Implicações da Língua de Sinais na aquisição da escrita
de filhos ouvintes de pais surdos
Implications of the Sign Language in the acquisition of the writing of
hearing children of deaf parents
Implicaciones de la
Lengua de Señales en la adquisición de la escritura de hijos oyentes de padres
sordos
* Eliziane Manosso Streiechen
Professora
doutora na Universidade Estadual do Centro Oeste, Irati, Paraná,
Brasil.
lizi_st@yahoo.com.br
– http://orcid.org/0000-0002-9919-5797
**
Cibele
Krause Lemke
Professora
doutora na Universidade Estadual do Centro Oeste, Irati, Paraná, Brasil.
cibelekl@gmail.com – https://orcid.org/0000-0001-9776-4135
***
Gilmar
de Carvalho Cruz
Professora
doutora na Universidade Estadual Do Centro Oeste, Irati, Paraná, Brasil.
gilmailcruz@gmail.com
– https://orcid.org/0000-0001-9776-4135
Recebido em 09 de maio de 2018
Aprovado em 09 de fevereiro de 2019
Publicado em 05 de junho de 2019
RESUMO
Este
artigo tem como objetivo discutir a interferência da língua de sinais na
aquisição da linguagem escrita de um sujeito ouvinte (10 anos de idade), filho
de mãe surda. A pesquisa foi realizada em uma cidade do interior do Estado do
Paraná, onde o participante reside. Trata-se de um estudo de natureza
qualitativa, de cunho etnográfico, apoiada em um estudo de caso. Os registros
foram coletados por meio de entrevistas realizadas com professores, psicóloga e
equipe pedagógica das escolas, onde o sujeito estudou e com o próprio sujeito.
Os resultados confirmam a tendência de que a maioria dos filhos ouvintes de
pais surdos tornam-se bilíngues, pelo fato de dominarem duas línguas (a de
sinais e a língua oral). A língua de sinais incide no processo de aquisição da linguagem
escrita desses alunos, visto que, ao internalizarem a estrutura sintática dessa
língua e também da língua portuguesa, natural e simultaneamente, pode acarretar
a mistura dessas línguas no momento da elaboração da escrita. Tal fato pode
gerar consequências negativas no processo escolar, uma vez que os aspectos da
cultura surda, vivenciados tanto pelos pais surdos quanto pelos filhos
ouvintes, são totalmente negligenciados pela maioria das escolas. Pretende-se,
com este artigo, contribuir com a área da Educação ao se destacar que os filhos
de pais surdos, ainda que não carreguem o estereótipo da deficiência,
necessitam de um olhar especial e diferenciado por parte da escola, a fim de
que esses sujeitos não sejam excluídos de um efetivo processo de ensino e
aprendizagem.
Palavras-chave: Filhos
ouvintes de pais surdos; Aquisição da escrita; Libras.
ABSTRACT
This article aims to discuss the interference of sign
language in the acquisition of the written language of a 10 years old listening
individual, son of a deaf mother. The investigation was
conducted in a town in the countryside of the State of Paraná, where
this person resides with his parents and maternal grandparents. This is a
research of qualitative and ethnographic nature, supported by a case study. The
data were collected through interviews with the
teachers, psychologist and pedagogical staff of the schools where the subject
studied, as well as with the subject himself. The results confirm the tendency
that most hearing children of deaf parents become bilingual due the fact that
they master two languages (the sign language and the oral language). The sign
language can interfere in the process of acquisition of the written language of
these students, since, by internalizing the syntactic structure of that
language and also of the Portuguese language,
naturally and simultaneously, they end up mixing these languages while
developing their writing skills. This can generate negative consequences in the
schooling process, since the aspects of deaf culture, experienced by deaf
parents as well as by hearing children, are totally neglected
by most Brazilian schools. With this research we
intend to contribute to the area of Education by highlighting that the children
of deaf parents, despite not bearing the stereotype of the disability, need to
be seen from a special and differentiated perspective by the school community,
so that these subjects won’t be excluded from an effective teaching and
learning process.
Keywords: Hearing children of deaf parents; Acquisition of the written language;
LIBRAS.
RESUMEN
Este artículo tiene como
objetivo discutir la interferencia
de la lengua de signos en la adquisición
del lenguaje escrito de un sujeto oyente
(10 años de edad), hijo de madre sorda. La investigación fue realizada en una ciudad del
interior del Estado de Paraná, donde ese sujeto reside. Se trata de un estudio de naturaleza
cualitativa, de cuño
etnográfico, apoyado en un estudio de caso. Los registros
fueron recolectados por medio de entrevistas realizadas con
profesores, psicóloga y equipo pedagógico de las escuelas, donde el sujeto estudió
y con el propio sujeto. Los resultados confirman la tendencia
de que la mayoría de los hijos oyentes
de padres sordos se vuelven
bilingües, por el hecho de dominar dos lenguas (la de signos y la lengua oral). La lengua de signos
interfiere en la adquisición del lenguaje escrito de estos estudiantes, pues al internalizar la estructura sintáctica de dicha lengua y del portugués, de forma simultánea, favorece la mezcla de idiomas en el momento del desarrollo de la adquisición de la escritura. Este
hecho genera consecuencias negativas en el proceso escolar, ya que los aspectos de la cultura sorda, vividos tanto
por los padres sordos como
por los hijos oyentes, son totalmente olvidados
por la mayoría de las escuelas. Se pretende, con este artículo, contribuir con
el área de la Educación al destacar que los hijos de padres sordos, aunque no carguen el estereotipo de la discapacidad, necesitan una
mirada especial y diferenciada por parte de la escuela, a fin de que esos sujetos no sean excluidos de un efectivo proceso
de enseñanza y aprendizaje.
Palabras clave:
Hijos oyentes de padres sordos; Adquisición de la escritura; LIBRAS.
Introdução
A partir da oficialização da Língua
Brasileira de Sinais (Libras), Lei 10.436/2002 (BRASIL, 2002), os sujeitos
surdos tornaram-se o alvo de inúmeras pesquisas, principalmente, no âmbito
escolar (inclusão, alfabetização, bilinguismo etc.). Atualmente, alguns
estudiosos têm se preocupado também com os filhos ouvintes de pais surdos, no
entanto as pesquisas nessa área ainda são bastante escassas e incipientes.
Há, nesse cenário de pesquisas, sobre os
filhos de pais surdos, algumas terminologias ou siglas utilizadas pelos
pesquisadores para se referirem a esses sujeitos. A sigla mais comum é CODA (Children of Deaf Adults - traduzida como:
‘filhos de pais surdos’ ou ‘filhos de surdos adultos’).
Antes de 1983, os ouvintes, filhos de surdos,
eram nomeados pela sigla inglesa HCDP (Hearing Children with Deaf
Parentes – Crianças ouvintes com pais surdos). Nesse ano, em 1983, com o
surgimento da Organização Internacional ‘CODA’, cuja finalidade era dar
assistência às crianças que tinham pais surdos, muitos desses filhos passaram a
se identificar ou se autorreferenciar pelo nome dessa
organização, ou seja, CODA (ANDRADE, 2011, QUADROS, 2017). Um CODA, portanto,
pode tanto ser surdo ou ouvinte, “uma vez que o que os faz ser CODA é o facto
de ter pais surdos, ou ter sido educado por pessoas surdas” (SOUSA, 2012, p.
403).
De acordo com Souza (2014), a organização
CODA também tem o objetivo de ofertar oportunidades educativas, promoção de
autoajuda, apoio jurídico, além de se configurar como uma instituição
acolhedora, na qual os filhos de surdos podem começar a perceber sua própria
identidade pelo fato de estarem entre dois mundos e se identificarem com outros
filhos ouvintes de pais surdos que viveram experiências semelhantes. Quadros
(2017, p. 227), que é ouvinte e filha de pais surdos, afirma que: “quando os
filhos ouvintes de pais surdos se identificaram como codas,
houve o reconhecimento de uma identidade híbrida que fortaleceu os laços dos
filhos com seus pais e estabeleceu uma relação de pertencimento à comunidade surda”.
Nesse sentido, ao consideramos que nosso
sujeito, P, ainda é criança e não
pode se autodenominar ou se autodefinir como
pertencente ao grupo de pais surdos (CODA), e emitir sua opinião em relação a
isso, nesse trabalho, evitaremos o uso de siglas ao nos referirmos a ele.
Thomas H. Bull (2013) – filho de pais surdos – explica que da mesma forma que
se torna impossível para o surdo desenvolver uma identidade surda sem conviver
com a comunidade surda, os filhos de surdos passam pelo mesmo dilema. Nesse
sentido, esse autor avalia como fundamental os encontros entre as pessoas que
têm pais surdos. Depoimentos, como este relatado por Bull (2013), nos levam a
refletir e a valorizar esses encontros entre ouvintes que têm pais surdos, uma
vez que isso lhes dá a oportunidade de conviver com o outro que é igual em sua
diferença. No entanto, nosso sujeito P,
pelo fato de ainda ser criança, não teve o privilégio de conviver com seus
pares, ou seja, com outros filhos ouvintes de pais surdos que, de certa forma,
se tornam um tanto mais iguais a ele do que os ouvintes que têm pais ouvintes.
Os filhos ouvintes, pelo fato de conviverem
com seus pais surdos, adquirem, naturalmente, a língua de sinais (LS) – quando
os pais se comunicam por meio dela – e internalizam a cultura surda. Entre os
elementos que fazem parte da cultura das pessoas surdas, podemos destacar: a
Libras; campainha luminosa; legenda na televisão em tempo integral; sensor de
choro para bebês; piadas, arte, músicas e livros em língua de sinais; tradutor/intérprete
de língua de sinais, entre outros (STREIECHEN, 2017). Por isso, a vida familiar
das crianças que têm pais surdos pode se tornar diferente daquelas que têm pais
ouvintes. Esses aspectos podem influenciar no processo de escolarização desses
sujeitos, no entanto, pelo fato de não carregarem o estereótipo da deficiência,
a escola nem sempre consegue considerar as necessidades e desafios que esses
estudantes enfrentam em sua escolaridade.
A partir de um levantamento bibliográfico no
Banco de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (CAPES); no Instituto Brasileiro de Informação em Ciências e
Tecnologia (IBICT), no Sistema de Información
Cientifica Redalyc; bem como em alguns periódicos
conceituados, dos últimos dez anos (2007-2017), encontramos doze estudos nacionais
e seis internacionais[1] acerca de pesquisas envolvendo pessoas
ouvintes de pais surdos. Esse número revela a incipiência em pesquisas nessa
área, principalmente, quando os dados mostram que, no Brasil, há cerca de 5,7
milhões de pessoas surdas ou com algum tipo de deficiência auditiva[2] (BRASIL, 2014).
Algumas pesquisas, como a de Lane (1992), Wrigley (1996) e Quadros (1997), apontam que a maioria dos
surdos, ainda que casados entre surdos, possui uma chance de 90 a 95 % de
gerarem filhos ouvintes. Essa informação desconstrói a crença de que todos os
surdos podem gerar, exclusivamente, filhos surdos, exceto os casos de
hereditariedade.
Percebe-se que a maioria dos estudos, sobre
os filhos ouvintes de pais surdos, foca a identidade e/ou as questões
linguísticas dos ouvintes, filhos de surdos. Essas pesquisas se justificam pelo
fato de que esses sujeitos, em sua maioria, são considerados bilíngues. Eles
adquirem, natural e simultaneamente, as duas línguas envolvidas em seus
contextos familiares: a língua oficial do país – falada pelas pessoas com as
quais eles convivem (parentes, vizinhos, amigos, escola etc.), mais a língua de
sinais – utilizada pelos pais surdos (SOUZA, 2014; STREIECHEN, 2014; QUADROS,
2017).
Diante dessas considerações, pretendemos
discutir as implicações da língua de sinais na aquisição da linguagem escrita
de um sujeito ouvinte, filho de mãe surda, em sua escolarização do 1º ao 5º ano
– que compreende as idades entre 6 e 10 anos. Para não revelarmos sua
identidade, usaremos a letra P para
nos referirmos ao sujeito.
Desde os cinco anos de idade[3], P
falava a língua portuguesa (doravante LP) com concordância, ou seja, com todas
as marcas de plurais e demais desinências. Além da fluência na língua de sinais (doravante LS) e LP, P pronunciava palavras e frases em
alemão e compreendia parte das conversas, nessa língua, entre seus avós
maternos (descendentes de alemães). Seu passatempo sempre foi estudar inglês
pela internet. Algumas de suas revistas em quadrinhos (gibis) estão escritas em
inglês. Contudo, apesar da sua notável habilidade em adquirir línguas e
aprender assuntos complexos, P
apresentou problemas na aquisição da escrita, gerando vários conflitos entre
ele e seus professores. Ao apresentar esta descrição inicial da pesquisa e de
seu contexto, analisamos algumas pesquisas que tratam da escolarização de
filhos ouvintes de pais surdos.
Pesquisas sobre a
escolarização dos filhos ouvintes de pais surdos
Conforme exposto anteriormente, a maioria dos
autores direcionou seus estudos à compreensão da formação da identidade,
cultura e a relação das pessoas ouvintes com seus pais surdos; alguns focaram
também as questões linguísticas dos filhos de pais surdos. Não encontramos
nenhum trabalho em que o objetivo fosse, especificamente, discutir a
escolarização dos alunos ouvintes que têm pais surdos. Os pesquisadores abordam
sutilmente esse aspecto apenas quando há depoimentos de seus participantes,
relatando os conflitos e desafios pelos quais passaram na vida escolar, sem,
contudo, investigar a posição da escola em relação a esses alunos e alunas.
Entre os principais conflitos, os participantes das pesquisas realizadas
destacam a dificuldade de aprender a língua oral e a escrita, uma vez que estão
habituados a falar sempre por meio da língua de sinais, principalmente quando
há mais surdos na família (avós, tios, primos...), além dos pais.
A língua de sinais, apesar de sua difusão no
Brasil, ainda não possui o mesmo status linguístico das demais línguas. Quando
uma pessoa fala, publicamente, por meio da língua portuguesa e inglesa, por
exemplo, logo se subentende de que ela é bilíngue e, portanto, dotada de certa
inteligência, pois domina dois códigos linguísticos. Isso faz com que muitos
demonstrem admiração por essa pessoa bilíngue. Entretanto, quando uma pessoa
fala por meio da língua portuguesa e da língua de sinais, subentende-se que uma
delas é ‘deficiente’ e isso desperta preconceito ou piedade por parte de muitas
pessoas, pois “o valor atribuído à surdez como falta exerce influência direta
no uso da língua de sinais” (QUADROS, 2017, p. 68). Além disso, a língua de
sinais “marca que evidencia a presença de uma pessoa surda” (PEREIRA, 2013, p.
48) e “a cultura dominante vê a surdez como algo ruim” (QUADROS, 2017, p. 68).
Essa autora enfatiza também que “as crianças CODAS
vivem essa concepção a partir de seus próprios familiares [...] que atribuem à
surdez um valor menor e manifestam suas frustrações e seus desejos de que eles
pudessem ouvir” (QUADROS, 2017, p. 68). Mais adiante, a partir de suas
experiências escolares e o modo como seus pais surdos eram vistos, a autora
revela que “[...] a Libras não era considerada língua. Eles pareciam que
‘olhavam’ para meus pais como ‘pobres coitados que eram surdos’, não como gente
normal” (QUADROS, 2017, p. 152-153).
Acerca da escolaridade dos alunos ouvintes de
pais surdos, Quadros e Masutti (2007) enfatizam que o
reconhecimento das características culturais, sociais e linguísticas dos filhos
ouvintes de pais surdos, as quais deveriam ser tomadas como elementos
relevantes para o seu processo escolar, é neutralizado pela maioria das escolas
brasileiras. “Na maioria das vezes, a escola recebe essa criança ouvinte, filha
de pais surdos, e estabelece um muro que a separa de seus pais” (QUADROS;
MASUTTI, 2007, p. 256-257).
A pesquisa de Hadjikakou
et. al. (2009) também identificou que o maior desafio dos participantes do
estudo estava relacionado ao olhar diferenciado da sociedade aos pais surdos.
Esse estigma que tantos surdos quanto os filhos de surdos vivenciam por se
comunicarem por meio de uma língua minoritária pode fazer com que os filhos
ouvintes de pais surdos não se sintam confortáveis em conversar com seus pais
surdos em público.
Os problemas com a escrita, na maioria dos
casos, estão atrelados ao fato desses filhos ouvintes se comunicarem durante
muito tempo, quase que exclusivamente, por meio da língua de sinais com os pais
surdos. Com isso, eles podem internalizar a estrutura sintática da língua de
sinais muito mais do que a da língua oral. Isso poderá gerar conflitos na hora
de escrever, pois precisam utilizar a estrutura da língua portuguesa que difere
completamente da língua de sinais (SOUZA, 2014; PEREIRA, 2013, QUADROS, 2017).
Metodologia e descrição da
pesquisa
Esse estudo, de natureza qualitativa, de
cunho etnográfico apoiado em um estudo de caso, desenvolve-se em torno da
trajetória escolar de P. Ele está
inserido em um contexto familiar em que há cinco línguas envolvidas, a saber: a
Língua Portuguesa (LP), falada por todos os membros da família, exceto pela mãe
que é surda; a Língua Sinais (LS), falada pela mãe; a Língua Alemã, considerada
a Língua 1 (L1) dos avós maternos; a Língua Ucraniana, falada pelo pai e pelos
avós paternos; e, por último, a Língua Inglesa que P aprende de forma autodidata.
Nas séries iniciais do ensino fundamental, P estudou em uma escola da rede
municipal de ensino. Nessa escola, ele enfrentou sérios desafios para concluir
sua escolaridade. Apesar de ingressar à escola, diretamente no 1º ano, sem
passar pela pré-escola, sabendo ler e escrever, ele não se sentia motivado para
realizar as atividades na escola ou em casa (tarefas). Isso fazia com que os
professores também se desmotivassem em relação ao seu comportamento que, de
acordo, com os docentes, era muito difícil de compreender e lidar.
A coleta de dados ocorreu, em 2016, em uma
escola de ensino fundamental da rede municipal – anos inicias, onde P estudou nos anos de 2010 a 2014. Os
dados dos registros foram coletados por meio de entrevistas gravadas em áudio
que, posteriormente, foram transcritas e analisadas.
Os participantes da pesquisa serão
identificados da seguinte forma: ‘professor 1’ (Prof
1), para aquele que ministrou aulas no 1º ano; professor 2 (Prof
2), para o docente do 2º ano e assim sucessivamente até o 5º ano. À professora que trabalhou na SR, usaremos:
professora da sala de recursos (Prof SR). Já, à
psicóloga que avaliou P, usaremos a
sigla ‘Psico’[4].
Análise e discussão
As dificuldades encontradas por P, no processo de escrita, do 1º ao 5º
ano, apresentam-se como recorrentes nas entrevistas realizadas com as docentes.
Observem-se os seguintes exemplos: “Não
queria escrever” (Prof 1). “Ele não gostava de escrever, ele aprendia ouvindo e falando, pra ele
não interessava muito a parte escrita, registrar os conteúdos” (Prof 2). “Ele tinha
problemas na escrita [...]” (Prof 3).“[...] ele não gostava de escrever [...] ele
dizia que odiava escrever, daí odiava a professora e tudo, né” (Prof 4).“Ele
simplesmente não gostava de escrever. E a dificuldade maior dele também era no
português, normas da língua, parágrafo, acentuação, trocas de letras, produção de texto” (Prof
5).
A partir dos estudos de Pereira (2013), Souza
(2014), Streiechen et al. (2015), entre outros, acima
elencados, podemos afirmar que a dificuldade de P, em relação à escrita, pode estar diretamente relacionada ao fato
de possuir duas línguas maternas: Português e Libras[5]·.
Isso faz com que suas ideias sejam processadas em ambas as línguas. No entanto,
na escola, a única estrutura que ele deve se utilizar é da LP, mas sua mente
não sabe disso e o pensamento em LS pode surgir enquanto ele escreve, causando
a interferência de uma língua sobre a outra.
Quadros (2017, p. 221) explica que a
dificuldade com a Língua Portuguesa escrita irá depender, basicamente, das
experiências que cada filho de pais surdos tem com a língua de sinais. Segundo
a autora, normalmente, “essa dificuldade acontece nos primeiros anos escolares
[...]. Provavelmente, as experiências de entrada no mundo ouvinte interferem na
relação com a língua portuguesa, de forma mais ou menos marcante”. Apesar de P estar imerso no mundo ouvinte e em
contato permanente com a LP, desde bebê (com seu pai, avós, tios, primos etc.),
a pessoa com quem ele mais interage em casa sempre foi/é com a sua mãe.
Importante frisarmos, novamente, de que P
foi alfabetizado por sua mãe. Isso tem um peso relevante ao considerarmos
que o modo como os surdos se comunicam, por meio da LS, difere
consideravelmente do modo como nós ouvintes nos comunicamos, por meio da LP. E,
provavelmente, a mãe, sendo surda, utilizou-se dos critérios, da estrutura de
sua L1, da Libras, para alfabetizar seu filho. Dessa forma, ao aprender a
escrever com a sua mãe, P
internalizou muito mais as regras, a estrutura, os verbos (no infinitivo) de
acordo com a LS e não com a LP. Assim, ao ingressar à escola, ele precisou
reorganizar seu conhecimento e conciliar o que havia aprendido em casa e substituir
pelas regras da LP, uma vez que, certamente, seu modo de escrever foi
considerado um ‘erro’ pela escola.
Quadros e Masutti
(2007, p. 263 - 264) explicam que os filhos ouvintes de pais surdos “se
constituem com ambas as estruturas linguísticas, as quais se mesclam e
interagem na constituição de sua subjetividade, especialmente quando a
experiência com o bilinguismo se dá sem a violência colonial e o recalque da
língua de sinais”.
Apesar de P estar imerso no mundo ouvinte e em contato permanente com a LP,
desde bebê (com seu pai, avós, tios, primos etc.), a pessoa com quem ele mais
interage em casa sempre foi/é sua mãe. Importante frisarmos que P foi alfabetizado por sua mãe. Isso
tem um peso relevante ao considerarmos que o modo como os surdos se comunicam,
por meio da LS, difere consideravelmente do modo como nós, ouvintes, nos
comunicamos, por meio da LP. E, provavelmente, a mãe, sendo surda, utilizou-se
dos critérios da estrutura de sua L1, Libras, para alfabetizar seu filho. Dessa
forma, ao aprender a escrever com a sua mãe, P internalizou muito mais as regras da LS - a ausência de
conjunções/preposições, a estrutura sintática, os verbos – no infinito –,
conforme relato da professora 2: “[...]
eu quase não conseguia entender o que ele escrevia. [...] Ele não usava muito o
‘e’, o ‘mas’” (Prof 2, 2016). Assim, ao ingressar à escola, ele precisou se
‘libertar’ de tudo aquilo que havia aprendido em casa para substituir pelas
regras da LP, uma vez que seu modo de escrever foi considerado um ‘erro’ pela
escola.
Para entendermos a diferença estrutural entre
a LS e a LP, trazemos um estudo de Streiechen (2017),
em que a autora cita o seguinte exemplo da ordem sintática utilizada na LS:
Figura 1 – “Eu gosto de sol” em Libras
Fonte: (STREIECHEN, 2017)
Percebe-se, a partir desse exemplo, que a
ordem do sujeito, do verbo e do objeto não é sinalizada, em LS, na mesma ordem
em que se fala em LP: “Eu gosto de sol”. Na frase em LS, o objeto SOL é o
primeiro elemento a ser mencionado. Observa-se, também, que a conjunção ‘e’,
presente na frase em LP, não foi sinalizada, pois, “enquanto que no português
há elementos conectivos indicados com palavras, na Libras esses mecanismos são
discursivos e espaciais, estando incorporados ao movimento ou em referentes
espaciais” (FERNANDES, 2012, p.62). Assim, os conectivos (conjunções,
preposições, artigos e alguns tipos de verbos) não são sinalizados. Podemos
perceber, ainda, que o verbo GOSTAR permanece no infinitivo, ou seja, não sofre
flexão mesmo estando na 1ª pessoa do singular.
Sousa e Quadros (2012) afirmam que a
alternância poderá influenciar na aprendizagem da língua oral na modalidade
escrita, uma vez que “estruturas e itens lexicais de uma língua podem ser
transferidos para a outra em situações de bilinguismo –, trazendo, portanto,
implicações para sua escolarização” (SOUSA; QUADROS, 2012, p. 331).
Cumpre-nos ressaltar que, além da LS, há
também outras línguas faladas pela família de P (os quais possuem ascendência alemã e ucraniana, sendo essas
línguas de herança ainda faladas no contexto familiar). Ao participar das
interações familiares, seja na língua alemã, ouna
língua ucraniana, P acrescentou ao
seu repertorio linguístico outros sons, fato que o faz não distinguir, muitas
vezes, entre o /r/ alveolar e o /rr/ velar. Um
exemplo desse fenômeno é quando ele pronuncia a palavra funcioná/rr/ios (funcionários), com /rr/, em vez de pronunciá-lo com /r, ou ainda em que/rr/ia’, em vez de que/r/ia (queria).
Em relação às trocas de letras, a Profª 5 afirma que é perfeitamente normal essa troca
ocorrer até o 2º ano, etapa da alfabetização, mas, segundo ela, com P isso se estendeu até o 5º ano.
A Prof da SR traz
uma afirmação que também revela essa dificuldade, vejamos: “A (referindo-se à pedagoga) achava que eu
teria que pegar a parte escrita, sabe, a fala, porque ele falava, vamos dizer assim... ele tinha dificuldade... são trocas fonéticas, ele
trocava... eu trabalhei muito nas trocas fonéticas, sabe? Até hoje ele tem,
observe, ele troca...” (Prof SR).
Percebemos, durante as entrevistas com P, que ele realmente fala de um modo
diferente, como se fosse um estrangeiro falando em português. No entanto,
entendemos que sua fala carrega marcas das línguas do contexto familiar, além
daquelas que ele estuda de forma autodidata, o que o predispõe a ter um imenso
repertório de sons e utilizá-los ao falar em português.
Esse dado é relevante, pois, para a escola,
esse tipo de interferência é vista de forma negativa, como erro e problema de
aprendizagem. No entanto, pelo viés dos estudos do bilinguismo, esse repertório
linguístico é concebido de forma positiva, já que possibilita ao aprendiz
lançar mão de seus saberes para a sua produção linguística. Quanto mais o
conhecimento das línguas avança, mais condições P tem de fazer as escolhas correlatas às línguas e assim alcançar a
pronúncia padrão em português.
Tal como consta no relatório de avaliação
psicológica, a profissional afirma que “o
aluno faz trocas clássicas de letras e na área da leitura apresenta
regionalismos” (Psico). Esses ‘regionalismos’,
portanto, são marcas das línguas (alemã e ucraniana) presentes no contexto
familiar de P.
Partindo para a análise dos registros
escritos de P, em seus cadernos do
ensino fundamental (1º ao 5º ano), fornecidos pela mãe do sujeito, encontramos
diversos textos e frases em que havia a mistura das línguas, principalmente da
LP e da LS. Alguns, no entanto, já haviam sidos corrigidos pelas professoras.
O texto, a seguir, elaborado por P quando ele tinha sete anos de idade e
frequentava o 2º ano (2011), além de palavras incompreensíveis, apresenta
mistura das estruturas linguísticas da LP e da LS.
Figura 2–Registro Escrito 1
Fonte: arquivo pessoal
O texto, incompreensível em uma primeira
leitura, reúne vários elementos léxicais de forma
isolada. Uma transcrição para o registro seria: “Carolina areia tubarão,
estrela do mar XXX XXX (palavras incompreensíveis),
camarão e siri areia perigoso formiguinha”. Seria possível formular uma
construção para este texto, em português, usando de elementos linguísticos
presentes da LP. Porém, não o reescrevemos no lugar de P. Queremos evidenciar, no
entanto, como funciona a escrita de P,
já que o texto baseia-se na estrutura da Libras, ou seja, não há verbos,
conectivos e outros elementos linguísticos que dão coesão e coerência ao texto,
em português.
Figura 3–Registro Escrito 2
Fonte: arquivo pessoal
O registro escrito 2 apresenta uma atividade
escolar quando P tinha 9 anos de
idade e frequentava o 4º ano. Neste, está um cálculo e abaixo a resposta à
seguinte pergunta: “Quantas frutas ele colocou em cada caixa”? A resposta de P foi: “Ele colocar 60 frutas cada
caixa” (P, 2013).
Em sua resposta, o verbo “colocar” está no
infinitivo, quando deveria estar no pretérito perfeito “colocou”. Os verbos no
infinito são bastante constantes nas escritas de surdos, visto que na LS eles
não sofrem a flexão como na LP, conforme acima explicado. P, nessa frase, não coloca a preposição “em” (em cada caixa). Se
pensarmos que P aprendeu a ler e a escrever com sua mãe, é possível entendermos
que ela se utilizou da estrutura da LS para ensiná-lo, pois ela não apresenta
domínio das regras da LP, assim como a maioria das pessoas surdas. Diante
disso, acredita-se que os elementos da LS estão mais fixados que as regras da
LP, o que faz com que ele, inconscientemente, se utilize desses elementos em
sua produção escrita.
A maioria dos relatos dos participantes
revela a dificuldade de comunicação na escola pela falta de um profissional
Tradutor e Intérprete de Língua de Sinais (TILS) para mediar a comunicação da
comunidade escolar com a mãe. Embora o
Decreto nº 5626/2005 estabeleça a obrigatoriedade da presença de TILS em todos
os lugares públicos e privados (BRASIL, 2005), as instituições brasileiras
estão encontrando sérias dificuldades no cumprimento dessa lei. Um dos
principais desafios relaciona-se à escassez desse profissional. Apesar de no
Brasil ter crescido a oferta de cursos de Libras, há um número restrito de
pessoas com formação para atuarem como TILS, pois a maioria desses cursos se
concentra nos grandes centros, dificultando o acesso das pessoas que moram nas
zonas rurais ou em lugares mais retirados (LACERDA, 2006).
Ainda, os docentes não relataram qualquer
ação no sentido de dialogar ou ouvir o que P tinha a dizer sobre o fato de sua
mãe ser surda ou pela forma que ele se comunicava com ela. Esses educadores
também desconheciam a presença das demais línguas existentes no contexto
familiar de P. Tal fato revela a
falta de conhecimento por parte da escola sobre a cultura e desafios que os
filhos ouvintes de pais surdos enfrentam diante dos compromissos que assumem em
casa e na sociedade em detrimento da surdez dos pais. P tem o privilégio de sua
mãe ser bastante presente e participar ativamente de sua escolaridade, caso
contrário, talvez a escola nem tomasse ciência da surdez de sua mãe.
Neste sentido, as características culturais,
sociais e linguísticas que deveriam ser tomadas como elementos relevantes para
o processo escolar dos alunos, filhos de pais surdos, são totalmente desconsideradas
e neutralizadas (QUADROS; MASUTTI, 2007). As autoras denunciam também
que “na maioria das vezes, a escola recebe essa criança ouvinte, filha de pais
surdos, e estabelece um muro que a separa de seus pais” (QUADROS; MASUTTI, 2007,
p. 256-257).
Ao relatar os problemas de aquisição da
escrita de P, observamos que a escola não identificou o complexo contexto
linguístico de seu aluno e que, portanto, isso poderia interferir em seu
processo de alfabetização. Por isso, a cultura linguística de P foi tomada como um suposto ‘erro’ que
precisava ser corrigido. Isso indica que há dificuldades em trabalhar com
práticas inclusivas ao se depararem com alunos de famílias linguisticamente
plurais.
Conclusões
A partir dessa pesquisa, compreendemos que os
filhos ouvintes de pais surdos vivem entre duas culturas (a dos surdos e a dos
ouvintes), por isso são considerados sujeitos biculturais.
Quando os pais surdos se comunicam por meio da LS, consequentemente, os filhos
ouvintes se tornam bilíngues, pois também necessitam aprender a LS para se
comunicar com os pais.
A LS pode incidir na aquisição da linguagem
escrita desses sujeitos, uma vez que eles internalizam duas estruturas
linguísticas: da LS e da LP. Por isso, no momento de escrever, é comum que
esses alunos misturem essas línguas, gerando consequências em sua
escolarização, sobretudo na escrita.
Em relação aos problemas enfrentados por P em seu processo de aquisição da
escrita, os dados revelam que o fato de P
ser bilíngue, ou seja, se utilizar da LS e da LP para se comunicar, adquiriu,
natural e simultaneamente, as duas estruturas linguísticas. Assim, sua escrita
mostra o conflito com ambos os padrões linguísticos. Cabe ressaltar que a
língua alemã e ucraniana, presentes no contexto familiar de P também influenciam na pronuncia de
alguns fonemas, como o /R/, por exemplo. Os elementos fonológicos, morfológicos
e estruturais das línguas, portanto, implicaram em algumas dificuldades no
desenvolvimento de sua escrita. A escola não conseguiu identificar que as
diferentes marcas linguísticas, tanto na escrita quanto na fala de P, estavam
associadas às diferentes línguas presentes em seu contexto, uma vez que os
docentes desconheciam sua realidade familiar.
Podemos considerar que viver na zona
fronteiriça, entre o mundo surdo e o mundo ouvinte, pode influenciar no
processo de escolarização e na subjetividade dos alunos que têm pais surdos,
uma vez que essas crianças precisam assumir certas responsabilidades em relação
aos pais surdos que crianças ouvintes não precisam. Contudo, cabe-nos salientar que não é
possível generalizar e afirmar que todos os filhos de surdos irão se deparar
com os mesmos desafios e conflitos escolares, visto que isso irá depender da
situação linguística em que seus pais estão envolvidos.
Pensar em políticas públicas de educação
bilíngue, voltadas tanto aos surdos quantos aos filhos dos surdos têm se
tornado cada vez mais necessário para esse grupo tão singular e invisível às
políticas educacionais. Apresentar, problematizar e discutir esses desafios com
a comunidade escolar pode ser uma iniciativa importante para que os professores
compreendam que esses alunos vivenciam uma cultura familiar distinta daquela
das crianças que têm pais ouvintes. Nesse sentido, mostra-se fundamental que a
escolaridade dos filhos de pais surdos seja discutida, também, nos cursos de
formação docente, na disciplina de Libras, para que, ao se depararem com esses
alunos, os futuros docentes consigam articular teorias e práticas relativas à
alfabetização desses sujeitos.
Referências
ANDRADE, P. R. Identidade de
filhos ouvintes quando os pais são surdos: uma abordagem sociológica sobre
o processo de socialização (Dissertação). Universidade Federal de Goiás.
Programa de Pós Graduação em Sociologia, 2011.
BRASIL. Lei n. 10.436de 24 de abril de 2002. Dispõe
sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras - e dá outras providências. Diário
Oficial da República Federativa do Brasil,
Brasília, 25 abr. 2002.
BRASIL. Decreto Federal Nº
5.626, de 22 de dezembro de 2005. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais -
Libras, e o art. 18 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Diário Oficial
da República Federativa do Brasil, Brasília, 23 dez. 2005.
BRASIL.
Relatório
do grupo de trabalho, designado pelas portarias nº 1.060/2013 e nº 91/2013,
contendo subsídios para a política linguística de educação bilíngue– Língua Brasileira de Sinais e
Língua Portuguesa. Brasília. MEC/SECADI, 2014.
BISHOP,
M.; HICKS, S. L.
Hearing, mother father deaf: hearing people in deaf families. Wahington, D. C.: Gallaudet University Press, 2008.
BULL, T. H. Deaf Family Issues: CODAS and Identity.
Web. 20 Oct. 2013. Disponível em: http://www.codaukireland.co.uk/uploads/1/3/0/0/13000270/bull_t._deaf_family_issues.pdf. Acesso em 9 mar. 2018.
EMMOREY, K.;
BORINSTEIN, H. B.; THOMPSON, R.; GOLLAN, TAMAR H. Bimodal bilingualism. Bilingualism:
linguage and cognition. v. 11, n. 1, p. 43-62, 2008.
FERNANDES,
S. Comunicação em Língua
Brasileira de Sinais-Libras. 2.ed.
Universidade Federal do Paraná-UFPR. Curitiba, 2012.
GONÇALVES,
L. Gestuar e Ouvir: Divergências e Convergências entre os CODA
licenciados em Tradução e Interpretação em Língua Gestual Portuguesa e os
não-CODA licenciados em Língua Gestual Portuguesa. Exedra Revista Científica. ESEC, 2012.
Disponívelem:http://www.exedrajournal.com/exedrajournal/wpcontent/uploads/2013/01/13-numero-tematico-2012.pdf.
Acesso em 10 fev. 2018.
GURJÃO, M. M. Aquisição da linguagem oral e de sinais por uma criança
ouvinte filha de pais surdos: conhecendo caminhos. Dissertação (Mestrado em Ciências da Linguagem). Universidade
Católica de Pernambuco, 2013.
HADJIKAKOU,
K; HADJIDEMETRI, E.; KONIDARI, M.; NICOLAOU, N. The Experiences of Cypriot
Hearing Adults With Deaf Parents in Family,
School, and Society.
Journal of Deaf Studies and Deaf Education 14:4 Fall
2009. Disponível em: http://jdsde.oxfordjournals.org/content/14/4/486.full.pdf. Acesso em 9 mar. 2018.
KANTO, L.;
LAAKSO, M.L.; HUTTUNEN, K. Differentiation in language and gesture use during early bilingual
development of hearing children of Deaf parentes.Language and Cognition, 18, pp
769-788, 2015. Disponível em: http://journals.cambridge.org/abstract_S1366728914000169. Acesso em 5 mar. 2018.
KRASHEN, S. Second language
acquisition
and
second
language learning.
Oxford: Pergamon, 1981.
LACERDA, C. B. F. A inclusão escolar
de alunos surdos: o que dizem alunos, professores e intérpretes sobre esta
experiência. Cad. Cedes, Campinas,
vol. 26, n. 69, p. 163-184, maio/ago. 2006 163. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v26n69/a04v2669.pdf. Acesso em 12 mar. 2018.
LANE, H. A Máscara da
Benevolência: a comunidade surda amordaçada. Lisboa: Instituto Piaget,
1992.
MELO,
A. V. S. Children of deaf adults: CODAS em Sergipe. Revista Interfaces Científicas - Educação,
2015. Disponível em: https://periodicos.set.edu.br/index.php/educacao/article/view/1754/1326. Acesso em
09 abr. 2017.
MOROE, N. The Experiences of
Hearing Young-Adults Growing Up In Deaf-Parented Families in Gauteng.Dissertation. University of the
Witwatersrand, Johannesburg, 2013.
NEVES,
B. C. Narrativas de crianças bilíngues bimodais (Dissertação). Programa de Pós-Graduação em Linguística. Universidade Federal de Santa Catarina, 2012.
PEREIRA, O. R Nascidos no silêncio: as
relações entre filhos ouvintes e pais surdos na educação (Dissertação).
Universidade Metodista de São Paulo. Faculdades de Humanidades e Direito.
Programa de Pós- Graduação em Educação. São Bernardo do Campo, 2013.
PERLIN, G.T.T. Identidades Surdas. In: SKLIAR, C.
(Org.). A surdez: um olhar sobre as
diferenças. 4.ed. Porto Alegre: Mediação, 2010.
QUADROS, R M. de. Educação de surdos: a aquisição da
linguagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
QUADROS, R. M.; MASUTTI, M. CODAs brasileiros: Libras e Português em zonas de
contato. In: QUADROS, R. M.; PERLIN, G. (Org.). Estudos Surdos II. pp 238-266. Petrópolis, RJ: Arara Azul, 2007.
QUADROS, R. M. Língua
de herança: língua brasileira de sinais. Porto Alegre: Penso, 2017.
SILVA, M. M. Codas Tradutores e Intérpretes de Língua de Sinais Brasileira: percurso
para o profissionalismo. Dissertação (Mestrado em Estudos da Tradução).
Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Comunicação e Expressão,
2016.
SOUSA, A. N.; QUADROS, R. M. de. Uma análise do fenômeno “alternância de
línguas” na fala de bilíngues intermodais (Libras e Português). ReVEL, v. 10, n. 19, 2012. p. 327-346. Disponível em:
http://www.revel.inf.br/files/96e586e8726d0f24ba05383ee39de99d.pdf. Acesso em 03 mai. 2017.
SOUSA, J. R. S C.. Crescer bilíngue: As crianças
ouvintes filhas de pais surdos. Exedra Revista Científica. ESEC. Português: Investigação e
Ensino. Número temático – dezembro, 2012. Disponível
em: http://www.exedrajournal.com/exedrajournal/wp-content/uploads/2013/01/32-numero-tematico-2012.pdf. Acesso
em: 03 mai. 2017.
SOUZA, J. C. F. Intérpretes
Codas: Construção de identidades. Dissertação
(Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução da Universidade
Federal de Santa Catarina, 2014.
STREIECHEN, E. M. LIBRAS: aprender está em suas mãos.
ed.2. Curitiba/PR: CRV, 2017.
STREIECHEN, E. M. A aquisição da Libras por crianças ouvintes filhas de mãe surda em um
contexto multilinguístico: um estudo de caso. Dissertação (Mestrado em
Educação) - Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná, 2014. 130p.
STREIECHEN, E. M.; CRUZ, G. C.; KRAUSE-LEMKE, C. Ouvintes e surdos, em
casa e na escola: algumas intersecções
(possíveis?). In: OLIVEIRA, J. P.; ANTOSZCZYSZEN, S.; SORIANO, K. R. Educação
Especial: desenvolvimento infantil e processos educativos. Curitiba/PR: CRV, 2015.
WRIGLEY, O. The politics of Deafness. Washington:
Gallaudet University Press, 1996.
Nota
1 Pesquisas nacionais:
Capítulos de livro: CODAs brasileiros: Libras e
Português em zonas de contato (QUADROS; MASUTTI, 2007). Dissertações:
Identidade de filhos ouvintes quando os pais são surdos: uma abordagem
sociológica sobre o processo de socialização (ANDRADE, 2011);Narrativas de
crianças bilíngues bimodais (NEVES, 2012);Nascidos no silêncio: as relações
entre filhos ouvintes e pais surdos na educação (PEREIRA, 2013);Aquisição da linguagem
oral e de sinais por uma criança ouvinte filha de pais surdos: conhecendo
caminhos (GURJÃO, 2013); A aquisição da Libras por crianças ouvintes filhas de
mãe surda em um contexto multilinguístico: um estudo de caso (STREIECHEN,
2014); INTÉRPRETES CODAS: Construção de identidades (SOUZA, 2014);Codas tradutores e intérpretes de língua de sinais
brasileira: percurso para o profissionalismo (SILVA, 2016). Artigos: Crescer
bilíngue: as crianças ouvintes filhas de pais surdos (SOUSA, 2012);Uma análise do fenômeno “Alternância de línguas” na fala
de bilíngues intermodais (Libras e Português) (SOUSA, QUADROS, 2012);Gestuar e Ouvir: divergências e convergências entre os CODA
licenciados em Tradução e Interpretação em Língua Gestual Portuguesa e os
não-CODA licenciados em Língua GestualPortuguesa
(GONÇALVES, 2012). Livro: Línguas de herança: língua brasileira de sinais (QUADROS,
2017).Pesquisas internacionais:
Artigos:Bimodal bilingualism (EMMOREY et al., 2008);
The Experiences of Cypriot Hearing Adults With Deaf Parentsin
Family, School, and Society (HADJIKAKOU et al. 2009);Differentiation in languageand gesture use duringearly
bilingual developmentof hearing childrenof
Deaf parentes (KANTO; LAAKSO; KHUTTUNEN, 2015); Deaf
Family Issues: CODAS and Identity (BULL, 2013). Livros:
The Experiences of Hearing Young-Adults Growing Up In Deaf-Parented Families in
Gauteng (MOROE, 2013); Hearing, mother father deaf: hearing people in deaf
families (BISHOP; HICKS, 2008).
2
Para a comunidade surda brasileira, existe uma diferença entre o deficiente
auditivo e o surdo. O primeiro é aquele que não tem uma surdez profunda. Ele
pode ou não fazer uso de próteses auditivas e se comunicar por meio da língua
falada, oralmente. Já, o surdo é aquele que possui uma identidade surda, ou
seja, se aceita como surdo, usa a língua de sinais como sua primeira língua e
participa das Associações de Surdos, dos movimentos e lutas surdas (STREIECHEN,
2017).
3 Esses dados
pertencem a estudos anteriores de Streiechen
(2008-2012 Letras Libras; e 2012-2014 Mestrado)
4Todos os
participantes do estudo, bem como os pais de P, assinaram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e a pesquisa foi aprovada pelo Comitê
de Ética da Universidade Estadual de Ponta Grossa – Paraná/Brasil.
5 Streiechen (2014)
Correspondência
Eliziane Manosso Streiechen
– Universidade
Estadual Do Centro Oeste - Campus Irati. PR 153, Km 7 s/n, Riozinho. CEP: 84500-000.
Paraná, Brasil.
This
work is licensed under a Creative Commons Attribution-NonCommercial 4.0 International (CC BY-NC 4.0)
[1]
Pesquisas nacionais: Capítulos de
livro: CODAs brasileiros: Libras e Português em zonas
de contato (QUADROS; MASUTTI, 2007). Dissertações: Identidade
de filhos ouvintes quando os pais são surdos: uma abordagem sociológica sobre o
processo de socialização (ANDRADE, 2011);Narrativas de crianças bilíngues bimodais (NEVES, 2012);Nascidos
no silêncio: as relações entre filhos ouvintes e pais surdos na educação
(PEREIRA, 2013);Aquisição da linguagem oral e de sinais
por uma criança ouvinte filha de pais surdos: conhecendo caminhos (GURJÃO,
2013); A aquisição da Libras por crianças ouvintes filhas
de mãe surda em um contexto multilinguístico: um estudo de caso (STREIECHEN,
2014); INTÉRPRETES CODAS: Construção de identidades
(SOUZA, 2014);Codas tradutores e intérpretes de língua de sinais
brasileira: percurso para o profissionalismo (SILVA, 2016). Artigos: Crescer
bilíngue: as crianças ouvintes filhas de pais surdos (SOUSA, 2012);Uma
análise do fenômeno “Alternância de línguas” na fala de bilíngues intermodais
(Libras e Português) (SOUSA, QUADROS, 2012);Gestuar e Ouvir:
divergências e convergências entre os CODA licenciados em Tradução e
Interpretação em Língua Gestual Portuguesa e os não-CODA licenciados em Língua GestualPortuguesa (GONÇALVES, 2012). Livro: Línguas de herança:
língua brasileira de sinais (QUADROS, 2017).Pesquisas internacionais: Artigos:Bimodal bilingualism (EMMOREY et al., 2008); The Experiences of Cypriot Hearing Adults With Deaf Parentsin Family, School, and Society (HADJIKAKOU et al. 2009);Differentiation in languageand gesture use duringearly
bilingual developmentof hearing childrenof Deaf parentes
(KANTO; LAAKSO; KHUTTUNEN, 2015); Deaf Family Issues:
CODAS and Identity (BULL, 2013). Livros: The Experiences of Hearing
Young-Adults Growing Up In Deaf-Parented Families in Gauteng (MOROE,
2013); Hearing, mother father deaf: hearing people in deaf families (BISHOP;
HICKS, 2008).
[2] Para a comunidade
surda brasileira, existe uma diferença entre o deficiente auditivo e o surdo. O
primeiro é aquele que não tem uma surdez profunda. Ele pode ou não fazer uso de
próteses auditivas e se comunicar por meio da língua falada, oralmente. Já, o surdo é aquele que possui uma
identidade surda, ou seja, se aceita como surdo, usa a língua de sinais como
sua primeira língua e participa das Associações de Surdos, dos movimentos e
lutas surdas (STREIECHEN, 2017).
[3] Esses dados pertencem a estudos anteriores de Streiechen (2008-2012 Letras Libras; e 2012-2014 Mestrado)
[4]Todos os participantes do estudo, bem como os pais de P, assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e a pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética da Universidade Estadual de Ponta Grossa – Paraná/Brasil.
[5] Streiechen (2014)