Universidade Federal de Santa Maria
Ci. e Nat., Santa Maria v.42, ed. esp.: meteorologia, e2, 2020
DOI:10.5902/2179460X55301
ISSN 2179-460X
Received: 22/09/20 Accepted: 22/09/20 Published: 30/09/20
Produtividade Agrícola, Pesqueira, Agropecuária
Influência das variações hidrometeorológicas na qualidade da água do baixo rio Itajaí-Mirim, município de Itajaí (SC)
Influence of hydrometeorological variations on the water quality of the low river Itajaí-Mirim, municipality of Itajaí (SC)
Evandro Oscar Mafra I
Eduardo Augusto Werneck Ribeiro II
Aline Pereira Gomes III
Viviane Tranker IV
I Instituto Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil. E-mail: mafrabio@gmail.com.
II Instituto Federal Catarinense, Blumenau, Brasil. E-mail: eduardo.werneck@ifc.edu.br.
III Instituto Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil. E-mail: alineg.ambiental@gmail.com.
IV Instituto Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil. E-mail: vivianecob@hotmail.com.
O rio Itajaí-Mirim localizado em Santa Catarina, na região do baixo estuário do rio Itajaí-Açu, é local de captação de grande parte da água fornecida para consumo dos Municípios de Itajaí e Navegantes, estação de captação do São Roque criada no ano 1978. Este estudo tem como objetivo analisar a qualidade de água no rio Itajaí-Mirim durante a implantação da barragem no rio Itajaí-Mirim a partir de um monitoramento de parâmetros físico-químico. As coletas descritas no presente artigo foram realizadas em seis pontos amostrais, de janeiro a dezembro de 2007, com o propósito de caracterizar física e quimicamente o ambiente no canal retificado e, também, no leito original do Itajaí-Mirim. Os parâmetros mensurados in situ servem para avaliar o estado geral da qualidade da água no momento das amostragens. Os principais parâmetros mensurados, quatro deles merecem uma atenção especial (pH, Turbidez, Oxigênio Dissolvido e Salinidade) sendo que os parâmetros ambientais correlacionados foram de vazão e precipitação. De uma maneira geral, em função dos principais resultados obtidos, as águas analisadas podem ser enquadradas na Classe 2 das águas doces, segundo os valores limites da Resolução CONAMA N° 357/05, sendo que para o período amostrados a precipitação e vazão influenciaram na qualidade da água.
Palavras-chave: Rio Itajaí-Mirim; Qualidade de Água; Hidrometeorológicas.
The Itajaí-Mirim River located in Santa Catarina, in the region of the low estuary of the Itajaí-Açu River, is the place where most of the water supplied for consumption is consumed by the Municipalities of Itajaí and Navegantes, the São Roque catchment station. This study aims to analyze the water quality in the Itajaí-Mirim river before and after the implantation of the dam in the Itajaí-Mirim river, based on a monitoring of physical-chemical parameters. The collections described in this report were carried out at six sample points, from January to December 2007, with the purpose of physically and chemically characterizing the environment in the rectified channel and, also, in the original bed of Itajaí-Mirim. The parameters measured in situ serve to assess the general state of water quality at the time of sampling. The main parameters measured, four of them deserve special attention (pH, Turbidity, Dissolved Oxygen and Salinity) and the correlated environmental parameters were flow rate and precipitation. In general, depending on the main results obtained, the analyzed waters can be classified in Class 2 of fresh waters, according to the limit values of CONAMA Resolution No. 357/05, and for the sampled period, precipitation and flow influenced the water quality.
Keywords: Itajaí-Mirim River; Water Quality; Hydrometeorologicals.
1 Introdução
Um grande problema na captação de água superficial para consumo em locais com influência de maré é a possibilidade de intrusão da cunha salina no ponto de captação e necessidade de paralisação da captação até que ocorra o aumento a descarga fluvial no local.
O rio Itajaí-Mirim localizado em Santa Catarina, na região do baixo estuário do rio Itajaí-Açu, é local de captação de grande parte da água fornecida para consumo dos Municípios de Itajaí e Navegantes, estação de captação do Bairro de São Roque. Nos períodos de estiagem é observada a potencialização da intrusão da cunha salina no local de captação de água, devido às características geomorfológicas do rio Itajaí-Mirim, que apresenta baixa declividade e facilitando a penetração da cunha salina.
O principal agente causador do problema da salinização na região da estação de captação do São Roque, é também devido a irregularidade climática que a bacia do rio Itajaí-Mirim está sujeita. Nos períodos em que ocorrem chuvas regulares na bacia a vazão é mantida em valores altos o suficiente para manter a intrusão salina a jusante da estação da captação da água, ao passo que em situações de períodos prolongados de estiagem ocorre o avanço da cunha salina.
A estação de captação de água para o abastecimento público foi instalada após a abertura de um canal retificado no rio Itajaí-Mirim, que foi originada de uma obra de engenharia na década de 60 do Departamento Nacional de Obras e Saneamento – DNOS, visando aumentar a vazão do rio na área urbana de Itajaí. Devido a ocupação irregular de suas margens, essas regiões apresentavam naturalmente sinuosidades que compunham o leito original do rio, conhecidas com várzeas, que são terrenos que sofrem com enchentes ou alagamentos durante os períodos de grande pluviosidade, então essa obra visava diminuir os impactos das enchentes para população.
A barragem do rio Itajaí-Mirim foi inaugurada no ano 2007, para a contenção da intrusão da cunha salina na água utilizada para o abastecimento público em Itajaí foi uma solução encontrada para possibilitar a captação perene de água de qualidade para a Estação de Tratamento de Água – ETA de São Roque, criada no ano de 1978. O barramento tem como função diminuir a influência da cunha salina na região de captação da água, diminuindo os níveis de cloretos, visando uma melhor qualidade da água dentro dos padrões de condições para uso humano.
Este estudo tem como objetivo analisar a qualidade de água no rio Itajaí-Mirim durante a implantação da barragem no rio, entre os meses de janeiro e dezembro de 2007, a partir de um monitoramento de parâmetros físico-químico e correlacionar com os parâmetros hidrometeorológicos: vazão e precipitação.
Uma importante ferramenta na apresentação de informação para melhor visualização e interpretação de dados, são as imagens de satélite, que foram utilizadas nesse trabalho para representar a variação dos parâmetros nas diferentes estações amostrais.
2 Metodologia
A bacia hidrográfica do rio Itajaí-Mirim está localizada na região do Vale do Itajaí, entre as latitudes 26°53’17,1” e 26°56’05,1” Sul e as longitudes 48°40’57,8” e 48°44’12,4” Oeste, tendo a orientação do curso principal no sentido 17° Norte (GAPLAN, 1986). É um afluente da margem direita do rio Itajaí-Açu, tem suas nascentes na serra dos Faxinais, a aproximadamente 1.000 metros de altitude, e deságua já na região estuarina do Itajaí-Açu, tendo o leito principal uma extensão de aproximadamente 170 km, e uma bacia de drenagem ocupando uma área de aproximadamente 1.600 km2 (RIFFEL & BEAUMORD, 2002).
As coletas foram realizadas em seis pontos amostrais, conforme a Figura 1 e Tabela 1 de janeiro a dezembro de 2007, com o propósito de caracterizar física e quimicamente o ambiente no canal retificado e, também, no leito original do Itajaí-Mirim: (Ponto 1) localizado a montante da barragem e ETA, no canal retificado; (Ponto 2) localizado próximo à bifurcação do leito original com o canal retificado; (Ponto 3) ponte na Comunidade das Laranjeiras, leito original; (Ponto 4) localizado a jusante da barragem e ETA, no canal retificado; (Ponto 5) localizado próximo ao Clube de Campo Itamirim, no leito original; (Ponto 6) localizado no bairro Itaipava, nas proximidades da Estrada Geral Itaipava, no leito original. Os parâmetros coletados e analisados foram: oxigênio dissolvido (OD), turbidez, pH, temperatura da água e salinidade conforme metodologia estabelecida pelo Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater (APHA WPCF) (2017). Foram utilizados médias mensais de precipitação e vazão para a correlação com parâmetros físicos e químicos coletados, esses dados foram obtidos através do hidroweb da Agência Nacional de Águas – ANA para o período estudado. Para avaliação dos resultados foi utilizado um método não paramétrico, já que os dados se apresentam dispersos, não pertencem a uma escala de medida padrão, porém, possuem uma ordenação. Os resultados obtidos com as determinações físico-químicas durante o período de janeiro a dezembro de 2007 foram tratados aplicando a correlação de Spearman (R), procedimento utilizado por CARMO et al. (2005), POUDEL et al. (2013), ZHANG, et al. (2014).
Tabela 1 – Coordenadas das estações amostrais de água. do monitoramento da qualidade da água do baixo rio Itajaí-Mirim, no município de Itajaí (SC)
Pontos Amostrais |
Latitude |
Longitude |
1 |
26° 54’ 42,1” S |
48° 43’ 07,7” W |
2 |
26° 55’ 50,8” S |
48° 45’ 07,7” W |
3 |
26° 58’ 01,1” S |
48° 47’ 56,8” W |
4 |
26° 54’ 37,6” S |
48° 43’ 00,0” W |
5 |
26° 55’ 53,4” S |
48° 41’ 27,7” W |
6 |
26° 56’ 07,2” S |
48º 44’ 14,2” W |
O processamento da imagem de satélite foi executado com o software QGIS 2.18. Usando imagem georreferenciada do Bing mapas. Em seguida, adicionaram-se duas camadas do tipo shape. Sendo a primeira camada vetorial do tipo ponto, destinada à identificação de pontos de interesse na área de estudo a segunda camada vetorial do tipo polígono para delimitação das regiões de interesse do estudo. O Sistema de Referência de Coordenadas selecionado foi o WGS 84 / EPSG 4326. Para cada camada vetorial adicionada realizou-se a edição das características das mesmas, através da tabela de atributos, a fim de identificar o que cada dado representa do espaço real.
Figura 1 – Localização dos pontos amostrais para o monitoramento da qualidade da água do baixo rio Itajaí-Mirim, no município de Itajaí (SC)
3 Resultados e Discussão
Os parâmetros mensurados in situ servem para avaliar o estado geral da qualidade da água no momento das amostragens. Dos parâmetros acima mensurados, quatro deles merecem uma atenção especial (pH, Turbidez, Oxigênio Dissolvido e Salinidade).
Os resultados mostram uma variação na quantidade de oxigênio dissolvido em função dos períodos e dos pontos amostrais analisados. Dois (2) pontos amostrais merecem uma análise mais detalhada: os pontos amostrais 5 e 6. O ponto amostral 5 apresenta quase sempre valores de oxigênio dissolvido abaixo do valor padrão estabelecido pela Resolução CONAMA N° 357/05 para a Classe 2 (5 mg/L). Este ponto está localizado a jusante da barragem e quando esta é fechada, a interrupção do fluxo das águas causa um rápido empobrecimento do oxigênio dissolvido presente nas águas estagnadas. Esse rápido empobrecimento se deve pelos processos biogeoquímicos que ocorrem no sistema, que vai do consumo do oxigênio pela biota aquática, pela decomposição dos organismos mortos, bem como a poluição orgânica do local, ocasionando odor na água. Este fenômeno ocorre em menor intensidade no ponto amostral 6, mas que, ainda, também apresenta valores médios inferiores ao preconizado pela legislação brasileira para águas de Classe 2, conforme a Resolução acima citada (Tabela 2 e Figura 2). Isso intensifica na diminuição da precipitação com isso a redução da vazão (Tabela 3 e Figura 4).
Tabela 2 – Parâmetros físicos e químicos do monitoramento da qualidade da água do baixo rio Itajaí-Mirim, no município de Itajaí (SC)
Parâmetros |
Pontos Amostrais |
Jan/07 |
Fev/07 |
Mar/07 |
Abr/07 |
Mai/07 |
Jun/07 |
Jul/07 |
Ago/07 |
Set/07 |
Out/07 |
Nov/07 |
Dez/07 |
Oxigênio Dissolvido (mg/l) |
# 1 |
2,40 |
2,55 |
2,12 |
0,60 |
6,93 |
5,47 |
7,81 |
4,99 |
7,01 |
6,51 |
4,48 |
7,65 |
# 2 |
3,21 |
2,26 |
2,70 |
1,13 |
7,05 |
5,60 |
7,36 |
4,60 |
6,83 |
6,23 |
4,14 |
8,05 |
|
# 3 |
2,40 |
2,94 |
3,58 |
2,23 |
7,55 |
6,14 |
7,73 |
4,97 |
7,21 |
6,38 |
4,18 |
7,62 |
|
# 4 |
2,88 |
2,56 |
2,80 |
0,71 |
6,37 |
5,72 |
8,66 |
2,89 |
6,59 |
6,55 |
5,12 |
7,72 |
|
# 5 |
0,71 |
0,24 |
0,99 |
0,20 |
5,68 |
0,40 |
2,23 |
4,15 |
1,02 |
1,84 |
0,35 |
0,63 |
|
# 6 |
3,10 |
2,60 |
1,48 |
0,84 |
6,86 |
2,64 |
7,06 |
5,05 |
5,70 |
5,20 |
3,50 |
7,18 |
|
Temperatura (°C) |
# 1 |
26,7 |
28,6 |
25,8 |
27,7 |
15,6 |
17,6 |
16,6 |
17,0 |
19,4 |
21,5 |
21,1 |
27,6 |
# 2 |
27,1 |
26,7 |
26,1 |
25,9 |
15,6 |
17,8 |
16,8 |
17,6 |
19,1 |
21,4 |
21,2 |
27,1 |
|
# 3 |
28,3 |
27,7 |
25,8 |
25,0 |
15,9 |
17,6 |
17,0 |
17,3 |
19,0 |
21,5 |
21,2 |
27,1 |
|
# 4 |
26,8 |
28,0 |
25,5 |
27,1 |
15,6 |
17,5 |
16,2 |
17,5 |
19,4 |
21,5 |
21,1 |
27,3 |
|
# 5 |
27,6 |
27,5 |
24,8 |
26,9 |
16,6 |
18,0 |
17,9 |
18,4 |
19,0 |
22,5 |
21,9 |
27,7 |
|
# 6 |
29,9 |
26,2 |
24,9 |
25,8 |
15,6 |
17,8 |
16,5 |
17,5 |
19,4 |
21,8 |
21,1 |
27,3 |
|
Salinidade (%.) |
# 1 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
1 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
# 2 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
|
# 3 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
|
# 4 |
0 |
0 |
0 |
3 |
0 |
2 |
0 |
10 |
0 |
0 |
0 |
0 |
|
# 5 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
2 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
|
# 6 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
|
pH |
# 1 |
7,00 |
6,00 |
6,60 |
6,75 |
5,83 |
6,50 |
6,00 |
6,00 |
6,78 |
6,65 |
6.80 |
7,04 |
# 2 |
7,00 |
6,50 |
6,81 |
6,77 |
6,33 |
6,50 |
6,00 |
6,00 |
6.91 |
6,57 |
6.93 |
6,65 |
|
# 3 |
6,50 |
6,00 |
6,86 |
6,94 |
6,44 |
6,00 |
6,00 |
6,00 |
6,95 |
6,62 |
6,97 |
6,68 |
|
# 4 |
7,00 |
6,50 |
6,40 |
7,01 |
6,37 |
6,00 |
6,00 |
7,00 |
6.72 |
6,54 |
6.70 |
7,02 |
|
# 5 |
6,50 |
6,00 |
6,10 |
6,80 |
5,68 |
6,18 |
6,70 |
6,00 |
6.71 |
6,08 |
6.70 |
6,78 |
|
# 6 |
6,00 |
6,00 |
6,27 |
6,78 |
6,86 |
7,00 |
6,50 |
6,00 |
6.64 |
6,62 |
6.66 |
6,92 |
|
Turbidez (NTU) |
# 1 |
43,12 |
75,60 |
105,80 |
6,44 |
50,68 |
11,76 |
420,56 |
21,56 |
23,24 |
95,76 |
23,24 |
52,08 |
# 2 |
35,00 |
53,20 |
64,40 |
16,52 |
28,84 |
12,32 |
420,84 |
31,36 |
14,28 |
76,16 |
14,28 |
34,72 |
|
# 3 |
38,64 |
75,88 |
95,48 |
7,00 |
27,44 |
16,24 |
388,36 |
38,64 |
44,52 |
100,52 |
44,52 |
25,20 |
|
# 4 |
35,84 |
73,08 |
99,68 |
2,52 |
31,64 |
11,76 |
417,20 |
20,16 |
31,52 |
84,00 |
23,52 |
43,96 |
|
# 5 |
4,48 |
1,96 |
86,80 |
10,64 |
21,84 |
5,60 |
81,76 |
63,28 |
27,20 |
56,84 |
11,20 |
3,08 |
|
# 6 |
47,04 |
104,44 |
50,12 |
13,44 |
35,84 |
12,60 |
357,28 |
54,04 |
18,41 |
74,48 |
27,44 |
36,12 |
Figura 2 – Perfil de distribuição do Oxigênio Dissolvido médio (mg/l) da qualidade da água do baixo rio Itajaí-Mirim, no município de Itajaí (SC) para ano 2007
Os valores mensurados de pH apresentaram valores compatíveis com águas doces de classe 2 da Resolução CONAMA N° 357/05 (que estipula um valor de pH entre 6,0 e 9,0). Esta variação do pH nas águas deve ter sido decorrente do processo de estabilização físico-químico e biológico e das modificações condições hidrodinâmicas do ambiente, onde pode verificar uma estabilização deste parâmetro entre 6 e 7 nos pontos de coleta (Tabela 2 e Figura 3).
Com relação aos valores de Turbidez, estes estão sujeitos às condições meteorológicas, e os picos observados são oriundos de eventos pluviométricos que causam um aumento nos valores mensurados deste parâmetro. Assim, este parâmetro tem consequências ambientais muito transitórias para merecer uma atenção especial. Segundo a Resolução CONAMA N° 357/05, as águas doces de classe 2 devem apresentar um valor de Turbidez inferior a 100 UNT, sendo que com as médias do ano de monitoramento (2007), o ponto 6 apresentou valores acima da Resolução CONAMA Nº 357/05 (Tabela 2 e Figura 4).
Figura 3 – Perfil de distribuição do pH médio da qualidade da água do baixo rio Itajaí-Mirim, no município de Itajaí (SC) para ano 2007
Figura 4 – Perfil de distribuição da Turbidez média (NTU) da qualidade da água do baixo rio Itajaí-Mirim, no município de Itajaí (SC) para ano 2007
Referente nos dados coletados e analisados para a salinidade, observou-se que os valores eram muito baixo, mesmo assim o ambiente apresenta uma influência na cunha salina, isso ocorre, pois, o ambiente estudado está inserido no estuário do Rio Itajaí-Açu, que sofre bastante esse fenômeno (Tabela 2 e Figura 5). O gradiente de temperatura da área de estudo apresentou uma variação de 20,4 ºC a 21,7 ºC durante o programa de monitoramento dos parâmetros físicos e químicos da qualidade da água do baixo rio Itajaí-Mirim (Tabela 2 e Figura 6).
Figura 5 – Perfil de distribuição da Salinidade média (%.) da qualidade da água do baixo rio Itajaí-Mirim, no município de Itajaí (SC) para ano 2007
Figura 6 – Perfil de distribuição da temperatura média (ºC) da qualidade da água do baixo rio Itajaí-Mirim, no município de Itajaí (SC) para ano 2007
BEAUMORD et al. (2003) estudo realizado referente a qualidade das águas do rio Itajaí-Mirim, descreve que varia de acordo com a ocupação de suas margens. Nos trechos mais altos onde são poucos os núcleos urbanos e agricultura intensiva, verificou-se padrões satisfatórios de qualidade de água, como por exemplo, os teores de oxigênio dissolvido superiores a 7,0 mg/L. no trecho que corta o município de Brusque, estes teores já caem para 6,0 mg/L chegando à casa de 3,0 mg/L, no município de Itajaí os teores são inferiores a 2,0 mg/L no leito original do rio. HOMECHIN JR & BEAUMORD (2007) também com estudos de qualidade ambiental do mesmo rio, verificou que trecho médio-inferior, região de Itajaí e Brusque são verificadas as condições mais críticas da qualidade das águas, nestes trechos as concentrações de oxigênio dissolvido variam de 3,0 a 6,0 mg/L; valores médios de pH inferiores a 7,0; e, material particulado em suspensão entre 70 e 100 mg/L, corroborando com os resultados obtidos neste presente estudo, onde os valores mais baixos de oxigênio foram encontrados no trecho original, mesmo assim em todos os pontos os valores médios dos parâmetros de monitorados foram baixos, o comparados com os outros trechos do rio Itajaí-mirim.
Nas análises de correlação de Spermam (R) entre os parâmetros físico e químicos, foi observado uma relação positiva entre os Oxigênio Dissolvido, pH e Turbidez com os dados de vazão e precipitação conforme Tabela 3. Foi observado que com o aumento da vazão e apresentam melhores valores de oxigênio dissolvido principalmente nos meses de Maio, Julho, sendo que também foi observado isso para o mês de dezembro, com influência da precipitação que tem influência direta na turbidez conforme observado na Tabela 2 e Tabela 4.
Tabela 3 – Matriz de correlação de Spearman (R) entre os parâmetros físico e químicos, vazão e precipitação do baixo rio Itajaí-Mirim, no município de Itajaí (SC) para o ano 2007
O.D. |
T° |
Sal |
pH |
Turb |
Vazão |
Precip |
|
O.D. |
-0,65 |
-0,24 |
-0,08 |
0,22 |
0,58 |
0,25 |
|
T° |
-0,65 |
-0,24 |
0,31 |
-0,04 |
-0,56 |
0,35 |
|
Sal |
-0,24 |
-0,24 |
-0,29 |
-0,40 |
-0,53 |
-0,70 |
|
pH |
-0,08 |
0,31 |
-0,29 |
-0,56 |
0,01 |
0,23 |
|
Turb |
0,22 |
-0,04 |
-0,40 |
-0,56 |
0,40 |
0,05 |
|
Vazão |
0,58 |
-0,56 |
-0,53 |
0,01 |
0,40 |
0,12 |
|
Precip |
0,25 |
0,35 |
-0,70 |
0,23 |
0,05 |
0,12 |
Tabela 4 – Médias mensais da vazão, precipitação e cota do baixo rio Itajaí-Mirim, no município de Itajaí (SC) para ano 2007
Parâmetros |
jan/07 |
fev/07 |
mar/07 |
abr/07 |
mai/07 |
jun/07 |
jul/07 |
ago/07 |
set/07 |
out/07 |
nov/07 |
dez/07 |
Vazão (m3/h) |
17,45 |
22,48 |
26,61 |
11,67 |
43,02 |
14,54 |
44,73 |
23,86 |
55,2 |
31,87 |
32,13 |
15,89 |
Precip (mm) |
203,2 |
192,3 |
95,1 |
95,2 |
195,4 |
15,7 |
137,3 |
64,3 |
117,8 |
109,3 |
138,9 |
204,1 |
Cota (cm) |
167,0 |
180,0 |
194,0 |
149,0 |
216,0 |
160,0 |
230,0 |
180,0 |
250,0 |
209,0 |
202,0 |
164,0 |
A produção de efluentes domésticos e industriais, pode gerar alterações nos padrões físicos e químicos da água, sendo que as cargas de nutrientes maiores do que a capacidade dos micro-organismos presentes no meio aquático tem de incorporar e mineralizar estes nutrientes, afetando na sua qualidade (ABREU et al., 2010). PEREIRA FILHO et al. (2006 e 2010) estimaram que a entrada de efluente doméstico no baixo estuário do Rio Itajaí, onde está inserido a área estudada, contribui com até 30% das entradas de nitrogênio amoniacal no ambiente, em períodos de baixa descarga fluvial, reforçando a importância dos municípios da região para o sistema.
5 Conclusões
Os valores mensurados no período compreendido do ano de 2007 mostram que o oxigênio dissolvido apresentou resultados baixos em quase todas as campanhas, isto pode ser explicado pelo despejo de matéria orgânica nas águas do rio, pois a degradação dessa matéria consome o oxigênio dissolvido e aumenta a concentração de alguns compostos nitrogenados. Em relação a cunha salina, ela tem maior influência no canal retificado, principalmente no Ponto 4, na área a jusante a barragem e a ETA. Também foi observado que a vazão e precipitação influenciam na qualidade da água do baixo rio Itajaí-Mirim. Maneira geral, em função dos principais parâmetros mensurados, as águas analisadas podem ser enquadradas na Classe 2 das águas doces, segundo os valores limites da Resolução CONAMA N° 357/05. Contudo, verificam-se ainda variações grandes nos valores dos parâmetros mensurados entre as campanhas e pontos amostrais, demonstra que o ecossistema em estudado ainda não alcançou um equilíbrio, tanto do ponto de vista físico-químico, como por consequência, do ponto de vista ecológico. Os pontos amostrais 5 e 6 foram os mais impactados, o que se pode compreender em função da localização dos mesmos, pois com a retificação do canal essa região teve um fluxo de água reduzido. O ponto 5 fica praticamente dentro da área urbana do município de Itajaí, o que vem sofrer com a falta de saneamento dessa região bem como o grande aporte de lixo, despejados pelos moradores dentro do rio. No ponto #6 o volume de água é bem baixo, sofrendo ainda influência da zona rural e da água lixiviada de plantações de arroz em sua marginal. Segundo Di Bernardo (2003), as características físicas da água apresentam importância relativamente baixa do ponto de vista sanitário, porém elas podem ser fundamentais na seleção da tecnologia do tratamento da água. Com isso quanto o pior a qualidade da água captada para o abastecimento da população, mais sofisticado e mais produtos serão utilizados para o seu tratamento.
6 Agradecimentos
Todas as pessoas envolvidas nas diversas campanhas de campo e processamento das análises.
Referências
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