Trabalho colaborativo entre os professores do ensino
regular e da educação especial
Collaborative work between teachers of the regular education and special
education
Trabajo colaborativo
entre los profesores de enseñanza regular y la educación especial
* João
Carlos Vieira Casal
Professor
mestre no Instituto Superior de Ciências Educativas, Odivelas, Portugal.
jcasal_isce@hotmail.com
**
Francisca
Maria Rochas Almas Fragoso
Professora
mestre no Instituto Superior de Ciências Educativas, Odivelas, Portugal.
franciscafragoso@iol.pt
Recebido em 29 de abril de 2017
Aprovado em 14 de abril de 2019
Publicado em 05 de junho de 2019
RESUMO
Este estudo pretende conhecer como é que os professores
de educação especial e do ensino regular cooperam entre si. Portanto,
pretende-se analisar as expectativas que têm uns dos outros, que dificuldades
encontram no trabalho colaborativo e quais são as suas práticas de cooperação.
A metodologia baseou-se na realização de uma entrevista exploratória e de um
questionário que foi aplicado a uma amostra de 20 professores de educação
especial e a outra de 20 professores do ensino regular. A taxa de respostas foi
de 50% e para analisar os resultados utilizou-se uma análise de conteúdo. De
uma maneira geral o estudo conclui que os professores de educação especial e do
ensino regular encontram utilidade nas atitudes de cooperação, mas devem
explorar melhor as relações entre si. As dificuldades de cooperação estão
relacionadas com os obstáculos colocados pela estrutura organizacional e com a
comunicação entre profissionais, patente na perceção
que os professores do ensino regular têm acerca dos colegas da educação especial.
Palavras-chave: Cooperação;
Trabalho colaborativo; Educação Especial.
ABSTRACT
This study aims to know how special education teachers
and regular education teachers cooperate. Thus, it is
intended to analyse the expectation they have
of each other, the difficulties they found in the collaborative work, and what
their cooperation practices are. The methodology was based
on an exploratory interview and a questionnaire that was applied to a sample of
20 special education teacher and to another of 20 teachers of regular
education. The response rate was 50% and content analysis was
used to analyse the results. The study allows
concluding that teacher of special education and regular education find useful
in cooperative attitudes. The difficulties of cooperation are
related to the obstacles posed by the organisational
structure and communication between professionals, evident in the perception
that teachers of regular education have about their special education colleagues.
Keywords: Cooperation; Collaborative Work;
Special Education.
RESUMEN
Este estudio
pretende conocer cómo los profesores de educación especial y de la enseñanza regular cooperan entre sí. Por lo tanto, se pretende analizar las expectativas que tienen unos de otros, que dificultades encuentran en el trabajo
colaborativo y cuáles son
sus prácticas de cooperación.
La metodología se basó en la realización
de una entrevista exploratoria y de un cuestionario que se aplicó a una muestra de 20 profesores de educación especial
y la otra de 20 profesores de enseñanza regular.
La tasa de respuestas fue del 50% y para analizar los resultados se utilizó un análisis
de contenido. De una manera
general el estudio concluye que los profesores de educación especial
y de la enseñanza regular encuentran utilidad en las actitudes
de cooperación, pero deben explotar mejor las relaciones entre sí. Las dificultades de cooperación están relacionadas con los obstáculos planteados por
la estructura
organizacional y con la comunicación entre profesionales,
patente en la percepción que los profesores de la enseñanza regular tienen acerca
de los colegas de la educación especial.
Palabras clave:
Cooperación; Trabajo
colaborativo; Educación Especial.
Introdução
Em Portugal há uma tendência progressiva para a diminuição das
fronteiras entre o ensino regular e a educação especial. Na última década, a
educação especial reorganizou-se como parte integrante do sistema educativo e
as transformações operaram-se em termos da integração, normalização,
reabilitação e inclusão, bem como da colaboração dos profissionais envolvidos.
A educação especial centra-se na organização e transformação de variáveis
educativas relacionadas com a prevenção e redução ou eliminação das
deficiências na aprendizagem (SMITH & NEISWORTH, 1975). Portanto, todos os
esforços dos professores devem ser centrados na organização adequada da
cooperação, nomeadamente na escola, na família e na comunidade. Resulta, então,
a questão: Como é que os professores de
educação especial e do ensino regular, concebem o seu trabalho em termos de
cooperação?
A escola deve ser uma comunidade educativa, capaz de mobilizar atores
sociais e grupos profissionais em torno de um projeto comum (NÓVOA, 1992).
Nesta perspetiva, a escola é uma organização
dependente do exterior, com energia própria onde os seus atores têm um certo
grau de liberdade em que negociam e treinam novos papéis. Esta dinâmica também
é comum ao professor de educação especial, que leva para a escola a
planificação conjunta, encontros interdisciplinares e reuniões de caso. Deste
modo, vão-se criando condições para a colaboração e partilha de
responsabilidades, que levam à aproximação dos professores na resolução dos
problemas da escola e da população com necessidades especiais. No entanto, esta
forma de intervenção requer atenção, uma vez que os membros de uma organização
raramente aceitam cooperar sem obter compensações (MERTON, 1967). Ao professor
de educação especial é exigida uma boa capacidade de gestão, de relação e de
negociação. Assim, a cooperação não é espontânea e definitiva, mas dependente
de fatores pessoais e institucionais.
Neste artigo discutem-se as condições para que os professores da
educação especial e do ensino regular participem na definição e na execução das
melhores decisões educacionais face à escola e aos alunos com necessidades
especiais. Estas condições relacionam-se com a maneira como a escola se
organiza em termos de espaço, tempos, conhecimentos e grupos. De acordo com Hutmacher (1992), só se aprende a cooperar comunicando,
i.e., cooperando em situações reais e não apenas através de cursos. Deste modo,
interessa conhecer como é que os professores de educação especial e do ensino
regular, concebem o seu trabalho em termos de cooperação, que significado
atribuem a uma ação partilhada e com que objetivo a propõem. De uma forma mais
específica, o que se pretende é conhecer as expectativas que os professores do
ensino regular e de educação especial têm uns dos outros e as dificuldades que
encontram no trabalho colaborativo, bem como identificar as suas práticas de
cooperação.
Para além da introdução, o artigo encontra-se organizado em mais quatro
partes. A segunda parte compreende uma revisão da literatura dos conceitos de
cooperação e trabalho colaborativo. A terceira parte reporta-se à metodologia e
a quarta à apresentação e discussão de resultados. Por último, apresentam as
principais conclusões do estudo.
Cooperação e trabalho colaborativo
entre os professores
Lakatos & Marconi (1987) define a
cooperação como um tipo particular de processo social em que dois ou mais
indivíduos ou grupos, atuam em conjunto para a realização de um objetivo comum.
Um pré-requisito para qualquer espécie de cooperação é a existência de um objetivo
comum, que responda às metas específicas das estruturas envolvidas, podendo os
deficientes representar um objetivo comum para muitas pessoas (OCDE/CERI,
1985). Segundo Gisbert et al. (1986), a troca de
conhecimentos entre profissionais pode contribuir para: a) a utilização de uma
linguagem comum; b) maior confiança; c) uma relação de interdependência; d) uma
participação e uma responsabilidade comum; e) uma comprovação das decisões
educacionais; f) uma estrutura e uma organização em equipa; e g) um modelo de
comunicação entre os intervenientes.
De um modo geral os professores dispõem, contrariamente a outras
profissões, de pouco tempo e recursos para (auto)organizar a troca e o debate
coletivo das práticas de ensino. No entanto é de referir que os professores
também investem pouco nestas ações, esperando que as hierarquias tomem a
iniciativa (HUTMACHER, 1992). Alguns autores indicam que as razões de mal-estar
dos professores na sua profissão estão relacionadas com demasiada exigência,
salários inadequados e baixo estatuto social, falta de reconhecimento e
isolamento profissional, incerteza e sentimento de impotência para resolver
muitos dos problemas da escola (GOMES, 1993).
Nóvoa (1992) refere alguns fatores que podem
determinar a inovação nas escolas, nomeando em primeiro lugar, as relações
quotidianas de cooperação, de partilha e de coordenação entre professores e
alunos. Carvalho (1992) refere que o nível de interação entre os professores é
muito mais elevado nas escolas que têm um bom clima. A colaboração entre
docentes deve assentar na colaboração voluntária, na escolha pessoal, na
igualdade relacional, na partilha de objetivos comuns e de responsabilidades
nas tomadas de posição e nos resultados (CORREIA, 2008, citando COOK & Friend, 1995).
Segundo Isidro (2008), citando Panizt (1999),
o trabalho colaborativo tem origem no trabalho de professores ingleses, que
explorando as maneiras de ajudar os alunos a dar respostas às tarefas da
escola, fizeram com que estes tivessem um papel mais ativo na sua própria
aprendizagem. O trabalho colaborativo tem vindo a emergir como estratégia de
ensino-aprendizagem nas últimas décadas (MENDES, 2006) e pode ser entendido
como uma rede de recursos ao dispor do professor do ensino regular, tendo em
vista o sucesso escolar dos alunos com necessidades especiais (COOK &
FRIEND, 1995).
Lee e Shulman (2004) desenvolveram na
Califórnia um projeto de investigação sobre práticas de professores em
diferentes disciplinas curriculares (Project “Fostering
a community of teachers as learners”), centrado
no conceito de comunidade de professores enquanto “aprendentes”,
em que as dimensões da colaboração surgem associadas à melhoria do conhecimento
profissional e da eficácia do desempenho docente (ROLDÃO, 2007). Recentemente
Peterson (2006), defendeu que os programas de inclusão não podem ser
bem-sucedidos em escolas públicas, se professores do ensino regular e da
educação especial não estiverem capacitados para implementar programas de
ensino colaborativo. Pesquisas realizadas por vários autores, apresentam
resultados positivos sobre a colaboração entre a educação especial e a educação
regular, que relatam melhorias dos alunos com necessidades educacionais
especiais (RIPLEY, 1997; SALEND & DUHANEY, 1999; ARGUELLES et al., 2000).
O trabalho colaborativo é um processo articulado, que permite melhorar
os resultados. Uma cultura de colaboração representa um dos caminhos mais
eficientes para o desenvolvimento da educação inclusiva, como preconizam Stainback & Stainback (1999),
citando Curtis & Safranski (1991). Correia (2005)
é ainda mais concreto ao defender expressamente que no âmbito da inclusão o
professor titular de turma deve conciliar-se com o professor de educação
especial e com os pais para que todos possam em colaboração desempenhar
estratégias de promoção do sucesso escolar.
A criação de relações de colaboração é condição essencial para um
desenvolvimento curricular eficaz e para o desenvolvimento profissional dos
professores face às mudanças educativas (CORREIA, 2007). A colaboração e a
colegialidade pressupõem, que o melhoramento do ensino é mais uma questão
coletiva do que individual e que processos de análise, avaliação e
experimentação em conjunto com os colegas são oportunidades de aperfeiçoamento
dos professores (FULLAN & HARGREAVES, 2001).
Existem evidências de que as escolas onde predominam culturas
colaborativas são mais inclusivas. Estas escolas são também mais efetivas na
resolução de problemas dos estudantes (DAMIANI, 2008). Zanata (2004) e Loiola
(2005), indicam que o trabalho colaborativo entre docentes é um excelente
espaço de aprendizagem, permitindo a identificação de suas forças, fraquezas,
dúvidas e necessidades de reconstrução.
A atividade docente é um trabalho de articulação com os alunos, em que
os equilíbrios na aula são frágeis e singulares. No entanto, a atividade na
aula ganha um curso de ação dinâmico e emergente que não é totalmente
premeditado e que resultada da negociação e articulação (LESSARD, 2009).
Portanto, há necessidade que a articulação funcional entre os professores
titulares de turma e os professores de educação especial seja concretizada de
modo rigoroso (SERRANO, 2005).
A cultura de colaboração deve ser entendida, em cada comunidade escolar,
como uma atitude dos docentes e discentes de entreajuda, confiança e respeito
mútuo, que incentiva estratégias e a formulação de respostas adequadas às
necessidades (CORREIA, 2003). Segundo Roldão (2007), o trabalho colaborativo
parece merecer uma concordância generalizada entre professores e investigadores.
No entanto, apesar de serem amplamente reconhecidas as potencialidades da
colaboração entre os professores, esta não deixa de apresentar problemas.
Metodologia
Como foi referido anteriormente, este estudo pretende conhecer como é
que os professores de educação especial e do ensino regular encaram a
cooperação entre eles e que significado lhe atribuem. Portanto, este objetivo
geral encerra os seguintes objetivos específicos:
– Conhecer as expectativas e motivações que os professores do ensino
regular e da educação especial têm uns dos outros acerca da cooperação;
– Conhecer as formas e a frequência das ações de cooperação entre os
professores do ensino regular e da educação especial;
– Compreender quais as principais dificuldades que esses professores encontram
no trabalho colaborativo.
– Conhecer a utilidade que encontram na cooperação e no trabalho
colaborativo em termos do quotidiano educativo.
Tendo em conta esses objetivos, o design da investigação baseou-se na
realização de entrevistas exploratórias e de um questionário a professores do
ensino regular e de educação especial. Para a realização das entrevistas foi
organizado um guião adaptado às populações do estudo, em que se procurou aferir
da pertinência da cooperação na relação entre o professor educação especial e o
professor da classe regular. O tratamento das entrevistas foi realizado de
forma a identificar os pontos críticos, relativamente à problemática da
cooperação e os seus efeitos na realidade pedagógica.
Depois de realizadas e analisadas as entrevistas, procedeu-se à
elaboração de um questionário com base nos resultados das entrevistas no
questionário da Unidade de Ciências da Educação da Faculdade de Motricidade
Humana da Universdade de Lisboa. O questionário é
composto por oito perguntas seis das quais abertas, e duas questões fechadas. À
sua primeira formulação foi realizado um pré-teste a seis professores, após o
qual se obteve uma versão final que foi analisada por um especialista de
Ciências da Educação e de Investigação Educacional.
Uma vez concluída a versão final, procedeu-se à sua aplicação a uma
amostra de quarenta professores, dos quais vinte são de educação especial e
vinte são do ensino regular. A taxa de respostas foi de 50%, i.e., da amostra
inicial de quarenta professores, responderam vinte professores, sendo dez da
educação especial com ou sem especialização, e dez professores do ensino
regular a trabalhar no primeiro ciclo do ensino básico.
Recebidos os questionários, passou-se à fase de análise de dados para
posterior tratamento, através da análise de conteúdo por categorias. Começou-se
por fazer a inventariação dos temas por categorias e procurou-se identificar as
unidades de significação de cada uma das categorias. Para o tratamento das
questões do questionário elaborou-se uma grelha de análise, onde se registaram
as frequências. As categorias consideradas para a análise do questionário foram
as seguintes: Finalidades da Cooperação
– que diz respeito aos objetivos finais que os professores encontram como
resultado dum trabalho de cooperação; Motivação
para a Cooperação – respostas que permitem identificar as razões pessoais e
institucionais que levam os professores a cooperar; Frequências/Formas de Cooperação – inclui as respostas que ajudam a
compreender as vivências de cooperação que os professores experimentam; Dificuldades na Cooperação - inclui as
respostas que fornecem informações acerca dos principais obstáculos que os
professores encontram para desenvolver um trabalho de cooperação, referenciando
os obstáculos relacionados com o professor e com aspetos organizacionais; Sugestão para a Cooperação – aglutina
os contributos que os professores podem dar para que o trabalho de cooperação
seja facilitado nas escolas; Intervenientes
na Cooperação – esta categoria tenta analisar o papel e a importância dos
vários profissionais num trabalho de equipa; Responsabilidade dos Professores Regular/Especial na Cooperação –
esta categoria tenta medir o que cada um dos professores espera do outro, ou
seja, as expectativas com que partem para a cooperação; e Relato de Experiências – tenta-se aqui agrupar as respostas que
permitem aferir a conceção que os professores têm da
cooperação.
Resultados e discussão
No Quadro 1 e no Quadro 2 apresenta-se a avaliação de categorias de
cooperação pelos professores de educação especial e pelos professores do ensino
regular, respetivamente. Os professores da educação especial entendem a
finalidade da cooperação relacionada com a avaliação educacional (8), definição
das estratégias de ação (8) e melhoria dos resultados de ensino e aprendizagem
(8). Com menos frequência, também é referida a troca de conhecimentos (6). Em
relação à motivação para a cooperação, a maior incidência de respostas (11)
refere-se a fatores relacionados com a intervenção educacional. Portanto, os
professores de educação especial encontram-se motivados para a cooperação e
procuram melhorar os meios e as estratégias de intervenção. O mesmo se verifica
na avaliação (10), que se for partilhada pode levar a um melhor conhecimento da
criança. Em último lugar aparecem fatores de ordem pessoal (7). No que se
refere à finalidade de cooperação, os professores do ensino regular referem que
devem receber apoio do professor de educação especial (9), e que este deve dar
apoio direto à criança. Em relação à categoria motivação para a cooperação, as
respostas destes profissionais com maior incidência (14), são a existência de
crianças com necessidades educativas específicas na sala de aula, as
necessidades em termos de conhecimentos e de estratégias de intervenção (8), e
o número de alunos a apoiar individualmente (7). Tal como Gisbert
et al. (1986) referem, a troca de conhecimentos entre profissionais é bastante
interessante a vários níveis e o nível de interação, de cooperação e de apoio
mútuo influência de forma decisiva o bom funcionamento da escola (CARVALHO,
1992).
Em termos da frequência e formas de cooperação, os professores de
educação especial (10) referem ter tido experiências de cooperação com o
professor do regular, sobretudo ao nível da avaliação da criança (7) e da
programação (3). Nas dificuldades na cooperação, a perceção
que os professores do ensino regular têm dos professores da educação especial
surge como o principal obstáculo (10). A seguir aparecem as dificuldades
relacionadas com a organização do tempo na escola (8). Também, é referido a
escassez de recursos (7), devido ao número reduzido de professores de educação
especial. As respostas dos professores do ensino regular confirmam a existência
de cooperação. Quanto às formas de cooperação, referem-se também à programação
do trabalho para o aluno (5) e ao atendimento das necessidades educativas
especiais. Em termos das dificuldades sentidas na cooperação, a organização do
tempo na escola surge em primeiro lugar (9), logo seguida das dificuldades
inerentes ao tipo de apoio que o professor de educação especial presta na
escola (8). De fato os professores dispõem de pouco tempo e recursos e por
conseguinte investem pouco em ações de cooperação (HUTMACHER, 1992). No
entanto, o trabalho colaborativo tem-se tornado cada vez mais frequente como
estratégia de ensino-aprendizagem (MENDES, 2006).
Como sugestões para a cooperação, os professores de educação especial
apresentam em primeiro lugar a organização de encontros de discussão e formação
(11). Em segundo lugar (8), referem a necessidade de uma melhor organização do
tempo na escola. Referem-se também à motivação (7), à componente afetivo-relacional
(6) e ao reforço dos recursos da escola (6), como fatores que também podem
contribuir para a cooperação. Os professores do ensino regular também referem,
a necessidade da realização de encontros de reflexão e informação (10), o apelo
ao trabalho em conjunto (9) e a necessidade (6) de outra organização do tempo,
de mais motivação (6) e de mais recursos humanos (6).
Os professores de educação especial veem com grande espectativa
a responsabilidade do professor de educação regular num trabalho de cooperação,
ao nível da avaliação / programação (9), do apoio ao aluno (7) e na
disponibilidade para um trabalho em conjunto (7). Por sua vez, os colegas do
ensino regular referem as responsabilidades do professor de educação especial
num trabalho de cooperação ao nível da avaliação e da programação (9), da
orientação do trabalho que o professor da classe desenvolve com as crianças com
necessidades especiais (6), e em último lugar o apoio direto ao aluno (4). A
partilha de informação e de experiências deve ser reforçada numa cultura de
colaboração, que não se deve limitar à dimensão docente, mas deve ser alargada
a outros profissionais. Portanto, os professores devem relacionar-se e
colaborar, sempre que possível, com outros profissionais, nomeadamente,
psicólogos, médicos e técnicos de serviço social ou terapeutas (CORREIA, 2003).
Para os professores da educação especial, as experiências de cooperação
situam-se ao nível da utilização e ensaio de novas metodologias (5) e no apoio
à integração de crianças com necessidades educativas na sala de aula (4). Estes
profissionais consideram-se os principais intervenientes no processo de
cooperação e valorizam a sua participação na equipa de trabalho e a do
professor do ensino regular. Aparecem também referidos os psicólogos, os
assistentes sociais e os médicos, e com menos frequência o diretor da escola,
os terapeutas e outros elementos da comunidade. Neste caso, os professores do
ensino regular relataram experiências pouco significativas. No entanto,
consideram-se parte integrante no processo de cooperação e referem como
principais intervenientes no processo a equipe de trabalho multidisciplinar,
onde mencionam o psicólogo, a técnica de serviço social, o professor de
educação especial e o professor de educação física e a equipe de saúde escolar.
Quadro 1 – Avaliação de Categorias de Cooperação
pelos Professores do Ensino Especial
Categorias |
Sub-Categorias |
Exemplos |
Freq |
Finalidade da Cooperação |
Avaliação |
“Detectar os porquês da
n.e.e.” |
8 |
Estratégias |
“Encontrar estratégias
para … , melhor desenvolvimento da criança” |
8 |
|
Melhorar os resultados do
Ensino/ Aprendizagem |
“Satisfação das
necessidades educativas da criança … visando a integração” |
8 |
|
Troca de Conhecimentos |
“Troca de saberes teórico
/ prático ..” |
6 |
|
Motivação para a
Cooperação |
Avaliação |
“Pleno conhecimento da
criança e do seu ambiente familiar” |
10 |
Factores Pessoais |
“Uma vocação grande para
trabalhar em equipa” |
7 |
|
Factores Educacionais |
“Procura das melhores
estratégias” |
11 |
|
Frequência e Formas de Cooperação |
Verifica-se às vezes |
|
4 |
Verifica-se com
frequência |
4 |
||
Verifica-se muitas vezes |
2 |
||
Avaliação |
“Avaliação da criança
periodicamente” |
7 |
|
Programação |
“Elaboração e análise do
Plano de Intervenção” |
3 |
|
Dificuldades na
Cooperação |
Organização do Tempo |
“Horário compatível” |
8 |
Percepção do Professor de
Educação Especial |
“Falta de reconhecimento
do trabalho do Professor de Educação Especial” |
10 |
|
Recursos |
“Pequeno número de
Professores de Educação Especial que existem face às necessidades dos Professores
do Ensino Regular” |
7 |
|
Sugestões para a
Cooperação |
Encontros / Formação |
“Reuniões promovidas pelo
próprio Ministério da Educação” |
11 |
Motivação |
“Maior empenho dos
próprios colegas de educação especial” |
7 |
|
Trabalho em Conjunto |
“Elaboração de propostas
conjuntas…” |
7 |
|
Organização do Tempo |
“Tempo para reflexão
conjunta entre os professores de educação especial / ensino regular” |
8 |
|
Recursos |
“A fixação do professor
de educação especial numa escola” |
6 |
|
Afectivo / Relacional |
“Capacidade de relação” |
6 |
|
Responsabilidade do
Professor de Educação Regular num Trabalho de Cooperação |
Avaliação / Programação |
“Empenhamento na
elaboração e cumprimentos do P.E.I.” |
9 |
Apoio ao Aluno |
“Estar atento ao aluno
com n.e.e. aferindo objectivos …” |
7 |
|
Disponibilidade do
Professor do Ensino Regular |
“Existir intercâmbio de
ideias e disponibilidade para essa troca” |
7 |
|
Relato de Experiências de
Cooperação |
Colaboração com o
Professor de Ensino Regular |
“Ajudar o Professor de
Ensino Regular a ajustar o método de leitura à criança …” |
5 |
Integração |
“Este professor foi de
uma sensibilidade… aceitou a integração da melhor …” |
4 |
Quadro 2 – Avaliação de Categorias de Cooperação
pelos Professores do Ensino Regular
Categorias |
Sub-Categorias |
Exemplos |
Freq |
Finalidade da Cooperação |
Apoio ao Professor |
“Ajudar o professor do
ensino regular a ultrapassar certos problemas” |
9 |
Apoio à Criança |
“Melhorar o conhecimento
da criança com dificuldades” |
8 |
|
Motivação de Cooperação |
N.E.E. |
“Dificuldades de
aprendizagem / problemas de comportamento” |
14 |
Estratégias / Intervenção |
“Estratégias de resolução
para uma melhor prática pedagógica” |
8 |
|
Número de alunos |
“Necessidade de ensino
individualizado a algumas crianças, número elevado de alunos por turma” |
7 |
|
Preocupações ecológicas |
“Problemas familiares” |
5 |
|
Frequência e Formas de
Cooperação |
Verifica-se algumas vezes |
|
5 |
Verifica-se com
frequência |
|
3 |
|
Não existe cooperação |
“Não existe cooperação
com professor de educação especial” |
2 |
|
Programação |
“Organização do Plano de
Trabalho para o aluno” |
5 |
|
N.E.E. |
“Dificuldades na
aprendizagem” |
2 |
|
Não respondem |
3 |
||
Dificuldades na
Cooperação |
Recursos |
“Falta de técnicos
especializados” |
5 |
Organização do Tempo |
“Poucos encontros
regulares” |
9 |
|
Tipo de Apoio Prestado |
“Poucos alunos que o Professor
E.E. pode apoiar” |
8 |
|
Motivação |
“Desinteresse do
Professor E. Regular” |
6 |
|
Percepção do Prof. E. E. |
“Pensar que o Prof. E. E.
faz milagres” |
6 |
|
Sugestões para a
Cooperação |
Recursos |
“Haver maior número de
professores” |
6 |
Encontros / Formação |
“Acções de Formação
conjuntas” |
10 |
|
Trabalho em Conjunto |
“Planificação conjunta” |
9 |
|
Organização do Tempo |
“Debruçar-me mais sobre
cada caso” |
6 |
|
Motivação |
“Interesse na cooperação” |
6 |
|
Responsabilidades do
Professor de Educação Especial num Trabalho de Cooperação |
Avaliação / Programação |
“Fazer um estudo profundo
da criança e efectuar junto do Prof. E. R. um programa apropriado” |
9 |
Orientação do Prof. Ed.
Regular |
“Orientar o Prof. Regular
para dirigir individualmente … na sala de aula” |
6 |
|
Apoio ao Aluno |
“Tentar desbloquear as
situações de insucesso” |
4 |
|
Relato de Experiências |
Não teve experiências |
“Não vivi directamente
qualquer experiência, durante os 13 anos que trabalhei” |
5 |
Troca de Informações |
“Depois da criança estar
em apoio, tem havido troca de impressões …entre mim o Prof. E. E.” |
4 |
|
Não respondem |
1 |
As
opiniões expressas por ambos os profissionais relativas à cooperação são
bastante coincidentes. Relativamente às motivações para a cooperação, no caso
dos professores de educação especial, existem razões relacionadas com a
melhoria da intervenção educacional. No caso dos professores do ensino regular
encontram-se, sobretudo, razões relacionadas com o aumento dos seus
conhecimentos e com o reforço dos meios humanos no apoio aos alunos com necessidades
especiais. Ambos os grupos referem que já se verifica cooperação nas escolas,
nomeadamente ao nível do planeamento e da intervenção junto da criança com
necessidades especiais.
Para a criação de condições para a cooperação, as propostas/sugestões
são globalmente coincidentes, salientando-se a necessidade de espaços de
formação/reflexão e a implementação de processos que conduzam ao trabalho em
conjunto. Ambos os professores referem a carência de organização nas escolas
como oportunidade de criar condições para uma melhor comunicação entre os
profissionais.
No
trabalho em equipe, ambos os grupos não concebem a cooperação sem a sua própria
participação. Uma diferença assinalável, é que os professores de educação
especial valorizam os colegas do regular. O mesmo não se verifica em relação às
escolhas dos professores do ensino regular, que escolhem primeiro como
componente da equipe multidisciplinar o psicólogo e os técnicos de serviço
social, e só depois os colegas de educação especial.
Os
professores de educação especial esperam colaboração e disponibilidade dos
colegas do ensino regular, para a avaliação e programação no apoio ao aluno na
classe, e esperam poder colaborar na avaliação e programação, esperam do
professor de educação especial orientação para o seu trabalho na classe. As
práticas de cooperação são mais significativas no grupo de professores de
educação especial. Os professores do ensino regular referem que as suas
vivências de cooperação são pouco significativas e limitam-se à troca de informações
com o professor de educação especial.
Conclusão
Este estudo analisa como é que os professores do ensino especial e do
ensino regular concebem o seu trabalho em termos de cooperação. Portanto,
ensaiaram-se instrumentos e metodologias de trabalho que ajudaram a levantar
pistas de reflexão sobre a problemática da cooperação entre os professores do
ensino regular e do ensino especial.
De uma maneira geral o estudo concluiu que os profissionais de educação
especial e do ensino regular encontram utilidade nas atitudes de cooperação,
mas devem explorar melhor as relações entre si, para que surjam oportunidades
de cooperação. As dificuldades que encontram na cooperação estão relacionadas
com os obstáculos colocados pela estrutura organizacional e com a comunicação
entre profissionais, patente na perceção que os professores
do ensino regular têm acerca dos colegas da educação especial.
Seria importante que a escola pudesse implementar condições para que os
professores tivessem mais espaços para a comunicação e para a troca de saberes.
Pode-se potencializar os recursos criando-se grupos de trabalho para resolver
problemas relacionados com a escola e particularmente grupos dinamizados pelo
professor de educação especial direcionados para as crianças com necessidades
especiais.
O problema da cooperação não é exclusivo da relação entre os professores
do ensino regular e da educação especial, mas é extensível a todo o sistema de
ensino/aprendizagem, e torna-se mais visível quando analisamos o funcionamento
dos estabelecimentos de ensino. Sem pretender assumir generalizações a outros
contextos, este estudo constitui um contributo para o conhecimento mais
aprofundado das questões sobre a cooperação / trabalho colaborativo. Entre as
suas principais limitações destaca-se a sua natureza e singularidade.
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Correspondência
João Carlos Vieira Casa – Instituto Superior
de Ciências Educativas. R. Bento de Jesus Caraça 12. CEP: 2620-379. Ramada, Portugal.
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