Universidade Federal de Santa Maria

Ci. e nat., Santa Maria, V. 41, e48, 2019

DOI: http://dx.doi.org/10.5902/2179460X39156

Received: 20/07/2019 Accepted: 14/10/2019

 

by-nc-sa

 


Section Education

 

 

Relação ensino-aprendizagem sobre fungos no ensino superior: um estudo bibliográfico

 

The teaching-learning on fungi in higher education: a bibliographical study

 

 

Felipe Sant' Anna CavalcanteI

Milton César Costa CamposII

Janaína Paolucci Sales de LimaIII

Ivanete Saskoski CaminhaIV

 

I mestrando do Programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais do Instituto de Educação, Agricultura e Ambiente (IEAA) da Universidade Federal do Amazonas – UFAM - felipesantana.cavalcante@gmail.com

II Pós-Doutorado em Engenharia de Água e Solo pela Universidade Estadual de Campinas (2013). Professor Associado I do Instituto de Educação, Agricultura e Ambiente da Universidade Federal do Amazonas - mcesarsolos@gmail.com

III Doutor em Biotecnologia. professor Adjunto III da Universidade Federal do Amazonas - paolucci@ufam.edu.br

IV Docente no Centro Universitário São Lucas - ivanete@saolucas.edu.br

 

 

Resumo

A micologia é um campo de estudo voltado aos fungos, sendo estes, organismos essenciais para o meio ambiente e que atualmente são foco para o desenvolvimento de novos produtos e processos biotecnológicos. Apesar de deter extrema importância ambiental e econômica, este ainda é um tema negligenciado no ensino superior. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho foi analisar o ensino-aprendizagem de fungos no ensino superior utilizando assim uma revisão bibliográfica. Sendo assim, está se deu com base em artigos publicados em periódicos nacionais compreendendo o período de 2008-2018. Com base nos resultados obtidos, percebeu-se que os professores oferecem recursos didáticos para ministrar aulas teóricas sobre fungos, uma vez que estas são essenciais no processo de complementação dos conteúdos para as aulas práticas. É necessário também que estes professores possam oferecer para o aluno um conhecimento diversificado, rico, sólido e criativo, buscando atender a participação de todos os envolvidos. Conclui-se que por meio deste trabalho de estudo bibliográfico, que o ensino-aprendizagem do ensino de fungos no ensino superior é muito superficial, pois se faz necessário que a disciplina de Micologia, no Ensino Superior, nos Cursos de Ciências Biológicas seja abordado de forma dinamizada e contextualizada.

 

Palavras-chave: Fungos ; Micologia; Ensino de Micologia; Microrganismos; Ciências

 

 

Abstract

Mycology is a field of study focused on fungi, which are essential organisms for the environment and are currently the focus for the development of new biotechnological products and processes. Although of extreme environmental and economic importance, this is still a neglected topic in higher education. In this sense, the objective of this work was to analyze the teaching-learning of fungi in higher education using a bibliographical review. Thus, this is based on articles published in national periodicals covering the period 2008-2018. Based on the results obtained, it was noticed that the teachers offer didactic resources to teach theoretical classes about fungi, since these are essential in the process of complementing the contents for the practical classes. It is also necessary that these teachers can offer the student a diverse, rich, solid and creative knowledge, seeking to attend the participation of all involved. It is concluded that through this work of bibliographical study, that teaching-learning of fungi teaching in higher education is very superficial, since it is necessary that the discipline of Mycology, in Higher Education, in Biological Sciences Courses be approached from dynamized and contextualized.

 

Keywords: Fungi; Mycology; Mycology teaching; Microorganisms; Science

 


1 Introdução

No contexto das novas realidades sociais, políticas, econômicas, culturais e geográficas os professores precisam repensar seu papel diante do sistema de ensino, no que diz respeito à reestruturação do sistema e na qualificação profissional (LIBÂNEO, 2004). A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) estabelece o princípio de liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber (BRASIL, 1996).

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), o ensino de qualidade que a sociedade demanda atualmente se expressa aqui como possibilidade do sistema educacional vir a propor uma prática educativa adequada às necessidades sociais, políticas, econômicas e culturais da realidade brasileira, que considere os interesses e as motivações dos alunos e garanta as aprendizagens essenciais para a formação de cidadãos autônomos, críticos e participativos, capazes de atuar com competência, dignidade e responsabilidade na sociedade em que vivem (BRASIL, 1997).

O estudo de Ciências e Biologia deve ajudar o estudante a compreender conceitos científicos básicos e estabelecer relações entre estes e o mundo em que ele vive, levando em conta a diversidade dos contextos físico e cultural em que está inserido (REIS et al. 2005). Apesar da formulação de projetos de ensino na década de 1960 e do desenvolvimento de pesquisas na área de ensino de Ciências a partir da década de 1970, atualmente, muitas das dificuldades apontadas ainda permanecem nas aulas. Tais dificuldades incluem: ensino tradicional onde apenas o professor explana o conteúdo nas suas aulas teóricas, no uso do livro didático e a falta de contextualização (ZAPPE; SAUERWEIN, 2018).

Deste modo, a sociedade tem sentido a urgência de olhar de forma diferente para o ensino das ciências, visto que nesta sociedade em que a evolução tecnológica e o avanço científico solicitam indivíduos com habilidades e competências em diversas áreas do conhecimento, a Ciência não poderá ser tratada de forma tradicional, compartimentada e fora da realidade dos alunos, necessita-se de um ensino diferente. Dentro desta vertente, a abordagem Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS) vem sendo colocada nas discussões e pesquisas que versam sobre o ensino da Ciência nas diversas áreas do conhecimento como Física, Química, Biologia, Ciências Naturais, entre outras (FERST, 2013).

Tendo em vista a dificuldade de se ensinar algumas matérias de Biologia e da preocupação em desenvolver estratégias didáticas que envolvam o tema da inclusão, jogos e modelos didáticos surgem como alternativa viável para o aprimoramento do processo de ensino e aprendizagem, de acordo com o baixo custo para sua produção e pelo fato de serem adaptados pelos próprios alunos, proporcionando, assim, uma maior assimilação do assunto estudado (COELHO et al. 2010).

A micologia é o ramo da ciência que visa estudar os fungos bem como suas características, sua relação com o meio onde vivemos e suas possíveis aplicações biotecnológicas. Os fungos representam um grupo de organismos extremamente diversificado, sendo encontrados no ambiente em formas unicelulares ou formando grandes corpos de frutificação, ambos possuindo amplo espectro de aplicações em indústrias alimentícias realizando a fermentação de produtos, participando do processo de fabricação de pães e de bebidas, tendo seus metabólitos utilizados no desenvolvimento de medicamentos, de biorremediadores, de controle ambiental e ainda atuando no ambiente como decompositores de matéria orgânica (LACAZ; PORTO; MARTINS; 2002; KISCHKEL; REGINA, 2017).

O ensino e a aprendizagem do Reino Fungi devem estar fundados na premissa de que aprender biologia, pois é essencial na formação do cidadão para entender a dinâmica do ciclo da vida, seja ela no ambiente físico ou social da natureza. Como sintetiza Melo (2010), o cidadão será capaz de utilizar tais conhecimentos nas tomadas de decisões que, envolvendo interesse individual ou coletivo, tende a se efetivar em um contexto ético, de responsabilidade e respeito, e levem em conta o papel do homem na biosfera. 

Os fungos têm papel central em processos ecológicos fundamentais para a homeostase da biosfera, participando da ciclagem de nutrientes em ecossistemas terrestres e aquáticos, decomposição de materiais de difícil degradação, bioregulação e produzindo associações mutualísticas (associações micorrízicas, endofiticas, endofiticas, liquênicas, etc) (PINHO, 2009). Nesse sentido, o objetivo deste trabalho foi analisar o ensino-aprendizagem de fungos no ensino superior

 

2 Materiais e métodos

Neste trabalho foi realizada uma revisão de literatura, através de uma pesquisa descritiva e exploratória que visa analisar o material produzido nos trabalhos científicos considerando todas as etapas como: conceitos, técnicas, resultados, discussões e conclusões, com intuito de verificar artigos publicados em periódicos nacionais e internacionais, compreendendo o período de inclusão 2008-2018, visto que este tipo de estudo procura explicar um problema a partir de referências teóricas publicadas em documentos.

De acordo com Gil (2008) a pesquisa de caráter bibliográfico desenvolve-se com trabalhos já elaborados de livros e artigos por um processo sistemático através do método da cientificidade, tendo como objetivo fundamental expor soluções de problemas ao emprego de procedimentos científicos.

Marconi; Lakatos (2003) complementam ainda mais as ideias do autor supracitado, afirmando que a finalidade da pesquisa bibliográfica é colocar o pesquisador em contato direto com tudo que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto, inclusive conferências seguidas de debates que tenham sido transcritas por alguma forma, quer publicados ou quer gravados.

O estudo bibliográfico oferece mecanismo para definir/resolver problemas já conhecidos, mas também explorar problemas desconhecidos que não se cristalizaram suficientemente permitindo ao pesquisador melhor análise de pesquisas e o manuseio dos resultados, ou seja, a pesquisa bibliográfica não é repetição de dados já existentes, mas, sim o que já foi dito ou escrito sobre determinado assunto, proporcionando um novo enfoque ou abordagens chegando a resultados inovadores (MARCONI; LAKATOS, 2003).

Sendo assim, o levantamento bibliográfico foi feito por meio de consulta eletrônica nas plataformas eletrônicas Google acadêmico, Scientific Electronic Library Online (SCIELO), PubMed, Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e MEDLINE (Literatura Internacional em Ciências da Saúde), acessadas por meio da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), o acesso aos artigos científicos é gratuito e os dados utilizados e coletados são de domínio público. Utilizaram-se as seguintes combinações de palavras-chave: micologia, ensino de micologia, aprendizagem significativa, atividade prática. O método histórico subsidiará a investigação dos acontecimentos bibliográficos e documentais que influenciam o problema no presente.

De acordo com os termos de busca, foi possível acessar centenas de pesquisas científicas, entre teses, dissertações e artigos. Com o intuito de delimitar e nortear o trabalho, foram determinadas as seguintes variáveis: nome do periódico, ano de publicação. Como próximo passo, iniciou-se a leitura dos títulos, sendo selecionados somente os artigos científicos, pela atualidade que representam em termos de pesquisa. Foram lidos os resumos, com a intenção de averiguar-se a pertinência de cada um dos estudos para com a questão norteadora.

Enquanto que os critérios de exclusão foram artigos que não abordavam principais variáveis a serem analisadas no artigo.

Esta etapa da pesquisa é relevante, podendo conhecer trabalhos realizados a respeito do tema estudado, se embasar teoricamente e até adquirir ideias novas, possibilitando ao pesquisador uma visão mais profunda a respeito do assunto, respondendo assim seus questionamentos. Além disso, utilizou-se a abordagem qualitativa e quantitativa.

 

3 Resultados e discussão

As aulas teóricas ministradas dentro ou fora de sala de aula são importantes no processo de ensino-aprendizagem para os alunos pois permite uma melhor explicação de termos científicos e técnicos de conteúdos relacionados ao Reino Fungi facilitando a compreensão e o entendimento de um determinado fenômeno e/ou experimento.

Para Lima; Teixeira (2014), nesta perspectiva, a temática fungos é de extrema importância no ensino de ciência, pois possibilita, além da aprendizagem de conteúdos biológicos, a percepção e reflexão acerca das questões tecnológicas, sociais, econômicas e ambientais que permeiam esta temática, fomentando o processo de ensino e aprendizagem.  Deste modo, a experimentação em sala de aula pode ser utilizada para promover a aprendizagem acerca do tema fungos, possibilitando ao aluno interpretar informações a partir do contato com modelos experimentais, tornando a construção deste novo conhecimento mais acessível.

Segundo Teixeira; Oliveira (2007) utilizar atividades investigativas como ponto de partida para desenvolver a compreensão de conceitos, é uma forma de conduzir o aluno a participar de seu processo de aprendizagem, saindo de uma postura passiva e começando a perceber e agir sobre o seu objeto de estudo.

A aula prática é importante no processo metodológico e facilitador da aprendizagem, logo desenvolve nos alunos capacidade de construção de ideias do assunto proposto dos conhecimentos específicos para se alcançar os objetivos desejados. Além disso, estimula os alunos a pensarem de forma crítica, tornado assim capazes de proporem problemas e soluções. Por conseguinte, a construção de argumentos deve envolver um conjunto de ações e reflexões que gradativamente vão se constituindo numa nova verdade (ZAPPE; SAUERWEIN, 2018).

Segundo Johan et al. (2014), ao verificar uma sequência de atividades sobre fungos em seu estudo, verificou que os alunos de­mostraram que a alternativa didática oportunizou um espaço lúdico de conhecimento, percebido por meio dos comentários: “o jogo foi muito legal”, “foi divertido”, “tiramos dúvidas” ou, ainda, “relembrei várias coisas”, “pude aprender várias coisas”. Assim, além do jogo ser um recurso pedagógico instigante e significativo para a aprendizagem, sua utilização é uma alternativa viável e passível de ser desenvolvida, auxiliando na planificação do aprendizado dos alunos quando justaposto ao ensino e revisão dos conhecimentos sobre Fungos.

Cavalcante et al. (2016) cita, contudo, essa função de aliar o conceito teórico com o visual que nem sempre é exercida como deveria. Muitas vezes são imagens imprecisas, incorretas e com interpretações equivocadas que não criam quaisquer conexões com o conteúdo teórico, tornando-se ainda mais distante a   informação trazida pela linguagem escrita. Além disso, o recurso visual facilita a aprendizagem dos alunos, dando base ao conteúdo teórico.

Para Silva; Machado; Tunes (2010), para que se possa ensinar micologia o docente em sala de aula pode utilizar de diversas metodologias entre elas a oficina temática, pois desde o século XVIII, a experimentação é reconhecida como uma ferramenta facilitadora do processo de ensino e aprendizagem em Ciências, já que auxilia na articulação entre fenômenos e teorias.

       De maneira geral os professores oferecem recursos didáticos para ministrar aulas teóricas, uma vez que estás são essenciais no processo de complementação dos conteúdos para as aulas práticas. É necessário que estas possam oferecer para o aluno o conhecimento diversificado, rico, sólido e criativo. Buscando atender a participação de todos os envolvidos. 

Para Barbosa (2014), essa metodologia de ensino se apoia na ideia de que a mente do aluno é uma tela em branco, que deve ser preenchida pelo professor. O conteúdo, por si só, justificava a importância de sua aprendizagem. Bastava, então, ao professor transmiti-lo de forma ordenada e racional. Quanto maior a quantidade de conhecimentos, mais eficiente é o professor, e mais saberes passam a fazer parte na “tela” do aluno. Resumidamente, essa é a base do ensino tradicional. Cabe ao aluno se esforçar bastante para dominar e memorizar os conteúdos ensinados pelo professor. Nos processos de ensino e de aprendizagem sobre os Fungos é visível a ausência de uma relação entre os conteúdos científicos e a realidade e oito conhecimentos dos alunos. Nota-se que praticamente todo o conteúdo é voltado para teoria, muito se fala e muito se escreve. A carência de atividades práticas faz com que tudo que se ensinou com base na teoria se torne ineficaz, atingindo apenas a um pequeno grupo de alunos.

No que compete à área de biológicas aos alunos concluintes, cabe destacar a compreensão das ciências naturais e as tecnologias a elas associadas como construções humanas, percebendo seus papeis nos processos de produção e no desenvolvimento econômico e social da humanidade; identificar a presença e aplicar as tecnologias associadas às ciências naturais em diferentes contextos que resultam em degradação ou conservação ambiental a processos produtivos e sociais e a instrumentos ou ações científico-tecnológicos; compreender interações entre organismos e ambiente, em particular aquelas relacionadas à saúde humana, relacionando conhecimentos científicos, aspectos culturais e características individuais, entender métodos e procedimentos próprios das ciências naturais e aplicá-los em diferentes contextos para aplicar em situações problema, interpretar, avaliar ou planejar intervenções científico tecnológicas (MEC, 2000).

E de acordo com a Portaria 472 de 06 de junho de 2017, o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE) para os cursos de Ciências Biológicas – Licenciatura e a Portaria 471 de 06 de junho de 2017 – Bacharelado, parte integrante do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES), tem como objetivo geral avaliar o desempenho dos estudantes em relação aos conteúdos programáticos previstos nas diretrizes curriculares, às habilidades e competências para atuação profissional e aos conhecimentos sobre a realidade brasileira e mundial, bem como sobre outras áreas do conhecimento.

Ambas, as portarias emitidas pelo Ministério da Educação indicam para o perfil do concluinte as seguintes características: observador, crítico e integrador ao interpretar e avaliar os padrões e processos biológicos e suas interfaces com outras áreas do saber; comprometido com a produção de conhecimento, a transformação social e a educação emancipatória;  ético, com responsabilidade social e ambiental, comprometido com a sua contínua atualização profissional e com a divulgação científica; consciente de sua responsabilidade como educador frente à comunidade, nos vários contextos de atuação profissional, compreendendo a ciência como uma atividade social com potencialidades e limitações; empático, propositivo e colaborativo nas relações interpessoais que envolvem o mundo do trabalho; criativo e empreendedor na concepção de ideias inovadoras para o desenvolvimento humano e de sociedades sustentáveis; e, sensível às questões ligadas aos direitos humanos, à diversidade sociocultural e ambiental e à identidade de gênero no contexto escolar.

A aprendizagem de qualidade é uma meta que o país deve perseguir incansavelmente, e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é uma peça central nessa direção, em especial para o Ensino Médio no qual os índices de aprendizagem, repetência e abandono são bastante preocupantes. Com a BNCC, garante-se o conjunto de aprendizagens essenciais aos estudantes brasileiros, seu desenvolvimento integral por meio das dez competências gerais para a Educação Básica, apoiando as escolhas necessárias para a concretização dos seus projetos de vida e a continuidade dos estudos (SILVA, 2018).

Dessa forma, a temática sobre fungos está recomendada para estudo no ensino médio e ao adotar esse enfoque, a BNCC indica que as decisões pedagógicas devem estar orientadas para o desenvolvimento de competências. Por meio da indicação clara do que os alunos devem “saber” (considerando a constituição de conhecimentos, habilidades, atitudes e valores) e, sobretudo, do que devem “saber fazer” (considerando a mobilização desses conhecimentos, habilidades, atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho), a explicitação das competências oferece referências para o fortalecimento de ações que assegurem as aprendizagens essenciais definidas na BNCC (SILVA, 2018).

Para Gomes; Oliveira (2006), uma reflexão aprofundada sobre a metodologia do ensino de ciências evidencia marcas profundas de tradicionalismo, inclusive o distanciamento entre teoria e prática. Essa percepção pode ser confirmada por algumas práticas adotadas pelos professores. Basta entrar em uma sala de aula para perceber tal fato. Os professores, apenas com a lousa, consideram-se prontos para fazer as demonstrações, mas na maioria das vezes, eles não dispõem de tempo para discussão mais relevante sobre a aplicação dos conhecimentos.

As aulas que utilizam a interdisciplinaridade fazem a ponte do saber fazer e saber ser, melhorando o entendimento das disciplinas entre si, ou, entre áreas. É com isso fazem a conexão do entendimento das disciplinas havendo troca e diálogo mutua entre diversas áreas no processo de significação dos conteúdos estudados. Além disso, a interdisciplinaridade desenvolve capacidades extremamente valiosas nos alunos, como a curiosidade, o interesse pelo aprendizado e a habilidade de trabalhar em grupo.

Segundo Melo; Carmo (2017) sabendo que a Biologia, trata-se de uma ciência precursora em questão do conhecimento como um todo, podendo haver vários campos de atuação para a sua formação, cabe ao professor escolher temas que trarão aos alunos a satisfação de aprender Biologia sobre determinado tema escolhido para ser abordado. É recomendável que na construção da educação de um aluno, ocorra uma interdisciplinaridade por parte dos professores, pois, as matérias entre si, possuem uma conexão que junto a outra dão mais ênfase a conjugação do ensino, e a escola como instituição educadora, tem o dever de elaborar conteúdos e estratégias que tragam ao indivíduo o processo de ensino/aprendizagem eficaz quanto as noções básicas provenientes de acontecimentos do dia a dia, aumentando a percepção do indivíduo quanto ao que acontece em uma sociedade relacionados ao ensino da Biologia.

Veiga et al. (2004) concluem que, muito embora os docentes participantes da pesquisa refiram-se à contextualização de conteúdos e ensino interdisciplinar, não são capazes de implementá-los em suas práticas por causa de visões fragmentadas das ações de aprender, ensinar, pesquisar e avaliar, o que sugere que concepções, tanto de Educação como de conhecimento, que parametrizam a atuação de docentes universitários, transcende uma particular área do saber.

O processo de ensino-aprendizagem vem decorrente da abordagem do conhecimento que se pretende alcançar. Nessa relação, educador e educando trocam de papéis o tempo inteiro: o educando aprende ao passo que ensina e o educador ensina e aprende com o outro. Nesta perspectiva, a relação de ensino-aprendizagem promove o diálogo entre o conteúdo curricular e os conteúdos únicos, compostos pelas vivências, histórias e individualidade de cada um que circula pelos territórios educativos, sejam estes dentro ou fora da escola.

Bizzo (2002, p.75) afirma que: o experimento, por si só não garante a aprendizagem, pois não é suficiente para modificar a forma de pensar dos alunos, o que exige acompanhamento constante do professor, que deve pesquisar quais são as explicações apresentadas pelos alunos para os resultados encontrados e propor se necessário, uma nova situação de desafio.

De acordo com Souza; Costa (2010), observa-se que no ensino de Ciências as aulas expositivas, pautadas na transmissão de informações pelo professor que visam a assegurar a memorização do conteúdo, ainda são muito frequentes no cotidiano das nossas escolas. Essas aulas caracterizam-se por apresentar uma gama de termos e conceitos para serem decorados pelos alunos e/ou por aulas práticas do livro didático. Assim, desenvolver atividades lúdicas permite ampliar a gama de possibilidades pedagógicas utilizadas para um determinado saber, de maneira significativa, não tendo o objetivo específico, lógico e pré-determinado, mas a busca, na efetivação das atividades pela satisfação das expectativas e pelo sucesso na realização das mesmas e pela melhora significativa no processo ensino-aprendizagem.

Segundo Delizoicov; Angotti; Pernambuco (2002, p. 153), para melhorar o processo de ensino e aprendizagem e superar estes obstáculos, é preciso tornar a aprendizagem dos conhecimentos científicos um desafio prazeroso para todos, transformando-a “em um projeto coletivo, em que a aventura da busca do novo, do desconhecido, de sua potencialidade, de seus riscos e limites seja oportunidade para o exercício e o aprendizado das relações sociais e dos valores”.

De acordo com Gomes; Oliveira (2006), o ensino-aprendizagem ao longo do tempo transpassam metodologias com base nos princípios da educação tradicional. Com isso, faz-se necessário simplificar o conteúdo abordado, causando confusões ou interpretações de conceitos equivocados na assimilação dos mesmos. Os professores, por não possuírem acesso ou instrumento de trabalho adequado, enfrentam dificuldades na aplicação do conhecimento.

Segundo Batista (2009), nesta perspectiva, a realização de aulas experimentais pode ocorrer em qualquer sala de aula, exigindo zelo do professor de forma a planejar uma proposta que não objetive apenas a motivação para a aprendizagem ou a constatação de situações ou observação de resultados, mas sim o real envolvimento do aluno no processo prático da atividade para que o mesmo possa relacionar os conceitos abordados no experimento com a realidade em que se insere.

A pesquisa em sala de aula proporciona o envolvimento mais efetivo dos alunos no processo de ensino e aprendizagem. Na sequência didática desenvolvida nas aulas de Ciências, os alunos podem participar desde a construção das perguntas até a comunicação das respostas. A pesquisa em sala de aula, portanto, deve constituir-se como uma atividade cotidiana da prática do professor, a fim deste ser o mediador do processo e o aluno o autor (ZAPPE; SAUERWEIN, 2018).

 

5 Conclusões

Conclui-se, por meio deste estudo bibliográfico, que o ensino-aprendizagem do ensino de fungos para o ensino superior nas áreas biológicas e da saúde não são tão ensinado e contextualizado. Deste modo, faz-se necessário que a disciplina de Micologia contemplem em seus projetos pedagógicos o estudos dos fungos com uma carga horária significativa fazendo que o aluno consiga fazer uma conexão entre teoria e prática, havendo assim uma assimilação dos conteúdos e sua aplicabilidade no dia a dia.

 

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