Universidade Federal de Santa Maria

Ci. e Nat., Santa Maria, v. 43, e63, 2021

DOI: 10.5902/2179460X42748

ISSN 2179460X

Recebido: 09/03/2020 • Aceito: 12/03/2021 • Publicado: 06/08/2021

Geociências

Ocorrência da espécie invasora Hovenia dulcis no Estado de Santa Catarina

Occurrence of the invasive species Hovenia dulcis in the State of Santa Catarina

Carla Luciane LimaI

Francisco Henrique de OliveiraII

Camile SotheIII

Felipe Echenique AlvesIV

I Mestra em Engenharia Florestal, Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil

https://orcid.org/0000-0002-7943-3962 - carla_engflorestal@yahoo.com.br

II Doutor em Engenharia de Produção, Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil

https://orcid.org/0000-0001-5884-5215 - francisco.oliveira@udesc.br

III Doutora em Sensoriamento Remoto, McMaster University, Hamilton, Ontário, Canadá

https://orcid.org/0000-0001-5259-3838 - camilesothe@yahoo.com.br

IV Mestre em Engenharia de Transportes e Gestão Territorial, Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil

https://orcid.org/0000-0001-5235-4802 - felipechenique@hotmail.com

RESUMO

A disseminação de espécies exóticas invasoras tem criado desafios complexos, pois ameaçam tanto as riquezas biológicas naturais do planeta, quanto o bem-estar de seus cidadãos. Nesse contexto, ações efetivas, principalmente quando se trata de espécies exóticas invasoras estão relacionadas ao conhecimento e compreensão a respeito do status da invasão e sua abrangência espacial. O objetivo deste artigo é contribuir para a expansão da informação a respeito da ocorrência da espécie arbórea exótica invasora Hovenia dulcis no Estado de Santa Catarina, por meio de uma compilação e análise de dados e publicações científicas. Das 84 espécies de plantas consideradas exóticas invasoras em Santa Catarina, Hovenia dulcis é uma das espécies mais relevantes, apresentando 72 registros de ocorrência na Base de Dados Nacional de Espécies Exóticas Invasoras, 107 registros no Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina e ainda 13 registros oriundos de publicações em periódicos científicos. Compilando e espacializando todas as informações constantes nas bases de dados, a espécie tem ocorrência registrada em 124 municípios catarinenses, além de ocorrer em algumas unidades de conservação no estado. O fato da Hovenia dulcis ocorrer em quase metade dos municípios Catarinenses aponta para a necessidade de medidas de prevenção controle e erradicação da espécie.

Palavras-chaves: Hovenia dulcis; Espécie exótica invasora; Santa Catarina

ABSTRACT

The spread of invasive alien species has created complex challenges, as they threaten both the planet’s natural biological wealth and the well-being of its citizens. In this context, effective actions, especially when it comes to invasive alien species, are related to knowledge and understanding regarding the status of the invasion and its spatial scope. The aim of this article is to contribute to the expansion of information regarding the occurrence of the invasive exotic tree species Hovenia dulcis in the State of Santa Catarina, through the compilation and analysis of data and scientific publications. Of the 84 species of plants considered to be invasive exotic species in Santa Catarina, Hovenia dulcis is one of the most relevant species, with 72 occurrence records in the National Invasive Alien Species Database, 107 records in the Forest and Floristic Inventory of Santa Catarina and 13 records from publications in scientific journals. Compiling and spatializing all the information contained in the databases, the species Hovenia dulcis has registered in 124 municipalities in Santa Catarina, also occurring in some conservation units in the state. The fact that Hovenia dulcis occurs in almost half of the municipalities in Santa Catarina points to the need for measures to prevent, control and eradicate the species.

Keywords: Hovenia dulcis; Invasive alien species; Santa Catarina

1 Introdução

A acelerada globalização, com forte desenvolvimento do turismo internacional e do livre comércio entre países, associada a facilitação do deslocamento e ampliação das vias de transporte, em especial no século XX, promoveu grandes aberturas nas barreiras naturais, como oceanos, rios, montanhas e desertos, o que, por consequência, favoreceu a introdução e dispersão de espécies em ecossistemas distintos de seu hábitat natural. Aliado às mudanças no uso da terra e às mudanças climáticas, esse deslocamento de espécies de um local para outro, muitas vezes, causa consequências inesperadas e em alguns casos problemáticas.

A preocupação com as invasões biológicas se consolidou com a Convenção Internacional sobre Diversidade Biológica (CDB), no ano de 1992, no Rio de Janeiro. O Artigo 8h da CDB diz que os governos signatários devem “impedir que se introduzam, controlar ou erradicar espécies exóticas que ameacem os ecossistemas, habitats ou espécies” (ICMBio, 2018). A partir de então, alguns esforços se destacaram visando atender seus objetivos, como, por exemplo, o Programa Global de Espécies Invasoras (GISP – The Global Invasive Species Programme) desenvolvido em 1996 e estabelecido em 1997, para tratar das ameaças globais causadas por espécies exóticas invasoras e para fornecer apoio à implementação do Artigo 8 h da Convenção sobre Diversidade Biológica (MCNEELY et al., 2001). O GISP procura melhorar a base científica para a tomada de decisões sobre espécies invasoras, desenvolver capacidades para empregar sistemas de alerta precoce e avaliação rápida e resposta, além desenvolver melhores métodos de avaliação de risco e reduzir o custo econômico de métodos de controle (MCNEELY et al., 2001).

Mais recentemente, como resultado da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas – ONU, foi criada a Agenda 2030, um documento que contém 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), além de 169 metas a serem atingidas (ONU, 2015; ICMBio, 2018). A meta 15.8, relacionada ao ODS nº 15 determina que até 2020, deve-se implementar medidas para evitar a introdução e reduzir significativamente o impacto de espécies exóticas invasoras em ecossistemas terrestres e aquáticos, e controlar ou erradicar as espécies prioritárias (ONU, 2015).

No Brasil, a primeira Estratégia Nacional sobre Espécies Exóticas Invasoras foi instituída por meio da Resolução CONABIO nº 05, de 21 de outubro de 2009, a qual foi revisada e atualizada por meio da aprovação da Resolução CONABIO nº 07, de 29 de maio de 2018. A Estratégia Nacional sobre Espécies Exóticas Invasoras de 2018 tem como objetivo orientar a implementação de medidas para evitar a introdução e a dispersão e reduzir significativamente o impacto de espécies exóticas invasoras sobre a biodiversidade brasileira e serviços ecossistêmicos, e controlar ou erradicar espécies exóticas invasoras (BRASIL, 2018). Já no Estado de Santa Catarina, a primeira Lista Oficial de Espécies Exóticas Invasoras do Estado foi publicada em 2010, com versão revisada em 2012 (Resolução CONSEMA 08/2012).

De acordo com Ziller (2001), plantas invasoras são hoje a segunda maior ameaça mundial à biodiversidade, ficando atrás somente da perda de hábitat, o que tem causado preocupação em todos os continentes e biomas. Ainda conforme a autora, os países com melhores registros de invasão biológica são África do Sul, Nova Zelândia, Austrália e Estados Unidos, porém, atualmente grande parte dos países no mundo tem registro de alguma espécie exótica invasora.

A disseminação de espécies exóticas invasoras vem criando desafios complexos, pois ameaçam tanto as riquezas biológicas naturais do planeta, quanto o bem-estar de seus cidadãos. Mesmo com algumas iniciativas governamentais, o problema exige a definição de estratégias e ações desde um nível global até escalas menores, a nível regional. Nesse contexto, ações efetivas, principalmente quando se trata de espécies exóticas invasoras estão fortemente relacionadas ao conhecimento e compreensão a respeito do status da invasão e sua abrangência espacial.

Dessa forma, o objetivo deste artigo é contribuir para a expansão da informação a respeito da ocorrência espacial da espécie arbórea exótica invasora Hovenia dulcis no Estado de Santa Catarina, por meio de uma compilação e análise de duas fontes principais de dados: A Base de Dados Nacional de Espécies Exóticas Invasoras e o Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina, sendo complementado ainda por informações constantes em publicações científicas sobre a espécie.

2 ESPÉCIES EXÓTICAS INVASORAS

De acordo com a União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN, 2000) entende-se por espécie exótica a espécie, subespécie ou o táxon inferior que ocorre fora da sua área natural e de dispersão potencial. Da mesma forma, os Princípios Guias adotados na Convenção de Diversidade Biológica definem espécie exótica como uma ‘espécie, sub-espécie ou táxon menor, introduzida fora de sua distribuição natural, incluindo qualquer parte desta espécie que possam sobreviver e subsequentemente reproduzir’ (CDB Princípios Guias, 2002; SHINE, 2008).

Para que uma espécie passe a ser considerada exótica invasora, ela precisa vencer três barreiras: a primeira, geográfica, é superada quando a espécie transpõe seu limite geográfico de ocorrência; a segunda está relacionada à sobrevivência e à reprodução; e a terceira é vencida quando a espécie se dispersa para áreas distantes de onde foi introduzida, passando a ser considerada exótica invasora (RICHARDSON et al., 2000; LORENZI et al., 2003; ZILLER; ZALBA, 2007; DECHOUM, 2015a). Espécies exóticas invasoras apresentam vantagens competitivas em relação às demais, provocando alterações em processos ecológicos considerados essenciais, uma vez que apresentam dominância em relação às espécies locais (PARKER et al., 1999; VALÉRY et al., 2008; MALTA et al., 2012).

Plantas exóticas invasoras tendem a produzir alterações em propriedades ecológicas essenciais como ciclagem de nutrientes, cadeias tróficas, estrutura, dominância, distribuição e funções de espécies num dado ecossistema, acúmulo de serrapilheira e de biomassa e processos evolutivos, alterações na frequência e intensidade de incêndios (ZILLER, 2001; BROOKS et al., 2004; PYSEK et al., 2012). Em fases avançadas do processo de invasão, sem que haja esforços de controle, as alterações causadas por espécies invasoras podem modificar irreversivelmente os ecossistemas e extinguir localmente espécies nativas (MASON; FRENCH, 2008). Atualmente, praticamente todos os ecossistemas têm ocorrência de espécies exóticas entre suas comunidades (VAN KLEUNEN et al., 2015).

Nesse contexto, surge a crescente preocupação com invasões em áreas naturais protegidas, em especial as unidades de conservação (UCs), visto que atualmente a maior parte das unidades de conservação no Brasil, em todos os biomas brasileiros, possuem ocorrência de plantas exóticas invasoras (LEÃO et al., 2011; SAMPAIO; SHIMIDT, 2013; HUMMEL, 2015, INSTITUTO HÓRUS, 2019). As UCs cumprem papel de extrema importância, sobretudo por propiciarem a proteção da biodiversidade e representarem um patrimônio de valor inestimável, com potencial para promover benefícios significativos ao bem-estar humano e ao desenvolvimento de forma racional e sustentada.

No ano de 2018, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade publicou Guia de Orientação para o Manejo de Espécies Exóticas Invasoras em Unidades de Conservação Federais, com o objetivo de suprir uma lacuna de informação e orientação para uma das ameaças mais significativas à diversidade biológica, abordando medidas de prevenção, detecção precoce e resposta rápida, além de indicações para o manejo de espécies exóticas invasoras de diversos grupos biológicos em ambientes terrestres, de águas continentais e marinhos (ICMBio, 2018).

Atualmente, há 191 espécies de plantas exóticas reconhecidas como estabelecidas com potencial invasor ou invasoras no Brasil (INSTITUTO HÓRUS, 2019). No Estado de Santa Catarina, a primeira lista oficial de espécies exóticas invasoras, de acordo com a Resolução CONSEMA nº 08, de 14 de setembro de 2012, indicava a existência de 48 espécies de plantas exóticas invasoras no Estado. Conforme esta Resolução, as espécies foram ordenadas por categorias de risco ou ameaça à biodiversidade. De acordo com o seu Art. 3º, as espécies exóticas invasoras foram enquadradas nas seguintes categorias:

I – Categoria 1: espécies que não têm permitida a posse, o domínio, o transporte, o comércio, a aquisição, a soltura, a translocação, a propagação, o cultivo, a criação e a doação sob qualquer forma, bem como, a instalação de novos cultivos e criações;

II – Categoria 2: espécies cujo manejo, criação ou cultivo são permitidos sob condições controladas, estando sujeitas a normas e condições específicas para o comércio, a aquisição, o transporte, o cultivo, a distribuição, a propagação e a posse, estabelecidas no Programa Estadual de Espécies Exóticas Invasoras. As espécies da fauna enquadradas nesta categoria têm proibida sua soltura (SANTA CATARINA, 2012, art. 3º).

As espécies inseridas na Categoria 1 são aquelas que causam mais prejuízos do que geram benefícios e que, de modo geral, não apresentam valor de mercado significativo a ponto de justificar o uso. Já as espécies enquadradas na Categoria 2, de alguma forma fazem parte de sistemas de produção e, desde que respeitada as restrições e a regulamentação definida em normas específicas para cada espécie, tem o uso permitido.

2.1 Ocorrência da espécie Hovenia dulcis em Santa Catarina

Das 84 espécies de plantas consideradas exóticas invasoras para o Estado de Santa Catarina, a espécie arbórea Hovenia dulcis, conhecida popularmente por Uva-do-Japão ou Pé-de-galinha, é uma das espécies invasoras mais relevantes se considerado seu potencial de invasão. Trata-se de uma espécie arbórea caducifólia, pertencente à família Rhamnaceae, com até 25 metros de altura (CARVALHO, 1994), nativa da China, Japão e Coréia, ocorrendo nas latitudes entre os graus 25°N e 41°N e nas longitudes entre os graus 100°L e 142°L, e em altitudes entre 165 e 1350 m, com precipitação em torno de 850 a 2.000 mm e temperatura média anual de 7°C a 17°C (RICHARDSON, 1966; KOLLER; ALEXANDER, 1979; INSTITUTO HÓRUS, 2019). No Brasil, encontra-se preferencialmente nos tipos climáticos Cfa, Cfb e Cwa (climas subtropicais) (CARVALHO, 1994).

Seu fruto é uma pequena cápsula seca com 2 a 4 sementes, preso a um pedúnculo carnoso cor de canela com sabor doce e agradável. Apresenta sementes de 3 a 5mm, arredondadas, presos a um pedúnculo cor de marrom, o qual se torna espessado e carnoso ao madurar (e por isso é considerado um pseudofruto), com sabor doce e agradável (CARVALHO, 1994), consumido inclusive por seres humanos. Este pedúnculo é rico em carboidratos e em especial em sacarose, o que aumenta o interesse da fauna dispersora, que, atraída pela polpa carnosa, acaba comendo também as sementes e, ao se deslocarem entre ambientes, dispersam a espécie a distâncias maiores. Floresce de agosto a fevereiro, com frutificação entre março e outubro. Já a queda de folhas, no sul do Brasil, ocorre de março até o final de agosto (CARVALHO, 1994; DECHOUM, 2015a; INSTITUTO HÓRUS, 2019).

Hovenia dulcis é classificada como espécie pioneira, de rápido crescimento e sua fase reprodutiva tem início entre o 3º e 4º ano de idade, apresentando regeneração natural intensa por sementes (CARVALHO, 1994; DECHOUM, 2015a). Além disso, apresenta grande plasticidade, crescendo em solos compactos, rasos e pedregosos, desde arenosos até argilosos (CARVALHO, 1994).

Hovenia dulcis atualmente não consta somente na lista oficial de espécies exóticas invasoras do Estado de Santa Catarina, mas também do Estado do Paraná e do Rio Grande do Sul (PARANÁ, 2009; SANTA CATARINA, 2012; RIO GRANDE DO SUL, 2013) e por ser tolerante à sombra na fase de plântula, tem potencial de invasão até mesmo no interior de florestas que apresentam menor abertura de dossel e são mais bem conservadas (DECHOUM, 2015a). Dessa forma, a espécie é apontada como preocupante na Região Sul do Brasil, tanto na Floresta Ombrófila Mista (Floresta com Araucária) como na Floresta Estacional Semidecidual (ZENNI; ZILLER, 2011). Embora a espécie apresente características agressivas de invasão, em Santa Catarina é enquadrada, de acordo com a Resolução CONSEMA 08/2012, na Categoria 2, o que significa que o manejo, plantio ou cultivo são permitidos sob condições controladas, estando sujeitas as normas e condições específicas estabelecidas no Programa Estadual de Espécies Exóticas Invasoras.

A espécie foi introduzida no Brasil na segunda metade do século 20 e usada para produção de madeira, sombra em pastagens e áreas de cultivo, e como quebra vento. Foi plantada intensivamente a partir dos anos 80, com o crescimento da agroindústria, a qual incentivou o uso da espécie para sombrear granjas de porcos e aves no oeste catarinense, pois perde as folhas no inverno e permite a incidência do sol sobre essas estruturas (CARVALHO, 1994; SELLE, 2009; SANTA CATARINA, 2016). Disseminada em toda a região Sul, H. dulcis, adaptou-se bem ao clima e ao solo do Brasil (COZZO, 1960).

A partir de sua introdução, Hovenia dulcis se dispersou na região por uma paisagem fragmentada, decorrente da atividade extrativista praticada pelos imigrantes visando à implantação da agricultura e da pecuária e ao uso e comércio da madeira (RUSCHEL et al., 2003; HERMES-SILVA, 2008). De acordo com Lima et al. (2015), populações desta espécie invasora estão atualmente presentes no interior de fragmentos florestais em diferentes estágios sucessionais, o que indica a sua alta capacidade de invasão.

3 MATERIAL E MÉTODOS

Este estudo buscou compilar e sistematizar as informações de ocorrência espacial da espécie Hovenia dulcis no Estado de Santa Catarina. Para tanto, foram consultadas duas importantes fontes de dados: A Base de Dados Nacional de Espécies Exóticas Invasoras e o Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina, sendo complementado ainda por informações constantes em publicações científicas sobre a espécie obtidas por meio de pesquisas em plataformas de busca.

O Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental e o Programa de Espécies Exóticas Invasoras para a América do Sul da The Nature Conservancy mantém uma base de dados nacional que integra a rede I3N, Rede Temática de Espécies Invasoras da IABIN (Rede Inter-Americana de Informação sobre Biodiversidade). A plataforma de informação foi criada no ano de 2004 pelo Instituto Hórus em parceria com a Universidad Nacional del Sur em Bahía Blanca, na Argentina, com recursos de um projeto financiado pelo Banco Mundial e coordenado pelo Serviço Geológico dos Estados Unidos.

A Base de dados inclui apenas espécies exóticas invasoras que já se encontram presentes no país. Os dados disponíveis vêm sendo coletados em todo o país desde o ano de 2003 e as espécies registradas encontram-se sempre relacionadas a pelo menos uma ocorrência geográfica no Brasil. A sua origem está vinculada a informações de colaboradores de forma contínua e voluntária e sempre oriunda de um trabalho científico (INSTITUTO HÓRUS, 2019), garantindo assim a veracidade dos registros e demonstrando a importância de uma rede colaborativa, a qual permite a expansão do conhecimento da distribuição espacial de espécies.

Para este estudo, no site da Base de Dados, no menu de busca por “espécie”, foi selecionado o filtro “nome científico” e inserido o nome “Hovenia dulcis”. Nos resultados da busca, selecionou-se a opção “ocorrências” e os dados disponibilizados foram exportados para um planilha para realização de uma sistematização e posterior análise, tendo como resultado a lista de ocorrência espacial da espécie no Estado de acordo com essa Base de Dados.

Santa Catarina dispõe ainda de outra importante base de dados, o Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina – IFFSC, publicado no ano de 2012, contendo os resultados dos levantamentos de dados sobre a diversidade de plantas vasculares, composição florística, estrutura e estado de conservação da cobertura florestal, diversidade genética de espécies ameaçadas de extinção e a importância socioeconômica e cultural dos recursos florestais do Estado (VIBRANS et al., 2012). Além das publicações dos resultados e análises, o IFFSC dispõe também de um Sistema de Gerenciamento de dados (SINFLOR), acessado por meio de um site.

Para obtenção dos registros de ocorrência da espécie Hovenia dulcis na base de dados do IFFSC, foi acessado o site do SINFLOR e no menu “espécies”, selecionado o “gênero” “Hovenia” e o “epíteto 1” “dulcis”, resultando em um conjunto de informações a respeito da espécie. Um dos resultados gerados pelo sistema foi “Unidades Amostrais com ocorrência da Espécie”, o qual indicou quais os números das unidades amostrais registraram a presença de H. dulcis. Para obtenção da localização de cada uma dessas unidades amostrais, acessou-se o mapa das unidades amostrais, também disponibilizado no site do SINFLOR, e verificou-se a qual município cada unidade amostral pertencia, resultando na lista de ocorrência espacial da espécie no Estado de acordo com o IFFSC. Para melhor compreensão da invasão da espécie, além da ocorrência espacial, também foram pesquisados nas publicações do IFFSC, os resultados relacionados aos seus parâmetros fitossociológicos.

Este estudo buscou também, de maneira complementar, registros de ocorrência da espécie Hovenia dulcis em Santa Catarina em publicações de periódicos científicos, nas plataformas de pesquisa Scielo, RechearhGate, ScienceDirect, Springer Link e Portal de Periódicos CAPES, utilizando as palavras-chave “invasive plant”, “Hovenia dulcis” e “Santa Catarina”.

4 resultados e discussão

De acordo com a Base de Dados Nacional de Espécies Exóticas Invasoras (I3N), até o ano de 2019, há registro de 84 espécies de plantas consideradas exóticas invasoras para o Estado de Santa Catarina. Ao comparar-se o número de espécies de plantas exóticas invasoras apresentado pela Resolução Consema 08, no ano de 2012 com o número de registros da Base de Dados Nacional de Espécies Exóticas Invasoras em 2019, percebe-se que houve um aumento significativo de 36 espécies, ou seja, um aumento de 75% em sete anos. Ainda, considerando o total de 84 espécies de plantas exóticas invasoras no estado, 79 delas têm ocorrência registrada em áreas protegidas, demonstrando a fragilidade desses ambientes.

Com relação a espécie Hovenia dulcis, de acordo com o I3N, de 2003 até o ano de 2019, há 229 registros de invasão da espécie, distribuídos pelos Estados do Rio Grande do Sul (84), Santa Catarina (72), Paraná (62), São Paulo (8), Rio de Janeiro (1), Espírito Santo (1) e Bahia (1) (INSTITUTO HÓRUS, 2019).

Ao se avaliar os 72 registros de ocorrência da espécie na Base de Dados para o Estado de Santa Catarina (Tabela 1), é possível afirmar que esse número corresponde a 67 municípios (considerando que alguns municípios têm mais de um registro), distribuídos principalmente pela região Oeste do Estado (49 municípios) e Grande Florianópolis (10 municípios) (Figura 1).

Tabela 1 – Registros de ocorrência de Hovenia dulcis em Santa Catarina – Base de Dados Nacional de Espécies Exóticas Invasoras (I3N)

Id

Município

Região*

1

Águas de Chapecó

Oeste Catarinense

2

Águas Frias

Oeste Catarinense

3

Águas Mornas

Grande Florianópolis

4

Alfredo Wagner

Grande Florianópolis

5

Anchieta

Oeste Catarinense

6

Angelina

Grande Florianópolis

7

Antônio Carlos

Grande Florianópolis

8

Bandeirante

Oeste Catarinense

9

Barra Bonita

Oeste Catarinense

10

Belmonte

Oeste Catarinense

11

Benedito Novo

Vale do Itajaí

12

Biguaçu

Grande Florianópolis

13

Blumenau

Vale do Itajaí

14

Bom Jesus do Oeste

Oeste Catarinense

15

Caibi

Oeste Catarinense

16

Campo Erê

Oeste Catarinense

17

Canoinhas

Norte Catarinense

18

Concórdia

Oeste Catarinense

19

Cunha Porã

Oeste Catarinense

20

Descanso

Oeste Catarinense

21

Doutor Pedrinho

Vale do Itajaí

22

Flor do Sertão

Oeste Catarinense

23

Ipira

Oeste Catarinense

24

Iporã do Oeste

Oeste Catarinense

25

Iraceminha

Oeste Catarinense

26

Irati

Oeste Catarinense

27

Itaiópolis

Oeste Catarinense

28

Itapiranga

Oeste Catarinense

29

Jacinto Machado

Sul Catarinense

30

Jardinópolis

Oeste Catarinense

31

Joaçaba

Oeste Catarinense

32

Major Gercino

Grande Florianópolis

33

Maravilha

Oeste Catarinense

34

Modelo

Oeste Catarinense

35

Mondaí

Oeste Catarinense

36

Nova Erechim

Oeste Catarinense

37

Palma Sola

Oeste Catarinense

38

Palmitos

Oeste Catarinense

39

Paraíso

Oeste Catarinense

40

Pinhalzinho

Oeste Catarinense

41

Praia Grande

Sul Catarinense

42

Princesa

Oeste Catarinense

43

Rancho Queimado

Grande Florianópolis

44

Riqueza

Oeste Catarinense

45

Romelândia

Oeste Catarinense

46

Saltinho

Oeste Catarinense

47

Santa Helena

Oeste Catarinense

48

Santa Terezinha do Progresso

Oeste Catarinense

49

Santo Amaro da Imperatriz

Grande Florianópolis

50

São Bernardino

Oeste Catarinense

51

São Bonifácio

Grande Florianópolis

52

São Carlos

Oeste Catarinense

53

São Domingos

Oeste Catarinense

54

São João Batista

Grande Florianópolis

55

São João do Oeste

Oeste Catarinense

56

São José do Cedro

Oeste Catarinense

57

São Lourenço do Oeste

Oeste Catarinense

58

São Martinho

Sul Catarinense

59

São Miguel da Boa Vista

Oeste Catarinense

60

São Miguel do Oeste

Oeste Catarinense

61

Saudades

Oeste Catarinense

62

Serra Alta

Oeste Catarinense

63

Sul Brasil

Oeste Catarinense

64

Três Barras

Norte Catarinense

65

Tunápolis

Oeste Catarinense

66

União do Oeste

Oeste Catarinense

67

Videira

Oeste Catarinense

Fonte: Autores (2020)

Em que: *De acordo com a classificação das mesorregiões do IBGE (2010)

A maior concentração de ocorrência de Hovenia dulcis na região Oeste do Estado pode ser explicada primeiramente em função da introdução da espécie nessa região para uso em propriedades rurais, o que ocorre desde os anos 80. Essa introdução deu início ao processo de invasão, considerando que Hovenia dulcis se estabeleceu com sucesso na região, em função de suas características ecológicas, que se adaptaram ao ambiente desde então.

Figura 1 – Mapa de ocorrência de Hovenia dulcis em Santa Catarina de acordo com a Base de Dados Nacional de Espécies Exóticas Invasoras (I3N)

Fonte: Autores (2020)

Já de acordo com as informações disponibilizadas pelo Sistema de Gerenciamento de dados do IFFSC, Hovenia dulcis foi registrada em 107 unidades amostrais, ocorrendo em todas as fitofisionomias de Santa Catarina: Floresta Estacional Decidual, Floresta Ombrófila Mista, Floresta Ombrófila Densa, Floresta Estacional Decidual em contato com Floresta Ombrófila Mista e Floresta Ombrófila Mista em contato com Floresta Ombrófila Densa (SINFLOR, 2020). Os 107 registros da espécie correspondem à ocorrência em 77 municípios (uma vez que muitos municípios possuem mais de uma unidade amostral) (Tabela 2), distribuídos principalmente pela região Oeste do Estado (37 municípios), Vale do Itajaí (13 municípios) e Sul (11 municípios) (Figura 2).

Tabela 2 – Registros de ocorrência de Hovenia dulcis em Santa Catarina – Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina (IFFSC)

Id

Município

Região*

1

Abelardo Luz

Oeste Catarinense

2

Agrolândia

Vale do Itajai

3

Agronômica

Vale do Itajai

4

Águas Mornas

Grande Florianópolis

5

Alfredo Wagner

Grande Florianópolis

6

Alto Bela Vista

Oeste Catarinense

7

Anita Garibaldi

Serrana

8

Anitápolis

Grande Florianópolis

9

Arabutã

Oeste Catarinense

10

Armazém

Sul Catarinense

11

Barra Bonita

Oeste Catarinense

12

Caçador

Oeste Catarinense

13

Caibi

Oeste Catarinense

14

Campos Novos

Serrana

15

Canoinhas

Norte Catarinense

16

Capão Alto

Serrana

17

Capinzal

Oeste Catarinense

18

Celso Ramos

Serrana

19

Cerro Negro

Serrana

20

Chapecó

Oeste Catarinense

21

Concórdia

Oeste Catarinense

22

Coronel Freitas

Oeste Catarinense

23

Criciúma

Sul Catarinense

24

Descanso

Oeste Catarinense

25

Dionísio Cerqueira

Oeste Catarinense

26

Grão Pará

Sul Catarinense

27

Ibiam

Oeste Catarinense

28

Ibicaré

Oeste Catarinense

29

Ipira

Oeste Catarinense

30

Iporã do Oeste

Oeste Catarinense

31

Irineópolis

Norte Catarinense

32

Itaiópolis

Oeste Catarinense

33

Itapiranga

Oeste Catarinense

34

Ituporanga

Vale do Itajai

35

Jacinto Machado

Sul Catarinense

36

Joaçaba

Oeste Catarinense

37

José Boiteux

Vale do Itajai

38

Lauro Müller

Sul Catarinense

39

Leoberto Leal

Vale do Itajai

40

Luzerna

Oeste Catarinense

41

Major Vieira

Norte Catarinense

42

Mondaí

Oeste Catarinense

43

Nova Veneza

Sul Catarinense

44

Orleans

Sul Catarinense

45

Ouro

Oeste Catarinense

46

Paial

Oeste Catarinense

47

Palma Sola

Oeste Catarinense

48

Palmitos

Oeste Catarinense

49

Peritiba

Oeste Catarinense

50

Petrolândia

Vale do Itajai

51

Pinhalzinho

Oeste Catarinense

52

Piratuba

Oeste Catarinense

53

Porto União

Norte Catarinense

54

Pouso Redondo

Vale do Itajai

55

Rio do Sul

Vale do Itajai

56

Rio dos Cedros

Vale do Itajai

57

Salete

Vale do Itajai

58

Santiago do Sul

Oeste Catarinense

59

Santo Amaro da Imperatriz

Grande Florianópolis

60

São Carlos

Oeste Catarinense

61

São João Batista

Grande Florianópolis

62

São João do Oeste

Oeste Catarinense

63

São José do Cedro

Oeste Catarinense

64

São Martinho

Sul Catarinense

65

Saudades

Oeste Catarinense

66

Seára

Oeste Catarinense

67

Siderópolis

Sul Catarinense

68

Timbé do Sul

Sul Catarinense

69

Três Barras

Norte Catarinense

70

Trombudo Central

Vale do Itajai

71

Tunápolis

Oeste Catarinense

72

Urussanga

Sul Catarinense

73

Vargem Bonita

Oeste Catarinense

74

Vidal Ramos

Vale do Itajai

75

Witmarsum

Vale do Itajai

76

Xanxerê

Oeste Catarinense

77

Zortéa

Serrana

Fonte: Autores (2020)

Em que: *De acordo com a classificação das mesorregiões do IBGE (2010)

Durante as expedições de campo para geração do Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina, muitas espécies exóticas foram registradas, tanto no interior das unidades amostrais, quanto nas proximidades. Considerando apenas as unidades amostrais, foram registradas 12 espécies exóticas, sendo que dessas 12, H. dulcis foi a mais expressiva na Floresta Estacional Decidual, apresentando elevados valores no que se refere aos parâmetros fitossociológicos de densidade e dominância (12 e 0,4, respectivamente) e 337 indivíduos encontrados.

Figura 2 – Mapa de ocorrência de Hovenia dulcis em Santa Catarina baseado no Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina - IFFSC

Fonte: Autores (2020)

Já na Floresta Ombrófila Densa, os parâmetros foram consideravelmente menores, Hovenia dulcis apresentou densidade de 1,5 e dominância de 0,1, com 103 indivíduos registrados. Da mesma forma na Floresta Ombrófila Mista, onde a espécie teve densidade de 0,3 e dominância de 0,01 e o registro de somente 14 indivíduos (VIBRANS et al., 2012). A partir desses resultados, é possível perceber claramente que, embora haja registros da espécie em todas as regiões do Estado, a mais problemática é a região Oeste, com altos índices fitossociológicos no componente arbóreo/arbustivo.

Conforme o Inventário, nos remanescentes da Floresta Estacional Decidual, além de ter sua ocorrência registrada em 37 municípios, a espécie Hovenia dulcis ocupou o 11° lugar entre as 20 espécies do componente arbóreo/arbustivo com maior índice de valor de importância (IVI), com um valor de 5,6, sendo encontrada em 34 unidades amostrais, de um total de 78 (VIBRANS et al., 2012). Porém, Hovenia dulcis foi a única espécie exótica dentre as 20 espécies mais importantes para a Floresta Estacional Decidual, o que a torna preocupante para essa fitofisionomia.

Ainda de acordo com os dados obtidos pelo IFFSC, embora Hovenia dulcis tenha sido registrada em inúmeras unidades amostrais do estrato arbóreo/arbustivo, também foi registrada no estrato de regeneração, mesmo que de forma menos importante, demonstrando a sua capacidade e sucesso de invasão em distintos ambientes. Novamente, os maiores valores foram encontrados na Floresta Estacional Decidual, com densidade de 14,8, enquanto na Floresta Ombrófila Densa a densidade foi de 1,5 e na Floresta Ombrófila Mista de 1,4.

Os números apresentados refletem o sucesso de estabelecimento da espécie na região Oeste de Santa Catarina, onde foi inicialmente introduzida nos anos 80. Hovenia dulcis claramente conseguiu superar as três barreiras (geográfica, sobrevivência e reprodução e dispersão), estabelecendo-se como uma espécie exótica invasora de grande preocupação no Estado de Santa Catarina.

De maneira complementar, foram encontradas 11 publicações relacionadas a ocorrência da espécie no Estado, a menos recente publicada no ano de 2012 e a mais atual no ano de 2019 (HENDGES et al., 2012; DECHOUM et al., 2014; DAMBROWSKI, 2014; CARDOSO et al., 2015; DECHOUM et al., 2015a; DECHOUM et al., 2015b; DECHOUM et al., 2015c; LAZZARIN et al., 2015; LIMA et al., 2015; FREITAS et al., 2016; SCHMIDT et al., 2019), as quais resultaram no registro da espécie em 13 municípios (Tabela 3).

Como as publicações refletem esforços de pesquisa independentes a respeito da Hovenia dulcis, a sua abundância e distribuição espacial é menor quando comparado as outras duas bases de dados anteriores, porém não menos importante. Pode-se observar que o maior número de municípios com registro de ocorrência de H. dulcis localizam-se no Oeste Catarinense (6 municípios), porém ocorrendo registro da espécie também nas regiões Serrana, do Vale do Itajaí (ambas com 3 municípios) e Sul Catarinense (1 município) (Figura 3).

Tabela 3 – Registros de ocorrência de Hovenia dulcis em Santa Catarina – publicações em periódicos científicos

Id

Municipio

Região*

1

Blumenau

Vale do Itajai

2

Campos Novos

Serrana

3

Concórdia

Oeste Catarinense

4

Doutor Pedrinho

Vale do Itajai

5

Herval d’Oeste

Oeste Catarinense

6

Herval Velho

Oeste Catarinense

7

Joaçaba

Oeste Catarinense

8

Laguna

Sul Catarinense

9

Piratuba

Oeste Catarinense

10

São José do Cedro

Oeste Catarinense

11

Timbó

Vale do Itajai

12

Urubici

Serrana

13

Vargem

Serrana

Fonte: Autores (2020)

Em que: *De acordo com a classificação das mesorregiões do IBGE (2010)

Figura 3 – Mapa de ocorrência de Hovenia dulcis em Santa Catarina de acordo com publicações em periódicos científicos

Fonte: Autores (2020)

Compilando todas as informações constantes nas bases de dados consultadas (Base de Dados Nacional de Espécies Exóticas Invasoras, Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina e publicações científicas) a espécie Hovenia dulcis tem ocorrência registrada em 124 municípios catarinenses (Tabela 4). No mapa representado na Figura 4 é possível perceber que a região com maior número de registros de ocorrências é a região do Oeste Catarinense, com 70 municípios, sendo que em 3 deles – Concórdia e Piratuba e São José do Cedro – há registros de Hovenia dulcis em todos as bases da dados consultadas. Porém, há um número considerável de ocorrências também nas regiões do Sul Catarinense (18 municípios), Vale do Itajaí (17 municípios) e Grande Florianópolis (11 municípios).

Tabela 4 – Número de municípios por mesorregião com registro de ocorrência de Hovenia dulcis em Santa Catarina

Mesorregião

Nº de municípios com registro de Hovenia dulcis

Grande Florianópolis

11

Vale do Itajaí

17

Serrana

8

Oeste Catarinense

70

Norte Catarinense

5

Sul Catarinense

13

TOTAL

124

Fonte: Autores (2020)

A espécie Hovenia dulcis reúne um conjunto de características que podem explicar sua ampla ocorrência no Estado de Santa Catarina: sua dispersão é zoocórica, sendo apreciada por diversos grupos de animais, os quais, atraídos pelo seu pseudofruto rico em açúcar (CARVALHO, 1994), acabam por dispersar suas sementes a distâncias maiores da planta matriz; soma-se a isso, a sua capacidade de regeneração natural intensa e sua tolerância a diversos tipos de ambientes, até mesmo solos pobres e pedregosos; e ainda, a espécie apresenta rápido crescimento e inicia sua fase reprodutiva precocemente, entre o 3º e 4º ano de idade (CARVALHO, 1994; DECHOUM, 2015a).

Figura 4 – Mapa de ocorrência de Hovenia dulcis em Santa Catarina

Fonte: Autores (2020)

Além dos aspectos ecológicos, a espécie apresenta uma multiplicidade de usos, sendo utilizada desde quebra-vento e lenha em propriedades rurais, até na indústria alimentícia, cosmética e farmacêutica (CARVALHO, 1994; SCHUMACHER et al., 2008; SHEN et al., 2012; FIORIO et al., 2015), dessa forma, não é entendida como uma espécie problemática no consenso popular. Esse conjunto todo de características torna Hovenia dulcis uma espécie com alto potencial de invasão e explica o fato de Santa Catarina já ter registro de ocorrência da espécie em pelo menos 42% dos seus municípios.

É importante analisar também as áreas protegidas. O Estado de Santa Catarina possui ١٠ unidades de conservação de domínio estadual e ١٦ de domínio federal, totalizando 26 UCs. Além disso, o Estado conta ainda com 70 Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN) federais, as quais embora compostas por áreas menores quando comparadas as demais UCs, assumem importante papel na conservação da biodiversidade e estabilidade do ecossistema.

De acordo com a Base de Dados Nacional de Espécies Exóticas Invasoras, de 2003 até o ano de 2019, a espécie Hovenia dulcis tem ocorrência registrada em 9 unidades de conservação no Estado de Santa Catarina (Figura 5), sendo que dessas 9 UCs invadidas, 2 são UCs de domínio federal, 4 UCs de domínio estadual e ainda 3 reservas particulares (Tabela 5), demonstrando a capacidade de invasão da espécie até mesmo em ambientes protegidos e mais bem conservados.

Tabela 5 – Unidades de Conservação com registro de ocorrência de Hovenia dulcis em Santa Catarina

Id

Unidade de Conservação invadida

Domínio

1

Parque Estadual da Serra do Tabuleiro

Estadual

2

Parque Estadual das Araucárias

Estadual

3

Parque Estadual Fritz Plaumann

Estadual

4

Reserva Biológica do Sassafrás

Estadual

5

Parque Nacional da Serra Geral

Federal

6

Parque Nacional de Aparados da Serra

Federal

7

Reserva Particular do Patrimônio Natural Corredeiras do Rio Itajaí

Particular

8

Reserva Particular do Patrimônio Natural do Caraguatá

Particular

9

Reserva Particular do Patrimônio Natural Rio das Furnas

Particular

Fonte: Base de Dados Nacional de Espécies Exóticas Invasoras (I3N)

Dessa forma, ao se analisar as unidades de conservação existentes em Santa Catarina administradas tanto pela esfera federal (16 UCs), quanto pela esfera estadual (10 UCs), constata-se que das 26 UCs, há ocorrência confirmada de Hovenia dulcis em ao menos 6 delas. Além disso, das 70 (RPPN) federais existentes em Santa Catarina, há registro de ocorrência de Hovenia dulcis em 3 delas, conforme registro na Base de Dados Nacional de Espécies Exóticas Invasoras.

Figura 5 – Mapa das unidades de conservação federais e estaduais de Santa Catarina com e sem ocorrência de Hovenia dulcis de acordo com a Base de Dados Nacional de Espécies Exóticas Invasoras (I3N)

Fonte: Autores (2020)

Nesta análise não foram obtidas informações de ocorrência da espécie em unidades de conservação de domínio municipal, embora possivelmente também haja invasão de Hovenia dulcis em UCs municipais, o que indica a necessidade de maior atenção por parte da administração pública municipal no que tange à pesquisa e estudos mais aprofundados relacionados a presença não só de Hovenia dulcis, mas de espécies exóticas invasoras em geral nessas unidades de conservação.

É necessário que cada UC municipal contemple em seu plano de manejo, pesquisas que resultem em diagnósticos ambientais, capazes de indicar a presença de espécies exóticas invasoras, para que, a partir do entendimento do estágio de invasão, seja possível a concepção de diretrizes e a execução de programas voltados para a prevenção, controle e erradicação de espécies problemáticas.

Ao se avaliar a distribuição espacial da H. dulcis no mapa representado na figura 06, embora não se tenha registro oficial de ocorrência nas demais UCs, em pelo menos outras 30 unidades de conservação (Tabela 6) a espécie tem presença confirmada no mesmo município, sendo 3 delas de domínio estadual e 27 de domínio federal, alertando para o risco de invasão dessas áreas protegidas.

Tabela 6 – Unidades de Conservação com risco de invasão de Hovenia dulcis em Santa Catarina

Id

Unidade de Conservação

Domínio

Região

1

Floresta Nacional de Chapecó

Federal

Oeste

2

Floresta Nacional de Caçador

Federal

Oeste

3

Parque Estadual Rio Canoas

Estadual

Serrana

4

RPPN Emilio Einsfeld Filho

Federal

Serrana

5

RPPN Portal Agua Branca

Federal

Serrana

6

RPPN Florescer

Federal

Serrana

7

RPPN Pedra da Águia

Federal

Serrana

8

RPPN Reserva Leão da Montanha

Federal

Serrana

9

RPPN Portal das Nascentes

Federal

Serrana

10

Parque Nacional de São Joaquim

Federal

Serrana

11

Parque Estadual da Serra Furada

Estadual

Serrana

12

Floresta Nacional de Três Barras

Federal

Norte Catarinense

13

RPPN das Araucárias Gigantes

Federal

Norte Catarinense

14

RPPN Odir Zanelatto

Federal

Norte Catarinense

15

RPPN Taipa Rio do Couro

Federal

Norte Catarinense

16

RPPN Refúgio do Macuco

Federal

Norte Catarinense

17

RPPN Taipa do Rio Itajaí

Federal

Norte Catarinense

18

RPPN Raso do Mandi

Federal

Norte Catarinense

19

RPPN Raso do Mandi II

Federal

Norte Catarinense

20

RPPN Fazenda Pousada Serra Pitoco

Federal

Vale do Itajaí

21

RPPN Parque Ecológico ARTEX

Federal

Vale do Itajaí

22

RPPN Reserva BugerKopf

Federal

Vale do Itajaí

23

Parque Nacional da Serra do Itajaí

Federal

Vale do Itajaí

24

RPPN Rio das Lontras

Federal

Grande Florianópolis

25

RPPN Amplus Lucidus

Federal

Grande Florianópolis

26

RPPN Retiro Tun

Federal

Grande Florianópolis

27

RPPN Reserva Rio das Furnas II

Federal

Grande Florianópolis

28

RPPN Vale das Pedras

Federal

Grande Florianópolis

29

Área de Proteção Ambiental da Baleia Franca

Federal

Sul Catarinense

30

Reserva Biológica Estadual do Aguaí

Estadual

Sul Catarinense

Fonte: Autores (2020)

Figura 6 – Mapa de ocorrência de Hovenia dulcis e Unidades de Conservação com e sem a presença da espécie em Santa Catarina

Fonte: Autores (2020)

Constata-se, portanto, a ampla ocorrência da espécie Hovenia dulcis no Estado de Santa Catarina, uma vez que está presente em 124 dos 295 municípios, ou seja, 42% dos municípios do Estado já foram invadidos, bem como 23% das unidades de conservação administradas pela esfera federal e pela esfera estadual (6 de um total de 26 UCs). Além da sua introdução para uso em propriedades rurais nos anos 80, o fato da espécie ser classificada como pioneira e de rápido crescimento também justifica sua ampla ocorrência , em especial na região Oeste de Santa Catarina, uma vez que o estrato florestal da fitofisionomia Floresta Estacional Decidual tem por característica a perda de folhas na época mais fria do ano, ocasionando maior entrada de luminosidade e aberturas na floresta, o que pode favorecer o estabelecimento de Hovenia dulcis nessas áreas.

Ressalta-se que a espécie apresenta considerável ocorrência também em Floresta Ombrófila Densa, nas regiões Sul Catarinense, Vale do Itajaí e Grande Florianópolis, o que reforça as informações constantes em literatura (DECHOUM, 2015a; LIMA et al., 2015), as quais afirmam que a espécie, por ser tolerante à sombra na fase de plântula apresenta capacidade de invadir até mesmo ambientes mais fechados, os quais apresentam menor abertura de dossel e um grau maior de conservação.

Embora Hovenia dulcis apresente potencial de utilização e benefícios (medicinal, móveis, energia, entre outros) e em Santa Catarina esteja enquadrada na categoria 2 de risco e ameaça à biodiversidade, possui grande potencial invasor, competindo e até mesmo se sobrepondo em áreas compostas por espécies nativas. A atual categoria de risco à qual pertence a espécie permite o cultivo e seu uso, porém, dada a ampla ocorrência no Estado, é necessário que o poder público amplie os estudos a respeito da espécie, para que políticas públicas possam ser propostas, visando a prevenção, o controle e a erradicação, especialmente em áreas já invadidas.

Para a criação de políticas públicas, é necessário portanto, ampliar e fomentar estudos e pesquisas que auxiliem na compreensão a respeito da ecologia da espécie, envolvendo desde os mecanismos de entrada e dispersão em áreas invadidas, quais as características biológicas que a tornam invasora em determinado local, a relação entre as atividades humanas e sua disseminação, quais os impactos socioeconômicos (positivos ou negativos), até os aspectos legais e técnicas de manejo. A partir dessa compreensão, é possível indicar quais as linhas de ação prioritárias e a definição de programas e metas a serem implementados.

5 CONCLUSÕES

Considerando os resultados encontrados nesta análise espacial, é possível afirmar que a ocorrência e invasão da espécie Hovenia dulcis no Estado de Santa Catarina deve ser tratada de maneira prioritária, bem como devem ser desenvolvidos estudos mais aprofundados a respeito do comportamento da espécie e das mudanças causadas pela sua presença.

O fato da espécie ocorrer em quase 50% dos municípios Catarinenses, quer seja de forma mais concentrada em determinadas regiões no Estado ou não, e em ao menos 6 unidades de conservação, chama a atenção e aponta para a necessidade de medidas de prevenção, controle e erradicação, evitando assim o avanço da invasão, em especial em áreas de Floresta Estacional Decidual (na região Oeste de Santa Catarina), onde foram encontrados os maiores valores relacionados aos parâmetros fitossociológicos, e também o maior número de municípios com registro de Hovenia dulcis.

Neste sentido, embora já existam documentos orientativos relacionados ao manejo de espécies exóticas invasoras em unidades de conservação federais, é necessário que haja maior discussão entre os atores envolvidos com a temática ambiental e a criação de políticas públicas, sendo muito importante que o órgão ambiental de Santa Catarina, responsável por manter um programa de espécies exóticas invasoras no estado, elabore um protocolo de prevenção, controle e erradicação, contendo ações e métodos eficientes destinados especificamente à espécie Hovenia dulcis, dada a sua elevada ocorrência no território estadual.

Da mesma forma, a sua classificação quanto ao risco e ameaça à biodiversidade na categoria 2 – de acordo com a Resolução CONSEMA nº 08 de 2012 – deve ser discutida, pois mesmo que a espécie apresente potencial de utilização comercial e benefícios para proprietários rurais, seu potencial invasor deve ser melhor analisado, bem como sua regulamentação de plantio e uso.

Por fim, ressalta-se que apesar de o problema relacionado à invasão de Hovenia dulcis exija a definição de estratégias e ações a nível nacional, é necessário também pensar e agir em contextos regionais, buscando resolver os problemas, garantindo a aplicabilidade e efetividade das soluções. Além disso, destaca-se que embora as bases de dados consultadas (Base de Dados Nacional de Espécies Exóticas Invasoras, Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina e pesquisas publicadas em periódicos científicos) não estejam diretamente conectadas, auxiliaram e favoreceram a compreensão da atual abrangência espacial da distribuição de Hovenia dulcis no estado de Santa Catarina.

Agradecimentos

Os autores agradecem à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Santa Catarina (FAPESC) pelas bolsas de estudo.

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ZILLER, S. R. Os processos de degradação ambiental originados por plantas exóticas invasoras. Ciência Hoje. 2011; 30(178): 77-79.

Contribuições de Autoria

1 – Carla Luciane Lima

Contribuição: Conceituação, Análise Formal, Investigação, Metodologia, Administração do projeto, Validação, Visualização de dados (infográfico, fluxograma, tabela, gráfico), Escrita – primeira redação, Escrita – revisão e edição

2 – Francisco Henrique de Oliveira

Contribuição: Conceituação, Análise Formal, Obtenção de financiamento, Administração do projeto, Recursos, Supervisão, Validação, Escrita – revisão e edição

3 – Camile Sothe

Contribuição: Metodologia, Software, Validação, Escrita – revisão e edição

4 – Felipe Echenique Alves

Contribuição: Metodologia, Software, Validação