Universidade Federal de Santa Maria

Ci. e Nat., Santa Maria v.42, Special Edition: Micrometeorologia, e3, 2020

DOI:10.5902/2179460X45219

ISSN 2179-460X

Received: 27/05/20  Accepted: 27/05/20  Published: 28/08/20

 

by-nc-sa 


Special Edition

 

Estudo das Rajadas de Vento no Semiárido Brasileiro

 

Study of Gusts of Wind in the Brazilian Semiarid

 

Luana dos Santos Ferreira I

Dimas de Barros Santiago II

Edson Matias dos Santos III

Renata Carvalho de Araújo IV

Roberto Fernando da Fonseca Lyra V

 

I Universidade Federal de Campina Grande, Campus Campina Grande. Brasil. E-mail: luaferreira0211@gmail.com.

II Universidade Federal de Campina Grande, Campus Campina Grande. Brasil. E-mail: dimas.barros91@gmail.com.

III Universidade Federal de Alagoas, campus Maceió. Brasil. E-mail: edsonmtss@gmail.com.

IV Universidade Federal de Alagoas, campus Maceió. Brasil. E-mail: renataaraujo.icat@gmail.com.

V Universidade Federal de Alagoas, campus Maceió. Brasil. E-mail: rffl@ccen.ufal.br.

 

 

RESUMO

Para qualificar o vento é necessário conhecer sua direção e velocidade. Podem ter interferência na direção e velocidade do vento a localização, época do ano, temperatura do ar, a pressão da atmosfera terrestre, a umidade, a atmosfera e o relevo. O seu conhecimento é de essencial importância em vários setores da atividade humana, entre elas a segurança das aeronaves, navegação, na construção civil, na agricultura, energia renovável, transportes e etc. O foco deste trabalho são as ocorrências das rajadas de vento registradas em regiões distintas do semiárido no estado de Alagoas (Arapiraca e Palmeira dos Índios) e de Pernambuco (Garanhuns e Petrolina) no período 2014-2018. Foram analisadas a direção sazonal das rajadas, médias da velocidade anual, distribuições das rajadas (sazonal e diária), rajadas máximas anuais, distribuições mensais das rajadas, ocorrências acima de 15 m/s e o dia de ocorrência de maior rajada de vento na superfície, para observar como se comportam as rajadas, temperatura, pressão e direção no momento dos picos de vento.

Palavras-Chave: Semiárido (Brasil); Direção; Velocidade; Rajada de vento; Pressão

 

 

ABSTRACT

To qualify the wind it is necessary to know its direction and speed. It may have interference in direction and wind speed location, time of year, air temperature, pressure of the earth's atmosphere, humidity, atmosphere and reliefs. Their knowledge is of essential importance in various sectors of human activity, including aircraft safety, navigation, civil construction, agriculture, renewable energy, transport and etc. The focus of this work is the gusts of wind recorded in different regions of the semiarid state of Alagoas (Arapiraca and Palmeira dos Índios) and Pernambuco (Garanhuns and Petrolina) in the period 2014-2018. were analyzed the seasonal direction of the gusts, mean annual speed and gust distributions (seasonal and daily), Maximum annual bursts, monthly gust distributions, occurrences above 15 m/s  and the day of the highest gust on the surface, to observe how behaves  the gusts, temperature, pressure and direction at the time of winds peak.

Keywords: Semiarid (Brazil); Direction; Velocity; Gust of wind; Pressure

 

 

1 Introdução

O vento é causado pelo movimento do ar ocasionado pela associação entre a energia solar e a rotação planetária, cuja diferença de temperatura e de pressão entre dois locais provocam o movimento horizontal do ar. O deslocamento do ar varia de regiões de alta pressão atmosférica, para áreas de pressão inferior, provocando a existência do gradiente de pressão que constituem a principal força motriz dos movimentos de ar (AMARANTE; ZACK; SÁ, 2001).

A velocidade do vento à superfície varia bastante com o tempo e se caracteriza por intensas oscilações, cuja rapidez e amplitude estão relacionados com o estado de agitação do ar; e sua variação brusca na velocidade chama-se rajada (Varejão-Silva, 2006, p.259).

É de suma importância à identificação do potencial eólico de uma determinada localidade, isso é um requisito básico e indispensável, e por tal relevância, tornam-se imprescindíveis estudos minuciosos quanto às probabilidades de ocorrência de diferentes velocidades e, em particular, das rajadas de vento (SILVA et al., 2004).

O estudo dos picos de ventos é importante, pois de acordo com Lopes et al., (2017) os picos de velocidades são ideais para a utilização de pequenos sistemas isolados, ou seja, para a geração de energia para residência ou para fazendas com sistemas mecânicos para bombeamento de água.

Ventos com velocidades elevadas, normalmente chamadas rajadas, podem causar danos relevantes como, por exemplo, estímulo excessivo à evapotranspiração e à erosão intensa dos solos, mortes violentas, quedas de redes de transmissões, destelhamento de casas, quedas de árvores, e etc. (BUENO, R. C. et al., 2011).

Em estudo Souza et al. (2014) analisou a frequência na ocorrência de rajada de vento no aeródromo internacional de Belém-PA no período de 2009 a 2012, onde foram realizadas análises das correlações dos percentuais de ocorrências com os elementos meteorológicos de superfície (temperatura do ar e pressão atmosférica) onde foi encontrado que a maior distribuição sazonal do registro de rajadas de vento ocorreu no período mais chuvoso da região, dezembro a maio, influenciadas pela nebulosidade, formada no Oceano Atlântico Equatorial, devido a atuação da ZCIT.

Este trabalho teve como objetivo analisar entre o período de 2014-2018 o comportamento da velocidade e direção das rajadas de vento em quatro cidades do semiárido, duas de Alagoas e duas de Pernambuco, e avaliar o dia de ocorrência de maior rajada

 

 

2 Metodologia

2.1 Área de estudo

As análises feitas nesta pesquisa serão aplicadas aos municípios de: Arapiraca – AL; Palmeira dos Índios–AL; Petrolina –PE e Garanhuns – PE. Os quatro municípios estão localizados na região Nordeste do Brasil. Foram utilizados dados medidos a cada 10 minutos, obtidos por meio de quatro estações anemométricas localizadas nas regiões mostradas na figura1.

A escolha das regiões se deu pelo fato destas estarem entre as 10 estações cujos dados foram armazenados no banco de dados do laboratório de micrometeorologia como requisito durante o período (10/2014 - 06/2019) como Bolsista Pró-Graduando da Universidade Federal de Alagoas, ao qual a atuação consistia em baixar e organizar os dados em planilhas mensais, e cujos dados  foram feitos os downloads e armazenados em planilhas eletrônicas. E estas eram as estações com mais dados completos nos últimos anos, podendo assim ser feito uma melhor analise.

 

Figura 1 – Localização dos municípios onde estão localizadas as estações meteorológicas automáticas do INMET

""

 

Arapiraca e Palmeira dos Índios estão localizadas no agreste alagoano, e o clima da região do agreste de Alagoas é BSh, isto é, seco e quente, com precipitação pluviométrica média anual de 600 mm a 900 mm (BARROS et al., 2012).

Garanhuns faz parte do agreste  pernambucano e Petrolina do Sertão de Pernambuco, e em Pernambuco o clima no Agreste e Sertão é Tropical quente e seco (Bsh), com chuvas de outono a inverno, porém no sertão do São Francisco se registram os menores valores de precipitação durante o inverno, com 30 mm, e as médias pluviométricas anuais no Agreste são inferiores a 500 mm (APAC, 2019).

 

2.2 Dados

Foram utilizados os dados de velocidades horarias de vento e suas respectivas direções das quatro regiões citadas anteriormente, todas localizadas no semiárido brasileiro. Os dados foram obtidos por meio de quatro estações meteorológicas automáticas do Instituto Nacional de Meteorologia – INMET, cujas variáveis que envolvem a caracterização da velocidade, direção e rajada de ventos são dados horários em hora UTC, e cujas características estão representadas na Tabela 1.

 

Tabela 1– Informações referentes às estações automáticas

Código da Estação

Localidade/Estação

Latitude

Longitude

Altura (m)

Período Analisado (anos)

81996

Arapiraca - A353

9°45’07’’S

36°39’39’’O

264

2014 – 2018

81955

Garanhuns - A322

8°53’25’’S

36°29’34’’O

842

2014 – 2018

81995

Palmeira dos Índios - A327

9°24’25’’S

36°37’40’’O

342

2014 – 2018

81991

Petrolina - A307

9°23’34’’S

40°30’28’’O

376

2014 – 2018

 

Nestas estações meteorológicas o dado de rajada é o maior valor de vento medido ao longo da hora, ou seja, é o maior valor horário das 60 médias dos 10 registros medidos nos 10 últimos segundos, de cada minuto da hora em que a rajada está referenciada no Banco de Dados.

Neste estudo foram utilizados dados horários (hora UTC) de rajadas, direção, velocidade, temperatura e pressão observados a 10m de altura, provenientes de anemógrafos universais Fuess acima da superfície do solo, no período de janeiro de 2014 a dezembro de 2018.

Os dados das estações meteorológicas apresentam registros horários sendo que as falhas foram desconsideradas, ou seja, uma vez existindo falha em um local os dados das demais localidades também foram eliminados.

Com o mesmo número de dados em cada local, a análise seguiu com a caracterização de das variáveis do vento, de acordo com o período em que estas ocorrem, bem como nos meses e o comportamento médio do ano.

Em seguida foi realizada a divisão dos dados em horários, mensais, anuais e sazonais assim como a análise da direção predominante do vento nos meses e no ano.

As análises estatísticas da direção e da velocidade do vento foram obtidas de forma convencional usando as propriedades analises de Medias do Excel. Os dados foram organizados em diferentes escalas de tempo, diário, mensal e anual no Excel para a determinação das médias.

A direção predominante foi estabelecida pela análise da distribuição de frequência para as oito direções principais da rosa dos ventos.

Na divisão dos dados mensais e anuais foram observadas as ocorrências de rajadas maiores de 15 m/s durante todo o período estudado e também o dia de ocorrência de maior rajada de vento, verificados em janeiro de 2016 em Palmeira dos Índios e abril de 2017 em Arapiraca.

Sendo assim, foi efetuada, uma análise sobre a variação horaria de evento de rajada e o comportamento da temperatura, pressão e direção para o dia desse evento. Após, foi processado e analisado os dados de reanálise do NCEP, de Linhas de corrente em 1000, 500 e 200 hPa, para o dia do evento, e também feita a análise das imagens de satélite no canal infravermelho, por meio do acervo de imagens do CPTEC, para o momento da ocorrência dos eventos de ventos fortes, para observar se no momento estava havendo algum sistema meteorológico.

 

 

3 Resultados e Discussão

 Ao longo das estações do ano, foi  analisado os padrões dos gráficos tipo radar (figura 2) e em seguida um resumo das duas direções com maior frequencia/predominância (P1 e P2). De uma maneira geral observou-se que as  maiores frequências foram  nas direções Leste (E) e Sudeste (SE). Observa-se na Figura 2 que os padrões são distintos quando comparado os 4 locais por estação do ano.

Em Arapiraca, o vento predominante  é de Leste no verão e na primavera  girando para Sudeste no outono e inverno.

Garanhuns apresenta padrão parecido com Arapiraca no que que se refere  a direção predominante por estação.

Palmeira dos Indios é o local com maior variabilidade dos quatro mas com vento de Leste em todas as estações. O oposto de Palmeira dos Índios, se verifica em Petrolina onde o padrão varia muito pouco de uma estação para a outra, tendo mais ocorrência na direção sudeste.

Na Tabela 2 foram agrupadas as duas direções predominantes principais, ou seja, a primeira e segunda direção com mais ocorrência em cada estação. No verão, somente Petrolina difere das demais regiões tendo mais ocorrência principalmente de direção Sudeste.

No outono e no inverno ocorre mais ventos na direção Sudeste e segunda maior ocorrência na direção Leste com exceção de Palmeira dos Índios cuja maior predominância é na direção Leste e a segunda maior ocorrência na direção Sudeste.  Na primavera o padrão dominante é Leste com maior ocorrência e Sudeste com segunda maior acontecimento, com exceção de Petrolina, onde ocorre mais ventos na direção Sudeste e segunda maior ocorrência na direção Leste, e em Palmeira dos Índios onde a segunda maior predominância foi na direção Nordeste.  Vale salientar que somente em Petrolina se verificou o mesmo padrão nas 4 estações.

 

Figura 2 – Frequência Sazonal da direção do vento, de janeiro de 2014 a dezembro de 2018

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Tabela 2 – Ocorrência e percentuais das duas maiores frequências de direção sazonal para as regiões estudadas

Verão

Outono

Inverno

Primavera

Arapiraca

E (57%), SE (27%)

SE (36%), E (34%)

SE (45%), E (25%)

E (60%), SE (25%)

Garanhuns

E (49%), SE (35%)

SE (53%), E (31%)

SE (65%), E (24%)

E (49%), SE (29%)

Palmeira dos Índios

E (60%), SE (19%)

E (41%), SE (26%)

E (35%), SE (31%)

E (61%), NE (23%)

Petrolina

SE (64%), E (21%)

SE (79%), E (14%)

SE (89%), E (10%)

SE (65%), E (23%)

 

A média anual da velocidade do vento (figura 3) variou entre 2015 a 2018 em Arapiraca e Garanhuns.  Já em Palmeira dos Índios e Petrolina a variação é pequena. No período analisado, a média anual da velocidade foi 2,2 m/s em Arapiraca, 2,5 m/s em Palmeira dos Índios, 1,8 m/s em Garanhuns e 3,6 m/s em Petrolina.

 

Figura 3 – Média anual da velocidade no período de 2014 – 2018

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A Figura 4 mostra a distribuição sazonal dos registros de rajadas de vento nas quatro regiões estudas. As estações do ano com maior quantidade de registros são primavera e verão em Arapiraca (38% e 30%), Garanhuns (40% e 30%), Palmeira dos índios (37% e 34%) e Petrolina (34% e 29%). Em terceiro lugar, com exceção de Petrolina, vem o outono. Conforme visto, a estação com maior ocorrência foi a primavera seguida do verão para todas as regiões. Isso talvez indique uma ligação entre o maior aquecimento do continente com as rajadas de vento. Isto está de acordo com o regime de vento no País que segundo BISCARO (2007, p.36), as maiores velocidades são observadas no início da primavera e, os ventos de menor velocidade ocorrem no início do verão.

 

Figura 4 – Distribuição sazonal de rajadas, de janeiro de 2014 a dezembro de 2018

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Melo; Silva; Correia, (2013) analisaram os regimes de vento à superfície na região de Petrolina-PE e verificaram que em épocas de intensificação das ASAS a velocidade do vento aumenta (abril-maio-junho), e diminui no período de enfraquecimento das ASAS (outubro-novembro-dezembro), também verificaram que as circulações locais são fracas entre os meses de janeiro a maio, possivelmente relacionado com maior  gradiente de fluxo de calor sensível, todavia, essas circulações são mais fortes nos meses mais secos.

A seguir, (figura 5) estão os percentuais de ocorrência de rajadas, acima de 5m/s, na forma de distribuição ao longo do dia (média para todo o período).

Quanto a distribuição diária das rajadas verifica-se que os padrões em Palmeira dos Índios e Arapiraca são semelhantes, um pouco diferente em Garanhuns e diferente em Petrolina. Em sua maioria as menores ocorrências são no período da manhã entre 7h e 8h (4h e 5h hora local), e as rajadas ocorrem mais no final da tarde (hora UTC) ou início da noite (figura 5).

Em Arapiraca e Garanhuns o máximo de ocorrências aconteceu às 19h (aproximadamente 16h hora local), em Palmeira dos Índios e Petrolina as maiores ocorrências foram no horário das 17h (14h hora local). Porém também se observa em Petrolina uma similar distribuição de ocorrência de rajadas durante todo o dia, havendo menor ocorrência apenas no fim da noite (23h

 UTC, aproximadamente 20h hora local). Isso está de acordo com Silva (2007), que diz que o ciclo do vento acompanha o ciclo de insolação (temperatura). E segundo Castelhano, (2018) o vento na madrugada e início da manhã tem menores velocidades tendo um aumento gradual até as 13h e 14h, com maiores velocidades entre 12h e 16h.

 

Figura 5 – Distribuição horária (hora UTC) de rajadas, de janeiro de 2014 a dezembro de 2018

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Com as médias das rajadas máximas (tabela 3) observa-se que nas cidades selecionadas tem ocorrência anualmente de ventanias fracas podendo chegar a ventanias fortes.

 

Tabela 3 – Médias e máximos das rajadas máximas anuais das estações selecionadas

Estações

Média das Rajadas Máximas Anuais -Vmáx - anual (m/s)

Máximo das Rajadas Anuais - Vmáx – anual (m/s)

Arapiraca

15

17,1

Garanhuns

15,45

19,5

Palmeira dos Índios

17,4

20

Petrolina

16,8

18,2

 

Na figura 6, observa-se nas rajadas máximas anuais que apesar de semelhantes às ocorrências máximas anuais de rajadas são um pouco distintas para as quatro cidades. Palmeira dos índios e Garanhuns mostraram nos quatro primeiros anos, um padrão anual semelhante de ocorrência no pico de rajadas máximas anuais mesmo estando localizadas em regiões distintas.

 Apenas em Palmeira dos Índios ocorreu um aumento de 1m/s na rajada de vento em 2018. Para Arapiraca e Petrolina não se verifica a existência do ciclo ao longo dos anos, as rajadas máximas para as respectivas regiões ocorreram de maneiras opostas, ou seja, inicialmente as ocorrências mantiveram-se quase que constantes, havendo um pequeno aumento em 2016 em ambas localidades, porém nos anos em que houve aumento de rajadas máximas em uma região, na outra ocorreu diminuição da máxima rajada. Arapiraca nos quatro anos iniciais ocorreu aumento nas rajadas tendo diminuição de 2,2 m/s em 2018, e Petrolina ocorreu aumento apenas em 2016.

Segundo Bezerra et al., (2016) em 2016 foi observado um evento de El Niño oscilação Sul intenso e uma atuação de um Vórtice Ciclônico de Altos Níveis (VCAN) de forma expressiva no Agreste Meridional, fazendo com que ocorresse rajadas de ventos, descargas elétricas, e ocorrência de granizo em algumas localidades de Pernambuco e Alagoas, isso talvez explique o aumento no pico de rajadas máximas em 2016 nas regiões analisadas.

 

Figura 6 – Rajadas Máximas Anuais

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Com relação ao número de registros de rajadas de vento maiores que 15 m/s, na Tabela 4 observa-se que não ocorreram registros variados ao longo dos anos. Em sua maioria, nas regiões estudadas, ocorreram mais eventos com velocidades menores de 15 m/s. Apesar de não ter tido registros variados o ano com mais ocorrências de rajadas foi 2016 e 2017, isso talvez seja pelo fato de em  2016/2017 ter ocorrido alguns episódios do fenômeno climático chamado Distúrbio Ondulatório de Leste (DOL), fenômeno que funciona a partir do sistema de depressão atmosférica conhecido como Ondas de Leste,

que surge no oceano Atlântico, vindo da África, chega ao litoral do Nordeste e ao encontrar brisas terrestres carregadas de umidade, formam-se tempestades e os ventos atingem mais de 50 km/h (13m/s); e em 2017 observou-se uma circulação dos ventos desde baixos níveis até os altos níveis da atmosfera, configurando-se de maneira a potencializar a instabilidade oriunda do Oceano Atlântico (INMET, 2019).No total foram observados 3 casos em Arapiraca, 22 em Palmeira dos Índios, 9 em Garanhuns e 30 em Petrolina.

Em Arapiraca, nos cinco anos analisados foram observados apenas três registros de rajadas maiores que 15 m/s, nos meses de janeiro de 2016, abril de 2017 e maio de 2015. E todos os outros meses dos anos não apresentaram nenhum registro de ocorrência de rajadas maiores de 15m/s.

Em Garanhuns, foram observados 9 registros de rajadas maiores que 15 m/s. 7 delas no ano de 2016: 3 em janeiro, 2 em fevereiro e 2 em outubro. As outras duas foram: 1 em julho de 2017 e 1 em março de 2018. Nenhum caso foi registrado nos anos de 2014 e 2015.

Em Palmeira dos Índios, só não houve registro em 2014. Porém, de 2015 a 2018 foram observados 22 registros. A maioria ocorrendo nos meses de janeiro e dezembro, com dez e oito registros. Em janeiro de 2016 ocorreu o maior número de rajadas, com cinco registros de ocorrência, chegando à velocidade de 20 m/s.

Em Petrolina também não ocorreu registros em 2014. Por outro lado, entre 2015 e 2018 se registrou 30 ocorrências. A maioria ocorrendo nos meses de julho e dezembro, com sete e oito registros respectivamente. Em 2017 ocorreu maior registro no mês de julho, com seis ocorrências e em dezembro com quatro registros.

No mais as quatro regiões apresentam poucos registros de ventos fortes, segundo a Escala de vento de Beaufort.

 

Tabela 4 – Número de registro de Rajadas de vento maior que 15 m/s, no período de 01/2014 a 12/2018

Local

Ano/Mês

Jan.

Fev.

Mar.

Abr.

Maio

Jun.

Jul.

Ago.

Set.

Out.

Nov.

Dez.

Arapiraca

2014

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

2015

0

0

0

0

1

0

0

0

0

0

0

0

2016

1

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

2017

0

0

0

1

0

0

0

0

0

0

0

0

2018

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

Palmeira dos

Índios

2014

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

2015

1

0

0

0

0

0

0

0

0

1

0

2

2016

5

2

0

0

0

0

0

0

0

0

0

3

2017

3

0

0

1

0

0

0

0

0

0

0

2

2018

1

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

1

Garanhuns

2014

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

2015

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

2016

3

2

0

0

0

0

0

0

0

2

0

0

2017

0

0

0

0

0

0

1

0

0

0

0

0

2018

0

0

1

0

0

0

0

0

0

0

0

0

Petrolina

2014

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

2015

0

1

2

0

0

0

1

2

0

0

0

3

2016

1

1

0

0

0

0

0

0

0

1

2

1

2017

0

1

0

0

0

0

6

0

0

1

0

4

2018

2

0

0

0

0

0

0

0

0

1

0

0

 

A figura 7 mostra a distribuição mensal das ocorrências de rajadas, indicando que a maioria das rajadas foram registradas em outubro, dezembro e janeiro, e observa-se que mensalmente as rajadas se comportaram semelhantes para todas as quatro regiões, confirmando o período de ocorrência sazonal das rajadas.

Rangel (2019) estudou as rajadas em Craíbas (próximo a Arapiraca) entre maio de 2014 e agosto de 2015. Apesar de ter utilizado dados de velocidade em alturas maiores (50, 70 e 100m), o padrão de distribuição anual está de acordo com o que foi mostrado neste estudo.

 

Figura 7 – Distribuição Mensal de rajadas, de janeiro de 2014 a dezembro de 2018

""

 

O maior registro de rajadas de vento entre 2014-2018, foi de 17 m/s (61 km/h) em 2017 na cidade de Arapiraca-AL, e 20 m/s (72 km/h) em 2016 na cidade de Palmeira dos Índios-AL. A figura 8 mostra a variação da Pressão e Temperatura para o dia que ocorreu a maior rajada em cada região. Apesar das ocorrências terem sido em meses e horários distintos em cada ano, verificou-se que a variação de pressão e temperatura para as regiões foi praticamente a mesma. Ou seja, normalmente antes das rajadas a pressão aumenta um pouco e a temperatura sofre uma pequena queda, e depois da rajada, a pressão cai e a temperatura aumenta.

 

Figura 8 – Distribuição da Temperatura e Pressão no dia de ocorrência de maior rajada

""

 

Nesta análise, se pode observar que os horários que elas ocorreram não correspondem com aqueles onde ocorreram as máximas temperaturas. Isso, mostra que há não relação direta entre temperatura alta e a ocorrência de rajadas próximo a superfície. Por outro lado, observa-se uma diminuição da temperatura no momento de pico dos ventos fortes. Segundo Silva (2007) a rajada é acompanhada por uma variação igualmente brusca na direção, o que se confirma na análise. Apesar da diferença com relação as ocorrências de sistemas meteorológicos durante o evento de rajadas observam-se nas imagens de satélites (figura 9) que para ambos os dias, havia muita nebulosidade e umidade no momento da rajada máxima.

 

Figura 9 – Imagens de satélite. A figura 9a mostra a imagem no canal infravermelho para o dia 27/01/2016 em que ocorreu a maior rajada em Palmeira dos Índios. A figura 9b mostra a imagem no canal infravermelho para o dia 13/04/2017, em que ocorreu a maior rajada

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Fonte: CPTEC / INPE, 2019.

Nas imagens de linhas de corrente (figura 10) para o dia de maior rajada em 2016, observa-se que estava ocorrendo VCAN e VCMN, próximo à costa de alagoas, fazendo com que a periferia desses Vórtices estivesse sobre a cidade. Porém no episódio ocorrido em 2017 não estava havendo sistemas meteorológicos que pudesse explicar esse pico de vento forte, alagoas estava apenas sobre influencia doa ventos provenientes da ASAS (Anticiclone Subtropical do Atlântico Sul).

 

Figura 10 – Imagens de Linhas de Correntes para os dias 27/01/2016 e 13/04/2017 nos níveis de 200, 500 e 1000 hPa (18 UTC no dia 27/01/16 e 12 UTC no dia 13/04/17)

Fonte: Adaptada de NCEP, 2019.

 

 

4 Conclusão

Nessa análise, observou-se que as ocorrências de rajadas para Palmeira dos índios e Arapiraca ocorreram com mais frequências para direção Leste e em Petrolina e Garanhuns as maiores frequências na direção Sudeste, com mais ocorrências por volta das 17:00h e 19:00h UTC (14:00 e 16:00 em hora local). Ao longo dos anos estudados os maiores percentuais de ocorrências foram na primavera seguido do verão, confirmando estudos anteriores sobre maiores intensidades de vento no período da primavera com diminuição durante o verão. Já os meses com mais registros de ocorrências de rajadas foi janeiro, outubro e dezembro, havendo mais eventos acima de 15 m/s em  Petrolina (30 registros) e em Palmeira dos Índios (22 registros), porém apesar desses elevados registros para essas duas regiões, no total foram observados poucas variações de registros nas quatro regiões para os cinco anos analisados e os picos de rajadas máximas ocorreram nos anos em que estava ocorrendo fenômenos meteorológicos (El Niño oscilação Sul e Distúrbio Ondulatório de Leste) podendo assim ter causado o aumento nos picos de ventos fortes. Na análise de ocorrência de maior rajada verificou-se que os eventos foram em dias e horários distintos, porém com as mesmas semelhanças na variação de pressão e temperatura, ou seja, anteriormente as ocorrências de rajadas máximas a pressão atmosférica teve um pequeno aumento e a temperatura diminuiu, e após o evento a pressão diminui e a temperatura aumenta. No momento em que ocorreu o maior registro de rajadas (20 m/s) em Palmeira dos Índios estava havendo um VCAN em níveis superiores, mas na superfície não havia nenhuma ocorrência de sistemas meteorológicos. As rajadas máximas ocorreram na direção Norte e Nordeste, e para ambos episódios no momento do evento estava ocorrendo muita nebulosidade e umidade sobre as regiões analisadas.

 

 

Agradecimentos

Os autores agradecem aos amigos e professores que contribuíram diretamente e indiretamente para este trabalho e a (Organização que indicou o artigo) pelo apoio e indicação.

 

 

Referências

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