Práticas Pedagógicas no Processo de Reabilitação de
Alunos com Surdocegueira
Pedagogical Practices in the Rehabilitacion
Process of Deafblind Students
Prácticas pedagógicas en
el proceso de rehabilitación de estudiantes con sordoceguera
* Thaís
Ferreira Bigate
Professora
Mestre no Instituto Benjamin Constant. Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil.
thaisbigate@yahoo.com.br
** Neuza Rejane Wille
Lima
Professora
doutora na Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,
Brasil.
rejane_lima@id.uff.br
Recebido em 13 de setembro de 2018
Aprovado em 19 de setembro de 2018
Publicado em 05 de junho de 2019
RESUMO
O presente estudo buscou analisar as práticas pedagógicas
empregadas no processo de reabilitação de alunos com surdogueira
do Instituto Benjamin Constant. A surdocegueira é uma
deficiência que compromete os principais sentidos de recepção de informação, logo,
os professores devem utilizar práticas distintas daquelas usadas com os demais
alunos com deficiência visual e, se a população surdocega
tem como principal característica a heterogeneidade, deve existir diferenças
nos atendimentos de alunos que apresentam distinto período de aquisição da
deficiência e de graus de perda da audição e da visão. A fim de compreender
esse processo, o estudo de caso foi selecionado como metodologia e a coleta de
dados foi realizada por meio de levantamento bibliográfico e entrevista
semiestruturada. Concluiu-se que a principal dificuldade encontrada pelos
professores foi a comunicação e que a presença de um tradutor e intérprete de
Língua Brasileira de Sinais (Libras) é fundamental nesse contexto. As ações
mencionadas pelos professores foram consideradas relevantes, possibilitando o
acesso dos alunos com surdocegueira aos conteúdos das aulas.
Palavras-chave: Surdocegueira; Práticas pedagógicas; Reabilitação.
ABSTRACT
The present study sought to analyze the pedagogical
practices employed in the process of rehabilitation of deafblind
students from Instituto Benjamin Constant. Deafblindness is
a disability that compromises the main senses of receiving information, so the teacher
should use different tasks from the ones used with the other visually impaired
students and, if deafblind population has as its main
characteristic heterogeneity, there must exist differences in the attendance of
students that present different periods of disability acquisition and varied
degrees of hearing loss and vision. In order to better understand this
process, case study was selected as methodology and data collection was carried
out through bibliographic survey and semi-structured interview. It was concluded that the main challenge found by the teachers
was communication and the presence of a translator of Brazilian Sign Language
(Libras) is fundamental in this context. The practices mentioned by the
teachers were considered relevant, as they allowed the
deafblind students' access to the content of the
classes.
Keywords: Deafblindness;
Pedagogical practices; Rehabilitation.
RESUMEN
El presente estudio buscó analizar las prácticas pedagógicas empleadas en el
proceso de rehabilitación
de estudiantes con sordoceguera del Instituto Benjamín Constant. La sordoceguera
es una deficiencia que compromete los
principales sentidos de recepción
de información, luego los profesores deben utilizar prácticas
distintas de aquellas usadas con
los demás estudiantes con deficiencia visual y, si la población sordocega tiene como principal característica la
heterogeneidad, debe
existir diferencias en las atenciones de estudiantes que presentan distinto período de adquisición
de la discapacidad y de
grados de pérdida de la audición y de la visión. A fin de comprender este proceso, el estudio de caso fue seleccionado como metodología y la recolección de datos fue realizada por medio de levantamiento bibliográfico y entrevista semiestructurada. Se concluyó que
la principal dificultad
encontrada por los profesores
fue la comunicación
y que la presencia de un traductor e intérprete de Lengua Brasileña de Señales (Libras) es
fundamental en ese
contexto. Las acciones
mencionadas por los profesores
fueron consideradas relevantes, posibilitando
el acceso de los estudiantes con sordoceguera a los contenidos de las clases
Palabras clave:
Sordoceguera; Prácticas
pedagógicas; rehabilitación.
Características da surdocegueira
A surdocegueira é
caracterizada pela perda coexistente e significativa dos sentidos da visão e da
audição. Trata-se de uma deficiência única, em que não há compensação[1] do déficit
auditivo pela visão, tampouco do déficit visual pela audição, o que resulta em
problemas de comunicação, informação e mobilidade. Conforme a organização não
governamental Grupo Brasil de Apoio ao Surdocego e ao
Múltiplo Deficiente Sensorial,
Surdocegueira é uma
deficiência singular que apresenta perdas auditivas e visuais concomitantemente
em diferentes graus, levando a pessoa com surdocegueira
a desenvolver diferentes formas de comunicação para entender e interagir com as
pessoas e o meio ambiente, para ter acesso a informações, uma vida social com
qualidade, orientação, mobilidade, educação e trabalho. (GRUPO BRASIL, 2007
apud MAIA, 2011, p. 51)
A
linguagem e a comunicação são desafios na surdocegueira.
Tantas especificidades resultam em várias possibilidades de linguagem para a
comunicação do sujeito com o mundo, sendo alvo de grande interesse nos estudos
sobre surdocegueira.
Estas
são algumas das formas de comunicação utilizadas por esse público (WATANABE,
2017, p. 105):
– Língua de sinais tátil: língua de sinais
percebida pelo tato da pessoa com surdocegueira;
– Língua de sinais em campo reduzido – língua
de sinais em espaço menor e com distância variada de acordo com a condição
visual da pessoa surdocega.
– Braille tátil:Braille
adaptado para que possa ser percebido pelo tato. Sistema em que os dedos
indicador e médio representam a cela Braille[2]
e cada falange, o espaço de marcação dos pontos, viabilizando que palavras
sejam escritas nos dedos dos que dominam a técnica. Em outra adaptação, os
dedos indicador, anelar e médio de ambas as mãos representam os seis pontos do
Braille de uma cela imaginária, que serão tocados pelo interlocutor.
– Escrita na palma da mão: usar o dedo como lápis para escrever na palma
da mão da pessoa surdocega, geralmente em letras de
forma.
– Fala ampliada: fala próxima ao melhor
ouvido da pessoa com surdocegueira.
– Tadoma: a pessoa surdocega
toca com a mão no rosto - queixo e pescoço - da pessoa que está falando,
percebendo as vibrações da fala e movimentos fonoarticulatórios.
– Alfabeto manual tátil: alfabeto manual
feito na palma da mão.
– Pranchas de comunicação: prancha com letras em relevo ou em Braille
para que o dedo indicador da pessoa com surdocegueira
seja conduzido até as letras para formas palavras.
– Objetos de referência: objetos
significativos da rotina que indicam pessoas, ações, lugares e tempo.
– Expressões/Gestos Naturais: expressos por
sons, vocalizações ou movimentos, como choro, sorriso, movimento corporal,
expressões corporais e faciais.
– Sinais Personalizados: sinais criados pelas
pessoas com surdocegueira e seus parceiros de
comunicação.
O processo de reabilitação
O aparecimento ou aquisição de qualquer
deficiência na vida adulta pode implicar um processo de adaptação à nova
condição. O programa de reabilitação constitui um conjunto de ações que busca
reeducar seus alunos considerando sua nova realidade. Para isso, como em
qualquer outra ação pedagógica, deve respeitar a individualidade, a
potencialidade, o interesse e o desenvolvimento psicológico-social do educando
(BRASIL, 2001).
A Lei Brasileira de Inclusão afirma que é
dever do Estado, da sociedade e da família assegurar à pessoa com deficiência,
dentre outros direitos, a reabilitação. Segundo a lei, o processo de
reabilitação
[...] tem por objetivo o
desenvolvimento de potencialidades, talentos, habilidades, aptidões físicas,
cognitivas, sensoriais, psicossociais, atitudinais, profissionais e artísticas
que contribuam para a conquista da autonomia da pessoa com deficiência e de sua
participação social em igualdade de condições e oportunidades com as demais
pessoas. (BRASIL, 2015)
Para tanto, esse trabalho é desenvolvido por
equipe multidisciplinar formada por profissionais de educação e saúde e, não
menos importante, com a participação da família.
Os profissionais que realizam o trabalho de
reabilitação são médico oftalmologista e clínico, com avaliação inicial,
acompanhamento e indicação de recursos ópticos que melhoram a resolução de
imagens nos casos de haver resíduo visual; assistente social, com levantamentos
relevantes para o processo, encaminhamento e orientação aos atendimentos e
orientação familiar; psicólogo, com avaliação psicológica, orientação quanto ao
programa, acompanhamento e orientação psicológica ao reabilitando[3]
e à família; professores especializados em Braille, soroban[4],
informática com recursos adaptados para pessoas com deficiência visual,
orientação e mobilidade, educação física e artes; e terapeutas, que inclui fisioterapeutas,
terapeutas ocupacionais e fonoaudiólogo para deficiências associadas. (BRASIL,
2001)
Quando
se trata de alunos com surdocegueira, a equipe
multidisciplinar deve contar com professores com capacitação em Língua
Brasileira de Sinais (Libras) e tradutor e intérprete de LIBRAS com capacitação
em guia-interpretação. Dessa forma, poderá atender os alunos de acordo com suas
especificidades no que se refere à linguagem e à comunicação.
O Instituto Benjamin Constant (IBC) foi em
1854, durante o império de Dom Pedro II com o nome de Imperial Instituto de
Meninos Cegos. O IBC foi primeira instituição na América Latina destinada ao
ensino de pessoas com deficiência, especificamente a deficiência visual. Além
de dedicar-se à Educação Básica, a Instituição também oferece a comunidade o
serviço de Reabilitação pelo O Departamento de Estudos e Pesquisas Médicas e de
Reabilitação (DMR). Nesse Departamento, há um programa específico para alunos
com surdocegueira - o Programa de Atendimento e Apoio
ao Surdocego (PAAS), que foi criado em 1993 com o
nome de Programa Piloto de Atendimento ao Deficiente Auditivo-Visual. O PAAS
atende alunos com surdocegueira congênita e
adquirida, respeitando suas especificidades comunicacionais, sua funcionalidade
e seus interesses. No programa, os alunos podem ter aulas individuais de
Braille, soroban e aprender outras formas de comunicação além das que o aluno
já utiliza ou ampliar a linguagem já existente. Além disso,
os profissionais do programa, professores e guia-intérprete, acompanham os
alunos nas demais aulas e atividades oferecidas pela Programa de Reabilitação,
possibilitando a inclusão em turmas de deficientes visuais ou mediando a
comunicação em aulas individuais como orientação e mobilidade, bem como
atividades pedagógicas, culturais, artísticas e sociais desenvolvidas ao longo
do processo de reabilitação.
Práticas pedagógicas
A prática pedagógica é compreendida como uma
prática social conduzida por objetivos, finalidades e conhecimentos.
Considerando o contexto social, ela presume uma relação teoria-prática em que
ambas se influenciam e podem gerar modificações uma na outra, havendo, assim,
uma dependência mútua entre teoria e prática.
O
aspecto teórico é configurado por ideias que são sistematizadas a partir da
prática e/ou anseios baseados no cotidiano de vida e trabalho. O aspecto
prático é composto de meios pelos quais as teorias pedagógicas são colocadas em
ação. Enquanto a primeira está no campo ideal, teórico, idealizado, a segunda
está no campo real, objetivo, material.
Segundo Veiga,
O lado teórico é representado por um conjunto de ideias
constituído pelas teorias pedagógicas, sistematizado a partir da prática
realizada dentro das condições concretas de vida e de trabalho. [...] O lado
objetivo da prática pedagógica é constituído pelo conjunto de meios, o modo
pelo qual as teorias pedagógicas são colocadas em ação pelo professor. (VEIGA,
1989, p.17)
Esse conjunto de meios também está
relacionado a questões materiais, vivências e recursos didáticos empregados em
sala de aula. Esses aspectos, que integram a prática pedagógica, são de suma
importância para a efetiva inclusão. Adaptações, criação de materiais
específicos, reorganização temporal e espacial, com a intencionalidade de
atender a diversidade oportunizam aprendizagens significativas.
Essa possibilidade de
personalizar o ensino, respeitando as dificuldades e os talentos dos alunos, a
partir do uso de estratégias pedagógicas diferenciadas, pode ampliar
consideravelmente a inclusão com desenvolvimento acadêmico e social do sujeito
com deficiências. (PLETSCH, SOUZA E
ORLEAN, 2017, p. 273)
Com as devidas adequações, é possível incluir
o aluno com deficiência nas situações de aprendizagem que os demais estão
vivendo. Atender às diferenças individuais que o estudante possa apresentar
viabiliza a igualdade ao acesso e permanência na escola a que todos têm
direito.
A perspectiva desta pesquisa reflete no lado
objetivo da prática pedagógica, visando às ações docentes para que o aluno com surdocegueira participe ativamente das atividades
educacionais oferecidas pelo Programa de Reabilitação do IBC. Nesse contexto, o
lado teórico não foi excluído, contudo, a questão do estudo teve como foco a
perspectiva prática, o “como”, os procedimentos para que o discente com surdocegueira possa realizar as atividades e atingir os
propósitos assim como os demais alunos.
O percurso metodológico da
pesquisa
Com base nos objetivos traçados, o estudo de
caso foi selecionado como metodologia mais adequada, uma vez que o procedimento
é empregado em circunstâncias em que se buscam compreender fenômenos sociais
complexos, sejam eles de natureza individual, organizacional, social, político
e de grupo.
Para Yin (2005),
Em geral, os estudos de
caso representam a estratégia preferida quando se colocam questões do tipo
“como” e “por que”, quando o pesquisador tem pouco controle sobre os
acontecimentos e quando o foco se encontra em fenômenos contemporâneos
inseridos em algum contexto da vida real. (YIN, 2005, p. 26)
Nesse caso, o fenômeno complexo inserido em
contexto real é o atendimento de alunos com surdocegueira
no Programa de Reabilitação que ocorre no Instituto Benjamin Constant. A
principal questão é como esse atendimento é realizado especificamente por parte
dos professores. A formulação da questão ou formulação do problema, como é
denominada por Gil (2002), surge de um longo processo de reflexão e de pesquisa
bibliográfica. O contato direto da pesquisadora com os professores do Programa
de Reabilitação e o levantamento bibliográfico sobre a temática foram
essenciais para seleção e delimitação da questão de estudo.
Além da questão do estudo, segundo Yin
(2005), também pode haver proposições que auxiliam na procura de evidências
relevantes para estudo. No caso em questão, pressupõe-se que, se a surdocegueira é uma deficiência que compromete os
principais sentidos de recepção de informação, os professores devem utilizar
práticas distintas daquelas usadas com os demais alunos com deficiência visual
e, se a população surdocega tem como principal
característica a heterogeneidade, deve existir diferenças nos atendimentos de
alunos que apresentam distintos períodos de aquisição da deficiência e graus de
perda da audição e da visão.
Considerando
as proposições e a questão do estudo, a unidade de análise foi um grupo de
professores lotado na Divisão de Reabilitação que ministra ou ministrou aulas
para alunos com surdocegueira. Foi dada prioridade
àqueles profissionais que atenderam a mais de um estudante e com
características diferentes no que se refere à deficiência. Outro critério de
seleção foi a área de atuação, sendo convidados docentes com formações
diversas. Além dos professores, também foi entrevistado o tradutor e intérprete
de Libras da Instituição, visto que a profissional exerce uma função
importantíssima que é a mediação da comunicação entre professores e alunos.
Considerando o interesse em levantar e
relatar informações acerca das práticas pedagógicas utilizadas pelos
professores para o atendimento de alunos com surdocegueira,
as questões suscitadas foram:
– Quando e onde foi seu primeiro contato com
alunos com surdocegueira?
– Quais as dificuldades encontradas no atendimento a esse público?
– Quais práticas pedagógicas foram empregadas para a inclusão/participação
desse aluno em suas aulas?
Foram
convidados e aceitaram participar do estudo oito professores e um tradutor e
intérprete de Libras. Em relação às práticas pedagógicas, foram analisadas as
entrevistas de seis professores dos seguintes atendimentos: Orientação e
Mobilidade, Artes (dois), Educação Física, Braille e Informática Educativa.
Coleta e análise de dados
Ao selecionar o corpus da pesquisa foram
identificadas as práticas pedagógicas mais recorrentes no atendimento dos
discentes com surdocegueira. Posteriormente, as
práticas foram classificadas em categorias de acordo com seus aspectos em
comum. Conforme Bardin,
Classificar elementos em
categorias impõe a investigação do que cada um deles tem em comum com outros. O
processo classificatório possui importância considerável em toda e qualquer actividade científica. A partir do momento em que a análise
de conteúdo decide codificar o seu material, deve produzir um sistema de
categorias. A categorização tem com primeiro objectivo,
fornecer, por condensação, uma representação simplificada dos dados brutos.
(BARDIN, 1973, p.119)
Desse modo, o agrupamento de elementos a
partir de características comuns pode facilitar a compreensão e a exposição dos
dados coletados. Neste estudo, especificamente, a categorização teve por
objetivo simplificar e organizar a discussão dos dados da pesquisa.
Entrevistas
Professor de Informática Educativa
O professor de Informática Educativa teve seu
primeiro contato com alunos com surdocegueira no IBC
no ano de 2017. O mesmo recebeu em sua classe, em períodos diferentes, dois
alunos com graus de perdas sensoriais distintos. Um dos alunos tinha baixa
audição e era cego. A forma de comunicação usada era a fala ampliada. O
professor necessitava falar mais alto e próximo ao aluno e o mesmo conseguia
compreender com sua audição residual. O outro, surdo e com baixa visão. Sua
forma de comunicação era a Libras em campo reduzido.
– Relato do
docente:
A maior
dificuldade que encontrei foi minha lacuna na formação do uso da Libras e, por
isso, fico muito dependente do acompanhamento da intérprete.
Quando
começamos a trabalhar com os alunos da surdocegueira,
tivemos uma grande dificuldade, porque o material que a gente usa, que é o
Software Digitavox, é todo baseado em áudio, para os
exercícios de domínio do teclado. Nós tivemos então que fazer a adaptação do
material didático.
[...] Foi
quando elaboramos esse pequeno Software, muito simples, mas baseado na visão
residual que a aluna tinha. Utilizamos também sinais de Libras, o alfabeto com
a palavra escrita e a imagem. Faltou acrescentar, como a gente tinha planejado,
o vídeo... o vídeo de um intérprete de Libras. Não foi muito necessário, porque
a aluna demonstrou domínio do teclado com muita rapidez.
Professor de Artes (Cerâmica)
O professor de Artes teve seu primeiro
contato com alunos com surdocegueira no IBC no ano de
2014. O profissional relatou ter
recebido em suas turmas, ao longo desse período (2014 a 2018), alunos com graus
de perdas sensoriais distintos.
– Trechos da entrevista do docente:
A
primeira dificuldade que eu encontrei neste contato foi a questão da
comunicação, embora a gente tivesse a ferramenta de ter o aporte, o suporte da
professora e da intérprete, eu senti necessidade de estar trabalhando com este
aluno diretamente alguns conceitos no processo ensino-aprendizagem, o que é
importante, então eu busquei um curso de Libras […].
A outra
dificuldade que eu encontrei, e ainda não considero superada, é a questão dos
materiais, a adaptação de materiais, embora a gente tenha aqui também o
Departamento de materiais e eu tenha cumprido também cursos para esse
Departamento, ainda acredito que nós precisamos pensar em estratégias para a
pessoa com surdocegueira individuais, porque cada
pessoa ela é um indivíduo, então vai apresentar uma gradação de cegueira ou de
surdez diferenciada. Isso muda também o material que eu vou trabalhar […].
As práticas
pedagógicas para os alunos com surdocegueira, elas
seguem as mesmas práticas dos outros alunos cegos ou com baixa visão.
[...]É
claro que eu acredito que se não tivéssemos um setor específico para esse
aluno, que ele tivesse essa aula, a coisa seria muito mais difícil. Eu acho que
a partir do momento que você tem professores que trabalham com professores,
tudo vai se encaixando.
Professor de Orientação e Mobilidade
O professor de Orientação e Mobilidade teve
seu primeiro contato com alunos com surdocegueira no
IBC no ano de 2004. O profissional ministra aulas para dois alunos com perfis
de perdas sensoriais e formas de comunicação diferentes. Um dos alunos tem
baixa audição e baixa visão. A forma de comunicação usada é a fala ampliada. O
outro, surdo e com baixa visão, sua forma de comunicação é a Libras em campo
reduzido, sendo necessária a presença da tradutora e intérprete da língua de
sinais.
– Trechos da entrevista do docente:
E dentro
dessas comunicações que nós estamos fazendo, a que tem resíduo auditivo, eu
tenho contato, eu não preciso da intérprete para passar as informações para
ela. Já a que não tem o resíduo auditivo, eu necessito do intérprete, para
passar as informações mais precisas.
[…] durante o desenvolver das atividades, eu
procuro trabalhar com a demonstração, pegando na mão do aluno e demonstrando
para o aluno como o movimento deve ser feito. Então, eu procuro, e o intérprete
em si, ele dá o reforço para mim, ele vai, eu demonstro para ele e o intérprete
dá o reforço da palavra, da língua para esse aluno.
Professor de Artes (Artes Visuais)
O professor de Artes teve seu primeiro
contato com alunos com surdocegueira no IBC. Em sua
primeira experiência, o profissional não teve o suporte de um tradutor e
intérprete de Libras.
– Trechos da entrevista do docente:
Eu tenho
uma aluna surdocega que a primeira língua dela é a
Libras. E de uns dois meses para cá, eu percebi que a grande dificuldade dela
não era o Sistema Braille. Ela já vinha entendendo a lógica do Sistema, mas na
hora de colocar em prática, tanto na escrita, quanto na leitura, ela
apresentava uma dificuldade muito grande. E aí eu percebi que a dificuldade era
a língua portuguesa. Então eu comecei a obedecer à estrutura da primeira língua
dela, que é a Libras, e começou a dar super certo.
Então ela vem se desenvolvendo muito bem depois dessa mudança que a gente teve.
[...]O
aluno, por exemplo, que tem resíduo auditivo, a gente tem uma preocupação de
dar essa aula em um ambiente silencioso e conversar com esse aluno para saber
se ele está entendendo direitinho, se ele está ouvindo. É esse aluno que vai
dar esse feedback para a gente, se precisa aumentar o tom de voz ou não, então
há esse diálogo. As aulas com esse aluno com resíduo auditivo não difere muito
das aulas do aluno que tem a deficiência visual. O que vai diferenciar é isso
mesmo, é o local e esse feedback do aluno, se ele está escutando ou não e como
está sendo o andamento da aula. Para o aluno surdocego
total, aquele que não tem nem resíduo auditivo e nem resíduo visual, que ainda
não compreende alguns conceitos, que tem o vocabulário reduzido, nós podemos
trabalhar com material concreto para facilitar o processo de aprendizagem do
Sistema Braille.
Professor de Educação Física
O professor de Educação Física teve seu
primeiro contato com alunos com surdocegueira no IBC.
Ministrou aulas individuais para um aluno com perda total da visão e da audição
e que se comunicava com sinais caseiros. As atividades eram realizadas em
ambiente aquático e a comunicação era direta entre professor e aluno. No
decorrer das atividades, o discente comunicava-se por meio de expressões
faciais e corporais, dessa forma, o docente conseguia perceber se o aluno
estava satisfeito com as atividades ou não.
Outros
dois alunos foram atendidos em uma turma com pessoas com deficiência visual. O
primeiro comunicava-se por meio da fala ampliada, ou seja, bastava que o
professor falasse mais alto e próximo ao aluno para que ele entendesse os
comandos para realização das atividades. O segundo aluno era usuário da língua
de sinais, logo, a presença do intérprete era importante para auxiliar na
comunicação entre professor e aluno.
– Trechos da
entrevista do docente:
A partir
do contato com esses alunos, eu busquei capacitação. Então umas das
capacitações que eu busquei foi o curso de Libras no Instituto Nacional de
Educação de Surdos, o qual eu ainda faço, faltam seis meses para finalizar, se
eu não me engano, e uma outra forma de capacitação, que eu entendo como uma
formação continuada, promovida pelo próprio Instituto Benjamin Constant, é
dentro da nossa carga horária, a gente poder trabalhar com grupos de pesquisa.
[...] ali nesse grupo, a gente trabalha a nossa prática dentro do Instituto
Benjamin Constant. E uma das nossas práticas, minha e dos outros integrantes, é
a surdocegueira.
Discussão das entrevistas
Como mencionado nesta pesquisa, a prática
pedagógica é compreendida como uma prática social conduzida por objetivos,
finalidades e conhecimentos com uma relação teórico-prática, em que a teoria
consiste no plano das ideias e a prática no plano das ações. (VEIGA, 1989)
Todas as ações mencionadas pelos
entrevistados objetivando a participação e a inclusão dos alunos com surdocegueira são consideradas práticas pedagógicas; dessa
forma, foram apreciadas todas as ações docentes que incidiram no processo de
ensino-aprendizagem dos alunos com surdocegueira.
A diversidade é considerada natural e
salutar, como afirma Cambruzzi e Costa (2016), e cabe
à escola pensar nesse aspecto tão relevante. O relato dos professores demonstra
como é importante pensar na heterogeneidade, tanto ao que se refere às
distinções entre os alunos com deficiência visual e os com surdocegueira,
quanto às diferenças entre os discentes com a mesma deficiência.
O quadro 1 mostra com mais clareza as
práticas pedagógicas empregadas pelos professores participantes da pesquisa.
Quadro 1 – Resultado da pesquisa
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS |
Prof. A Informática Educativa |
Prof. B Artes (cerâmica) |
Prof. C O.M. |
Prof.D Artes Visuais |
Prof. E Braille |
Prof. F Educação Física |
Adaptação de material didático |
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Adaptação de método de ensino |
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Auxílio de
intérprete de Libras |
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Trabalho colaborativo |
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Modulação de
voz |
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Instruções táteis |
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Curso de Libras |
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Participação em grupos de pesquisa |
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Atividades individualizadas |
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Material concreto |
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ü
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Fonte: Autores.
O quadro 2
apresenta as práticas pedagógicas separadas por categorias, considerando as
características comuns dos elementos. As práticas relacionadas à forma como é
estabelecida a comunicação entre professor e aluno, sejam elas diretas ou
mediadas, foram chamadas de comunicação;
as ações referentes à formação continuada[5]
dos profissionais para atuarem com os alunos com surdocegueira,
anteriores ao ingresso no IBC ou durante o exercício na instituição, foram
denominadas capacitação profissional;
e os procedimentos relativos aos materiais usados nas aulas e as adaptações de
métodos de ensino foram intitulados materiais
e métodos.
Tabela 1 – Categorização das práticas pedagógicas
CATEGORIAS |
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS |
Comunicação |
Auxílio de intérprete de Libras; Modulação de voz;
Instruções táteis |
in Capacitação
profissional |
Curso de Libras; Participação em grupo de pesquisa |
Materiais e métodos |
Adaptação de material didático; Adaptação de
método de ensino; Material concreto; Atividades individualizadas; Trabalho
colaborativo |
Fonte: Autores
Comunicação
Os profissionais de Informática Educativa,
O.M. e Artes Visuais mencionaram que “dependem” do intérprete de Libras por não
dominarem a língua. Apesar de relatarem estabelecer alguma comunicação e até
conseguirem desenvolver algumas atividades com base em modelos concretos, o
ensino de conceitos só é viável com a presença do tradutor e intérprete.
Quanto
ao tradutor e intérprete de Libras, a presença de apenas um profissional no
quadro da Instituição pode dificultar a acessibilidade dos alunos. Em algumas
atividades, os professores do PAAS e o intérprete fazem a mediação na
comunicação, isso ocorre nos horários em que há mais de um aluno com surdocegueira na mesma turma ou realizando atividades
distintas. A falta de conhecimento a respeito da função também pode gerar
incômodo nos professores que não estão acostumados com a presença desse
profissional em suas aulas.
Apesar
de ainda não vigorar medida legal em âmbito nacional que disponha sobre o
revezamento de profissionais durante a tradução e interpretação, tramita na
câmara de deputados de Brasília o Projeto de Lei nº 9.382/2017, que dispõe
sobre o exercício profissional e condições de trabalho do profissional
tradutor, guia-intérprete e intérprete de Libras, que revogaria a Lei nº
12.319, de 1º de setembro de 2010 (BRASIL, 2010).
A
medida propõe que,
Art. 5º A duração do
trabalho dos profissionais de que trata essa Lei será de 6 (seis) horas diárias
ou de 30 (trinta horas semanais). Parágrafo único. O trabalho de tradução e
interpretação superior a uma hora de duração deverá ser realizado em regime de
revezamento, com, no mínimo, 2 (dois) profissionais.
Enquanto
a Lei nº 12.319/10 normatiza a profissão de Tradutor e Intérprete da Língua
Brasileira de Sinais, apresenta suas funções e a capacitação exigida para o
exercício do cargo, o Projeto de Lei nº 9382/2017 também regulamenta a
profissão de guia-intérprete, bem como suas funções e capacitação necessária e
propõe a duração de trabalho dos profissionais e o revezamento em casos de
trabalho superior a uma hora. Como afirma Bueno (2013), as horas laborais e o
revezamento têm grande influência na qualidade do trabalho e até mesmo na saúde
dos intérpretes, uma vez que a função exige grande esforço físico e mental. Em
um ambiente em que a presença desse profissional é imprescindível, é muito
importante pensar nas condições de trabalho e na logística para que todos os
alunos com surdocegueira disponham de acessibilidade.
Sobre a modulação de voz, ela é mencionada
como prática pedagógica, pois é uma atitude importante quando se trata de
alunos com resíduo auditivo e que tenham a fala ampliada como forma de recepção
da informação. Ao atuar com esse público, o professor deve estar atento à altura
da voz, à velocidade em que fala e até mesmo à sua dicção (maneira de articular
ou pronunciar palavras), uma vez que todos esses aspectos influenciam na
qualidade em que a informação chega até o discente.
As
instruções táteis foram destacadas no estudo, pois apesar de também serem
comuns com as pessoas com deficiência visual, em certas circunstâncias,
tornam-se indispensáveis para os alunos com surdocegueira,
principalmente quando são usuários de Libras e os professores não dominam a
língua, e também nos casos em que o aluno não possui comunicação formal
estabelecida (comunicação por sinais caseiros e expressões faciais e
corporais). Estratégias como a do professor de Orientação e Mobilidade, que
realiza o movimento junto com o aluno para que ele compreenda como deve
executar a tarefa, vêm sendo realizadas há algum tempo no campo da surdocegueira. O professor e sociólogo Jan Van Dijk, em 1989, apresentou procedimentos que podem auxiliar
no desenvolvimento de comunicação de crianças com surdocegueira
congênita. Um deles é chamado de ressonância (BRASIL, 2006):
A ressonância consiste no
movimento corpo a corpo, sendo que a iniciativa do movimento parte da criança.
O objetivo desta fase consiste no estabelecimento dos primeiros contatos com a
criança e na introdução de modalidades de comunicação baseadas no movimento.
Neste período, estabelece-se um vínculo corporal entre o adulto e a criança, a
partir do qual o adulto passa a fazer parte do universo dela. A ação corporal
permite estabelecer um diálogo por meio do movimento. (BRASIL, 2006, p. 18)
Por
meio da ação corpo a corpo, o docente consegue comunicar qual é a tarefa e como
ela deve ser executada pelo aluno. Apesar de ser uma prática criada para a
comunicação de crianças, pode ser empregada com alunos de qualquer idade,
variando a complexidade da informação. Logo, pode ser vista como uma modalidade
comunicacional com base em movimento.
Capacitação Profissional
Os docentes de Cerâmica e Educação Física
buscaram capacitação em curso de Língua Brasileira de Sinais a partir da
dificuldade que encontraram para se comunicar com os alunos. O profissional de
Braille já havia feito curso de Libras antes de ingressar na Instituição.
Atualmente, os professores de Cerâmica e Braille têm o suporte do intérprete de
Libras quando precisam comunicar informações mais complexas ou em atividades em
que há mais de um aluno com a deficiência.
O Decreto nº 5.626/05 (BRASIL, 2005) garante
a inserção da Libras como disciplina curricular obrigatória em todos os cursos
de licenciatura, nas diferentes áreas do conhecimento e de cursos de formação
de professores e profissionais da educação para o exercício do magistério. No
entanto, o pouco tempo destinado ao estudo da língua não garante que o
professor tenha proficiência e aprenda o vocabulário específico de sua área de
atuação. Lemos e Chaves (2012) realizaram uma investigação em seis instituições
federais de Ensino Superior e constataram que a carga horária destinada à
disciplina de Libras varia de 30 a 68 horas e não há enfoque no vocabulário
específico dos cursos em que a disciplina foi incluída. Dessa maneira, a
formação continuada na Língua Brasileira de Sinais foi a solução encontrada por
alguns professores que atuam no Programa de Reabilitação para estabelecerem uma
melhor comunicação com os discentes com surdocegueira.
Mesmo nesses casos, a presença do intérprete continua sendo fundamental para
comunicar informações mais complexas e auxiliar as aulas em que há a presença
de mais de um aluno com surdocegueira.
Os professores de Cerâmica, Artes Visuais,
Braille e Educação Física declararam ter participado de grupo de pesquisa
específico sobre a surdocegueira ou que aborde a
temática. Todos informaram que o conhecimento teórico sobre as características
da deficiência foi importante para refletirem acerca das práticas específicas
para esse público.
Material e Métodos
Foi
considerada adaptação de método de ensino os casos dos professores de Braille e
Artes Plásticas. O primeiro alterou a ordem em que geralmente ensinava os
conteúdos para que o aluno entendesse com mais clareza os conceitos abordados
em aula, e o segundo alterou as atividades de leitura e escrita do conteúdo,
respeitando a estrutura da primeira língua do discente, a Libras,
possibilitando melhor compreensão.
Quanto ao primeiro caso, durante a observação
direta das aulas, notou-se que o professor de Artes utilizou materiais
concretos, pediu que o aluno os reproduzisse em desenhos bidimensionais para
posteriormente inserir os conceitos do campo da arte. Esse tipo de recurso é
comum entre pessoas surdas usuárias da língua de sinais e deve ser incorporado
nas aulas para favorecer a aprendizagem (LACERDA; SANTOS; CAETANO, 2011),
Assim, um elemento
imagético (uma maquete, um desenho, um mapa, um gráfico, uma fotografia, um
vídeo, um pequeno trecho de filme) poderia ser um material útil à apresentação
de um tema ou conteúdo pelos professores de ciências, física, química,
biologia, história, geografia, matemática, inglês, entre outros. Um elemento
visual que provocasse debate, que trouxesse a tona
conceitos, opiniões e que pudesse ser aprofundado na direção dos objetivos
pretendidos pelo professor. (LACERDA; SANTOS; CAETANO, 2011, p. 105)
O aluno em questão nasceu surdo, tem a Libras
como primeira língua e começou a perder a visão na vida adulta. Após a
diminuição da capacidade visual, o discente passou a receber as informações não
apenas pela comunicação visual-espacial, uma característica das línguas
gestuais, mas também pelo tato. Logo, sua experiência com a aquisição de
conceitos não difere muito das experiências dos alunos surdos.
Além disso, observa-se que
o intérprete não está presente nas aulas como um simples tradutor de
informações. A afirmação do docente demonstra que há uma relação colaborativa
entre os profissionais. A sugestão do intérprete possibilitou que os conceitos
fossem transmitidos de forma mais clara para o aluno com surdocegueira.
Como afirma Kotaki e
Lacerda,
Nesse sentido, o trabalho do professor em
parceria com o intérprete educacional é relevante na qualidade de ensino à
pessoa surda. Deve existir, entre eles, um planejamento comum todos os dias,
discutir e compartilhar ideias, refletir sobre as aulas diárias, e ter
oportunidade de sugerir adaptações e modificações para atender todas as necessidades
daquele aluno, facilitando o trabalho de interpretação como também de acesso às
informações e aprendizado do surdo. (KOTAKI; LACERDA, 2011, p. 135)
A
adaptação necessária para o aluno com surdocegueira,
respeitando a sua especificidade de comunicação, pode gerar melhor
aproveitamento e assimilação de conceitos.
Quanto
ao ensino do Sistema Braille, cabe recordar que no Brasil, ao se escrever com o
código, utiliza-se a língua portuguesa com todas as suas características
estruturais e se registra com a grafia do Sistema. No caso de uma pessoa surda,
o português é sua segunda língua e a língua de sinais a primeira, de forma que
o modo de ensino-aprendizagem do português será na modalidade escrita. Nessa
perspectiva, “o ensino de uma segunda língua deixa de ser um processo de
explicitação e domínio rígido de estruturas” (BRASIL, 2004). Assim,
analisando-se a prática do docente, compreende-se a razão pela qual foi
flexibilizado o ensino do Braille, uma vez que a primeira língua do aluno é a
Libras.
Durante
a observação direta das aulas, a pesquisadora perguntou ao professor como eram
essas adaptações de acordo com a estrutura da língua de sinais. O docente
afirmou que o aluno tem liberdade em escrever em Braille usando a estrutura da
Libras em seus exercícios. O aluno geralmente omite algumas preposições e usa
os verbos no infinitivo, quando em português seriam flexionados. Nas atividades
redigidas pelo professor, as orações são escritas tanto com a estrutura da
língua portuguesa, como semelhantes à Libras. Também há preferência na
elaboração de orações mais curtas para facilitar a compreensão. Assim, o
professor não deixa de mostrar como é a estrutura do português, como também não
considera incorreta a estrutura da Libras. O foco do ensino está em redigir e
compreender as informações em Braille.
Cabe
informar que durante o levantamento bibliográfico foram encontradas três
pesquisas que abordam a questão da leitura e da escrita de pessoas com surdocegueira. Entretanto, nenhuma delas aborda o método
utilizado pelo docente em questão (COSTA; CADER-NASCIMENTO, 2005; AGOSTINI;
COSTA, 2006; CADER-NASCIMENTO; FAULSTICH, 2016). Dessa forma, pode-se dizer que
o professor de Braille criou um método de ensino do Sistema para pessoas com surdocegueira usuárias de Libras.
Os
profissionais de Braille e Artes Plásticas mencionaram o emprego de materiais
concretos em suas aulas para facilitar a assimilação do conteúdo. Pode-se
considerar que “A progressão do sistema de comunicação geralmente parte do
concreto para o abstrato” (BRASIL, 2006, p. 33), sendo assim, a utilização de
materiais concretos possibilita uma melhor comunicação, o que é de suma
importância na aprendizagem de questões mais complexas e abstratas. Tanto para
alunos com deficiência visual quanto com surdocegueira,
[...] a utilização de
materiais concretos se torna imprescindível, haja vista que tem no concreto, no
palpável, seu ponto de apoio para as abstrações. Ele tem no tato seu sentido
mais precioso, pois é através da exploração tátil que lhe chega a maior parte
das informações. É através dela que ele tem a possibilidade de discernir
objetos e formar idéias. (FERRONATO, 2002, p. 41)
Um
aspecto observado nas entrevistas é que os professores de Artes (Visuais e de
Cerâmica), apesar de ministrarem a mesma disciplina, têm opiniões diversas em
relação aos materiais didáticos específicos para alunos com surdocegueira.
Enquanto o profissional de Cerâmica afirma que existe a necessidade de pensar
em adaptações de materiais para esse público, o profissional de Artes Visuais
assegura que são usados os mesmos materiais para todos os alunos.
Possivelmente, o fato de trabalharem conteúdos distintos influencie na
relevância de serem criados materiais específicos para educandos com surdocegueira.
Com
relação às aulas individuais, os professores de O.M. e Braille afirmaram fazer
uso dessa prática. Ela é comum em alguns tipos de atendimentos do Programa de
Reabilitação, em que o conteúdo deve ser flexibilizado de acordo com a
necessidade (atividades desenvolvidas no cotidiano do aluno e graus de perdas
sensoriais distintos) e interesses de cada educando.
A aula
individualizada é prevista na Lei Brasileira de Inclusão. Cabe ao poder público
assegurar, criar, desenvolver, implementar, incentivar, acompanhar e avaliar:
Art. 27. V - adoção de
medidas individualizadas e coletivas em ambientes que maximizem o
desenvolvimento acadêmico e social dos estudantes com deficiência, favorecendo
o acesso, a permanência, a participação e a aprendizagem em instituições de
ensino; (BRASIL, 2015)
Os
docentes de Cerâmica e Artes Visuais descreveram a necessidade de realizar
atividades individuais para atender a especificidade dos discentes. O
profissional de Educação Física teve alunos com surdocegueira
inclusos e também ministrou aulas individuais, uma vez que um dos alunos não
gostava de contato físico e apresentava outros comprometimentos além da surdocegueira.
Quanto ao trabalho colaborativo, considerando
o conceito de Libâneo (1994) de que os métodos de
ensino são as ações do professor visando à organização das atividades de ensino
para atingir objetivos em relação a um conteúdo específico, o item foi inserido
nessa categoria por ser compreendido como uma ação docente conjunta,
objetivando melhor atendimento dos alunos, de acordo com suas especificidades,
a fim de atingir os objetivos traçados.
O
profissional de Cerâmica considerou importante a presença de um professor do
PAAS nas aulas. Essa articulação entre os pares possibilita que o professor do
Programa observe diretamente o desenvolvimento do aluno, dê sugestões para
melhor atender às especificidades e colha informações que possam ser
pertinentes para o atendimento individualizado, sendo uma troca proveitosa para
ambos e para a evolução do aluno. Para Loiola,
[...] o trabalho
colaborativo entre docentes constitui-se em excelente espaço de aprendizagem,
permitindo a identificação de suas forças, fraquezas, dúvidas e necessidades de
reconstrução, a socialização de conhecimentos, a formação de identidade grupal
e a transformação de suas práticas pedagógicas. (LOIOLA, 2005, p. 220).
Em suma, para Cambruzzi
e Costa (2016), os serviços educacionais destinados às pessoas com surdocegueira ainda estão distantes de promover a inclusão
com qualidade, entretanto, nesse estudo, vê-se que algumas ações já vêm sendo
realizadas para que os alunos com surdocegueira
possam participar ativamente das atividades oferecidas pela Instituição.
A surdocegueira ainda é uma modalidade relativamente nova na
Educação Especial, bem como a compreensão das necessidades educacionais e
sociais desses indivíduos (LEME, 2015). Logo, muito ainda deve ser feito para
que esse público tenha igualdade de condições. Medidas como a formação
continuada e a presença de mais profissionais capacitados, principalmente
guias-intérpretes, são indispensáveis para que se dê seguimento ao processo de
inclusão. Como afirma Reyes (2004), a comunicação é a chave para a inserção
social e também educacional da pessoa com surdocegueira,
portanto, tudo que está relacionado a essa questão requer maior atenção e
interesse.
Conclusão
A presente pesquisa relatou e analisou as
práticas pedagógicas utilizadas pelos professores no processo de reabilitação
de alunos com surdocegueira do Instituto Benjamin
Constant. Os resultados obtidos demonstram que a comunicação é a maior
dificuldade encontrada no processo ensino-aprendizagem dos discentes com surdocegueira. O principal entrave encontra-se na
comunicação de alunos que são usuários da Língua Brasileira de Sinais e que,
com isso, a presença do tradutor e intérprete de Libras é fundamental para
auxiliar na comunicação entre professor e aluno, bem como a capacitação do
próprio docente na língua de sinais. As ações mais significativas relatadas nas
entrevistas foram a adaptação de material didático pedagógico, a adaptação de
método de ensino, o auxílio de tradutor e intérprete de Libras, o trabalho
colaborativo, a modulação de voz para o aluno com baixa audição, as instruções
táteis, os materiais concretos, a capacitação em curso de Libras, a
participação em grupo de estudos e as necessidades da realização de atividades
individualizadas com os alunos.
Outro aspecto observado durante a análise das
práticas pedagógicas é que, apesar de ser uma deficiência única e não o
somatório da deficiência visual com a auditiva, muitas das ações realizadas no
atendimento ao público com surdocegueira são com base
nas práticas pedagógicas empregadas na educação de pessoas com deficiência
visual e deficiência auditiva. Geralmente, o que define essa relação são o grau
de perda do aluno e a língua que ele faz uso, como, por exemplo, o caso dos
alunos com surdocegueira usuários da Língua
Brasileira de Sinais.
As práticas pedagógicas vêm possibilitando a
participação dos alunos nas aulas mencionadas e comprovam que é possível a
inclusão das pessoas com surdocegueira em um ambiente
de alunos com deficiência visual. Apesar de não ser uma prática fácil, ainda é
considerada viável, que demanda diálogo entre os profissionais que atuam com
esses estudantes, aulas e momentos individualizados, estudos sobre a
deficiência e a especificidade de cada aluno.
Acredita-se que muitos passos devam ser dados
para que novas práticas pedagógicas surjam e atendam aos alunos com surdocegueira, principalmente àqueles com perda total da
visão e da audição. Novas investigações devem ser elaboradas para se buscar
compreender como são as práticas pedagógicas em outros ambientes e níveis educacionais.
O intuito da pesquisa foi relatar as práticas pedagógicas específicas que vêm
sendo utilizadas no processo de reabilitação de alunos com surdocegueira
e que cada um deles deve ser respeitado dentro de suas características
específicas, principalmente no que se refere à sua forma de comunicação e de
percepção do mundo.
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e métodos. 3 ed. Porto Alegre: Bookman, 2005.
Notas
1 Segundo Vygotsky, quando há um
“defeito ou problema
físico” de qualquer natureza,
“o defeito age como um incentivo para aumentar o desenvolvimento
de outras funções no
organismo. [...] ele ativa, desperta
o organismo para redobrar atividade, que compensará o defeito
e superará a dificuldade.” O
organismo exige mais dos sentidos remanescentes
para compensar a ausência de outro.
(VYGOTSKY, 1989, p.54)
2 A cela é formada por duas colunas e três linhas de pontos. A localização dos pontos é dada de cima para baixo, primeiramente na coluna da esquerda
e posteriormente na coluna
da direita e são
denominados respectivamente pontos números 1, 2, 3, 4, 5 e 6. Cada combinação de pontos em relevo
forma, portanto, determinada letra ou sinal de pontuação.
(NICOLAIEWSKY; CORREA, 2008, p. 231)
3 Os alunos
de programas de reabilitação também
são comumente chamados de reabilitandos.
4 Instrumento manual para fazer cálculos matemáticos.
5 O conceito
ora se restringe o significado da expressão aos limites de cursos estruturados e formalizados oferecidos
após a graduação, ou após ingresso
no exercício do magistério,
ora ele é tomado de modo amplo e genérico, como compreendendo qualquer tipo de atividade que venha a contribuir
para o desempenho profissional.
(GATTI, 2008)
Correspondência
Thaís Ferreira Bigate – Instituto Benjamin Constant. Av. Pasteur, 350 / 368 -
Urca, Rio de Janeiro.CEP: 22290-240. Rio
de Janeiro, Rio de Janeiro Brasil.
This
work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International (CC BY-NC 4.0)
[1] Segundo Vygotsky, quando há um “defeito ou problema físico” de qualquer
natureza, “o defeito age como um incentivo para aumentar o desenvolvimento de
outras funções no organismo. [...] ele ativa, desperta o organismo para
redobrar atividade, que compensará o defeito e superará a dificuldade.” O
organismo exige mais dos sentidos remanescentes para compensar a ausência de
outro. (VYGOTSKY, 1989, p.54)
[2] A cela é formada por duas colunas e três linhas de pontos. A
localização dos pontos é dada de cima para baixo, primeiramente na coluna da
esquerda e posteriormente na coluna da direita e são denominados
respectivamente pontos números 1, 2, 3, 4, 5 e 6. Cada combinação de pontos em
relevo forma, portanto, determinada letra ou sinal de pontuação. (NICOLAIEWSKY;
CORREA, 2008, p. 231)
[3] Os alunos de programas de reabilitação também são comumente
chamados de reabilitandos.
[4] Instrumento manual para fazer
cálculos matemáticos.
[5]
O conceito ora
se restringe o significado da expressão aos limites de cursos estruturados e
formalizados oferecidos após a graduação, ou após ingresso no exercício do
magistério, ora ele é tomado de modo amplo e genérico, como compreendendo qualquer
tipo de atividade que venha a contribuir para o desempenho profissional.
(GATTI, 2008)