sido foco de interés de los investigadores, sin que hasta el momento haya consenso sobre el tema. A veces tales características se consideran factores de protección, a veces una fuente de vulnerabilidad. Así, el presente estudio buscó evaluar características socioemocionales en 37 participantes, con edades entre 9 y 12 años, de ambos sexos, divididos en dos grupos: participantes identificados con AH/SD (n = 15) y aquellos sin identificación (n = 22). La muestra respondió al Inventario de Habilidades Sociales, Problemas de Conducta y Habilidades Académicas para Niños (SSRS) y la Batería de Inteligencia Emocional en Línea (BOLIE). La comparación del desempeño de los grupos, mediante la prueba de Mann-Whitney, indicó la existencia de diferencias significativas entre los grupos (p ≤ 0.05), en todas las medidas y factores evaluados, con excepción de un factor de la SSRS y un factor del BOLIE, mostrando un mejor desempeño de los niños superdotados en los constructos evaluados. Este resultado refuerza la necesidad de atención a los aspectos socioemocionales de esta población específica, dadas las diferencias encontradas con relación a los niños sin esta condición.

Palabras clave: niño superdotado; Habilidades sociales; Inteligencia emocional; Psicología; Educación especial.

 

 

Introdução

Durante muitas décadas, consideravam-se indivíduos com altas habilidades/superdotação somente aqueles que apresentavam altos níveis de quociente de inteligência (QI), porém, tal concepção se mostrou inadequada, sendo ampliada (PAPADOPOULOS, 2020). As compreensões mais atuais visualizam esse fenômeno de maneira mais complexa e abrangente (STERNBERG; KAUFMAN, 2018), de modo a incluir fatores cognitivos e não cognitivos, além de atenção particular ao contexto social, dentro de uma perspectiva dinâmica (ALABBASI et al., 2023). Segundo os autores, as teorias mais modernas de superdotação vão além das habilidades cognitivas como principal diferença entre os superdotados e não superdotados, incluindo fatores não cognitivos, tais como motivação, criatividade, autonomia, persistência, autoeficácia e inteligência emocional. 

No Brasil, o Ministério da Educação (MEC) define os indivíduos com Altas Habilidades/Superdotação como aqueles que apresentam potencial superior, isolado ou associado, nas áreas intelectual, acadêmica, criativa, de liderança e psicomotricidade, apresentando também um alto nível de envolvimento e motivação para aprendizagem na sua área de interesse (BRASIL, 2010). Políticas públicas brasileiras incluem os superdotados como parte do público-alvo da educação especial, garantindo, assim, o direito à educação e atendimento especializado (BRASIL, 2006).

Dentre os principais aspectos relacionados ao desenvolvimento dos indivíduos com AH/SD, os de origem cognitiva e socioemocional têm recebido destaque (JONES et al., 2016; OLSZEWSKI-KUBILIUS et al., 2015). De modo geral, as características cognitivas são aquelas associadas à inteligência, resolução de problemas, memória de trabalho, velocidade de processamento, aprendizado rápido, capacidade viso espacial e resultados acadêmicos elevados, usualmente identificadas por meio de testes de desempenho (PAPADOPOULOS, 2020). Já as características socioemocionais encontram-se associadas a aspecto como compreensão, sensibilidade, avançado julgamento moral, liderança, percepção, expressão e regulação emocional, autoconhecimento, sentimentos positivos a respeito de si e do outro, maturidade em suas relações, empatia, senso de humor e maior habilidade em relações interpessoais (GAGNÉ, 2017; ZAIA; NAKANO, 2020).

Especialmente quando se enfoca os aspectos socioemocionais dos superdotados, a literatura tem apresentado compreensões não consensuais. Em geral, se faz notar uma tendência dos superdotados a demonstrarem respostas intensas aos eventos, sendo tal característica, chamada de sobre-excitabilidade (ALBRIGHT; MONTGOMERY, 2023). A intensidade com que tal condição acontece pode ajudar a compreender as diferenças relatadas entre os superdotados na questão emocional. O que se vê, na prática, é que a investigação da área emocional dos superdotados apresenta resultados contraditórios (GOMÉZ; RUIZ; PRIETO, 2014).

Alguns estudos demonstram que as crianças e jovens com AH/SD possuem uma maior predisposição para apresentar dificuldades emocionais e problemas sociais, de modo que a superdotação atuaria como uma fonte de vulnerabilidade (CHAGAS-FERREIRA; SOUSA, 2018; GROTH; PALUDO, 2009). Essa visão acredita que a superdotação vem acompanhada de dificuldades em outros domínios, especialmente relacionados a competências socioemocionais e bem-estar (GILLIOZ; NICOLET-DIT-FÉLIX; FIORI, 2023). Nesta vertente, investigações empíricas têm relatado associação entre superdotação e problemas internalizantes (TASCA et al., 2022). Juntamente com a sua sensibilidade emocional, a superdotação poderia levar ao desenvolvimento de desajustamentos psicossociais, tais como isolamento, estresse, ansiedade, transtornos de humor, baixa autoestima e perfeccionismo exagerado (OLIVEIRA et al., 2021; VIRGOLIM, 2021), os quais, inclusive, podem ser resultantes do seu desenvolvimento assíncrono (PAPADOPOULOS, 2020). De acordo com essa visão, as crianças com AH/SD poderiam apresentar necessidades afetivas mais intensas do que os seus pares.

Por outro lado, pesquisadores ressaltam que o potencial elevado pode se caracterizar como um fator de proteção, atuando de modo a facilitar o ajustamento desses indivíduos. Nessa visão, os superdotados seriam socialmente e emocionalmente iguais ou melhores do que seus pares não superdotados, sendo que sua alta habilidade ajudaria a um melhor ajustamento e adaptação a novas circunstâncias (GILLIOZ et al., 2023). Assim, os superdotados podem apresentar um alto nível de empatia e senso de justiça, autocontrole, assertividade, uma maior sensibilidade, preocupação com os sentimentos dos demais, senso de humor e uma grande capacidade de liderança (FRANÇA-FREITAS et al., 2014; VIRGOLIM; PEREIRA, 2020).

Uma terceira vertente defende uma ideia de que os superdotados seriam imunes a problemas emocionais, de modo que tais aspectos não precisariam de atenção (ZAIA; NAKANO, 2020). É importante esclarecer que essa visão não reflete a situação atual vivenciada pelos superdotados (RAZAK et al., 2021), apesar de ser uma abordagem ainda pouco explorada na temática. Segundo os autores, tal conhecimento pode ajudar na compreensão das questões socioemocionais vivenciadas pelos superdotados, identificando níveis ou aspectos dominantes e, consequentemente, servindo de guia para a elaboração de estratégias para ajudar esse público-alvo no seu desenvolvimento.

De modo geral, quando diferenças entre superdotados e não superdotados são encontradas em estudos empíricos, a vantagem é, na maior parte dos casos, a favor do grupo superdotado (GILLIOZ et al., 2023). Dessa forma, vemos que os superdotados podem enfrentar as mesmas dificuldades que seus pares com desenvolvimento típico, incluindo bullying, problemas de relacionamento, dificuldades em controlar impulsos, desordens de humor, conflitos familiares e problemas no manejo da ansiedade (RENATI et al., 2023), de modo a argumentar que as dificuldades seriam próprias da fase de vida e não decorrentes da superdotação. Ou seja, superdotados são tão suscetíveis quanto a população geral no que se refere às emoções e possíveis problemas derivados, sendo importante esclarecer que a literatura científica ainda carece na investigação da prevalência e incidência de problemas sociais e emocionais na população superdotada (FREITAS; VESTENA; NEUMANN, 2017).

Deste modo, apesar da perspectiva multidimensional que vem sendo aplicada à área da superdotação, e da tendência mais atual de uma atenção aos aspectos socioemocionais, é notório que a literatura enfatiza a identificação e estudos de crianças com AH/SD com enfoque cognitivo e criativo, demonstrando pouco interesse sobre o desenvolvimento das características socioemocionais, o que resulta em uma lacuna de estudos nesta área (FRANÇA-FREITAS et al., 2014; NEUMANN, 2020). Na prática, a relevância desse tipo de interesse se ampara na constatação de que questões socioemocionais podem interferir, de forma importante, na saúde mental e desenvolvimento do aluno superdotado (RAZAK et al., 2021).

Considerando-se que, o contexto brasileiro ainda é muito limitado em relação à oferta de atendimento às necessidades emocionais e sociais de crianças superdotadas (PISKE; STOLTZ, 2020), e, além disso, que há uma falta de consenso entre os estudiosos sobre a temática, a importância da presente pesquisa foi justificada. Assim, o objetivo principal da presente pesquisa foi a avaliação das competências socioemocionais de crianças com AH/SD, comparando-as com crianças sem esse quadro.

 

Método

Participantes

A amostra foi composta por 37 crianças, sendo 20 do sexo feminino (54%), e 17 do sexo masculino (46%), selecionadas por conveniência. Todas tinham idades entre 9 e 12 anos (M = 10,46; DP = 1,14) e eram estudantes do 3° (5,5%), 4° (24,3%), 5° (21,6%), 6° (27%) ou 7° (21,6%) ano do Ensino Fundamental I e II. As crianças foram divididas entre dois grupos.

O primeiro grupo foi composto por 22 crianças não identificadas com AH/SD, sendo 13 meninas (59%), e 9 meninos (41%), prevenientes de uma escola pública de ensino regular, do interior do estado de São Paulo. Já o segundo grupo, foi composto por 15 crianças identificadas com AH/SD, nas áreas acadêmica (46,7%) e criativa (53,3%), sendo 7 meninas (46%) e 8 meninos (54%), que frequentavam um instituto de atendimento especializado para superdotados, há pelo menos 6 meses, localizado em Brasília-DF.

Foram adotados alguns critérios para a inclusão das crianças na amostra, e, assim, todas deveriam ter idade entre 9-12 anos, estar matriculadas em escolas de ensino regular, apresentar os Termos de Consentimento Livre e Esclarecido assinado pelos responsáveis, e assinar o Termo de Assentimento. Além disso, todas as crianças identificadas com AH/SD, deveriam ser identificadas independente da área em que o potencial elevado se manifesta e estar em atendimento especializado há, pelo menos, 6 meses. Em relação ao outro grupo, os participantes não poderiam ter sido indicados para avaliação das AH/SD em nenhum momento e deveriam frequentar escola regular, em série compatível com a idade.

 

Instrumentos

Inventário de Habilidades Sociais, Problemas de Comportamento e Competência Acadêmica para Crianças – SSRS (DEL PRETTE et al., 2019)

Este inventário é utilizado para avaliar as habilidades sociais, os problemas de comportamento e a competência acadêmica em crianças do ensino fundamental, com idades entre 6 e 13 anos. O inventário é apresentado por meio de três formulários, sendo um destinado à criança, um aos professores e outro aos pais. Na presente pesquisa foi utilizado apenas o formulário destinado a criança, o qual é composto por uma escala que avalia as habilidades sociais. Esta escala é de autoavaliação, e contêm 20 itens. Os itens são respondidos pela criança através da frequência em que o comportamento indicado ocorre, existindo três opções de respostas que variam de 0 a 2 (0=nunca; 1=algumas vezes; 2=muito frequente). No final, além de um escore geral de Habilidades Sociais, os itens são distribuídos e analisados em relação a quatro fatores, sendo eles:

         Empatia/Afetividade (cinco itens): Avalia comportamentos que demonstram interesse, respeito e preocupação em relação às demais pessoas, e que expressam sentimentos positivos;

         Responsabilidade (cinco itens): Avalia comportamentos que demonstram compromisso com as tarefas e regras preestabelecidas no ambiente escolar;

         Autocontrole/Civilidade (seis itens): Avalia comportamentos relacionados com o domínio sobre as próprias emoções em situações de conflito, e atenção às normas de convívio social;

         Assertividade (quatro itens): Avalia comportamentos que envolvem algum risco de reação indesejável dos outros.

Em seu manual, diferentes estudos voltados à investigação de suas qualidades psicométricas são apresentados, incluindo a investigação da sua estrutura interna, evidências de validade de critério, precisão por meio da consistência interna e estabilidade temporal (DEL PRETTE et al., 2019).

 

 

 

Bateria Online de Inteligência Emocional – BOLIE (MIGUEL, 2021)

A BOLIE é uma bateria de testes online que tem como objetivo avaliar os aspectos cognitivos e de personalidade relacionados à inteligência emocional, em sujeitos com idade entre 9 e 88 anos. A aplicação pode ser no formato individual ou coletivo, e ser de forma síncrona ou assíncrona. A correção do teste também é online. Além disso, ressalta-se que há normatização para aplicação tanto em computadores, quanto em dispositivos móveis (celulares e tablets). A bateria é composta por quatro subtestes, os quais podem ser aplicados individualmente ou em sua totalidade, sendo eles:

       Teste de Organização de Histórias Emocionais (TOHE): composto por 11 itens, apresentados no formato de desenhos embaralhados, devendo o avaliando montar histórias com esses desenhos, seguindo uma ordem cronológica. Avalia a organização emocional (TOHE-O - capacidade de reconhecer e compreender as emoções), e a sociabilidade (TOHE-S).

       Teste de Velocidade Emocional (VE): composto por 66 itens, cada item é composto por uma palavra, e dois botões (um vermelho e um verde). O sujeito precisa ler a palavra e avaliar se ela é positiva (clicar no botão verde), ou negativa (clicar no botão vermelho). Avalia a velocidade emocional (VE-V - velocidade com que o sujeito atribui valor às palavras), e a positividade (VE-P).

       Questionário Online de Regulação Emocional (QoRE): composto por 15 itens, apresentados no formato de frases, a serem respondidas dentro de uma escala Likert de cinco pontos. Avalia o controle da impulsividade e irritabilidade (QoRE-1), o controle da sobrecarga emocional (QoRE-2) e a resiliência (QoRE-3), além disso, um escore total de regulação emocional (QoRE-T); 

       Questionário Online de Empatia (QoE): composto por 23 itens, respondidos em escala Likert de cinco pontos. Avalia a responsividade (QoE-1), o respeito (QoE-2) e a disponibilidade (QoE-3), além de um escore total de empatia (QoE-T).

Os quatro testes da BOLIE possuem indicadores satisfatórios de validade e precisão, apresentados em seu manual: evidências de validade através da correlação com outros instrumentos psicológicos que avaliam constructos relacionados, precisão por meio da consistência interna, precisão por meio da estabilidade temporal (MIGUEL, 2021).

 

Procedimentos

Primeiramente, foi contatada uma escola pública, localizada no interior do Estado de São Paulo, a fim de obter a permissão para realização da pesquisa com as crianças não identificadas com AH/SD. Ressalta-se que a escola convidada já realizava um trabalho de indicação de alunos que apresentam características das AH/SD, e, assim, as crianças participantes do grupo 1 (não identificadas com AH/SD), nunca foram apontadas por seus professores como possíveis superdotadas.

Os participantes do grupo 2 (crianças identificadas com AH/SD), foram contatados através de um instituto que fornece atendimento especializado para AH/SD, localizado em Brasília-DF, o qual indicou os participantes que atendiam aos critérios de inclusão (ter um diagnóstico e frequentar o atendimento há, pelo menos, seis meses). Ambas as instituições tiveram que assinar a Carta de Autorização Institucional, dando o aceite para a realização da pesquisa. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (CAAE 54177621.2.0000.5481), e a coleta dos dados ocorreu entre os meses de maio e julho de 2022.

É importante esclarecer que, apesar de um aparente número reduzido de participantes, a coleta de dados foi realizada em período pós-pandemia, de modo que os cuidados em relação ao distanciamento ainda eram recomendados, apesar de não mais obrigatórios. Tal situação limitou o acesso a um maior número de participantes. Do mesmo modo, a adoção de critérios rígidos de seleção dos participantes do grupo identificado com AH/SD também colaborou para que um número pequeno de participantes fosse atingido, o que, devido a necessidade de equilíbrio entre os grupos, acabou refletindo também no tamanho do grupo não identificado e, consequentemente, no tamanho total da amostra. Por tal motivo, o estudo aqui foi chamado de exploratório.

Como parte dos procedimentos éticos, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e o Termo de Consentimento para Tratamento de Dados Pessoais foram enviados e assinados pelos responsáveis, permitindo a participação das crianças no estudo. Além disso, todas as crianças também assinaram o Termo de Assentimento, demonstrando o seu interesse e aceitação em participar da pesquisa.

A aplicação dos instrumentos no grupo 1 (crianças não identificadas com AH/SD), foi realizada tanto no formato coletivo quanto no individual. Assim, o Inventário de Habilidades Sociais (SSRS) foi aplicado de forma coletiva, em um encontro de meia hora, divididos por ano escolar (4°, 5°, 6° e 7° anos). Já a aplicação da BOLIE foi feita de forma individual, com a utilização de um computador, em um encontro com duração de aproximadamente 20 minutos. No grupo 2 (crianças identificadas com AH/SD), a aplicação foi realizada apenas no formato individual, sendo que as crianças responderam aos dois instrumentos em um encontro de aproximadamente 1 hora.

Ao final da pesquisa foram realizadas as devolutivas dos resultados para as duas instituições participantes, por meio de relatórios individuais de cada criança, ressaltando os pontos fortes e aqueles que necessitam de uma melhor atenção e desenvolvimento.

 

Análise dos dados

Os dados obtidos no Inventário de Habilidades Sociais do SSRS foram corrigidos conforme as instruções contidas no manual do instrumento, sendo utilizados, para análise, os resultados brutos e o percentil de cada participante em cada um dos cinco fatores avaliados. Já em relação a BOLIE, por se tratar de um instrumento on-line, a correção também é on-line e automática, ou seja, ao final da aplicação dos quatro subtestes era gerado um relatório dos resultados. Para análise dos dados da BOLIE, foram utilizados os resultados brutos, o percentil, e o quociente de inteligência emocional de cada participante, em cada fator avaliado nos quatro subtestes.

A primeira análise realizada teve o objetivo de verificar o desempenho das crianças superdotadas. Os resultados foram classificados de acordo com o manual de instrução de cada teste, sendo também calculada a porcentagem de quantas crianças se enquadraram em cada categoria de classificação, considerando-se as tabelas normativas.

Com o auxílio do programa JASP, versão 0.16.3, foram realizadas as análises estatísticas. Primeiramente, a fim de testar a normalidade da amostra, e definir se o teste utilizado para comparação entre médias seria paramétrico ou não paramétrico, foi utilizado o teste Shapiro-Wilk, que demonstrou resultados não significativos (p≤0,05), de modo a indicar a ausência de distribuição normal dos dados. Diante de tal resultado, o teste Mann-Whitney, não paramétrico, foi utilizado para a comparação entre as médias de grupos. Foram considerados os valores de p£0,05 como significativo.

Além disso, o tamanho do efeito das diferenças de médias entre os grupos foi calculado a partir do D de Cohen. Os valores de referência utilizados para interpretação estão de acordo com o que foi exposto por Espírito-Santo e Daniel (2015), assim, valores menores que 0,19 são considerados insignificantes, valores entre 0,20-0,49 possuem efeito pequeno, entre 0,50-0,79 efeito médio, entre 0,80-1,29 efeito grande, e valores acima de 1,30 representam efeito muito grande.

 

Resultados

Primeiramente, com o objetivo de analisar as habilidades sociais das crianças pertencentes aos dois grupos, os resultados brutos obtidos no SSRS foram transformados em percentil, a fim de gerar a classificação nos cinco fatores avaliados. Assim sendo, o repertório das crianças foi classificado como pouco elaborado (percentil 1-25), mediano (percentil 30-70) e muito elaborado (percentil 75-100), seguindo as recomendações do manual do instrumento. Os resultados das crianças identificadas com AH/SD podem ser observados na Tabela 1, a seguir.

 

Tabela 1 - Classificação e percentil das crianças com AH/SD no SSRS (n = 15)

 

FATOR

CLASSIFICAÇÃO

 

Pouco elaborado

Mediano

Muito elaborado

 

N

%

N

%

N

%

Escore Geral

1

6,7

6

40,0

8

53,3

F1 – Empatia/afetividade

2

13,3

6

40,0

7

46,7

F2 - Responsividade

1

6,7

5

33,3

9

60,0

F3 – Autocontrole/civilidade

1

6,7

5

33,3

9

60,0

F4 - Assertividade

2

13,3

5

33,3

8

53,3

 

Fonte: Elaboração própria

 

De acordo com a Tabela 1, é possível verificar que a maior parte das crianças superdotadas apresentou um repertório muito elaborado em todos os fatores do instrumento, além do escore geral, quando seu desempenho é comparado com as tabelas normativas. Nesse grupo, somente um participante apresentou habilidade social pouco elaborada.

O mesmo tipo de análise foi realizado em relação ao grupo de crianças sem indicadores de AH/SD. Os resultados, indicados na Tabela 2, mostraram que a maior parte das crianças regulares apresentou um repertório pouco elaborado nos fatores 2 e 4, e no escore geral. Por outro lado, nos fatores 1 e 3, a maior parte das crianças obteve uma classificação mediana.

 

Tabela 2 - Classificação e percentil das crianças regulares no SSRS (n = 22)

 

FATOR

CLASSIFICAÇÃO

 

Pouco elaborado

Mediano

Muito elaborado

 

N

%

N

%

N

%

Escore Geral

14

63,6

7

31,8

1

4,5

F1 – Empatia/afetividade

9

40,9

11

50,0

2

9,1

F2 - Responsividade

13

59,1

6

27,3

3

13,6

F3 – Autocontrole/civilidade

8

36,4

12

54,5

2

9,1

F4 - Assertividade

12

54,5

8

36,4

2

9,1

 

Fonte: Elaboração própria

 

Em seguida, com o objetivo de analisar a inteligência emocional dos participantes, os resultados brutos obtidos na BOLIE foram transformados em QIE (Quociente de Inteligência Emocional), e depois em percentil, a fim de obter a classificação nos 12 fatores avaliados. Deste modo, o desempenho das crianças foi classificado como baixo (QIE <55-84, percentil 1-14), médio (QIE 85-115, percentil 16-84), alto (QIE 116-130, percentil 86-98), e muito alto (QIE 131->145, percentil 98-100), conforme recomendação do manual do instrumento. Os resultados do grupo de crianças identificadas com AH/SD são apresentados na Tabela 3, a seguir.

 

Tabela 3 – Classificação e percentil das crianças identificadas com AH/SD na BOLIE (n = 15)

 

 

Classificação

Baixo

Médio

     Alto

Muito alto

Fatores BOLIE

N

%

N

%

N

%

N

%

TOHE- Organização

-

-

11

73,3

4

26,7

-

-

TOHE- Sociabilidade

1

6,7

9

60,0

5

33,3

-

-

QoE- Responsividade

-

-

7

46,7

8

53,3

-

-

QoE- Respeito

-

-

4

26,7

8

53,3

2

13,3

QoE- Disponibilidade

1

6,7

10

66,7

4

26,7

-

-

QoE- Empatia Total

1

6,7

4

26,7

6

40,0

4

26,7

QoRE- Controle da impulsividade e irritabilidade

-

-

10

66,7

5

33,3

-

-

QoRE- Controle da sobrecarga emocional

-

-

9

60,0

6

40,0

-

-

QoRE- Resiliência

-

-

6

40,0

5

33,3

4

26,7

QoRE- Regulação Emocional Total

-

-

7

46,7

8

53,3

-

-

VE- Velocidade Emocional

9

60,0

4

26,7

-

-

-

-

VE- Positividade

-

-

11

73,3

3

20,0

1

6,7

Nota. TOHE = Teste de Organização de Histórias Emocionais; QoE = Questionário Online de Empatia; QoRE = Questionário Online de Regulação Emocional; VE = Velocidade Emocional.

 

Fonte: Elaboração própria

 

 

Os resultados apresentados na Tabela 2 demonstram que, no geral, as crianças superdotadas tiveram um desempenho considerado médio na maior parte das medidas avaliadas nos fatores. As exceções podem ser notadas em relação às medidas de responsividade, respeito, empatia e regulação emocional, nas quais a maior concentração de casos acontece dentro de uma classificação alta. Por outro lado, na medida de velocidade emocional, há predominância de resultados considerados baixos, indicando dificuldades dos superdotados nessas habilidades.

O mesmo procedimento foi efetuado na amostra composta por estudantes não identificados com AH/SD. Os resultados, na Tabela 4, indicaram que as crianças não identificadas tiveram um desempenho considerado médio em todas os fatores avaliadas. A única exceção foi na medida de velocidade emocional, visto que houve uma predominância de resultados considerados baixos, o que também indicou uma dificuldade desses estudantes não identificados nessa habilidade.

 

 

 

 

 

 

 

Tabela 4 – Classificação e percentil das crianças não identificadas com AH/SD na BOLIE (n = 22)

 

 

Classificação

Baixo

Médio

     Alto

Muito alto

Fatores BOLIE

N

%

N

%

N

%

N

%

TOHE - Organização

9

40,9

13

59,1

-

-

-

-

TOHE-Sociabilidade

2

9,1

18

81,8

2

9,1

-

-

QoE- Responsividade

1

4,5

20

90,9

1

4,5

-

-

QoE- Respeito

2

9,1

13

59,1

5

22,7

1

4,5

QoE- Disponibilidade

2

9,1

18

81,8

2

9,1

-

-

QoE- Empatia Total

2

9,1

17

77,3

3

13,6

-

-

QoRE- Controle da impulsividade e irritabilidade

3

13,6

16

72,7

3

13,6

-

-

QoRE- Controle da sobrecarga emocional

2

9,1

14

63,6

6

27,3

-

-

QoRE- Resiliência

2

9,1

13

59,1

6

27,3

1

4,5

QoRE- Regulação Emocional Total

2

9,1

17

77,3

3

13,6

-

-

VE- Velocidade Emocional

20

90,9

2

9,1

-

-

-

-

VE- Positividade

2

9,1

14

63,6

5

22,7

1

4,5

Nota. TOHE = Teste de Organização de Histórias Emocionais; QoE = Questionário Online de Empatia; QoRE = Questionário Online de Regulação Emocional; VE = Velocidade Emocional.

 

Fonte: Elaboração própria

 

De modo geral, as análises conduzidas indicaram que as crianças identificadas com AH/SD apresentaram repertório considerado muito elaborado em habilidades sociais e desempenho médio em inteligência emocional. Em relação às crianças não identificadas, elas apresentaram, em sua maioria, repertório pouco elaborado em habilidades sociais e desempenho médio em inteligência emocional.

Diante dessas diferenças, com o objetivo de comparar os grupos de crianças identificadas e não identificadas com AH/SD nos dois construtos avaliados, foi calculada a estatística descritiva dos resultados, por grupo, no Inventário de Habilidades Sociais do SSRS e na BOLIE e, posteriormente, um teste de diferença de médias (Mann-Whitney). Tal teste visou identificar possíveis diferenças significativas entre os grupos. Os resultados são apresentados na Tabela 5.

 

Tabela 5 – Estatística descritiva por grupo e por medida, teste de diferença de média e tamanho do efeito

 

 

Grupo

 

 

Grupo 1 (n = 22)

Grupo 2 (n = 15)

Mann-Whitney

efeito

Medida

Média

Desvio Padrão

Média

Desvio Padrão

W

p

d-Cohen

F1

6,91

1,97

8,47

1,77

82,00

0,009**

-0,50

F2

6,32

2,28

8,13

1,51

71,50

0,003**

-0,57

F3

6,73

2,60

9,60

1,92

53,50

< ,001***

-0,68

F4

3,36

2,26

4,33

1,40

116,00

0,128

-0,29

Escore Geral

23,32

5,72

30,53

5,57

40,00

< ,001***

-0,76

TOHE-O

5,52

1,86

8,00

1,96

65,50

0,003**

-0,58

TOHE-S

-3,14

3,30

-0,93

2,76

84,50

0,019*

-0,46

QoE-1

27,38

4,18

33,53

7,12

56,00

0,001***

-0,64

QoE-2

24,48

5,80

33,10

5,26

44,00

< ,001***

-0,72

QoE-3

21,10

2,92

23,80

3,63

84,50

0,019*

-0,46

QoE-T

79,57

10,81

89,80

14,10

73,50

0,007**

-0,53

QoRE-1

14,67

3,51

17,27

2,63

86,00

0,022*

-0,45

QoRE-2

13,62

3,64

14,73

2,96

129,50

0,030*

-0,35

QoRE-3

16,38

4,21

20,33

2,53

67,00

0,004**

-0,58

QoRE-T

44,67

9,11

52,40

6,65

82,50

0,017*

-0,48

VE-V

213,28

71,54

142,38

26,75

272,00

< ,001***

0,73

VE-P

15,14

8,89

12,53

11,38

193,00

0,26

0,23

Nota. Grupo 1 (crianças não identificadas com AH/SD); Grupo 2 (crianças identificadas com AH/SD) / SSRS = F1 (Empatia/Afetividade); F2 (Responsabilidade); F3 (Autocontrole/Civilidade); F4(Assertividade); EG (escore geral) / BOLIE = TOHE-O (Organização); TOHE (Sociabilidade); QoE-1 (Responsividade); QoE-2 (Respeito); QoE-3 (Disponibilidade); QoE-T (Empatia total); QoRE-1 (Controle da impulsividade e irritabilidade); QoRE-2 (Controle da sobrecarga emocional); QoRE-3 (Resiliência); QoRE-T (Regulação Emocional total); VE-V (Velocidade emocional); VE-P (Positividade); *p£0,05; **p£0,01; ***p£0,001.

 

Fonte: Elaboração própria

 

Os resultados, indicados na Tabela 5, mostram a existência de diferenças significativas em todos os fatores da medida de habilidades sociais (SSRS), com exceção do fator 4 (assertividade), sendo que o grupo de superdotados apresenta maior média. Os tamanhos de efeitos são considerados médios. Em relação aos resultados na medida de inteligência emocional (BOLIE), os resultados da comparação de médias também se mostraram significativos em todos os subtestes. Em todos os casos, médias mais altas foram obtidas pelo grupo de superdotados. A exceção ocorre em relação à medida de positividade, a qual, além de não indicar diferenças significativas entre os grupos, apresentou média mais alta para o grupo de não superdotados. Os tamanhos de efeito variaram entre pequeno e médio.

 

 

Discussão

 

Atualmente, entende-se que as AH/SD são envolvidas por um conjunto de características associadas à fatores cognitivos, como a inteligência e a criatividade, e à fatores não cognitivos, como as habilidades socioemocionais (NEIHART; YEO, 2018; STOEGE et al., 2018), sendo que ambos devem ser igualmente percebidos e valorizados durante os processos de avaliação. Na prática, apesar de sua importância, a dimensão socioemocional dos superdotados vem recebendo menor atenção, quando comparada a outros aspectos relacionados a esse fenômeno, tal como a identificação e modalidades de atendimento a essa população (ALENCAR, 2007).

Consequentemente, se faz notar importante lacuna em relação aos estudos que tenham esse foco, visto que a esfera emocional pode ser fonte de vulnerabilidades nessa população (VALADEZ, 2010). A presença de dificuldades relacionadas a mitos e concepções equivocadas sobre esses indivíduos e no acesso a atendimento adequado para as suas necessidades específicas, pode gerar vulnerabilidade social e emocional (PRADO; FLEITH, 2017), de modo a originar compreensões discrepantes e não consensuais sobre o ajustamento socioemocional dos superdotados ALENCAR, 2007).

Muitos estudos abordam o desenvolvimento cognitivo e acadêmico dessas crianças, existindo uma lacuna relacionada a investigação de aspectos sociais e emocionais nessa população (FRANÇA-FREITAS et al., 2014; NEUMANN, 2020). Diante desse quadro, Irueste, Saco e Nicolás (2018) afirmam que o estudo das habilidades socioemocionais se constitui em um campo de investigação muito rico, dada a possibilidade de que as avaliações e, posteriores intervenções, possam favorecer um desenvolvimento social, emocional, acadêmico e psicológico posterior mais saudável aos superdotados.

Além disso, uma revisão de estudos acerca da prevalência ampliada de dificuldades socioemocionais e comportamentais em superdotados indicou ausência de consenso sobre essa questão, demonstrando que, em alguns deles a superdotação é considerada um fator que pode potencializar o risco de desenvolvimento de dificuldades nessa área, ou ainda, atuar como um fator de proteção (TASCA et al., 2022). Verifica-se a ideia de que, por possuírem uma capacidade intelectual superior, esses indivíduos estão imunes a dificuldades sociais e emocionais e, em outro oposto, a associação, quase automática, da superdotação a um inadequado funcionamento pessoal ou social (BORGES; RODRIGUEZ-NAVEIRAS; RODRIGUEZ-DORTA, 2018).

Diante desse cenário, o foco do presente estudo se voltou à investigação de dois construtos considerados de natureza socioemocional: habilidades sociais e inteligência emocional. A primeira análise avaliou as habilidades socioemocionais de crianças com AH/SD, buscando compreender se elas apresentavam características sociais e emocionais positivas. De acordo com os resultados apresentados, pode-se dizer que a hipótese inicial foi confirmada, visto que as crianças superdotadas apresentaram um desempenho acima do esperado para a idade na maioria dos itens avaliados pelo SSRS e pela BOLIE. Portanto, foi demonstrada a presença de características sociais e emocionais positivas, como a empatia, afetividade, responsabilidade, autocontrole, regulação emocional, civilidade, boas interações sociais, assertividade e respeito. Resultados semelhantes, indicando melhor desempenho de superdotados em relação à inteligência emocional, quando comparados com pares sem essa condição, são relatados na literatura científica (FERRANDO, 2006; SAINZ, 2010; PRIETO et al., 2016; ZEIDNER; MATTHEWS, 2017; ZEIDNER et al., 2005), sendo importante destacar que a maior parte dos estudos envolve adultos ou se foca em aspectos específicos chamados, pelos pesquisadores, de inteligência emocional, tais como adaptabilidade, manejo de estresse e estado de humor.

O fator de Velocidade Emocional (VE), avaliado na BOLIE, foi o único no qual a maioria das crianças superdotadas apresentaram um resultado abaixo da média esperada para idade. Este fator avalia a velocidade de processamento como um aspecto cognitivo da inteligência emocional, e, assim, o resultado abaixo da média apresentado pelas crianças pode estar associado ao perfeccionismo, ao medo de errar e às altas expectativas, características muito presentes nos sujeitos superdotados (KLIMEKÁ, 2022; SOUSA; FLEITH, 2021), as quais podem acabar impactando na rapidez para realização das atividades. Alie-se a esse quadro, o fato de que o desenvolvimento socioemocional de pessoas com altas habilidades se mostra mais complexo em função não somente de suas características, mas, também, devido às altas expectativas sobre seu desempenho, provenientes tanto da família quanto da escola (CHAGAS-FERREIRA; SOUSA, 2018).

Diante deste resultado, é válido destacar que ainda não existe um consenso entre os autores que pesquisam a temática das AH/SD quando o assunto são as características socioemocionais. Existem duas principais vertentes, sendo que a primeira aponta para a presença de problemas e déficits nas habilidades sociais e emocionais, caracterizados pelo isolamento social, ansiedade, autoconceito negativo, e comportamentos socialmente inadequados (OLIVEIRA et al., 2021; RINN, 2018). Tal grupo considera que a superdotação pode se caracterizar como um fator de risco para os indivíduos, de modo a ampliar as chances de desenvolvimento de dificuldades nessa área.

Por outro lado, a segunda aponta que os sujeitos superdotados apresentam um bom repertório e um desempenho mais satisfatório nessas habilidades (FOLSOM, 2009; FRANÇA-FREIRAS et al., 2014; PRIETO et al., 2016), demonstrando empatia, autocontrole, bom desempenho interpessoal, boa percepção dos próprios sentimentos e dos demais, preocupação com questões sociais, e senso de humor apurado. Tal grupo visualiza a superdotação como um fator de proteção contra desajustes na área socioemocional. Os resultados obtidos no presente estudo reforçam a visão trazida pelo segundo grupo, reforçando a percepção de que as questões emocionais se mostram mais intensas nos superdotados (IRUESTE et al., 2018). Por esse motivo, a inclusão desses indivíduos deve focar no combate e prevenção de problemas emocionais ou comportamentais que esses alunos possam vir a apresentar, focando-se, por exemplo, na identificação de seus pontos fortes e fracos, aceitação e reconhecimento de seus limites, desenvolvimento de lócus de controle interno e desenvolvimento de habilidades socioemocionais, tais como resolução de conflitos, comunicação, liderança, tomada de decisão, assertividade, dentre outras (FLEITH, 2007).

O conhecimento gerado por esse tipo de estudo pode beneficiar esses sujeitos, atuando como fator protetivo em relação a algum possível desajustamento, bem como auxiliar em processos relacionados à construção da identidade, no estabelecimento de valores, na melhoria da motivação, na autoestima e na estabilidade emocional (Chagas-Ferreira, 2014),especialmente se considerarmos o número reduzido de investigações com esse foco. Faz-se necessário, segundo Paludo et al. (2013), que os pesquisadores se dediquem a estudos voltados a medir e avaliar a complexidade da avaliação afetiva da superdotação, especialmente pesquisas com abordagem quantitativa, ainda mais escassas. Esse foi um dos objetivos do estudo aqui apresentado.

A justificativa se ampara na constatação de que, por serem muito intensas emocionalmente, as crianças superdotadas demonstraram um alto grau de empatia e senso de justiça desde muito cedo, e, além disso, são muito exigentes, podendo demonstrar uma tolerância baixa em relação às frustrações. Comumente, os superdotados também se sentem diferentes dos seus pares, por apresentarem percepções, interesses e reações mais intensas e específicas, e essa percepção de que é diferente pode vir acompanhada de sentimentos de inadequação e não aceitação (NEUMANN, 2017). Assim sendo, como explica Delou (2007), os comportamentos negativos, como o isolamento social, alta frustração e baixa autoestima, estão muitas vezes associados à falta de atenção e cuidado com as necessidades emocionais específicas apresentadas por essas crianças. Portanto, os espaços que proporcionam a inclusão e o atendimento de superdotados são essenciais para que os seus comportamentos não sejam limitados, e sim respeitados e valorizados, fazendo com que suas habilidades intelectuais e socioemocionais sejam igualmente sustentadas, o que evita, consequentemente, que características vistas como positivas se tornem vulnerabilidades (OLSZEWSKI-KUBILIUS et al., 2015; VIRGOLIM, 2021; WELLISCH; BROWN, 2012).

É importante ressaltar que as crianças superdotadas que participaram do presente estudo, já haviam passado por um processo de avaliação e identificação, e frequentavam um atendimento especializado. Ou seja, os resultados que demonstram um bom repertório de habilidades sociais e de inteligência emocional, nestas crianças, podem estar relacionados ao fato de que elas frequentam um atendimento especializado, tendo as suas necessidades e potenciais acadêmicos, emocionais e sociais atendidos e desenvolvidos. Esta percepção vai de encontro com o que foi esclarecido por Folsom (2009), o qual apontou que, quando as necessidades socioemocionais são percebidas e atendidas na mesma intensidade das necessidades cognitivas, as crianças superdotadas apresentam um bom ajustamento social e emocional. Não sabemos se crianças que não recebem esse atendimento educacional especializado ou ainda aquelas que não possuem identificação realizada de forma adequada, também apresentariam resultados tão positivos em medidas de habilidades sociais e inteligência emocional.

Além disso, o presente estudo teve como objetivo verificar se existiam diferenças entre as habilidades socioemocionais de crianças identificadas e não identificadas com AH/SD. Os resultados obtidos mostram que as crianças superdotadas tiveram médias significativamente maiores em todas as áreas avaliadas. Estudos anteriores, como o conduzido por França-Freitas et al. (2014), já havia apontado um melhor desempenho de alunos superdotados nas habilidades sociais, quando comparados com alunos não identificados. Neste estudo, os autores também utilizaram o SSRS, e concluíram que as crianças superdotadas se destacaram nos fatores de responsabilidade, autocontrole e civilidade. Além disso, no estudo realizado por Prieto et al. (2016), os autores tinham como objetivo comparar a inteligência emocional de crianças superdotadas e não superdotadas, e puderam concluir um melhor desempenho das superdotadas nas relações intra e interpessoais, no manejo do estresse, na adaptabilidade, e no estado de ânimo.

Ao observarmos os resultados apresentados no presente estudo, podemos notar um destaque para as características de empatia, civilidade, autocontrole e regulação emocional, e, assim, estas serão discutidas a seguir. Alguns autores destacam que os sujeitos com AH/SD são mais sensíveis e sentem mais intensamente do que os seus pares, e, assim, eles se tornam mais capazes de perceber os próprios sentimentos e dos demais, de criar laços mais fortes e efetivos, e de demonstrar níveis elevados de senso de justiça e empatia (DANIELS; PIECHOWSKI, 2009; VIRGOLIM; PEREIRA, 2020).

Os resultados encontrados nesta pesquisa, confirmam que as crianças superdotadas apresentam altos níveis de empatia e civilidade, entendendo aqui que estas características estão associadas a comportamentos que demonstram interesse, sentimentos positivos e respeito com as outras pessoas, além da compreensão sobre os sentimentos dos demais, e uma preocupação com questões morais e com normas de convívio social. Estes resultados também confirmam o que foi relatado recentemente por Renzulli (2018), visto que o autor enfatiza que, dentre os traços importantes para a concepção da superdotação, estão a eficiência em interagir com outras pessoas, a demonstração de empatia e confiabilidade, e a sensibilidade para perceber as necessidades e sentimentos dos demais.

Este estudo também pode demonstrar que as crianças identificadas com AH/SD apresentam um maior autocontrole e regulação emocional. Nesta pesquisa, essas características foram compreendidas como um domínio sobre as próprias emoções, que resulta em uma capacidade de tolerar situações de estresse, de controlar sentimentos de irritabilidade e impulsividade, e manejar de forma efetiva situações que causem sentimentos negativos. Este resultado, retoma as discussões realizadas por Prieto et al. (2016), que puderam concluir em seus estudos que os sujeitos com superdotação demonstram uma maior capacidade para compreender e ajustar as suas emoções em situações de conflito e de mudanças. Deste modo, pode-se concluir que esta apacidade de autocontrole e regulação emocional mais acentuada nos superdotados pode estar relacionadas com os seus níveis de autoconhecimento, de criatividade, e de habilidade de resolver e reconhecer problemas significativos (RENZULLI, 2018; VIRGOLIM, 2021).

 

Considerações Finais

 

Conclui-se os objetivos propostos neste estudo foram atingidos, evidenciando principalmente a presença de características socioemocionais positivas nas crianças identificadas com AH/SD. É necessário reforçar que estas características não cognitivas também podem indicar uma superdotação, e, desta forma, devem ser valorizadas e percebidas na mesma medida das cognitivas.  Entretanto, é importante enfatizar que os resultados obtidos nesta pesquisa também podem ter sido influenciados pelo fato de as crianças superdotadas frequentarem um atendimento especializado, concluindo o quanto os processos de identificação e o atendimento são importantes para o desenvolvimento do potencial acadêmico, social e emocional desses sujeitos.

Uma constatação importante, ao revisar a literatura na temática, foi a de que poucos estudos foram desenvolvidos visando comparar a inteligência emocional de crianças superdotadas e não superdotadas. A maior parte dos estudos investiga a inteligência emocional em crianças superdotadas sem fazer essa comparação, ou ainda se concentram em adultos, com o mesmo objetivo. Dessa forma houve dificuldade em verificar se os achados aqui apresentados confirmaram a literatura.

Por fim, é importante apontar as limitações que ocorreram durante o processo de realização deste estudo. Primeiramente, esta pesquisa foi iniciada durante o período de pandemia causada pela Covid-19, o que acabou limitando e prejudicando a coleta de dados. Ressalta-se que mesmo com a diminuição dos casos de Covid, e com o retorno das atividades presenciais, as escolas e os núcleos de atendimento para superdotados estavam retomando aos poucos as suas atividades, e, assim, alguns locais não aceitaram o convite para participar da pesquisa por não estarem com a infraestrutura necessária. Além disso, esta pesquisa tinha como objetivo trabalhar com crianças identificadas e não identificadas com Altas Habilidades/Superdotação, o que se tornou um desafio diretamente atrelado à pouca quantidade, no Brasil, de escolas e locais específicos que façam o reconhecimento, identificação e atendimento dessas crianças.

Desta forma, a principal limitação que pode ser apontada neste estudo se refere ao número reduzido da amostra, sugerindo-se que futuros estudos possam trabalhar com amostras maiores, e que contemplem mais estados do Brasil. Além disso, o presente estudo não considerou para a análise dos dados a influência do tipo de escola (pública ou particular) e nível socioeconômico das crianças, o que também se tornou uma limitação, visto que os resultados apresentados também podem ter sido influenciados por essas variáveis.  Assim, sugere-se que outros estudos possam investigar se as variáveis idade, série escolar e tipo de escola podem interferir no desempenho das habilidades socioemocionais, as quais não foram analisadas nesta pesquisa. Ademais, também seria interessante que futuros estudos buscassem a comparação entre superdotados que já recebem atendimento especializado por um determinado período de tempo, superdotados que estão iniciando os atendimentos, e superdotados identificados que nunca receberam atendimento, a fim de verificar se o atendimento realmente é um fator significativo para o desempenho das crianças nas habilidades socioemocionais, assim como discutido na presente pesquisa.

 

 

 

Referências

 

ALABBASI, A. M. A.; SULTAN, Z. M.; KARWOWSKI, M.; CROSS, T. L.; AYOUB, E. A. Self-efficacy in gifted and non-gifted students: a multilevel meta-analysis. Personality and Individual Differences, v. 210, e112244, 2023.

ALBRIGHT, E. A.; MONTGOMERY, D. perceptions of the emotional self for adolescents who are gifted. Roeper Review, v. 45, n. 1, p. 6-20, 2023.

ALENCAR, Eunice M. L. Soriano. Características sócio-emocionais do superdotado: questões atuais. Psicologia Em Estudo, v. 12, n. 2, p. 371–378, 2007.

BORGES, África; HERNÁNDEZ-JORGE, Carmem; RODRÍGUEZ-NAVEIRAS, Elena. La adaptación social de niños y niñas de altas capacidades intelectuales: Un acercamiento cualitativo. Sobredotaçao, v. 9, p. 119-130, 2018. 

BRASIL. Secretaria de Educação Especial. Saberes e Práticas da inclusão: Desenvolvendo competências para o atendimento às necessidades educacionais especiais de alunos com Altas Habilidades/Superdotação. Coordenação geral SEESP/MEC. - Brasília: MEC, Secretaria de Educação Especial, 2006. 143 p. (Série: Saberes e práticas da inclusão).

BRASIL. Secretaria de Educação Especial. Políticas Públicas para Altas Habilidades/Superdotação. Brasília, DF: MEC/SEESP, 2010.

CHAGAS-FERREIRA, Jane Farias. As características socioemocionais do indivíduo talentoso e a importância do desenvolvimento de habilidades sociais. In VIRGOLIM, Angela Mágda Rodrigues (Eds.), Altas habilidades/superdotação, inteligência e criatividade: uma visão multidisciplinar. São Paulo: Papirus, 2014, p. 283-308.

CHAGAS-FERREIRA, Jane Farias; SOUSA, Rhaissa Andrêsa Ramos. O desenvolvimento socioemocional de superdotados: Descrevendo singularidades e identificando possibilidades de atendimento. In PISKE, Fernanda Helen Ribeiro.; STOLTZ, Tania; COSTA-LOBO, Cristina; ROCHA, Alberto; VÁSQUEZ-JUSTO, Enrique (Eds.), Educação de superdotados e talentosos: emoção e criatividade. Curitiba: Juruá, 2018, p. 127-138.

DANIELS, Susan; PIECHOWSKI, Michael M. Living with intensity: Understanding the sensitivity, excitability, and emotional development of gifted children, adolescents, and adults. Great Potential Press, 2009.

DELOU, Cristina Maria Carvalho. Educação do Aluno com Altas Habilidades/Superdotação: Legislação e Políticas Educacionais para a Inclusão. In FLEITH, Denise de Souza. (Org.), A Construção de Práticas Educacionais para Alunos com Altas Habilidades / Superdotação. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2007.

DEL PRETTE, Zilda Aparecida Pereira; FREITAS, Lucas Cordeiro; BANDEIRA, Marina; DEL PRETTE, Almir. Inventário de habilidades sociais, problemas de comportamento e competência acadêmica para crianças – SSRS: Manual técnico. São Paulo: Pearson, 2019.

ESPIRITO-SANTO, Helena; Daniel, Fernanda Calcular e apresentar tamanhos do efeito em trabalhos científicos (1): As limitações do p < 0,05 na análise de diferenças de médias de dois grupos. Revista Portuguesa de Investigação Comportamental e Social, v. 1, n. 1, p. 3–16, 2015.

FERRANDO, M. P. (2006). Creatividad y inteligencia emocional: um estudo empírico em alumnos com altas habilidades. Tese de doutorado. Universidad de Murcia. Disponível em: https://digitum.um.es/digitum/bitstream/10201/203/1/FerrandoPrieto.pdf. Acesso em 23 mai. 2023.

FLEITH, D. S. Altas habilidades e desenvolvimento socioemocional. In FLEITH, D. S.; ALENCAR, E. M. L. S. (Orgs.). Desenvolvimento de talentos e altas habilidades: orientação a pais e professores. Porto Alegre: Artmed, 2007. p. 41-50.

FREITAS, S. M.; VESTENA, C. L. B.; NEUMANN, P. Afetividade nas altas habilidades/superdotação (AH/SD). In PISKE, F. H. R.; VESTENA, C. L. B.; STOLTZ, T.; MACHADO, J. M.; BARBY, A. A. O. M.; BAHIA, S.; FREITAS, S. P. Processos afetivos e cognitivos de superdotados e talentosos. Curitiba: Prismas, 2017. p. 225-240.

FRANÇA-FREITAS, Maria Luisa Pontes; DEL PRETTE, Almir; DEL PRETTE, Zilda Aparecida Pereira. Social skills and subject well-being of gifted and talented children. Psico-USF, v. 22, n. 1, p. 1–12, 2014.

FOLSOM, Christy. Attitudes of Gifted Children. In KERR, Barbara. (Org.), Encyclopedia of giftedness, creativity and Talent. age, 2009, p. 1-4.

GAGNÉ, Francoys. The integrative model of talent development (IMTD): From theory to educational applications. In PLUCKER, Jonathan A.; RINN, Anne. N.; MAKEL, Matthew C. (Orgs.). From Giftedness to Gifted Education: Reflecting Theory in Practice. New York: Prufrock Press Inc, 2017, p. 149-182.

GILLIOZ, C.; NICOLET-DIT-FÉLIX, M.; FIORI, M. Emotional intelligence, and emotional hypersensitivity in gifted individuals. Journal of Intelligence, v. 11, n. 20, 2023.

GÓMEZ, Marta Sáinz; RUIZ, María José; PRIETO, Lola. Perfiles emocionales de superdotados y talentos. In PISKE, Fernanda Hellen Ribeiro; MACHADO, Járci Maria; BAHIA, Sara; STOLTZ, Tania (Orgs.). Altas Habilidades/Superdotação (AH/SD): Criatividade e Emoção. Curitiba: Juruá, 2014, p.127-148.

GROTH, Janice Carina; PALUDO, Karina Inês. O aluno com Altas Habilidades e suas emoções. Brasil: UNIOESTE, 2009.

IRUESTE, Paula, SACO, Ailén; NICOLÁS, Florencia. Dificultades socioemocionais reportadas por los padres y madres de niños y niñas dotados y talentosos, consultantes del Servicio de Neuropsicologia, Área Infantil, em Córdoba, Argentina. In: PISKE, Fernanda Hellen Ribeiro; STOLTZ, Tania; COSTA-LOBO, Cristina; ROCHA, Alberto; VÁSQUEZ-JUSTO, Enrique (Eds.), Educação de superdotados e talentosos: emoção e criatividade. Curitiba: Juruá, 2018. p. 75-88.

 

JONES, Damon E.; GREENBERG, Mark; CROWLEY, Max. How children’s social behaviors relate to success in adulthood. The Wera Educational Journal, v. 8, n. 2, p. 27-33, 2016.

KLIMEKÁ, Eva. Advantages and disadvantages of being gifted: perceptions of the label by gifted pupils. Research Papers in Education, v. 38, p. 902-923, 2022.

MIGUEL, Fabiano Koich. Bateria Online de Inteligência Emocional. São Paulo: Editora Vetor, 2021.

NEIHART, Maureen.; YEO, Lay See. Psychological issues unique to the gifted student. In PFEIFFER, Steven. I. (Org.), APA Handbook of Giftedness and Talent. American Psychological Association, 2018, p. 497-510.

NEUMANN, Patrícia. "O que tem de errado comigo?" Empatia, Autonomia e Aprendizagem nas Altas Habilidades/Superdotação a partir de Dabrowski. Anais do XIV Congresso Nacional de Educação - EDUCERE, Curitiba, 2017.

NEUMANN, Patrícia. Altas Habilidades/Superdotação e desenvolvimento socioemocional: Responsabilidade da educação e da psicologia. Revista de Educação Especial em Debate, v. 5, n. 10, p. 15-36, 2020.

OLIVEIRA, Ana Paula, et al. Habilidades sociais e problemas de comportamento de crianças com Altas Habilidades/Superdotação. Revista Ciência e Profissão, v. 41, p. 1-17, 2021.

OLSZEWSKI-KUBILIUS, Paula; SUBOTNIK, Rena F.; WORRELL, Frank C. Conceptualizations of Giftedness and the Development of Talent: Implications for Counselors. Journal of Counseling and Development, v. 93, n. 2, p. 143–152, 2015.

PALUDO, Karina Inês; LOOS-SANT'ANA, Helga; SANT'ANA-LOOS, René Simonato. A identidade da pessoa com altas habilidades/superdotação sob a ótica do Sistema Teórico da Afetividade Ampliada. PsicoDom (Curitiba), n. 12, pág. 79-95, 2013.

PAPADOPOULOS, Dimitrios. Psychological Framework for Gifted Children’s Cognitive and Socio-Emotional Development: A Review of the Research Literature and Implications. Journal for the Education of the Gifted Young, v. 8, n. 1, p. 305-323, 2020. 

PRADO, Renata Muniz.; FLEITH, Denise de Souza. O papel do aconselhamento psicológico no desenvolvimento afetivo do aluno superdotado. In PISKE, Fernanda Hellen Ribeiro et al. (Eds.), Processos afetivos e cognitivos de superdotados e talentosos. Curitiba: Editora Prisma, 2017, p. 209-224.

PRIETO, Maria Dolores et al. Inteligencia emocional y alta habilidad. Sobredotação, v. 15, n. 1, p. 35-56, 2016.

PISKE, Fernada Hellen Ribeiro; STOLTZ, Tania. Socio-emotional dimension of gifted students based on Vygotsky. Culture & Psychology, v. 27, n. 3, p. 473-497, 2021.

RAZAK, Amnah Zanariah Binti Abd et al. Perfectionism and overexcitability: Uniqueness or lack of socioemotional development of gifted and talented students? Journal of Legal, Ethical, and Regulatory Issues, v. 24, n. 1, p. 1-8, 2021.

RENATI, R.; BONFIGLIO, N. S.; DILDA, M.; MASCIA, M. L; PENNA, M. P. Gifted Children through the Eyes of Their Parents: Talents, Social-Emotional Challenges, and Educational Strategies from Preschool through Middle School. Children, v. 10, n. 42, 2023.

RENZULLI, Joseph S. Reexaminando o papel da educação para superdotados e o desenvolvimento de talentos para o Século XXI: uma abordagem teórica de quatro partes. In VIRGOLIM, Angela Mágda Rodrigues (Org.), Altas Habilidades/Superdotação: processos criativos, afetivos e desenvolvimento de potenciais. Curitiba: Editora Juruá, 2018, p. 19-42.

RINN, Anne N. Social and emotional considerations for gifted students. In APA handbook of giftedness and talent. American Psychological Association, 2018, p. 453–464. https://doi.org/10.1037/0000038-029

SAINZ, M. (2010). Creatividad, personalidad, y competencia socio-emocional en alumnos de altas habilidades versus no altas habilidades. Tese de Doutorado. Universidad de Murcia. Disponível em: https://digitum.um.es/digitum/bitstream/10201/22279/1/TMSG.pdf. Acesso em 23 ami. 2023.

STERNBERG, Robert J.; KAUFMAN, Scott Barry. Theories and Conceptions of Giftedness. Handbook of Giftedness in Children: Psychoeducational Theory, Research, and Best Practices. Springer International Publishing, 2018, p. 29-47. https://doi.org/10.1007/978-3-319-77004-8_3

SOUSA, Rhaissa Andrêsa Ramos; FLEITH, Denise de Souza. Emotional development of gifted students: comparative study about overexcitabilities. Psico-USF, v. 26, n. 4, p. 733-743, 2021.

STOEGER, Heidrun; BALESTRINI, Daniel Patrick.; ZIEGLER, Albert. International perspectives and trends in research on giftedness and talent development. In PFEIFFER, Steven I. (Ed.), APA Handbook of Giftedness and Talent. American Psychological Association, 2018, p. 25-37.

TASCA, Ilaria; GUIDI, Michele; TURRIZIANI, Patrizia; MENTO, Giovanni; TARANTINO, Vicenza. Behavioral and Socio-Emotional Disorders in Intellectual Giftedness: A Systematic Review. Child Psychiatric & Human Development, p. 1-22, 2022.

VALADEZ, María Dolores. Estados emocionales em ninos y ninas com alta dotación. In CHACON, Krissia Morales (Org.), Alta dotación y talentos en la ninez: aspectos básicos. San José: C.R. Litografia e Imprenta, 2010, p. 37-52.

VIRGOLIM, Angela Mágda Rodrigues. As vulnerabilidades das habilidades e superdotação: questões sociocognitivas e afetivas. Educar Em Revista, v. 37, 2021.

VIRGOLIM, Angela Mágda Rodrigues; PEREIRA, Vera Lúcia Palmeira. Identificar e atender alunos com altas habilidades ou superdotação na escola. In. MENEZES, Adriane Melo de Castro; MENEZES, Suely Melo de Castro. Coletânea ANEC – Inclusão: Material organizado para instituições católicas. Instituições Católicas ANEC, 2020, p. 105-122.

WELLISCH, Mimi; BROWN, Jac. An Integrated Identification and Intervention model for Inttelectually Gifted Children. Journal of Advanced Academics, v. 23, n. 2, p. 145-167, 2012.

ZAIA, Priscila; NAKANO, Tatiana de Cassia. Escala de Identificação das Altas Habilidades/Superdotação: evidências de validade de critério. Revista Iberoamericana de Diagnóstico y Evaluación e Avaliação Psicológicav. 2, n. 55, p. 31-41, 2020.

ZEIDNER, M.; SHANI-ZINOVICH, I; MATTHEWS, G.; ROBERTS, R. D. Assessing Emotional Intelligence in gifted and non-gifted school students: Outcomes depending on the measure. Intelligence, v. 33, p. 369- 391, 2005.

ZEIDNER, Moshe; MATTHEWS, Gerald. Emotional intelligence in gifted students. Gifted Education International, v. 33, n. 2, p. 163-182, 2017.

 

CC.png 

This work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International (CC BYNC 4.0