Ci. e Nat., Santa Maria v.42, e25, 2020
DOI:10.5902/2179460X41699
ISSN 2179-460X
Received 23/12/19 Accepted:
03/02/20 Published:24/06/20
Mariano Martínez EspinosaI
Dayane de Carvalho RodriguesII
Nathany Luzia de OliveiraIII
Bryan Mariano Martínez AlvesIV
Samira Reschetti MarconV
I Universidade
Federal de Mato Grosso, Cuiabá, MT. Brasil - marianomphd@gmail.com
II Universidade
Federal de Mato Grosso, Cuiabá, MT. Brasil - dayane.fisiot@gmail.com
III Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá, MT. Brasil
- nathany.oliveira06@gmail.com
IV Universidade de São Paulo, São Paulo, SP.
Brasil - mmsbryan@hotmail.com
V Universidade
Federal de Mato Grosso, Cuiabá, MT. Brasil - samira.marcon@gmail.com
O
objetivo do presente estudo foi avaliar os fatores demográficos,
socioeconômicos e de condições de saúde e dos domínios do WHOQOL-BREF e
WHOQOL-OLD associados à qualidade de vida global em idosos cadastrados em
Unidades Básicas de Saúde. Trata-se de um estudo transversal, realizado com a
população de idosos de Unidades Básicas de Saúde no Município de Cuiabá-MT,
considerando uma amostra aleatória de 317 idosos. Na coleta dos dados foi
aplicado um questionário estruturado com questões demográficas, socioeconômicos
e de condições de saúde e os instrumentos WHOQOL-BREF e WHOQOL-OLD. Para
associar a qualidade de vida global com os fatores e os domínios, foi utilizada
a razão de prevalência bruta e o modelo de regressão de Poisson múltiplo com
variância robusta. As variáveis e os domínios que apresentaram maiores
associações com a qualidade de vida global foram: problemas de saúde, serviço
de saúde utilizado e os escores dos domínios físico, meio ambiente e
intimidade. Os resultados do estudo mostram que os fatores e domínios indicados
constituem-se como fatores de riscos para a qualidade de vida global dos idosos
estudados.
Palavras-chave: Qualidade de vida; Idoso. Risco; Condições de saúde;
Unidades Básicas de Saúde
The aim this study was to evaluate the demographic,
socioeconomic and health condition variables and the WHOQOL-BREF and WHOQOL-OLD
domains associated to the overall quality of life registered
in Basic Health Units. This is a cross-sectional study, with the population of
elderly participants from eight Basic Health Units in the Municipality of
Cuiabá-MT, considering a random sample of 317 elderly. For the data collection,
a structured questionnaire was applied with demographic, socioeconomic and
health questions, in addition to the WHOQOL-BREF and WHOQOL-OLD instruments. To
associate the global quality of life with the variables and domains of the two
instruments, the crude prevalence ratio and the robust Poisson multiple
regression model were used. The variables and domains
that showed the highest associations with overall quality of life were: health
problems, health services used and the scores of the physical, environment and
intimacy domains. The study results show that the indicated factors and domains
constitute risk factors for the global quality of life of the studied elderly.
Keywords: Quality of
life; Elderly; Risk; Health conditions; Basic
Health Units
1 INTRODUÇÃO
Atualmente
com o aumento da expectativa de vida e da evolução da sociedade, a qualidade de
vida dos idosos, tem se constituído em tema de estudo frente ao crescimento
desse grupo etário. Nessa população a preocupação com este tema deve ser mais
relevante, em decorrência do envelhecimento, uma vez que nesta etapa, em geral,
os indivíduos ficam mais frágeis e fisicamente incapacitados, requerendo maiores
cuidados. Nesse contexto, este assunto tem sido investigado como um conceito
mais abrangente das condições de saúde da população (PEREIRA et al., 2011;
FLECK et al., 1999).
Nesse
sentido, no Brasil existem serviços de atenção ao
idoso de grande relevância, destacando-se as Unidades Básicas de Saúde (UBS),
que são os locais prioritários das equipes de atenção básica de saúde na
comunidade. Tais unidades têm como principais
ações, identificar os problemas de saúde dos indivíduos e famílias; propor
intervenções a estes problemas, consolidar o planejamento estratégico local e,
ações, que promovam a saúde e previnam doenças em geral. Elas devem realizar
uma assistência integral, contínua da saúde em defesa da qualidade de vida.
Apesar de não
existir um consenso a respeito do conceito de qualidade de vida, por sua
abrangência e complexidade, a OMS, representada pelo Grupo WHOQOL que investiga
e desenvolve instrumentos para avaliar este assunto, o qual elaborou um
conceito próprio. Conforme a OMS, qualidade de vida é “a
percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e
sistemas de valores nos quais vive e em relação aos seus objetivos,
expectativas, padrões e preocupações” (WHOQOL GROUP,
1998). É um conceito amplo e complexo, que engloba a saúde física, o
estado psicológico, o nível de independência, as relações sociais, as crenças
pessoais e a relação com o meio ambiente, ou seja, é um conceito subjetivo
dependente do nível sociocultural, da faixa etária e dos anseios pessoais do
indivíduo (WHOQOL GROUP, 1998).
Assim,
nas últimas décadas, a qualidade de vida (QV) tornou-se um fator importante em
estudos científicos, dependendo dos diferentes conceitos utilizados, variando
dos mais gerais aos mais específicos. Segundo Arnold et al. (2004) as definições
gerais referem-se a qualidade de vida como a percepção da vida em geral e são
conceitualmente diferentes da qualidade de vida relacionada à saúde, que
representa problemas em vários domínios, a qual pode abordar questões
específicas de doenças e problemas genéricos mais relacionados à saúde. Além
disso, existe uma distinção entre a qualidade de vida global (QVG), os domínios
de qualidade de vida e os componentes que constitui cada domínio.
O modelo
hierárquico de qualidade de vida de Spilker (1990) inclui
a QVG e os domínios de qualidade de vida, bem como as facetas especificas de
cada domínio. Assim, o primeiro nível do modelo de Spilker, abrange a avaliação
da QVG e é definido como a satisfação geral ou
global de um indivíduo com a vida e a percepção geral de bem estar pessoal.
Esse nível pode ser interpretado como a percepção global da QV dos indivíduos e
corresponde à definição de qualidade de vida do WHOQOL-BREF. O segundo nível do
modelo de Spilker é constituído pelos domínios individuais da QV, sendo os mais
utilizados os domínios psicológico, social e físico. No entanto, alguns estudos
acrescentam outros domínios, tais como situação financeira, cognição,
produtividade e intimidade. Em geral, pressupõe-se que os domínios físico,
social e psicológico avaliam a QV muito bem. Finalmente, o terceiro nível do
modelo de Spilker é composto pelos aspectos específicos de cada domínio da QV.
A importância do presente estudo nas
Unidades Básicas de Saúde justifica-se pela escassez de estudos que avaliem a associação entre QVG e os
fatores demográficos, socioeconômicos e de
condições de saúde e dos escores dos domínios do WHOQOL-BREF e WHOQOL-OLD, conjuntamente, assim, considerando diferentes perspectivas, pois em geral a maioria dos estudos unicamente
considera a relação da QVG com os domínios destes instrumentos. Embora, podem
existir diversos fatores associados simultaneamente a
percepção da QVG do idoso.
Portanto,
o objetivo do presente estudo foi avaliar os
fatores demográficos, socioeconômicos e de
condições de saúde e dos domínios do WHOQOL-BREF
e WHOQOL-OLD associados à qualidade de vida global em idosos
cadastrados em Unidades Básicas de Saúde.
2 MATERIAL E MÉTODO
2.1
Tipo, população e local de estudo
Trata-se
de um estudo transversal analítico, realizado pela pesquisadora Rodrigues
(2013) do Programa da Pós-Graduação do Instituto de Saúde Coletiva da
Universidade Federal de Mato Grosso, no período de julho a dezembro de 2012,
com a população de idosos participantes de oito Unidades Básicas de Saúde (UBS)
no Município de Cuiabá-MT, com um total de 1803 idosos cadastrados, sendo 948
do sexo feminino e 855 do sexo masculino.
2.2
Amostragem, critérios de inclusão e exclusão
No
trabalho de Rodrigues (2013) na determinação do tamanho da amostra foi
utilizado um planejamento amostral do tipo probabilístico, considerando os
métodos de amostragem aleatória simples e estratificada proporcional ao número
e sexo de idosos em cada UBS. Assim, utilizando estes
métodos de amostragem o tamanho da amostra aproximado na pesquisa foi de 317
idosos, considerando o tamanho da população das oito UBS e uma proporção de 50%
(p= 0,50), um erro de 5% (d= 0,05) e um nível de confiança de 95%
(z= 1,96), detalhes do planejamento
amostral podem ser encontrados em Espinosa et al. (2015).
Para
a condução da presente investigação utilizou-se o critério de inclusão: frequentar as UBS nos últimos seis meses ou
mais. Foram excluídos do estudo os indivíduos com incapacidades
funcionais e cognitivas que os impossibilitaram de responder o questionário; indivíduos que não responderam mais do que 20% do total de
questões dos instrumentos WHOQOL-BREF e WHOQOL-OLD (FLECK, 1998). Para selecionar os
participantes nas UBS foi realizado um sorteio aleatório, utilizando o programa
MINITAB V15, o qual permite selecionar amostras aleatórias.
2.3
Coleta de dados, questionário e instrumentos
Conforme o projeto matricial, para a coleta dos dados foi aplicado
um questionário estruturado que contém questões sobre as variáveis
demográficas, socioeconômicas e de saúde, além dos instrumentos WHOQOL-BREF e
WHOQOL-OLD, ambos validados no Brasil (FLECK et al., 2000; FLECK et al., 2006).
O WHOQOL-BREF
é constituído por quatro domínios: físico; psicológico; relações sociais e meio
ambiente (FLECK et al., 2000). O WHOQOL-OLD é
instrumento complementar do WHOQOL-BREF, utilizado exclusivamente para idosos,
sendo composto por seis domínios: funcionamento dos sentidos, autonomia,
atividades passadas, presentes e futuras, participação social, morte e morrer e
intimidade (FLECK et al., 2006). Assim, os
dados primários dos idosos das UBS foram coletados nos domicílios dos mesmos. A
pesquisa foi realizada após o consentimento da gerência das UBS, para
entrevistar os idosos nos domicílios, fornecendo cadastro dos mesmos. Sendo que
os agentes comunitários de saúde serviram
como elo entre a pesquisadora e os idosos. Maiores detalhes sobre os
instrumentos e coleta dos dados podem ser encontrados no trabalho de Rodrigues
(2013).
2.4 Variáveis independentes e dependente
Segundo o projeto
matriz, as variáveis independentes foram classificadas em variáveis demográficas,
socioeconômicas e de saúde, assim como os domínios do WHOQOL-BREF
e WHOQOL-OLD.
A variável dependente principal foi a
qualidade de vida geral ou global (QVG) do WHOQOL-BREF. Observar que, cada
domínio dos instrumentos utilizados é constituído por questões, cujas
pontuações das respostas variam entre o valor 1 e 5, sendo quanto mais próxima
de 5, melhor a qualidade de vida. Os escores finais de cada domínio são
calculados por uma sintaxe, que considera as respostas de cada questão que
compõe o domínio, resultando em escores finais numa escala de 4 a 20, que podem
ser transformados em escala de 0 a 100 que possibilita expressar o escore da
escala em percentagem entre o valor mais baixo possível (0) e o mais alto
possível (100). Basicamente, escores altos representam melhor qualidade de vida
e escores baixos pior qualidade de vida (WHOQOL GROUP, 1998). E estas
porcentagens também podem ser categorizadas utilizando a média ou a mediana
como medidas de corte, dependendo da distribuição de probabilidade das
porcentagens dos escores dos domínios serem simétricos ou assimétricos.
Uma
vez que os escores dos domínios da qualidade de vida expressos em porcentagem,
não foram simétricos e em decorrência não se adequaram a um modelo linear (ESPINOSA,
et al, 2019; DRAPER e SMITH, 2014) e tratando-se de um estudo de corte
transversal, uma alternativa foi utilizar
os dados dos escores dos domínios da qualidade de vida dos
indivíduos categorizados, considerando como
melhor qualidade de vida os indivíduos com escores maiores ou iguais ao valor
da mediana e como pior qualidade de vida os que apresentaram escores inferiores
a este valor (DRAPER e SMITH, 2014; BARROS e
HIRAKATA, 2003). Com esta categorização foi feita uma análise categórica
bivariada e múltipla, utilizando a razão de prevalência bruta (RPb) e o modelo de regressão
de Poisson múltiplo com variância robusta, detalhes destas duas técnicas
estatísticas podem ser encontradas em Espinosa et al. (2019).
2.5
Processamento e análises dos dados
Antes
da análise categórica foi verificada a distribuição dos escores dos domínios da
qualidade de vida expressos em porcentagem utilizando os testes de Shapiro e
Anderson (DRAPER e SMITH, 2014). Após verificar que todos os escores dos
domínios não eram simétricos, os mesmos foram categorizados utilizando como
ponto de corte a mediana, considerando a seguinte categorização: menores que a mediana e maiores ou
iguais a mediana, sendo estas categorias representativas de uma pior e
melhor qualidade de vida,
respectivamente. Com esta categorização, determinaram-se as associações
entre a QVG e as variáveis independentes em estudo, primeiro utilizando uma
análise categórica bivariada considerando a razão de prevalência bruta (RPb) com seus respectivos
intervalos de confiança e o teste qui quadrado de Pearson e a seguir, as
variáveis que apresentaram associação com valores de p menor que 0,20
(p<0,20), pelo teste qui-quadrado, foram selecionadas para compor o modelo
de regressão de Poisson múltiplo com variância robusta, permanecendo no modelo
final somente aquelas variáveis independentes que apresentaram valores de p
menores que 0,05 (p <0,05). A
adequação deste modelo ajustado foi verificada
pelo teste da razão de verossimilhança (p<0,001)
(DRAPER
e SMITH, 2014; BARROS e HIRAKATA, 2003).
No
presente trabalho, os dados foram processados nos pacotes estatísticos SPSS
versão 20 e Stata versão 14. Em todas as inferências foram consideradas
intervalos de confiança de 95% e nível de significância de 5%.
2.6
Considerações éticas
De acordo com o projeto matriz, esta
pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Hospital Universitário
Júlio Muller/UFMT, sob o parecer 36090 e CAAE Nº 01989212.7.0000.5541. Todos os
participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, de acordo
com os requisitos da resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde.
3
RESULTADOS E DISCUSSÕES
No
presente estudo não houve perda amostral considerando que em caso de recusa ou
ausência na aplicação dos instrumentos, era imediatamente realizada a
substituição dos idosos, totalizando 15 substituições. E a maioria dos idosos
era do sexo feminino (52,68%), analfabetos (31,86%), sem companheiro (56,78%),
aposentados (65,93%) pertencia à faixa etária de 60 a 69 anos de idade (56,47%)
eram da classe econômica D (51,74%) referiram ser da
religião católica (71,92%) e 59,62% possuíam uma renda individual entre
zero (exclusive) e um salário mínimo (inclusive). Quase todos os idosos (92,11%) não realizavam
atividade na comunidade e tinham uma percepção de apoio social de 88%.
Em relação à percepção de saúde, 78,55% dos
idosos perceberam-se saudáveis, 85% não realizava caminhada, 77,29% tinham
problemas de saúde e usavam medicamentos e 91,48% utilizavam o serviço de saúde
pública.
Na
Tabela 1 são apresentadas as medianas, médias e desvios padrão dos escores de
qualidade de vida referentes aos domínios do WHOQOL-BREF e WHOQOL-OLD dos
idosos das UBS. O domínio do WHOQOL-BREF com maior escore mediano foi o
psicológico (70,83%) e com menor escore mediano foi o meio ambiente (59,38%). O
grupo de idosos apresentou uma qualidade de vida global mediana de 75,00%.
Enquanto que os domínios do WHOQOL-OLD com maiores escores medianos foram morte
e morrer (75,00%) e intimidade (75,00%) e com menor escore mediano foi
funcionamento dos sentidos (50,00%).
Tabela
1
Mediana, média e desvio padrão dos escores de qualidade de vida dos idosos da
UBS, segundo WHOQOL-BREF e WHOQOL-OLD. Cuiabá, MT, Brasil, 2012. (n=317)
Escores de QV |
Mediana |
Média |
DP |
WHOQOL-BREF |
|
|
|
Físico |
64,29 |
64,38 |
14,11 |
Psicológico |
70,83 |
70,81 |
8,75 |
Relações
Sociais |
66,67 |
67,61 |
10,91 |
Meio
Ambiente |
59,38 |
59,31 |
8,86 |
QV |
75,00 |
68,30 |
13,36 |
|
|
|
|
WHOQOL-OLD |
|
|
|
Funcionamento
dos sentidos |
50,00 |
52,43 |
6,38 |
Autonomia |
62,50 |
60,06 |
14,63 |
Atividades
passadas, presentes e futuras |
62,50 |
64,04 |
10,40 |
Participação
Social |
62,50 |
64,26 |
9,86 |
Morte e
morrer |
75,00 |
67,01 |
30,26 |
Intimidade |
75,00 |
64,06 |
16,95 |
n: Número de idosos. DP: Desvio
Padrão.
Nas
Tabelas 2, 3 e 4 são apresentadas as associações entre os escores do domínio da
QVG menor que a mediana e variáveis socioeconômicas, aspectos
de saúde e os escores dos domínios do WHOQOL-BREF e WHOQOL-OLD menor que a
mediana dos
idosos da UBS com suas respectivas razões de prevalências brutas, intervalos de
confiança de 95% e valores de p. Nesta análise bivariada, para as variáveis
socioeconômicas, apenas a situação atual de trabalho, a renda individual e classe econômica foram
estatisticamente significativas (Tabela 2).
Tabela 2
Associação entre QVG menor que a mediana e
variáveis socioeconômicas dos idosos da UBS, com suas respectivas razões de
prevalências brutas, intervalo de confiança de 95% e valores de p. Cuiabá, MT,
Brasil, 2012. (n=317)
Características |
< mediana |
³mediana |
RPb |
IC 95% |
p |
|
|||||||
Sexo |
|
|
|
|
|
|
|||||||
Feminino |
64 |
103 |
1,15 |
(0,85 ; 1,55) |
0,355 |
|
|||||||
Masculino |
50 |
100 |
1,00 |
- |
- |
|
|||||||
Faixa etária (em anos) |
|
|
|
|
|
|
|||||||
60 a
69 anos |
60 |
119 |
1,00 |
- |
- |
|
|||||||
70 a
79 anos |
43 |
64 |
1,20 |
(0,88 ; 1,63) |
0,256 |
|
|||||||
80
anos e mais |
11 |
20 |
1,06 |
(0,63 ; 1,78) |
0,831 |
|
|||||||
Estado Conjugal |
|
|
|
|
|
|
|||||||
Sem
companheiro |
68 |
112 |
1,12 |
(0,83 ; 1,52) |
0,440 |
|
|||||||
Com
companheiro |
46 |
91 |
1,00 |
- |
- |
|
|||||||
Escolaridade (em anos) |
|
|
|
|
|
|
|||||||
Analfabeto |
43 |
58 |
1,44 |
(0,77 ; 2,68) |
0,222 |
|
|||||||
1 a
4 anos |
40 |
55 |
1,42 |
(0,76 ; 2,66) |
0,242 |
|
|||||||
5 a
8 anos |
23 |
71 |
0,83 |
(0,42 ; 1,63) |
0,588 |
|
|||||||
9
anos ou mais |
8 |
19 |
1,00 |
- |
- |
|
|||||||
Situação atual de trabalho |
|
|
|
|
|
|
|||||||
Pensionista |
29 |
33 |
1,44 |
(1,03 ; 2,00) |
0,040 |
|
|||||||
Empregado |
10 |
16 |
1,18 |
(0,70 ; 2,00) |
0,545 |
|
|||||||
Outros
|
7 |
13 |
1,08 |
(0,57 ; 2,02) |
0,823 |
|
|||||||
Aposentado |
68 |
141 |
1,00 |
- |
- |
|
|||||||
Religião |
|
|
|
|
|
|
|||||||
Outras |
35 |
54 |
1,14 |
(0,83 ; 1,55) |
0,436 |
|
|||||||
Católica |
79 |
149 |
1,00 |
- |
- |
|
|||||||
Renda individual (salário mínimo)** |
|
|
|
|
|
|
|||||||
|
Nenhuma/0<SM≤ 1 |
84 |
123 |
1,49 |
(1,05 ; 2,11) |
0,019 |
|||||||
|
> 1 SM |
30 |
80 |
1,00 |
- |
- |
|||||||
|
Classe econômica |
||||||||||||
|
D |
81 |
83 |
2,29 |
(1,63 ; 3,22) |
<0,001 |
|||||||
|
B/C |
33 |
120 |
1,00 |
- |
- |
|||||||
|
Atividade na comunidade |
||||||||||||
|
Não |
106 |
186 |
1,13 |
(0,63 ; 2,05) |
0,667 |
|||||||
|
Sim |
8 |
17 |
1,00 |
- |
- |
|||||||
|
Percepção de apoio social |
||||||||||||
|
Não |
17 |
21 |
1,29 |
(0,87 ; 1,90) |
0,230 |
|||||||
|
Sim |
97 |
182 |
1,00 |
- |
- |
|||||||
RPb: Razão de
Prevalência bruta. IC 95%: Intervalo
de confiança de 95%. p: valor de p
do Qui-quadrado de Pearson (χ2), em negrito estatisticamente significativo
(p<0,05). **: O valor do salário
mínimo era de R$ 622,00. < mediana:
menor que a mediana. ³
mediana: maior ou igual a mediana.
Os resultados do
presente estudo apresentaram um maior número de mulheres o que confirma a
tendência de estudos com idosos, nos quais a feminização é evidente na velhice
(SANTOS et al., 2017). Este predomínio do sexo feminino encontrado corrobora
com a população brasileira, na qual as mulheres representam aproximadamente 56%
da população idosa brasileira (IBGE, 2015) e com o estudo realizado por Sousa et
al. (2018) no Estado do Pará, Brasil, entre outros.
Essa predominância
das mulheres na população idosa é consequência
de uma maior expectativa de vida, as quais em média, vivem sete ou oito anos a
mais que os homens. Existem diversos fatores que podem contribuir com esse
fenômeno, sendo os principais um menor consumo de álcool e tabaco e maior
adesão a comportamentos de saúde com a finalidade de prevenir ou detectar
doenças em um estado assintótico, ter um acompanhamento médico contínuo, tomar
remédios e realizar atividades físicas. Além disso, os acidentes de trabalho e
de transportes, assim como a violência urbana comprometem mais os homens que às
mulheres (SANTOS et al., 2017).
No estado conjugal, observou-se que a
maior parte foi de idosos sem
companheiro. Este resultado é semelhante à investigação conduzida por Borges et
al. (2008) e Pereira et al. (2011), que observaram maior participação entre os idosos viúvos e que viviam sem
companheiro.
Quanto
à idade, foi encontrada uma maior proporção de idosos entre 60 a 69 anos, os
denominados idosos jovens. Este resultado corroborou com o que foi observado na
população idosa do Brasil (IBGE, 2015) e também com os resultados de outras
pesquisas sobre qualidade de vida de idosos em São Paulo, em Santa Catarina e em
Minas Gerais (PEREIRA et al., 2011; TAVARES et al., 2011).
Em
relação à renda individual mensal, a maioria possuía renda igual ou inferior a um salário mínimo.
Resultado semelhante foi encontrado no município de Cuiabá - MT, em estudo com
idosos acompanhados por equipes da Estratégia de Saúde da Família (SUDRÉ et al., 2012). A baixa renda é uma das
características marcantes da população idosa, sendo as aposentadorias e pensões
sua principal fonte de rendimento. O baixo poder aquisitivo pode estar relacionado
ao analfabetismo e a baixa escolaridade, restringindo-o ao ingresso no mercado
de trabalho e em decorrência disso diminuindo a possibilidade de um emprego e
aposentadoria com maior renda (SOUSA et al., 2010).
Neste estudo, verificou-se que a QVG inferior à
mediana apresentou associação significativa com as variáveis situação de trabalho (na categoria pensionista), renda (na categoria sem renda/com a renda individual entre
0 e 1 salário mínimo) e classe
econômica (na categoria D). No Brasil,
grande parte dos idosos vive com um salário mínimo, que usualmente corresponde
a aposentadoria de muitos aposentados no país. E consequentemente, o baixo
poder aquisitivo relacionado ao analfabetismo ou baixa escolaridade os
classifica em uma classe D (SOUSA et
al., 2010; PAIVA
et al., 2016). Essa situação pode comprometer as necessidades
básicas e reduzir um tratamento afetivo e com qualidade dos idosos, que
consequentemente poderá levar a uma pior qualidade de vida desta população.
Provavelmente a categoria pensionista evidenciou associação com a QVG inferior
à mediana, devido a que este benefício pode ser pago a
mais de um dependente, desde que seja provada ao INSS a dependência financeira
de todos os pensionistas, o valor pago será rateado em partes iguais entre os
dependentes e em decorrência levando a uma qualidade de vida inferior.
Relacionado à percepção de saúde, 78,55%
dos idosos perceberam-se saudáveis. Embora a maioria dos idosos tenha percebido
sua saúde como boa, 77,29% relatou ter problemas de saúde e usavam
medicamentos. A percepção de saúde, segundo Pagotto et al. (2011), melhora de
acordo com o aumento das condições socioeconômicas e o nível de instrução das
pessoas. Esta concepção representa a percepção integrada do indivíduo sobre si
mesmo e considera os aspectos biológico, psicológico e social.
Por
outro lado, nas variáveis referentes à saúde, apenas a variável realiza caminhada não
foi significativa (Tabela 3). A
associação mais forte da percepção de saúde estar doente com a QVG menor
que a mediana dos idosos considerados, mostrou que esta percepção, pode
influenciar na QVG do idoso. Este resultado corrobora com o encontrado no
estudo conduzido com idosos comunitários
da macrorregião do Triângulo do Sul, Minas Gerais, Brasil (PAIVA et al., 2016). Evidenciando que os idosos com problemas de saúde
apresentaram menores escores na QVG que os idosos sem problemas de saúde, isto
é, idosos com enfermidades percebem pior sua QVG.
A QVG menor que a
mediana mostrou-se associada com os problemas de saúde, neste caso, os idosos
que afirmaram terem problemas de saúde foram um fator de risco para a QVG com
significância estatística. Evidenciando que os escores deste domínio
apresentados por idosos com problemas de saúde foram mais baixas do que as dos
idosos sem problemas de saúde, ou seja, idosos acometidos por enfermidades
percebem pior sua qualidade de vida. Estes resultados corroboram com outros
estudos (VAGETTI et
al., 2013).
Tabela 3
Associação entre QVG menor que a mediana e
variáveis referentes à saúde dos idosos da UBS, com
suas respectivas razões de prevalências brutas, intervalo de confiança de 95% e
valores de p. Cuiabá, MT, Brasil, 2012. (n=317)
Características |
< mediana |
³mediana |
RPb |
IC 95% |
p |
Percepção de
saúde |
|||||
Doente |
57 |
11 |
3,66 |
(2,85 ; 4,70) |
<0,001 |
Saudável |
57 |
192 |
1,00 |
- |
- |
Realiza
caminhada |
|||||
Não |
103 |
168 |
1,59 |
(0,93 ; 2,72) |
0,066 |
Sim |
11 |
35 |
1,00 |
- |
- |
Problemas de
saúde |
|||||
Sim |
105 |
140 |
3,43 |
(1,83 ; 6,42) |
<0,001 |
Não |
9 |
63 |
1,00 |
- |
- |
Número de
remédios |
|||||
<2 |
64 |
171 |
1,00 |
- |
- |
≥ 2 |
50 |
32 |
2,24 |
(1,71 ; 2,94) |
<0,001 |
Uso de
medicação |
|||||
Sim |
105 |
140 |
3,43 |
(1,83 ; 6,42) |
<0,001 |
Não |
9 |
63 |
1,00 |
- |
- |
Serviço de
saúde utilizado |
|||||
Público |
110 |
180 |
2,56 |
(1,02 ; 6,40) |
0,017 |
Particular |
4 |
23 |
1,00 |
- |
- |
RPb: Razão de Prevalência
bruta. IC 95%: Intervalo de
confiança de 95%. p: valor de p do
Qui-quadrado de Pearson (χ2), em negrito estatisticamente significativo
(p<0,05). < mediana: menor que
a mediana. ³
mediana: maior ou igual a mediana.
Também
se observou associação entre a QVG menor
que a mediana e uso de
medicação e número de medicamentos ingeridos. O uso de medicação e a utilização
de dois ou mais medicamentos por idosos pode afetar a qualidade de vida geral
dos mesmos. Segundo Paiva et al. (2016) as reações adversas à medicação
constituem um problema importante na relação medico-paciente, pois estas
reações podem influenciar na perda da confiança do paciente no seu médico,
aumentando os custos, atrasando o tratamento, limitando a autonomia do idoso e
afetando a qualidade de vida global.
O serviço de saúde público utilizado associou-se
a QVG menor que a mediana, o qual pode indicar que os idosos que não possuíam
um plano de saúde particular podiam ter tido maiores problemas de saúde e isto
por sua vez pode ter influenciado na pior QVG observada nos idosos das UBS. De
acordo com Pereira et al. (2011), em estudo sobre a qualidade de vida em idosos
de um município da região Sudeste do Brasil, os
idosos que carecem de planos de saúde particular, pelo alto custo da
mensalidade são mais doentes, de baixa renda, necessitam de maior atenção à
saúde e precisam utilizar medicamentos continuamente. Nesse estudo os autores
encontraram associação com significância estatística entre a ausência de um
plano de saúde privado e a QVG, concordando com o presente estudo.
Nos
domínios do WHOQL-BREF e WHOQOL-WOLD,
unicamente funcionamento dos sentidos não foi significativo (Tabela 4).
Tabela 4
Associação entre QVG menor que a mediana e escores dos domínios do WHOQOL-BREF e WHOQOL-OLD menor que a mediana dos
idosos da UBS, com suas respectivas razões de prevalências brutas, intervalo de
confiança de 95% e valores de p. Cuiabá, MT, Brasil, 2012. (n=317)
Características |
< mediana |
³mediana |
RPb |
IC 95% |
p |
WHOQOL-BREF |
|||||
Físico |
|||||
< mediana |
81 |
52 |
3,40 |
(2,42 ; 4,76) |
<0,001 |
³mediana |
33 |
151 |
1,00 |
- |
- |
Psicológico |
|||||
< mediana |
68 |
48 |
2,56 |
(1,90 ; 3,44) |
<0,001 |
³mediana |
46 |
155 |
1,00 |
- |
- |
Relações Sociais |
|||||
< mediana |
91 |
113 |
2,19 |
(1,48 ; 3,26) |
<0,001 |
³mediana |
23 |
90 |
1,00 |
- |
- |
Meio Ambiente |
|||||
< mediana |
81 |
63 |
2,95 |
(2,10 ; 4,14) |
<0,001 |
³mediana |
33 |
140 |
1,00 |
- |
- |
WHOQOL-OLD |
|||||
Funcionamento
dos sentidos |
|||||
< mediana |
12 |
37 |
0,64 |
(0,39 ; 1,08) |
0,069 |
³mediana |
102 |
166 |
1,00 |
- |
- |
Autonomia |
|||||
< mediana |
64 |
69 |
1,77 |
(1,32 ; 2,38) |
<0,001 |
³mediana |
50 |
134 |
1,00 |
- |
- |
Atividades
passadas, presentes e futuras |
|||||
< mediana |
61 |
46 |
2,26 |
(1,70 ; 3,00) |
<0,001 |
³mediana |
53 |
157 |
1,00 |
- |
- |
Participação
Social |
|||||
< mediana |
47 |
33 |
2,08 |
(1,58 ; 2,73) |
<0,001 |
³mediana |
67 |
170 |
1,00 |
- |
- |
Morte e morrer |
|||||
< mediana |
38 |
109 |
0,58 |
(0,42 ; 0,80) |
<0,001 |
³mediana |
76 |
94 |
1,00 |
- |
- |
Intimidade |
|||||
< mediana |
77 |
80 |
2,12 |
(1,53 ; 2,93) |
<0,001 |
³mediana |
37 |
123 |
1,00 |
- |
- |
RPb: Razão de
Prevalência bruta. IC 95%: Intervalo
de confiança de 95%. p: valor de p
do Qui-quadrado de Pearson (χ2), em negrito estatisticamente significativo
(p<0,05). < mediana: menor que
a mediana. ³
mediana: maior ou igual a mediana.
Na Tabela 5 é apresentado o modelo
final da análise de regressão de Poisson múltipla, com as variáveis que foram
significativas ao nível de 5%, com seus
respectivos intervalos de confiança de 95% e valores de p. Observar que este modelo foi adequado pelo teste da
razão de verossimilhança (p<0,001) e que no mesmo, foram analisadas todas as
variáveis com valores de p inferiores a 0,20 na análise bivariada apresentada
nas Tabelas 2, 3 e 4.
Tabela 5
Razão de prevalência ajustada pelo modelo de regressão de Poisson entre a QVG menor que a mediana e variáveis de saúde e os escores dos domínios do
WHOQOL-BREF e WHOQOL-OLD menor que a mediana dos idosos da UBS
com seus respectivos intervalos de confiança de 95% e valores de p. Cuiabá, MT,
Brasil, 2012. (n=317)
Características |
RPa |
IC 95% |
p |
Problemas de
saúde |
|||
Sim |
2,05 |
(1,12 ; 3,76) |
0,021 |
Não |
1,00 |
- |
- |
Serviço de
saúde utilizado |
|||
Público |
1,88 |
(1,10 ; 3,24) |
0,022 |
Particular |
1,00 |
- |
- |
Físico |
|||
< mediana |
2,25 |
(1,61 ; 3,14) |
<0,001 |
³mediana |
1,00 |
- |
- |
Meio
Ambiente |
|||
< mediana |
1,70 |
(1,22 ; 2,38) |
0,002 |
³mediana |
1,00 |
- |
- |
Atividades passadas, presentes e
futuras |
|||
< mediana |
1,41 |
(1,09 ; 1,83) |
0,010 |
³mediana |
1,00 |
- |
- |
Morte e morrer |
|||
< mediana |
0,71 |
(0,55 ; 0,93) |
0,012 |
³mediana |
1,00 |
- |
- |
Intimidade |
|||
< mediana |
1,43 |
(1,09 ; 1,90) |
0,011 |
³mediana |
1,00 |
- |
- |
RPa:
Razão de Prevalência ajustada IC 95%: Intervalo de confiança de 95%. p: valor de p do Qui-quadrado de
Pearson (χ2). < mediana: menor
que a mediana. ³
mediana: maior ou igual a mediana.
Os resultados
encontrados neste trabalho evidenciaram uma maior associação entre os escores
do domínio QVG menor que a mediana e os escores do domínio físico menor que a
mediana do WHOQOL-BREF (RPb=3,40).
Pereira et al. (2011), também observou uma alta influencia do domínio
físico na qualidade de vida global. Cabe destacar que o domínio físico, segundo
o WHOQOL
GROUP (1998) envolve sete facetas (dor e
desconforto, dependência de medicação ou de tratamentos, energia e fadiga, sono
e repouso, mobilidade, atividades da vida cotidiana, capacidade de trabalho),
indicando que a presença ou limitação destas facetas podem comprometer a
qualidade de vida dos idosos (SERBIM e Figueiredo, 2011; SOUZA et al., 2018). Uma vez que o domínio físico engloba a
percepção dos indivíduos em relação aos aspectos da saúde física e limitações
decorrentes de diversos problemas tais como: utilização de medicamentos, capacidade
de locomoção, entre outros.
O menor escore Mediano do WHOQOL-BREF encontrado neste
estudo foi no domínio meio ambiente (59,38%), resultado
semelhante foi encontrado por Tavares et al. (2016). Observar que o domínio meio ambiente foi um fator de risco na QVG
dos idosos do presente estudo, o que corrobora os resultados observados por
Pereira et al. (2011) e Tavares et al. (2016) nos quais eles observaram que o ambiente físico no
qual está inserido o idoso pode determinar a dependência ou não destes indivíduos.
Uma vez que os idosos quando possuem a
oportunidade de recreação e lazer, caminhar pelas calçadas ou parques, ou
utilizar um meio de transporte, com segurança e ter acessos aos serviços de
saúde, tem maior possibilidade de serem física e socialmente mais ativos. Caso
contrário, idosos que vivem em ambientes sem segurança geralmente não saem
sozinhos e, em decorrência são mais susceptíveis ao isolamento e à depressão,
assim como a terem maiores problemas de mobilidade o que pode levar a um pior
estado físico o que pode influenciar de maneira negativa na QVG dos idosos.
No presente estudo a mensuração da qualidade de vida, avaliada
pelas medianas dos escores dos domínios do WHOQOL-BREF
evidenciaram que o maior escore foi o do domínio psicológico (70,83%),
corroborando com o resultado encontrado na pesquisa com idosos dirigida por
Souza et al (2018).
Este resultado revela uma boa condição psicológica e da saúde mental dos idosos
das UBS estudadas. No entanto ao associar a QVG
menor que a mediana com os escores
do domínio psicológico menor que a mediana, foi observado um fator
de risco entre esta associação. Porém, em outros estudos realizados sobre a qualidade de vida foram
encontrados maiores escores no domínio relações sociais, deste mesmo
instrumento (PEREITA et al., 2011; TAVARES et al., 2011).
A
associação estatisticamente significativa entre os escores do domínio QVG com os escores do domínio relações sociais abaixo da
mediana, evidenciou que as relações
pessoais, suporte/apoio social e atividade sexual nos idosos podem afetar a QVG
desses indivíduos. Segundo Tavares et al. (2011) este resultado pode ser devido
ao processo de envelhecimento, as mudanças fisiológicas do corpo e a cultura da
sexualidade na terceira idade, os quais podem prejudicar as relações pessoais e
os desejos e o ato sexual destes indivíduos, e consequentemente afetar
negativamente a QVG do idoso.
No WHOQOL-OLD, os maiores escores foram encontrados
nos domínios morte e morrer e intimidade. Os escores do domínio morte e morrer menor que
a mediana apresentaram uma associação de proteção estatisticamente
significativa com os escores do domínio da QVG menor que a mediana, o qual pode
indicar que os idosos enfrentaram as apreensões e temores do final de suas
existências como um fenômeno natural do processo do envelhecimento. Este
resultado corroborou com os estudos sobre qualidade de vida em idosos
realizados por Paiva et al. (2016) e Tavares et al. (2011).
Por outro lado os escores do domínio intimidade menor que a mediana apresentou associação
significativa de risco com a QVG menor que a mediana. Segundo
Fleck et al. (2006) o domínio intimidade, o qual avalia as relações pessoais e íntimas, neste
sentido os resultados encontrados indicam que os idosos estudados referiram não
estar satisfeitos com as relações intimas com seus companheiros.
E o menor escore de qualidade de vida do WHOQOL-OLD foi encontrado no domínio
funcionamento dos sentidos, sugerindo que os déficits de habilidades sensoriais
afetam a percepção subjetiva do idoso, trazendo impacto direto em sua qualidade
de vida (TAVARES et al., 2011; TAVARES et al., 2016). No entanto, os escores
deste domínio menor que a mediana não mostraram associação significante com os
escores do domínio da QVG no presente estudo.
A associação
da QVG menor que a mediana com os escores do domínio autonomia abaixo da
mediana, pode ser devido a que na terceira idade o indivíduo tem menos
liberdade para tomar suas próprias decisões, e em geral não consegue fazer o
que gostaria de fazer, por causa das possíveis limitações ocasionadas pelo
declínio da capacidade funcional do idoso para executar as atividades da vida
diária com independência. De acordo com o estudo realizado por Dias et al.
(2012), o processo do envelhecimento diminui gradualmente a capacidade
funcional, a qual é progressiva e aumenta com a idade e em decorrência reduz a
QVG relacionado a essa fase da vida. Assim, conforme estes autores são
fundamentais o desenvolvimento de programas sociais e de saúde com estratégias de prevenção e promoção de
saúde em busca de um envelhecimento saudável e ativo, com independência e autonomia, necessário para a
realização das atividades diárias, o que poderá melhorar qualidade de vida do
idoso.
Neste estudo, o
domínio atividades
passadas, presentes e futuras menor que a
mediana do WHOQOL-OLD apresentou associação significativa de risco com a QVG
menor que a mediana. Em relação a este domínio os resultados podem indicar que
os idosos estudados que referiram uma qualidade de inferior a mediana, não
estavam felizes com o futuro, mostraram-se insatisfeitos com as oportunidades
para alcançar outras realizações na vida, se sentiam sem reconhecimentos
merecidos e insatisfeitos com aquilo que conseguiram alcançar em suas vidas, o
que pode ter influenciado em uma QVG inferior.
4
CONCLUSÕES
As variáveis que
individualmente apresentaram maiores associações com a qualidade de vida global
foram: percepção de saúde, problemas de saúde, uso de medicação, serviço de
saúde utilizado e os domínios físico, psicológico, atividades passadas,
presentes e futuras, participação
social e intimidade. E conjuntamente as
variáveis que evidenciaram maiores associações foram: problemas
de saúde, serviço de saúde utilizado e os domínios físico, meio ambiente,
atividades passadas, presentes e futuras e intimidade.
Os resultados do
presente estudo de maneira geral apontaram uma qualidade de vida global
satisfatória dos idosos cadastrados nas Unidades Básicas de Saúde consideradas,
pois a maioria das medianas dos escores dos domínios em porcentagem foram
superiores a 50%. No entanto, pelos resultados obtidos também foi possível
verificar que algumas variáveis tais como a renda, classe econômica, percepção
de saúde, problemas de saúde, uso de medicação e serviço de saúde utilizado
mostraram associação com a QVG dos idosos estudados, assim como os domínios dos
instrumentos utilizados. Fatores e domínios de qualidade de vida que podem ser
considerados no planejamento, estratégias e ações de políticas públicas na
promoção da saúde e de uma melhor QVG dessa população.
AGRADECIMENTOS
A
todos os profissionais dos Centros de
Convivência para Idosos (CCI) no Município de
Cuiabá-MT, à Secretaria Municipal de Saúde e à Secretaria Municipal de
Assistência Social e Desenvolvimento Humano de Mato Grosso pela autorização
para realização desta pesquisa e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento
Cientifico e Tecnológico (CNPq), pelo apoio financeiro por meio de Bolsa de
Estudo da pesquisadora Dayane de Carvalho Rodrigues.
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